Wrexham till i die
Quando não tem mais nada, o FC Porto tem sempre Lisboa para se motivar. Podem estar mortos, exauridos e divididos, que Lisboa existirá sempre para ser derrotada. É o que os mantém vivos há quatro décadas.
Com os milhões de milhões de milhões a desaguar no futebol internacional e local, perdeu-se territorialidade e noção das rivalidades de sempre. Terá sido esse o erro da estrutura do Benfica, porque para o adepto normal, é muitíssimo mais importante vencer a Liga que ir aos quartos (ou meias) da Champions. A excitação com a Champions existia, porque achavam que o Marquês estava no papo.
Creio que o principal problema do Sporting-de-Varandas-e-de-Amorim é não ter um rival preciso, uma motivação, um ‘ódio’ de estimação. Os jogadores são pessoas e as pessoas por vezes movem-se por motivações muito terrenas. Os jogadores são miúdos, muitas vezes sem grandes modelos de educação e formação além de técnicos de desporto. Ou seja, sim, os recortes de jornal afixados no baleneário funcionam.
“Ir à Champions” é um objetivo que interessa às Finanças do clube. Interessará aos jogadores como montra, mas interessa sobretudo aos diretores e ao tipo do Financeiro, que tem o IVA e os salários para pagar.
Esta época é um fracasso em toda linha da administração e da equipa técnica. Só a boa imprensa que Amorim tem – merecidamente, porque é um ativo valioso da industria mediática e porque tem indiscutível qualidade – tem permitido que o clube não se desintegre em guerrilhas internas.
O principal fracasso, parece-me, foi nunca ter sido encontrado um castelo para conquistar, um objetivo concreto, a que os atletas se pudessem agarrar todas as noites quando estavam prestes a adormecer. É um mal que vem de longe e persiste. Schimdt não o parece ter percebido bem e algo me diz que a renovação do contrato por 150 anos não irá correr bem.
Quem quer ser grande e dominador, precisa sempre de se agrupar em torno de um mesmo objetivo.
“Ir à Champions” não é objetivo coisa nenhuma. A desgraça do futebol dos milhões é sobretudo essa, a da imaterialização das conquistas.
p.s.
Tenho acompanhado a época do Wrexham, comprado por dois atores de Hollywood, e que tem o objetivo muito preciso de subir de divisão (o que não acontece há muitos anos). É muito provável que seja este ano. Isso sim, é o futebol.