Xanax
O campeonato português é um deserto dos tártaros em que uns dromedários, tipo Nacional e coisas assim, só andam ali para atrasar a vida de quem quer ganhá-la. Um jogo às 9 da noite de segunda-feira arrisca assim a tornar-se um poderoso soporífero; sobretudo se ao Sporting lhe der para absorver os princípios tácticos do Leeds United dos anos 70: corrida para a linha de fundo e biqueiro para a área a ver se te avias – foi o que a noite passada Jeferson praticou vezes sem fim. Lembrei-me do glorioso Marinho, que corria tresloucado pela ala direita até chocar contra o colchão do salto à vara – às vezes centrava e era golo certo.
Sei que aos 86 minutos houve um golo porque vi, mas tive de acordar os meus parceiros de bancada que já tinham adormecido e não acreditaram. E vi a pirraça do costume: o Mané arrasta-se ociosamente em campo, tenta uns berloques quando recebe a bola para perdê-la com arte, ou corre com ela por entre os pinos dos adversários até que um estica a perna e rouba-lha, eu começo a insultá-lo cá de cima e ele acaba por me calar com um toque, um toquezinho apenas, que resolve a coisa. Idem para o Montero, a quem só falta reclinar-se na relva quando a bola é trocada noutro quadrante. Os outros fazem o que sabem e agora há muito mais toques no meio-campo a trocar o jogo para cá e para lá, até criar uma sensação de enjoo com tanto balancé. Ou foi isto ou foi o jantar que lhes caiu mal, porque da brasileirada do Nacional de cinco em cinco minutos havia um que se espojava no chão com tremores de moribundo. Só arrebitaram com o golo do Sporting e puseram-se a correr como ainda não os víramos – há-de ter sido uma mézinha lá da Madeira que o vintém do treinador deles lhes deve dar.
E pronto. Vá lá que não estava uma noite fria.