Revisito regularmente o Eça de Queiroz. Por entusiasmo e dever profissional. Por gosto pessoal. E é sempre com surpresa e deleite que descubro um pouco mais e que penso um pouco melhor. Eça possui a insuperável qualidade de ter humor, de se não levar demasiadamente a sério, a consciência de que a ironia (principalmente a autoironia) é o privilégio dos muito inteligentes.
Em Os Maias, Ega, seu inconsequente alter-ego, anuncia a peça O Lodaçal, «uma comédia para se vingar de Lisboa»; segundo Carlos da Maia: «Entramos todos […] Todos nós somos lodaçal…»
Eça, esse (incompleto) dandy, que tão bem pensou Portugal porque nunca nele se atolou e o pôde anatomizar a distância, deliciar-se-ia certamente com a chafurdeira que grassa neste belo «jardim à beira-mar plantado». Matéria a rodos para as Cenas da Vida Portuguesa…
Não sei se é comédia, se é tragédia, coisa séria não é…
Ao que parece, a Liga irá instruir um processo de fraude contra o Sporting e o treinador Rúben Amorim… ao que parece, o TAD continua sem conseguir reunir, nem sequer virtualmente (diria que não há rede, mas deve é haver rede a mais) para decidir do castigo aplicado pelo CD ao Palhinha… ao que parece, esta coisa de o Sporting avançar com seriedade, determinação e trabalho, para o título de campeão, é ação fora da lei…
Os milhões apetecíveis da Champions, pão da fome dos perdulários ricos que deveriam explicar a quem de direito (como os seus associados e apoiantes) o que têm feito nos seus departamentos de contabilidade, e a divisão futebolístico-administrativa do país em dois clubes (um lá em cima e outro cá em baixo) não podem continuar a infetar mor(t)almente o país. Não é de desporto que se trata; é de justiça e de legitimidade.
Chafurdar no lodaçal é (dizem) a forma de os suínos se lavarem. Mas está tudo tão sujo!
O Sporting joga limpo. Suja-se em campo porque a camisola é para honrar! Sujámo-nos na Choupana, no Bessa, em Barcelos, em Alvalade, porque o futebol é um desporto de inverno e não temos medo de lutar contra a lama. Sufocarem-nos no lodaçal, não!
Diz Ega: «Sinto-me como se a alma me tivesse caído a uma latrina! Preciso de um banho por dentro!»
Os suínos do burgo precisam de banho – por dentro e por fora. Melhor dizendo: em água corrente e maré vazante, é despejá-los daqui p’ra fora!
Tempo diluviano, terreno preparado por trator, momentos de treino de comandos... E eu gostei tanto do jogo! Firme determinação, ótima condição física e alegria! Muita alegria neste caminho que se faz caminhando.
Este ano, a tradição não é o viver que nos habituámos a ter. É mau, bastante até, mas suportável. Em contrapartida, que bom a tradição ter sido rasgada! O nosso Sporting passará o Natal e receberá o Novo Ano em primeiro lugar! E em défice pontual, dado que (neste aspeto, a tradição ainda é o que era) já subtraíram quatro pontos à nossa equipa…
A todos os autores e leitores de És a nossa fé, desejo um Natal feliz, na medida em que cada um de nós o possa ter e sentir. Desejo também, e mais ainda, um 2021 que nos sorria, com saúde e alegria.
Saiu ontem a notícia de que António Costa e Fernando Medina integram a Comissão de Honra da recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do SLB (há palavras nesta frase que não ligam muito bem… ‘honra’ vis à vis algumas das outras…).
Sem dúvida que são cidadãos como todos os outros, sem dúvida que a paixão clubística a todos atinge irracionalmente, sem dúvida que é gratificante pensar que se pode contribuir para o engrandecimento do «clube do coração».
Contudo, António Costa e Fernando Medina não são cidadãos como todos os outros: são o primeiro-ministro do governo da república portuguesa e o presidente da câmara municipal mais importante do país. São também políticos de carreira longa e cimentada, pessoas inteligentes, argutas e pragmáticas, com grande «faro político».
Daí que eu não perceba…
Luís Filipe Vieira tem o nome enredado em tudo de mau que caracteriza o futebol nacional e que dele extravasa, mesmo que a instrução processual em termos de justiça se faça tardar. É certo que: nunca foi condenado por nada e deve imperar «a presunção de inocência até prova em contrário».
Mas há um dado que já não carece de prova e que é público: o senhor de bigodes que tem por hábito defender-se dizendo ser um «homem de família» (la famiglia?) é um dos grandes devedores do BES/Novo Banco (outro tema que também me agride o raciocínio), a cujo sustento «todos os contribuintes» (quer-se dizer, mais ou menos…) são chamados a prover.
Daí que eu não perceba…
Dois políticos tão experientes terão tido em conta que aceitarem ser «cabeça de cartaz» nesta corrida lhes trará mais prejuízo que benefício; não acredito que a sua perceção da realidade esteja de tal modo alienada que pensem ganhar votos e simpatia, apoiando tão denodadamente alguém que, objetivamente, é responsável por parte do malbaratamento dos recursos financeiros do país.
Esta minha certeza conduz-me a uma conclusão: parece que há mesmo, como alguns já disseram, «um estado dentro do estado», que a aranha sabe tecer pacientemente a sua teia e que o polvo (extraordinário animal, leia-se outro Vieira - o Padre) se assume como verdadeiro DDT («dono disto tudo»).
Sempre ouvi dizer que «o braço da lei é longo», porém, mais longa e bem armada se afigura ser uma rede de cumplicidades que, como a rede dos esgotos ou dos serviços de telecomunicações (isto também me lembra qualquer coisa...), vai erodindo subterraneamente o chão (e não apenas o relvado) que pisamos.
É verdade: não percebo… Não será exatamente por falta de discernimento, talvez até «antes pelo contrário» (hoje rendi-me ao lugar-comum…).
Apetece-me replicar um anúncio publicitário já antigo (nem me lembro a quê): «Expliquem-me como se eu fosse muito burra!...».
Vi, na sexta-feira, a final da Liga Europa. Segui o jogo com interesse distraído: «rijamente disputado» (como ainda dizem alguns comentadores), frequentes simulações (equipas latinas e recheadas de sul-americanos), melhor a primeira parte (na segunda: força diminuída, ansiedade acrescida).
Fui torcendo, embora sem grande vigor, pelo Inter (desde que o Lukaku não marcasse!), apesar de, em Itália, no que a clubes respeita, só ter gostado da Juventus e do A.C. Milan.
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Da Juventus, inicialmente, nem sei bem porquê, mas, após o horrendo Heysel, não havia como não querer gostar da Juventus. Essa final da Taça dos Campeões Europeus (Liverpool vs Juventus, em 1985) é o grande exemplo de jogos que nunca se deveriam ter realizado, nem que fosse somente por relutante decência. Tal como outras duas finais, estas domésticas: as da Taça de Portugal de 1996 e de 2018.
Voltei a acompanhar a Juventus por causa do Ronaldo.
Pelo meio (final dos anos 80 e início dos 90), entusiasmei-me com o A.C. Milan dos extraordinários holandeses – Marco Van Basten, Ruud Gullit e Frank Rijkaard, tanto mais que este último chegou a ser, sem o ser, jogador do Sporting (temos, não raramente, queda para o burlesco…).
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Regressando a sexta-feira: fui torcendo, embora sem grande vigor, pelo Inter (e o Lukaku até marcou, mas não chegou) porque, mais do que antipatizar com o registo escandalosamente vitorioso do Sevilha, eu quereria ter visto a jogar o Bruno Fernandes!
Última verdadeira garra do leão, profissional modelo, futuro capitão da seleção nacional, que, no Sporting, por empenho próprio e ausência alheia, foi jogador, capitão, treinador em campo e espécie de porta-voz/diretor de comunicação do clube… Sovado em campo (usualmente sob o olhar displicente dos árbitros), assediado pelos jornalistas (ou aspirantes a sê-lo), Bruno teve grandeza dentro e fora do relvado, num clube e num campeonato (gosto mais do que «liga») que se tornaram pequenos para ele: no campeonato porque, de clube, vestia a nossa camisola…
Saudades do Bruno Fernandes! Se não era leão de pequenino, muitas vezes bem o pareceu…
Voltando a sexta-feira: ganhou o Sevilha. Não faz mal. Lá jogou o Daniel Carriço e lá joga o Gudelj (este, sim, joga rijamente e bem falta fez na última época).
O que interessa mesmo: Bruno Fernandes foi o melhor goleador da Liga Europa e mais de metade dos golos foram marcados de leão ao peito!
Parabéns ao Bruno!
Parabéns ao Sporting Clube de Portugal por o ter tido!
{ Blogue fundado em 2012. }
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