Não faz sentido nenhum falar-se em traição de Rúben Amorim. Traição seria sair a meio da época para um adversário. Em nenhuma circunstância o Manchester United será adversário do Sporting esta época. Lamento por isso quem fala em "traição", como o sempre destemperado José Dias Ferreira, e lamento as faixas colocadas ontem no exterior do estádio.
Dito isto, é claro que só posso lamentar a decisão de Rúben Amorim. Essa decisão torna-se ainda mais lamentável depois de ouvir o discurso sobre a estabilidade de que falei no meu texto anterior. Desse discurso conclui-se: o Sporting não poderia ter feito mais por Rúben Amorim. E por isso merecia a gratidão de não ver o seu treinador sair numa altura nada conveniente para o clube, a meio de uma época, a meio de um projeto. Amorim sabia disso, também preferia não sair agora, mas no entanto teve as suas compreensíveis razões, que explicou bem ontem. Mas optou por sair, uma escolha que do ponto de vista do Sporting revela ingratidão. Mas a ingratidão, ao contrário da traição, perdoa-se. Muito mal estaria o Sporting se não reconhecesse tudo o que Rúben Amorim fez. Ingratos estaríamos a ser nós. Por isso, muito obrigado por tudo, Rúben. Muitas felicidades (enquanto não fores adversário do Sporting). Quem sabe um dia regresses.
Poucos dias depois daquele que, para mim, foi o melhor discurso de Rúben Amorim, estaria muito longe de imaginar que o próprio treinador do Sporting se tornaria, ele próprio, o maior causador de instabilidade.
Cada maluco com a sua mania, e uma das minhas manias é associar as épocas (boas ou más) do Sporting ao último algarismo. Como têm sido as épocas terminadas em 5? Mistas: não desastrosas, mas não as melhores. Desde que me lembro, em 1985, segundo lugar mas sem troféus. Jejum total também em 2005 (a famosa "época do quase" de José Peseiro), com muitos sonhos mas um terceiro lugar no campeonato. Melhores foram 1995 e 2015, em ambos os casos com saborosas conquistas da Taça de Portugal que puseram fim a longos jejuns de troféus. Mas nada de campeonato. Nunca, em toda a sua história centenária - nem no tempo dos "violinos" - o Sporting foi campeão num ano acabado em 5. Para o melhor e para o pior, Rúben Amorim tem quebrado muitas tradições no Sporting. A última foi há uma semana: pela primeira vez o Sporting perdeu uma supertaça para o FC Porto. Nesta época 2024/25, esperemos que Rúben quebre duas más tradições: a do bicampeonato que foge (que dura há 70 anos), e a de não ser campeão num ano acabado em 5. Força, leões!
Não sou o primeiro a afirmá-lo, mas concordo com quem já o disse: Coates fez muita falta. Atrevo-me a dizer: com Coates em campo não se teria assistido a tal (inédito) descalabro. Houve alguns erros individuais, mas julgo que essa será mais a justificação para a derrota na taça. Na supertaça o pior foi a atitude geral da equipa. A falta de comando. De um verdadeiro capitão (saíram três). Faltam referências. É uma equipa demasiadamente jovem. Não digo isto com a intenção de "crucificar" nenhum dos seus jovens jogadores (algo que tenho visto, e com que não concordo). Mas creio que é mesmo um problema estrutural deste plantel. E isso preocupa-me muito, pois situações como as da supertaça poderão repetir-se ao longo desta época que agora começa.
Já tinha ficado com esta impressão no episódio do "é para esmagar!" antes da final da taça. Está certo que era um vídeo off-the-record, não era a comunicação oficial do clube. Ainda assim, não me pareceu uma forma adequada de motivar os jogadores. Em qualquer circunstância deve-se respeitar o adversário. A impressão confirmou-se na final da supertaça. Aos 37 min há um festival de pirotecnia, como se já estivesse tudo ganho. A direção será alheia a tal facto, mas não pode ser a acrescentar a supertaça no autocarro do clube quando o jogo ainda nem ia a meio, para depois ter que corrigir - algo que entrou no anedotário. Qual é a minha impressão? Existe uma atitude geral de soberba em relação ao FC Porto (devido aos 18 pontos a mais na época transacta), atitude essa que parte da direção (que deveria dar o exemplo) e se transmite ao treinador e à equipa. E que se traduz numa atitude displicente em campo. Isso justifica em muito as duas recentes (e amargas) derrotas com os portistas. O clube ficou deslumbrado com a brilhante vitória no campeonato da época passada, algo que só pode ser explicado pela falta de cultura de vitórias.
Já é um lugar comum dizer-se que Rúben Amorim alterou radicalmente o discurso do treinador português - particularmente do Sporting, mas não só. Com as suas declarações antes do jogo da supertaça essa alteração radical manifestou-se mais uma vez.
Durante anos habituei-me a ouvir os treinadores empurrarem sempre a pressão para o adversário. Manuel José, então, era perito nesse tipo de discurso. Era mesmo a "cassete" do treinador algarvio. Fosse qual fosse a equipa que ele treinasse, a responsabilidade de ganhar era sempre do adversário. Foi a primeira vez que eu me lembro que ouvi claramente um treinador do Sporting admitir que a reponsabilidade de ganhar está mais do seu lado. Ou seja, a ter um discurso de equipa grande. Espero que essa pressão e essa responsabilidade se mantenham ao longo de toda esta época que agora se inicia. A começar pelo jogo de hoje.
Há doze anos lançou-se neste blogue uma série, "Os nossos ídolos". Escrevi então sobre o André Cruz, por quem tinha uma predileção especial. Terminei a minha homenagem ao André com uma frase amarga e pessimista. Há já uns anos (provavelmente desde 2018, quando um ex-presidente decidiu brindar o Coates e o Mathieu com uns comentários desdenhosos nas redes sociais após uma derrota em Madrid) que tinha concluído que a frase estava, felizmente, ultrapassada. Não retiro de forma nenhuma a homenagem ao André (e a minha admiração e agradecimento por ele mantêm-se), mas sobretudo graças ao Coates retiro aqui a última frase desse texto. Era válida em 2012, mas não o é desde 2016. Coates foi um dos melhores centrais da história do Sporting e o mais importante capitão desde o Manuel Fernandes. Merece ser homenageado ao nível do que o Manel é homenageado hoje (o Manel merecia uma homenagem maior, mas essa é outra conversa). Será sempre um dos nossos. Obrigado por tudo.
(Com licença do Pedro Correia, que costuma ser o responsável por esta rubrica.)
Que leoa: Celeste Caeiro, que distribuiu cravos aos soldados a 25 de Abril de 1974. Da próxima vez que vos recordarem que, poucas semanas antes, Marcelo Caetano tinha sido aplaudido em Alvalade, mostrem esta fotografia.
O antigo pivô do "Dia Seguinte" (na imagem, num dos momentos mais memoráveis do programa) apresentou ontem o "Jornal da Meia Noite" na SIC Notícias. O bom do moderador, ao dar a notícia da receção ao Sporting na Câmara Municipal de Lisboa, garantia que "centenas" (sic) de adeptos celebravam os novos campeões nacionais. As imagens davam conta de uma Praça do Município cheia; mas é evidente que eram "centenas". Muitas dezenas de centenas. Provavelmente uma centena de centenas. Era isso que Garcia queria dizer. Tudo centenas. Ou isso, ou possivelmente só sabe contar até 100. Será que entretanto já aprendeu alguma coisa sobre os monumentos de Braga?
Não foi possível Manuel Fernandes entregar a taça de campeão ao Sporting desta vez, mas o histórico capitão já a viu e sentiu. Haverá mais taças de campeão no futuro para o Manel entregar. Até lá, as suas melhoras. E esperemos ganhar a taça no domingo para lhe dedicar.
O jogo em Alvalade até nem era a uma hora muito má, mas os adeptos bracarenses parecem ter preferido deslocar-se à cidade vizinha para apoiarem o seu clube.
Essa questão foi abordada recentemente pelo Vítor Hugo Vieira. Aproveitando a oportunidade, recordei-me que já tinha escrito sobre ela há seis anos, no rescaldo da primeira vitória do Sporting na competição, e desde então não mudei de opinião.
Que fique claro: as declarações do Carlos Xavier são lamentáveis. Mas só o Carlos Xavier (que, felizmente, já se retratou por elas) deve ser por elas responsabilizado. O Carlos Xavier é um grande sportinguista, mas não é dirigente do Sporting. Querer responsabilizar o Sporting por isso é ridículo. Há dez anos um célebre deputado e candidato autárquico, ferrenho portista, chamou "magrebinos" aos adeptos de Benfica e Sporting. Onde estava o CD da FPF? E muito bem esteve o presidente Frederico Varandas a falar sobre o caso.
Transcrevo, com a devida vénia, um texto de António Alfarrobinha publicado no facebook, no grupo Bola de Catchu. Vítor Damas saiu do Sporting, regressou e dá hoje, justamente, o nome a uma baliza e à porta número 1 do Estádio José Alvalade. Não passou por metade do que o Rui Patrício passou.
Qual é o problema dos sportinguistas com o Rui Patrício, mesmo?
A fotografia da equipa do Sporting refere-se a um jogo com o Benfica para a Taça de Portugal, disputado em 28 de Março de 1976, que os leões venceram por 1-0. Mas, independentemente desta vitória, tratou-se de uma época (1975-76) muito conturbada para os leões. Irregularidade no Campeonato, interdição de Alvalade devido a uma invasão de adeptos na Tapadinha, insucesso na Taça UEFA logo na 2ª eliminatória, desilusão nas meias finais da Taça de Portugal com o Vitória de Guimarães. Foi o ano dos assobios a Vítor Damas em Alvalade.
A “lei de opção” tinha sido revogada em 1975, o guardião leonino era titularíssimo e estava no último ano de contrato como Sporting. Por essa razão poderia sair do clube no final da época se assim entendesse. Atento, Pinto da Costa, já comprometido com Américo de Sá para ser o director do Departamento de Futebol do FC Porto, tentou contratar Damas. Era um pedido de José Maria Pedroto, o futuro treinador.
O Sporting recebeu o Académico de Coimbra no Estádio de Alvalade, no dia 13 de Março, e aos 24 minutos do jogo os “estudantes” já tinham marcado três golos. Damas estava irreconhecível, desconcentrado, e quando o topo sul começou a assobiá-lo ruidosamente despiu a camisola e pediu ao treinador Juca para ser substituído. Saiu para os balneários debaixo de uma vaia monumental. Para um guarda-redes de futebol, um dia mau na baliza é um dia de crucificação. Mas aquilo foi bem pior.
A Direcção do Sporting entendeu suspender o guarda-redes. Duas semanas depois, houve o dérbi com o Benfica para a Taça de Portugal e Matos foi o escolhido para o substituir. Antes do jogo, titulares e suplentes juntaram-se para a fotografia com um ar circunspecto, algo sombrio. Faltava o capitão de equipa.
No final da época, Damas transferiu-se para o Racing Santander, e não para o FC Porto que tanto o assediara. Regressou a Portugal em 1980, defendeu a baliza do Vitória de Guimarães e do Portimonense e entre 1984 e 1989 voltou a jogar de leão ao peito. Em 2009, foi atribuído o seu nome à baliza sul, cuja simbologia vem do velhinho Alvalade. E onde por coincidência se verificaram os acontecimentos naquela partida com o Académico. Uma homenagem justíssima, apesar de póstuma.
Na fotografia, os jogadores leoninos antes do dérbi:
Em cima - Matos, Amândio, Da Costa, Vítor Gomes, Tomé, Laranjeira, Fraguito, Barão, José Mendes e Pinhal;
Em baixo - Libânio, Baltazar, Marinho, Chico Faria, Manuel Fernandes e Nelson.
Nunca o escrevi aqui porque, na altura dos acontecimentos, me era impossível, mas estive genericamente de acordo com o Famalicão em Setembro, na receção ao Benfica. Obviamente preferia que a criança não tivesse estado em corpo nu, mas a responsabilidade foi sempre de quem a levou para lá vestida à Benfica. Um jogo de futebol não é genericamente um evento público, mas algo organizado por clubes que têm sócios e têm direito a imporem regras, nomeadamente os sócios (que podem assistir a preço reduzido) devem apoiar o anfitrião. Quem quiser apoiar o clube visitante tem todo esse direito, mas deve pagar o bilhete e ir ocupar um lugar na zona do estádio correspondente. Em Portugal o Benfica habituou-se a achar que tem direito a jogar "em casa" em todos os campos. O Famalicão opôs-se e creio que muito bem. Esse exemplo deveria ser seguido por todos os clubes. E espero que o seja amanhã em Alvalade. Adereços de apoio ao Benfica devem ser interditos nas zonas para sócios do Sporting. Dito isto, incomoda-me o clima de perseguição que se instalou. Foi noticiado que adeptos benfiquistas chegam a pagar mais de 1000 euros aos detentores de gamebox para lhes cederem a mesma para entrarem em Alvalade amanhã. A gamebox é, por definição, transmissível pelo seu detentor a quem escolher. Esse é um ato individual. Por feitio, eu não gosto de julgar esse tipo de atos pessoais, sem ter a possibilidade de me pôr na posição de quem o pratica (e só essa pessoa sabe de si). Há muitos sportinguistas que fazem sacrifícios a pagarem quotas e gameboxes. Com os dias difíceis que vivemos, com crise e inflação, pode haver pessoas a quem as fortunas que os benfquistas pagam façam diferença - pode ser que seja o que as faça voltarem a ter gamebox para o ano. Prefiro que esses casos não ocorram, mas se ocorrerem não sou eu que os vou julgar, como não julgo os jogadores efetivamente atacados em Alcochete que rescindiram com o Sporting quando era presidido por um maluco. Não me agrada nada este clima de caça às bruxas no Sporting.
O que é importante é o que frisei no início: que se siga o exemplo do Famalicão, e o Sporting se dê ao respeito - materiais de apoio ao adversário não são tolerados na zona dos sócios. Teremos benfiquistas infiltrados? Provavelmente sim - espero que sejam muito poucos. É mais um motivo para os sportinguistas irem a Alvalade e apoiarem o Sporting ainda com mais força. É assim - e não com caça às bruxas - que devemos responder. Lá estarei.
{ Blogue fundado em 2012. }
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