Vencer fora ainda sem convencer adeptos
Chaves, 2 - Sporting, 3
Pedro Gonçalves marcou dois golos sem festejar nenhum: foi em Chaves que ele começou
Foto: Pedro Sarmento Costa / Lusa
Foi uma exibição acima da média e um resultado ao mesmo nível. Num estádio muito difícil, onde já tropeçámos noutras ocasiões, e frente a uma equipa que nos venceu em Alvalade na primeira volta.
Saímos de Chaves com três pontos. Apesar disso, este foi um jogo que não nos encantou. Pelos motivos do costume: houve vários golos desperdiçados e alguma displicência no plano defensivo que nos custou mais dois golos sofridos. Já são tantos, à 21.ª jornada, como em todo o campeonato anterior: 23. Prova evidente de que as coisas não andam bem neste Sporting 2022/2023.
Mesmo vencedores, por 2-3, não disfarçámos uma evidência: este plantel é desequilibrado. E mantém lacunas importantes, sobretudo no corredor central do meio-campo e na zona de finalização. Mas está longe de ser o nosso problema principal.
A inclusão de Trincão (após uma sucessão de exibições medíocres) e Paulinho (ultrapassando Chermiti, que marcou dois golos e assistiu num terceiro nas últimas três partidas) revela que Rúben Amorim não é só fiel ao seu modelo de jogo: tem também uma fixação em quem selecciona para o onze titular. Daí alguns jogadores aparecerem e desaparecerem das convocatórias, numa insólita placa giratória - entre eles, Dário, Fatawu e Mateus Fernandes. E outros terem lugar cativo seja qual for o seu desempenho em campo.
O nosso problema principal é hoje o modo como o treinador gere este plantel. Com vários jogadores fora das posições em que mais rendem e dois ou três favoritos sempre escalados para o onze, por pior que vão jogando.
Matheus Reis esteve ausente: poupado para o desafio de amanhã para a Liga Europa? Ficou por esclarecer. Morita, enfim recuperado, demorou uma hora a entrar. Pedro Gonçalves - neste seu regresso ao clube onde se iniciou para o futebol - começou o jogo novamente a meio-campo, cedendo protagonismo a Trincão lá na frente. E Chermiti teve de esperar 80 minutos para calçar: toda a prioridade voltou a ser de1 Paulinho.
Houve aspectos meritórios? Claro que sim.
Em primeiro lugar, o golo marcado cedo: raras vezes tem acontecido. Depois, registou-se a nossa segunda vitória consecutiva fora de Alvalade - algo até agora inédito neste campeonato. E há seis meses que não conseguíamos marcar três também em partidas desenroladas em campo adversário.
Destacou-se uma estreia absoluta a titular: Diomande cumpriu como central à direita. Bellerín vai ganhando consistência como substituto do compatriota Porro. E o regresso de Morita, retomando a sua interrompida parceria com Ugarte, funcionou bem, como já se previa.
Mas as lacunas persistem. Agravadas pela obstinação do treinador em não variar processos.
Outro pecado recorrente desta nossa equipa é baixar os braços com demasiada frequência, como se desistisse de lutar ou estivesse já satisfeita com o resultado antes do apito final. Isto originou o segundo golo do Chaves, sofrido aos 90'+6: quase toda a nossa defesa foi apanhada desprevenida, permitindo que Héctor se movimentasse à vontade.
Enfim, ganhámos à tangente numa partida em que ninguém de boa-fé pode acusar o árbitro de nos ter "roubado". Beneficiámos logo aos 8' de um penálti por alegado derrube de Paulinho que se tivesse sido assinalado ao contrário, em lance dentro da nossa área, levaria muitos adeptos a soltar gritos de indignação.
A par do Benfica, somos agora a equipa com mais penáltis favoráveis neste campeonato.
Mesmo assim, seguimos em quarto lugar. Por culpa própria e sem injustiça alguma.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Merece nota positiva por ter feito uma grande defesa, aos 28'. Permitiu o empate aos 34', traído por um ressalto no solo. Sem culpa no segundo golo, mesmo ao cair do pano.
Diomande - Estreia do jovem marfinense como titular, na posição mais à direita do trio de centrais. Não comprometeu. Pelo contrário, deu boas indicações. Parece mesmo ser reforço.
Coates - Será fadiga? O capitão parece algo lento de reflexos: teve dificuldades nos duelos com João Teixeira e Juninho, ultrapassado em velocidade. Menos influente do que é habitual.
Gonçalo Inácio - Actuou no lugar onde mais rende, como central à esquerda. Talvez por isso, foi desta vez o nosso defesa em melhor nível. Grande corte de carrinho aos 30'.
Bellerín - Não vale a pena querer fazer dele um novo Porro: são jogadores com características diferentes. Este espanhol mais fixado no plano defensivo, mas sem descurar o ataque.
Ugarte - Destacou-se, sem surpresa, na recuperação. Foi varrendo diversas tentativas de construção ofensiva do Chaves. Pena ter visto o amarelo (68') que o afasta do próximo jogo.
Pedro Gonçalves - Melhor em campo, com dois golos - um em cada parte (8' e 61'). O segundo foi espectacular. Derrubado dentro da área aos 83': devia ter sido ele a marcar o penálti.
Nuno Santos - Centrou muito e esteve sempre ligado à corrente, em contraste com Bellerín na ala oposta. Esteve quase a marcar (50'), ofereceu golo a Paulinho (55') e marcou mesmo (70').
Edwards - Jogador de inegável capacidade técnica, acima da média. Excelente passe a isolar Nuno Santos aos 50'. É ele a iniciar o segundo golo, num toque de classe, bem ao seu jeito.
Trincão - Falta-lhe atitude competitiva. Esteve bem num centro que Paulinho desperdiçou, mas transformou um possível remate enquadrado num inócuo passe ao guarda-redes (52').
Paulinho - Azar ou aselhice? A verdade é que falhou um golo isolado à boca da baliza e marcou dois em fora-de-jogo. Esteve melhor ao assistir Nuno Santos no terceiro golo.
Morita - Substituiu Trincão aos 60'. Com a vantagem imediata de fazer adiantar Pedro Gonçalves, um minuto antes do nosso segundo golo. Deu consistência ao meio-campo.
St. Juste - Em campo desde os 71'. Rendeu Diomande, sem brilhar nem arriscar incursões no plano ofensivo, mas também sem comprometer.
Arthur - Substituiu Edwards aos 71'. Encostado à ala direita, primou pela irrelevância. A vontade de mostrar serviço é notória, mas as exibições mais recentes não têm correspondido.
Chermiti - Entrou só aos 80', quando Amorim decidiu tirar Paulinho. Entrou com excesso de ansiedade. Falhou o golo, isolado, aos 82'. E permitiu a defesa no penálti que marcou (85').
Tanlongo - Rendeu Ugarte aos 80'. Bons apontamentos, confirmando ser bom de bola, mas entrou já numa fase de alguma descompressão, quando a equipa geria o resultado.