Vencer e convencer onde o SLB empatou
Moreirense, 0 - Sporting, 2
Geny cumprimenta Morita, que abriu o marcador logo ao terceiro minuto do jogo
Foto: Hugo Delgado / Lusa
Nada melhor, para começar a crónica de mais um jogo do nosso contentamento, do que descrever um belo lance de futebol colectivo. Precisamente aquele que deu origem ao golo da tranquilidade, confirmando o total domínio do Sporting sobre o Moreirense, sexto classificado do campeonato, num estádio onde raras equipas têm facilidade em jogar.
Aconteceu ao minuto 23.
Morten recupera a bola, na linha divisória, e atrasa-a para Coates. O capitão, pressionado, devolveu-a com o pé esquerdo. O dinamarquês, apertado por dois adversários quase em cima da linha esquerda, faz um exímio passe de calcanhar, para Gonçalo Inácio, que logo a adianta uns 20 metros, pondo-a em Gyökeres. Este toca atrasado para Trincão, no corredor central, e o minhoto, após grande recepção no peito, coloca a "redondinha" nos pés de Geny, que progride na ala direita. Trincão desmarca-se entretanto com velocidade, proporcionando uma linha de passe ao jovem moçambicano já perto do limite do campo e num toque subtil entrega-a a Pedro Gonçalves, bem posicionado, e que no interior da área, muito à sua maneira, a introduz na baliza. Mais em jeito do que em força.
Neste excelente lance colectivo - um hino ao futebol - intervieram sete dos nossos dez jogadores de campo. Proporcionando a quem viu o jogo esta certeza cada vez mais inabalável: estamos perante a melhor equipa já treinada por Rúben Amorim. Superior até à que conquistou o campeonato há três anos.
Os números não deixam lugar a dúvidas. Com esta vitória por 2-0 em Moreira de Cónegos, anteontem, Amorim cumpriu o oitavo desafio seguido da Liga 2023/2024 a vencer: ainda não perdeu qualquer ponto neste ano civil.
Marcámos 28 golos nas últimas seis partidas que contribuíram para a nossa classificação actual: 55 pontos. A par com o Benfica, por enquanto, mas com menos um jogo disputado. E sem esquecer que o SLB ainda terá de visitar Alvalade.
Desde a época 1975/1976 não havia uma equipa portuguesa a marcar tantos golos à 21.ª jornada. Temos melhores marcas do que tínhamos, nesta fase, na época 2020/2021, em que fomos campeões. Há três anos, 17 vitórias e 4 empates; com 42 golos marcados e 10 sofridos. Agora, 18 vitórias, um empate e duas derrotas; com 60 golos marcados e 19 sofridos.
Convém lembrar: o FCP foi a Moreira vencer à tangente, por 0-1 e o SLB tropeçou lá (0-0). Nós, aos 23', já tínhamos o jogo resolvido. O primeiro, marcado logo aos 3' por Morita na sequência de um canto apontado por Trincão, o melhor em campo.
Depois, houve que gerir o resultado - mas sem baixar linhas, controlando sempre as operações com o estado-maior instalado na linha do meio-campo, confiado ao capitão Morten, bem auxiliado pelo tenente Morita. Sem o sapador Viktor insistir nas missões de infiltração em terreno adversário, desta vez num estádio menos ajustado à sua acção desequilibradora. Mas cheio de adeptos leoninos que não se cansaram de incentivar e aplaudir a nossa equipa. Verdadeira equipa de todos nós.
É sempre assim quando o Sporting marca golos. E tem marcado em todos os jogos das competições internas na temporada em curso. E há cerca de meio século que não marcava tantos golos.
É sempre assim, quando o Sporting ganha. E há muitos anos que não ganhava tanto.
Estamos aptos a receber amanhã o Young Boys. Sem lesões: até nisto a estrelinha de Rúben voltou a reluzir. Porque não há campeão sem sorte.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Ao contrário do que ele certamente suporia, teve pouco trabalho nesta partida. Só fez a primeira defesa, aliás fácil, ao minuto 88. O único calafrio aconteceu no minuto final, após um canto, aos 90'+6.
Eduardo - Mais contido do que nas partidas anteriores, o que em nada prejudicou a nossa organização colectiva. Quando a linha defensiva avançava, ficava ele a resguardar a retaguarda. Missão cumprida.
Coates - Um pilar de estabilidade. Após um jogo em que foi poupado, tendo em atenção este intenso calendário de Fevereiro, voltou em grande forma como patrão da defesa. Cortes cirúrgicos, concentração total.
Gonçalo Inácio - Inesperadamente, foi o mais intranquilo do nosso sector mais recuado. Nem sempre acertou nos passes e teve uma perda de bola comprometedora. Mas interveio bem no segundo golo.
Geny - Já sentou Esgaio como titular da nossa ala direita. Muito mais ofensivo do que o nazareno, pôs o lateral adversário sempre em sentido durante toda a primeira parte. Só lhe faltou o golo. Mas vai tentando sempre.
Morten - Joga sempre de cabeça bem levantada, com visão panorâmica do terreno. Teve pormenores de inegável classe. Dominou o corredor central, impondo voz de comando. Vital para o equilíbrio da equipa.
Morita - Complemento ideal do dinamarquês no controlo do meio-campo. Menos subtil do que o companheiro, não hesitou em usar o corpo para travar investidas do Moreirense. E foi dele o golo inaugural.
Nuno Santos - O batalhador do costume em missão atacante. Foi tentando o golo. E esteve prestes a conseguir aos 32', num remate ao canto da baliza que o guarda-redes travou com brilhantismo.
Pedro Gonçalves - Regressado ao trio mais ofensivo, é lá que exibe os seus melhores atributos. Confirmados com o golo da tranquilidade, aos 23'. Já marcou 13 nesta epoca. E ainda mandou uma bola ao poste (47').
Trincão - Melhor em campo: está a ser uma das grandes figuras do Sporting. Embora sem marcar, assistiu duas vezes. Ao cobrar o canto que deu golo e ao pôr a bola bem redondinha nos pés de Pedro Gonçalves.
Gyökeres - Esforçou-se muito, num campo menos comprido do que os restantes, o que lhe condicionou alguns movimentos. Tentou o golo, desta vez sem conseguir. Mas sem nunca baixar os braços.
Matheus Reis - Em campo desde o minuto 82, substituindo Nuno Santos, já amarelado. Muito concentrado, demonstrou a sua utilidade com um corte oportuníssimo aos 90'+5.
Daniel Bragança - Substituiu Morita ao minuto 89. O nipónico estava muito fatigado, havia que refrescar o meio-campo para evitar desequilíbrios. Funcionou.
Edwards - Rendeu Pedro Gonçalves aos 89'. Entrou sobretudo para segurar a bola no tempo extra, que durou seis minutos.