Vigoroso e Poderoso
2006, Joana Vasconcelos
Fotograma retirado daqui
Leões em espelho.
Em traços largos, são iguais. Duas perspectivas da mesmíssima realidade.
Em essência, a mesma laboriosa teia de bonitas e diferentes formas. Não causa estranheza, não pode causar estranheza, que o que de mais distintivo e belo surge na tela em branco, forma de todas as formas, se apresente a negro. Não é do lodo que nasce a flor de lótus?
Não são exactamente iguais, não podem ser exactamente iguais. Ainda que tecidas tivessem sido pelas mesmas mãos. É essa diferença, inicialmente subtil, entre teias, que os faz Vigoroso e Poderoso.
Ao Poderoso, que só pode sê-lo por ter conseguido integrar a capacidade potencialmente (auto)destrutiva do vigor desgovernado, pediria que encontrasse, desenhasse, forma de nos despedirmos condignamente. É a responsabilidade inerente a ser poderoso no reino das formas. E às formas leoninas, que à distância assistimos e sentimos pesarosas pela ruptura entre as forças motrizes que nos trazem a flor de lótus, deve-se mais do que o esforço, deve-se a materialização do reconhecimento de que somos a forma maior. A que dá corpo e sentido à vossa existência enquanto forma(s) no reino do Leão.
Arranje forma, Poderoso. Ou, se preferirem, rearranjem-se.
Desta feita ouvi a conferência de imprensa e o esclarecimento de que seria a última vez que responderia a uma pergunta sobre Slimani.