Vamos a contas
Os três grandes e todas as SAD's provavelmente, apresentaram as suas contas do último semestre.
O Sporting apresentou um resultado positivo de 47,5M€, o Porto um resultado negativo de 9 M€ e o Benfica um resultado também negativo de 13,3M€.
E a gente fica todos contentes! Somos os maiores. Não ganhámos nem ganharemos nada, pelo menos este ano, a ida à CL está comprometida, mas temos lucro. Já o havia escrito aqui, andamos cá para ser os campeões dos R&C. Mas estava redondamente enganado e por isso peço as minhas humildes desculpas a quem foi levado ao engano com aquele post, é que pelo andar da carruagem, nem nos R&C ficaremos bem na fotografia.
Traduzindo por miúdos:
- Sem Champions (35M) e venda líquida de jogadores (63M) teríamos perdido 50 milhões no semestre.
- O serviço da dívida (custos de financiamento) subiu para 8,5M no semestre devido à subida dos juros, algo para que alguns foram alertando que mais tarde ou mais cedo iria acontecer. Quer dizer, devido ao elevado passivo (são um pouco mais de 300M), o custo de financiamento leva-nos 17M por ano, isto antes de metermos a chave na porta e antes de ligarmos a luz.
- Os custos com pessoal subiram, ao contrário da propaganda, para 38,5M no semestre. As amortizações de passes cresceram 40% em período homólogo (dez 2021) devido às compras a metro.
- Com os custos com pessoal a aumentar e da Champions já praticamente despedidos, a única hipótese que nos safará é lançarmos miúdos na equipa principal que ganhem valor rapidamente.
- Sobre receitas extra Champions e venda de passes de jogadores, nada, que não crescem há anos. Nas receitas ordinárias não temos inflação. Nada se faz (Eu acho que copiar o que está bem feito, não é defeito, passe a cacofonia, então olhem ali para o outro lado da rua e percebam porque têm eles sempre o estádio cheio. E não cheiram um título há 4 anos!).
- Como isto está estruturado a nível de contabilidade de SAD, com as compras registadas em amortizações e as vendas pelo seu valor, se eu comprar um jogador por 50 e vender outro pelos mesmos 50, em vez de um resultado zero eu vou ter um resultado positivo de 40, considerando que os jogadores contratados terão contratos de 5 anos. Depois, em cada um dos 4 anos seguintes, vou perder 10, mas isso que interessa, é atirado para a frente, o que interessa é mostrar um bom resultado no presente. Mas se eu vender sem cuidar dos resultados desportivos e isso passa por continuar a ter uma equipa competitiva, arrisco-me a ficar fora da Champions. No próximo semestre já não haverá receitas da Champions, vai haver uns trocos da Liga Europa. Vendemos o Porro, o que dará para cobrir os custos com mais uma pequena receita da Liga Europa e lá apareceremos com lucro no final do ano.
- A acrescentar a tudo isto, o estádio às moscas não ajuda a publicidade e patrocínios. A televisão antecipa-se até haver e já deve haver muito pouco. A bilhética é o que se tem visto, para ter umas casas compostinhas, oferecem-se bilhetes (compras um levas dois). O merchandising não descola, pois se a Loja Verde parece uma delegação da Luis Vuitton, atendendo aos preços praticados, querem o quê? E nada se faz para inventar novas receitas. Neste aspecto, comparados com os rivais que dizer? Somos muito poucochinho, palavra muito na moda agora.
Mas o pior está para vir, se em 2023/24 não houver Champions. Antes de Champions e venda de jogadores perdemos 50 milhões por semestre, 100 milhões num ano. Antes eram cerca de 80 milhões, mas a subida do serviço da dívida, o aumento das amortizações e do custo com pessoal levou-nos a um ainda maior desequilíbrio e chegados aqui, com cerca de 300M€ de passivo e com despesas de funcionamento de 100M€/ano, a réstea de possibilidade de equilíbrio de contas, no mínimo (e já não dando para o peditório da redução do passivo), é a presença todos os anos na CL e a venda em alta de um jovem formado na academia, mas como já percebemos, não há quantidade de jovens tão grande que permita que se um sai, o lugar fica preenchido com a mesma qualidade que nos permita discutir lugares de acesso à liga milionária e entramos na espiral donde nunca sairemos: Vendemos porque precisamos do dinheiro para água e electricidade, o básico vá, e desfalcamo-nos e ficamos com uma equipa que não consegue aceder aos lugares dos milhões.
É esta a nossa sina? Não sei, eu por mim não estou disponível para levar com pazadas de areia nos olhos, mas pronto, isto vai servir para a narrativa de que "não ganhámos, mas metemos as contas no sítio".
Já agora e para baixar um pouco mais a euforia, o Benfica, que tem um passivo um pouco maior que o nosso, perto dos 400M€, teve agora um resultado negativo, como se viu lá em cima, de pouco mais de 13M€. Mas... Vendeu o Enzo e no ano vai mostrar um resultado enorme, até porque os jogadores que também comprou, uns nórdicos a preço de saldo, vão ter amortizações pelo método descrito acima (parceladas pelo tempo do contrato). Enquanto nós não teremos mais receitas Champions, eles ainda lá estão e vão somar a isso os 120 milhões do Enzo. Cá estaremos no final do ano (segundo semestre, se quiserem) para fazer a contabilidade.
Concluindo? Bom, concluindo só se aparecer um árabe bêbado, o que será pouco provável, bêbado e cego para pegar num clube com mais de 300M€ de passivo, ou se se mudar de paradigma. Os nossos vizinhos perceberam que têm que ganhar para fazer dinheiro (às vezes sabe-se lá com que subterfúgios), nós ainda estamos a discutir se os gajos nasceram em 1903 ou em 1908. Prioridades...