Wendel
Muita gente parece não aperceber-se disso, mas nos últimos 14 meses perdemos pelo menos cinco jogadores nucleares, em vagas sucessivas: Bas Dost, Raphinha, Bruno Fernandes, Mathieu e Acuña. A confirmar-se agora a saída de Wendel, para o Zenit, perdemos o sexto.
Titular da selecção olímpica brasileira (tal como o recém contratado Tabata e o defesa Lyanco, que esteve ou ainda está na mira de Alvalade), este jovem de 23 anos que iniciava a quarta época no Sporting tornou-se um elemento pendular no nosso meio-campo, fixando-se na chamada posição 8. Principal transportador e organizador desde a saída de Bruno Fernandes para o Manchester United, vinha refinando o seu desempenho. Ao ponto de ter revelado uma impressionante eficácia no nosso desafio em Paços de Ferreira: em 59 passes, acertou 57.
«Nem sempre se dá por ele, mas é um elemento pendular no onze do Sporting. Pauta o ritmo e o modo do ataque com a sua visão de jogo e a sua inegável capacidade técnica: com a bola nos pés, é talvez o melhor elemento do plantel leonino. Isto permite-lhe pausar e acelerar o jogo, adequando-o às prioridades tácticas da equipa, e fazer variações de flanco com uma capacidade de passe muito acima da média», escrevi aqui, ainda sem recurso a dados estatísticos, logo após o desafio.
A imprensa desportiva, horas depois, confirmava o meu veredicto.
«No meio-campo assume protagonismo na primeira fase de construção, ora encontrando espaços através do passe, ora assumindo protagonismo e cumprindo-a com a bola nos pés. Nem a marcação apertada de Eustáquio o impediu de marcar o ritmo do leão, como se de um maestro se tratasse», escreveu A Bola, elegendo-o como melhor em campo.
«Pegou na batuta e comandou a equipa com serenidade, transmitindo tranquilidade e entregando a bola sempre jogável com grande inteligência, leitura de jogo e controlo dos tempos e dos espaços», observou O Jogo, designando-o também como figura da partida, que vencemos por 2-0.
Se sair para o campeonato russo por 20 milhões de euros, como apontam as notícias ainda imprecisas, trata-se de uma proposta irrecusável.
O passe de Wendel, segundo o Transfermarkt, está avaliado em 12 milhões de euros. E, embora seja previsível que possa evidenciar-se nos Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados para 2021, as incertezas provocadas pela pandemia não permitem arquitectar grandes planos de valorização de jogadores a contar com os palcos de maior projecção do desporto mundial. Haja em vista o que aconteceu com o Campeonato da Europa de 2020, também adiado para o próximo ano mas ainda sem garantia irrefutável de que venha a realizar-se.
Será, pois, uma boa notícia para os cofres de Alvalade. Mas uma má notícia no capítulo desportivo: Wendel, neste cenário, torna-se no sexto titular absoluto do futebol leonino a abandonar o clube em pouco mais de um ano. E assim fica muito difícil construir um plantel com perspectivas de eficácia plena nos objectivos que perseguimos na temporada em curso: um lugar de acesso à Liga dos Campeões e a conquista da Taça de Portugal.
Nenhuma orquestra funciona sem maestro. E poucos têm capacidade para tal função.