Vencer e convencer mesmo sem Gyökeres
Sporting, 2 - Rio Ave, 0
Sporting soma e segue: seis vitórias em sete jogos até agora, o que faz vibrar os adeptos
Foto: José Sena Goulão / EPA
Terá sido a melhor exibição do Sporting nos primeiros 45 minutos em todos os sete jogos já disputados nesta temporada - seis para o campeonato, um para a Liga Europa. O nosso onze entrou em campo como um verdadeiro rolo compressor, usando todos os corredores como via de ataque rápido, ousado, audaz. Nuno Santos, em excelente forma, desequilibrou por completo à esquerda enquanto Edwards imperava nas movimentações da direita para o meio do terreno, levando o pânico à muralha defensiva dos vilacondenses. Com Pedro Gonçalves a movimentar-se um pouco por toda a parte, abrindo linhas de passe, Paulinho desta vez fixo como ponta-de-lança e Morita a situar-se entre linhas, mostrando todo o seu valor na ligação entre o meio-campo e o trio mais ofensivo.
Foi assim, com o astro Gyökeres remetido ao banco de suplentes, que o Sporting cumpriu aquilo que se impunha: derrotar o Rio Ave em Alvalade. E deste modo assumir o comando do campeonato, em igualdade pontual com o FC Porto mas tendo melhor quociente entre golos marcados e sofridos. Vamos no 21.º desafio seguido sem derrotas, no terceiro em casa sem sofrer golos e com 16 pontos somados em 18 possíveis.
Fácil? Não. Há um ano, por esta altura, tínhamos apenas 10 pontos. Faz uma diferença enorme. Comparando com o onze que anteontem entrou em campo, houve apenas dois reforços, ainda ausentes de Alvalade em Setembro de 2022: o central Diomande e o médio defensivo Morten. Todos os outros já lá estavam. E nem por isso as coisas correram bem.
É verdade que o marfinense e o dinamarquês, ambos internacionais pelos seus países, contribuíram para aumentar a qualidade da nossa prestação face ao que ocorria na época anterior. Mas isto não basta para explicar a diferença. A verdade é que esta nossa equipa joga mais ligada, mais entrosada, com maior determinação e sobretudo com muito mais alegria. Contagiando os adeptos: estavam mais de 34 mil no estádio apesar de o jogo ter começado às 20.15 da passada segunda-feira. Horário que certamente contribuiu para que este tenha sido o nosso desafio com mais reduzida assistência na temporada em curso.
Destaques? Morita, pêndulo da equipa: quase todos os lances passam por ele. Iniciou o primeiro golo e assistiu para Paulinho empurrar, logo aos 10' - e figurar de novo entre os melhores marcadores da Liga 2023/2024. Edwards, protagonista dos lances mais vistosos - que culminaram no segundo golo, saído dos pés dele após túnel bem medido ao defesa que tentava cobri-lo, marcando de ângulo quase impossível. Obra de arte, deixando evidente que o inglês está de volta às grandes exibições. Voto nele como melhor em campo.
Nuno Santos, já mencionado, justifica também registo elogioso. Criativo, desequilibrador, sem nunca virar a cara à luta. Mas aquilo que vai fazendo deste Sporting um caso muito sério entre os assumidos candidatos à conquista do campeonato, reeditando a proeza de 2021, é a solidez do bloco defensivo. Diomande, Coates e Gonçalo Inácio parecem jogar de olhos fechados, tão bem combinam entre eles.
Com Gonçalo a destacar-se nos passes longos, Diomande na condução com a bola dominada e Coates nas acções de desarme.
Tudo bem? Nem por isso. Caímos demasiado na segunda parte, após chegarmos ao intervalo a vencer por 2-0 - resultado que se manteria até ao apito final. De permeio, sofremos um sério sobressalto quando surgiu um golo do Rio Ave, aos 49', entretanto sem efeito por alegado fora-de-jogo de 6 cm. Pretexto ridículo para anular um golo: é tempo de pôr fim a esta palhaçada, tal como já acontece na Premier League. Tanto faz, para o caso, que o Sporting seja beneficiado (como agora foi) ou prejudicado (como já aconteceu mais do que uma vez).
Mas fizemos mais do que o suficiente para que ninguém possa discutir este triunfo. Basta olhar para a classificação para percebermos como isso é capaz de ser um excelente tónico psicológico. Não apenas para os jogadores: também para os adeptos.
Que diferença em relação ao que se passava faz agora um ano...
Breve análise dos jogadores:
Adán - Noite quase sem trabalho, exceptuando no golo vilacondense que viria a ser anulado por escassos 6 cm. Continua a evidenciar problemas a jogar com os pés.
Diomande - Desinibido com a bola, não apenas a defender mas a iniciar ataques. Lesionou-se no tempo extra, acabando substituído. Oxalá não seja nada de grave. Ele faz-nos falta.
Coates - O comandante da nossa muralha defensiva fez jus à fama. Dois lances justificam destaque: desarme perfeito aos 70' e grande passe longo aos 82', a lançar Geny.
Gonçalo Inácio - Sólido, intransponível. Fixou-se finalmente no espaço onde mais rende - o que o tem favorecido até como candidato a titular da selecção nacional.
Esgaio - Conduziu um bom ataque aos 45'+2, mas esteve quase sempre mais contido do que o seu colega do corredor esquerdo. Não inventou, jogou pelo seguro.
Morten - A sua mais discreta exibição no plano individual desde que chegou ao onze titular. Ganha em concentração e eficácia no desarme o que parece faltar-lhe ainda na condição física.
Morita - Assombrosa exibição, com um raio de acção cada vez mais largo. O primeiro golo é quase todo construído por ele. Equilibra a defesa, municia o ataque, joga bem com os dois pés.
Nuno Santos - Outra actuação a merecer aplauso. Quase marcou em duas ocasiões - aos 14' e aos 56'. Vigoroso, criativo, destaca-se pelo espírito combativo que parece faltar a alguns colegas.
Edwards - Participa nos dois golos leoninos. No primeiro, como um dos construtores do lance tão bem-sucedido. No segundo, surgindo ele próprio a metê-la lá dentro. Fez levantar o estádio.
Pedro Gonçalves - Útil a abrir espaços e arrastar marcações, participou também no processo defensivo. Perdulário no último toque, incapaz de marcar. O melhor que fez foi atirar à trave (30').
Paulinho - Fixou-se como ponta-de-lança, compensando a ausência de Gyökeres. Cumpriu o essencial da sua missão com golo logo aos 10'. Merecido, pois trabalhou bem para a equipa.
Daniel Bragança - Substituiu Morten aos 67'. Não conseguiu imprimir maior acutilância ao nosso meio-campo, incapaz de fazer passes de ruptura. Contribuiu para gerirmos a vantagem.
Trincão - Entrou aos 67', substituindo Edwards. Há que assinalar o contraste entre um e outro, desmentindo aqueles que os equiparam em quase tudo. O ex-Braga foi totalmente inofensivo.
Matheus Reis - Substituiu Nuno Santos (77'). No seu estilo muito mais discreto, menos atrevido, cuidando mais da missão defensiva do que da vertigem ofensiva.
Geny - Entrou aos 77', rendendo Esgaio. Contribuiu para acelerar o jogo no seu flanco. É um extremo de raiz, o que bem se nota. Mas tem melhorado no plano defensivo.
Neto. Entrou aos 90'+2, compensando a ausência do lesionado Diomande. Poucos minutos em campo, o que bastou para lhe merecer calorosos aplausos dos adeptos.