Voar
«Voar
Não somos berlindes. Somos seres humanos, cheios de desejos e de neuroses. Estamos, sobretudo, cheios de ocupações. Viajamos com mais frequência e até mais longe do que todas as gerações do passado e estamos em contacto com uma quantidade de outras pessoas cujo número deixaria os nossos avós de cabeça a andar à roda.
Se estamos a chocar uma terrível constipação, os vírus deslocam-se connosco, dentro de nós, e disseminam-se um pouco por aqui e um pouco por ali, em Milão, em Londres, no supermercado aonde vamos às compras dia sim, dia não, em casa dos nossos pais onde estivemos a almoçar no domingo passado. O contágio é imparcial, sobretudo quando se dá através dos espirros, e é ainda mais eficaz se a maior parte dos Infetados se mantiver assintomática. Como as abelhas e o vento espalham o pólen, nós espalhamos as nossas inquietações e as nossas patologias.»
In: Giordano, Paolo – Frente ao contágio. Lisboa : Relógio D’Água, 2020. p. 39
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