Vamos com tudo, Portugal
Texto de Francisco Gonçalves
Hoje [sábado], logo aos 4 minutos, quando o VAR anulou (bem) o golo ao lateral esquerdo alemão, Robin Gosens, dei por mim a pensar que iria assistir a uma Alemanha a jogar à Rúben Amorim contra um Portugal a jogar à Jorge Jesus. E comecei a temer o pior.
O sistema 3-4-3 alemão, com Joshua Kimmich a fazer de Pedro Porro e Robin Gosens a fazer de Nuno Mendes, recomendava que, da parte da selecção portuguesa, houvesse disponibilidade física e mental dos seus alas (Bernardo Silva e Diogo Jota) para contrariar as auto-estradas que aqueles dois jogadores alemães encontravam, nas suas consecutivas investidas ofensivas. Quem pagou as favas foram os laterais portugueses (Nélson Semedo e Raphael Guerreiro).
O sistema táctico da selecção portuguesa revelou grandes fragilidades que, porventura, já terão acontecido noutros jogos, só que ontem [domingo] quem estava do outro lado era uma selecção que, sem sombra de dúvidas, é das mais fortes da Europa, quiçá do mundo, e com um sistema táctico que toda a gente conhece, mas que poucos conseguem contrariar.
Já na nossa Liga era assim, nos jogos do Sporting Clube de Portugal.
Não é o momento de criticar o treinador, nem tão-pouco o empenhamento dos jogadores. Eles, tanto ou mais do que nós, desejam ir o mais longe possível na competição.
Contudo, vale a pena dizer que existem alguns jogadores em manifesto sub-rendimento e que existem outros, no grupo, em quem se deveria apostar, no sentido de tentar não deitar tudo a perder, no próximo jogo, contra a poderosíssima França.
Não é honesto atribuir as culpas todas a Nélson Semedo, nos lances de golo dos alemães. Bernardo Silva e mesmo Diogo Jota não estão vocacionados para grandes tarefas defensivas e, quando o fazem, trazem à evidência as suas debilidades no cumprimento dessas tarefas.
Todos acreditamos que Fernando Santos estudou previamente o adversário, portanto tinha obrigação de saber que todos os fundamentos da estrutura ofensiva dos alemães passavam por aquele quinteto atacante e o desenho da manobra era sempre o mesmo. Torna-se estranho que, mesmo tendo sidos estudados previamente, os alemães tenham conseguido marcar cinco golos (um deles foi muito bem anulado, mas apenas por centimetros) que são fotocópias uns dos outros.
Dos onze portugueses titulares contra a Alemanha, meia equipa manifestou níveis físicos deploráveis: Nélson Semedo, Raphael Guerreiro, Danilo Pereira, William Carvalho, Bruno Fernandes e Bernardo Silva. Se mesmo com frescura física nunca seria fácil ganhar à Alemanha, com tanta falta dela tornou-se impossível.
Nada está perdido. Mesmo que tenhamos de ser apurados na condição de um dos melhores quatro terceiros, não vem mal nenhum ao mundo. Em 2016, também foi assim e fomos campeões da Europa.
Independentemente de jogarmos, sempre para ganhar, a verdade é que, na próxima quarta-feira, quando entrarmos em campo, já saberemos se o empate serve para ficarmos apurados, ou não, dado que todos os outros jogos já terminaram, com excepção do Alemanha-Hungria. Diga-se que, se a Alemanha vencer o seu jogo, até a derrota pode não ser impeditiva dos oitavos-de-final.
Oxalá os dias que nos separam do próximo jogo sejam suficientes para que o nosso treinador fique convencido de que existem alterações que se impõem no onze inicial.
Jogue quem jogar, a selecção é de todos nós. Devemos ser solidários na vitória e na derrota e acreditar que todos os que compõem a comitiva portuguesa no Europeu querem e crêem que podem dar uma alegria a todos os portugueses.
Vamos com tudo, Portugal.
Texto do leitor Francisco Gonçalves, publicado originalmente aqui.