Valeu a pena esperar mais de dois meses
Famalicão, 0 - Sporting, 1
Daniel Bragança felicita Pedro Gonçalves mal o transmontano marcou o golo que valeu a vitória
Foto: Estela Silva / Lusa
Mais vale tarde que nunca. Na terça-feira lá se realizou enfim o Famalicão-Sporting, referente à 20.ª jornada desta Liga que já teve 29 rondas completas. Um desafio que devia ter ocorrido a 3 de Fevereiro mas ficou adiado para 16 de Abril devido a falta de policiamento.
Valeu a pena esperar? Sim. Porque vencemos. Com alguma dificuldade, convém reconhecer, mas sem a menor dúvida quanto ao desfecho. Porque o Sporting foi superior, dominou sempre, teve três oportunidades de golo contra nenhuma da turma anfitriã e confirmou - para quem tivesse dúvidas - que é a melhor equipa a competir nesta Liga 2023/2024.
Vitória construída bem cedo, logo aos 20'. Por aquele que foi o herói leonino da conquista do título em 2021: Pedro Gonçalves, superiormente servido por Trincão, num golo marcado bem ao seu estilo, mais em jeito do que em força, desfeiteando o guarda-redes Luiz Júnior, um dos melhores que actuam nos estádios portugueses. Marcou sem festejar, gesto bonito: não esquece que jogou pelo Famalicão antes de rumar a Alvalade.
Foi quanto bastou. Com este desfecho tão positivo para as nossas cores, chegamos aos 77 pontos quando ainda faltam disputar cinco rondas do campeonato. O melhor registo de sempre no Sporting. Desde que os triunfos passaram a valer três pontos, só duas vezes atingimos a liderança isolada, com dois ou mais pontos de vantagem sobre o segundo da tabela. Anteriormente havia ocorrido também sob a batuta de Rúben Amorim, em 2020/2021: tínhamos 73 pontos à 29.ª jornada.
Única marca digna de registo? Não. Há outra, tanto ou mais significativa: nunca o Sporting tinha obtido 25 vitórias em 29 jogos da principal prova oficial do futebol português. Número assombroso, impressionante. Tornado possível porque vencemos 15 dos 16 desafios mais recentes que disputámos.
O golo madrugador de Pedro Gonçalves confirmou o que já se esperava: temos acesso garantido à próxima Liga dos Campeões. Seja por entrada directa na fase de grupos, seja por ingresso na pré-eliminatória da prova máxima do desporto-rei a nível de clubes. O FC Porto, num distante terceiro posto, deixou de ter hipótese de lá chegar.
Como haveria de ter se até agora apenas conseguiu marcar 53 golos no campeonato? Menos 31 do que o Sporting, algo que não tem sido devidamente valorizado pelos adeptos leoninos. Mas devia: com 128 já apontados no conjunto das competições, ocupamos agora o segundo lugar entre as equipas que participam nos principais campeonatos europeus. À frente do Liverpool (127) e só atrás do Fenerbahce (132).
Rúben Amorim, enfrentando a mesma equipa que dias antes impusera um empate (2-2) ao FC Porto no estádio do Dragão, arriscou - e viu-se recompensado. Apostou em dois alas com características muito ofensivas em simultâneo: Nuno Santos à esquerda, com Matheus Reis ausente por lesão, e Geny à direita, quase sem nunca recuar da linha do meio-campo. O moçambicano actuou praticamente como um extremo.
Resultou, claro. Sem margem para dúvidas. O Sporting dominou por completo o desafio na primeira parte e mesmo quando recuou um pouco no terreno na etapa complementar, concedendo alguma iniciativa atacante ao adversário, nunca perdeu o controlo das operações. Bem posicionado em campo, exibindo superiores argumentos técnicos e tácticos.
Em suma: mandámos no jogo.
E o Famalicão obedeceu, verdadeiramente sem uma oportunidade de golo. Nem parecia a mesma equipa que tinha silenciado o FCP no Dragão. Nem parecia o emblema que segue em oitavo no campeonato, mais próximo da liderança do que dos lugares de descida.
Dois dos nossos três jogadores amarelados nesta partida, Diomande e Esgaio, falharão o jogo seguinte, contra o Guimarães. É quase irrelevante. Porque nesta equipa treinada por Rúben Amorim o todo é sempre mais vasto do que a mera soma das partes.
A superioridade do Sporting também se mede nisto. Para alegria de todos nós.
Breve análise dos jogadores:
Israel - Sem uma defesa digna desse nome em toda a primeira parte. Saiu muito bem da baliza, aos 86', anulando um lance ofensivo perigoso. Segundo jogo seguido sem sofrer golos.
Diomande - Elo mais fraco da defesa. Viu o amarelo aos 41', por uma falta absolutamente escusada. Logo a seguir fez outra que lhe poderia ter valido expulsão. Não regressou do intervalo.
Coates - Com o brilhantismo habitual, venceu quase todos os duelos com Cádiz, o artilheiro do Famalicão. Imperou no jogo aéreo. Precioso corte aos 90', anulando ataque de Nathan.
Gonçalo Inácio - Competente na dobra a Nuno Santos, permitindo-lhe avançar na ala. Mas atravessa um período com menos brilhantismo. Acontece aos melhores.
Geny - Voltou a criar desequilíbrios lá na frente: o treinador mandou-o actuar como extremo direito. Ele foi mantendo a defesa em sentido. Desta vez longe das suas melhores exibições.
Morten - Regressou ao onze após ausência por castigo. Incansável na pressão ao portador da bola, nunca deu descanso ao Famalicão. Oito recuperações, quatro desarmes.
Daniel Bragança - Momentos de brilhantismo a ligar sectores. Esteve a centímetros de marcar grande golo, aos 13': a bola embateu na barra. Bom também nos momentos defensivos.
Nuno Santos - Tal como Gonçalo, também não atravessa o seu melhor período. Incapaz de fazer a diferença no capítulo do passe avançado. Atirou muito ao lado (67') e muito por cima (70').
Pedro Gonçalves - Para mim, o melhor em campo. Sem o golo que marcou aos 20', não teríamos conquistado os três pontos. Carregado em falta na grande área aos 24': devia ter sido penálti.
Trincão - Protagonizou alguns dos melhores momentos da nossa equipa. Assistiu Pedro Gonçalves no golo. Grandes lances individuais aos 40', 73' e 81'.
Gyökeres - Quinto jogo seguido sem marcar: nem parece ele. Mas tentou bastante, mesmo policiado por Riccieli. E foi ele a iniciar o lance colectivo de que resultou o golo do Sporting.
Eduardo Quaresma - Fez toda a segunda parte, substituindo Diomande. Sem comprometer a segurança defensiva. Corte perfeito aos 55', anulando Chiquinho.
Morita - Entrou aos 68', rendendo Daniel Bragança. Evidenciou segurança de passe, como nos vem habituando. Esteve muito perto de marcar, aos 73', a passe de Trincão.
Paulinho - Rendeu Pedro Gonçalves aos 68'. Demasiado discreto, quando a equipa já se preocupava sobretudo em segurar a bola. Falhou emenda a cruzamento de Nuno Santos (81').
Esgaio - Em campo desde o minuto 68, quando rendeu Geny, consolidando uma linha de quatro lá atrás. Primeiro à direita, depois à esquerda. Viu amarelo por cotovelada aos 74'.
Fresneda - Substituiu Nuno Santos aos 86'. Ainda chegou a tempo de protagonizar um corte importante.