Foi um jogo de má memória desportiva, mas o futebol também é feito de boas histórias. Anteontem, uma televisão portuguesa em Zagreb entrevistou Tomislav Ivković, que recordou, em bom português, a proeza de defender um penalti de Maradona contra a baliza do Sporting. (Defenderia um segundo penalti ao El Pibe meses depois, ao serviço da selecção jugoslava).
Corria o ano de 1989, o primeiro ano de Ivkovic no Sporting e fomos perder contra o Nápoles e sair da Taça UEFA. O Sporting perdeu, mas Ivkovic ganhou cem dólares, graças a uma esperteza a que hoje chamamos de "mind games".
"O Sporting empatou com o Nápoles e perdeu no desempate por grandes penalidades, no San Paolo. Da marca de 11 metros, deu-se o episódio que ficou na história e que se pode recordar no vídeo). Com o Nápoles em vantagem e Maradona encarregue de bater o quinto penálti, Ivkovic propôs-lhe uma aposta: “100 dólares em como não consegues marcar”. A manobra de distracção funcionou: o guarda-redes segurou o remate de D10S e, no tiro seguinte, Carlos Manuel empatou a série (3-3). Logo de seguida, Ciro Ferrara marcou o 4-3. E Fernando Gomes atirou à barra, selando o destino dos leões. Nem tudo se perdeu: após a partida, Maradona foi ao balneário leonino pagar os 100 dólares e, ainda, oferecer uma camisola a Ivkovic."
A minha colega de blogue, Zélia Parreira, já se pronunciou, e bem, sobre o tema, aqui.
Vou acrescentar apenas algumas ideias.
O patrocínio é uma modalidade de marketing cuja eficácia para o patrocinador está dependente da reputação do patrocinado. Há uma implícita associação de imagem e de valores. Quando o patrocinado vê a sua reputação manchada, os patrocinadores tendem a querer afastar-se, desligar-se de uma associação com valores potencialmente negativos.
Acontece que esta reacção de desvinculação está normalmente associada a figuras públicas (o chamado celebrity endorsement) individuais que estão ligadas às marcas. Foi o caso célebre do Tiger Woods no golfe, por exemplo, quando foi acusado de comportamentos sociais desviantes e perdeu grandes patrocinadores como a AT&T, a Accenture, a Gatorade e a Gillette. Ou da Sharapova que, numa primeira fase foi abandonada pela Nike e mais tarde recuperada, o que também demonstra que a precipitação é má conselheira nestas matérias.
No caso de uma instituição como o Sporting, um patrocinador está a desvincular-se não de uma individualidade de reputação manchada, mas de uma comunidade inteira que não representa, nem se reconhece, em atitudes claramente localizadas num grupo específico de pessoas que agem nefastamente em nome do Sporting. Não faz por isso sentido, nem para os adeptos nem para a opinião pública em geral, que os patrocinadores abandonem o clube num momento tão difícil. São apenas ratos que abandonam o barco.
No caso concreto, estamos, para já, a falar de marcas sem projecção, uma delas ligada, inclusive, ao judo, modalidade onde, tanto quanto se sabe, não existem problemas.
Pode ser uma forma de pressão sobre a actual direcção, pode até ser uma manobra para ganharem alguma notoriedade, mas é, sobretudo, uma má decisão de marketing.
Bem sei que uma vitória na final da Taça resolveria muita coisa, pelo menos na cabeça de sócios e adeptos. Uma derrota será o início da pulverização do Sporting.
Embora nem me pareça garantido neste momento que venha mesmo a haver final no domingo.
Em qualquer dos casos, o Sporting acaba de iniciar um doloroso processo de retrocesso no seu caminho de reafirmação do orgulho leonino.
Sei que muitos sportinguistas ponderam neste momento a continuidade da sua condição de sócio. Todo o esforço de captação de novos sócios e adeptos, que tanto sucesso teve, vai pelo cano abaixo.
E não sei o que pensarão neste momento os patrocinadores.
O dia 15 de maio de 2018 ficará como um momento negro da história do futebol.
Para completar visualmente a análise do Pedro Azevedo e o agradecimento do Luis Aguiar Fernandes, aqui ficam para a posteridade os 4 minutos mais cardíacos do campeonato. Por enquanto.
Este campeonato, que apesar de tudo não começou mal, tem também uma das equipas mais bem vestidas.
O novo equipamento do Sporting é lindo e este filme está muito bem feito. Acredito, quanto mais não seja por deformação profissional, que um bom hábito faz um bom monge. Assim lhes sirva de inspiração.
Por aqui, também vamos ter, muito em breve, novidades no blog. Fiquem atent@s.
Tenho tido o cuidado, como leiga que sou, de ouvir o nosso treinador após cada um dos últimos jogos do campeonato, na esperança de perceber o que corre mal em períodos concentrados de tempo.
Perceber é a melhor maneira de ultrapassar a náusea que empates com sabor a derrota e derrotas me provocam. Perceber é também a forma de continuar a acreditar.
O que acontece é que Jesus parece não ter nenhuma explicação plausível e, por conseguinte, há que passar a esperar sempre o pior.
Esta é uma sensação que me aborrece de sobremaneira, sobretudo quando contamos com jogadores de enorme nível e exibições fabulosas.
Temos de ter melhores explicações e melhores análises do nosso treinador. Merecemos isso, na nossa infinita capacidade de sofrer.
Sobre as transferências que nunca existiram, mas que vão sendo "noticiadas" à boleia de estratégias que pouco ou nada têm a ver com o interesse dos clubes, nada como ir aos estudos da academia.
Eis o resultado de uma tese de mestrado apresentada na semana passada.(*)
Como diz o nosso companheiro Zé Navarro de Andrade, "os "jornais" "desportivos" resumem-se aos anúncios classificados dos agentes".
(*) Excerto do relatório de estágio do mestrado em Jornalismo do Pedro Maia, apresentada hoje na FCSH, e cuja partilha agradeço ao Nuno Aguiar.
Esta série não podia ignorar o maior goleador português de todos os tempos.
Aproveitando a efeméride, fica aqui o registo do memorável Sporting-Leça de 22 de Fevereiro de 1942.
O Sporting venceu por um incrível 14-0, em que 9 desses golos são do nosso Stradivarius, quatro marcados na primeira parte, cinco na segunda.
Um festival de bola, a maior goleada de sempre no campeonato português, um feito único que nunca mais se repetiu em Portugal.
E tantas, tantas outras goleadas de Peyroteo se poderiam incluir nesta série. Por exemplo, o 4-1 do Sporting-Benfica de 25 de Abril de 1948, todos golos do nosso génio que nos deram, in extremis, o campeonato nesse ano.
Ficará para sempre na história e sobretudo no coração do nosso Clube. Com a certeza que também ficaremos no dele. Sporting e Portugal estão indissoluvelmente ligados a esta família luso-colombiana.
Fredy fez um comovente video de despedida na sua conta no Facebook, que podem ver mais abaixo neste post. Recorda que foi aqui que a sua família nasceu ("Eu e a minha família vivemos aqui em Portugal algumas das nossas melhores recentes lembranças. Este é o lugar onde as nossas filhas nasceram, onde tivemos a nossa primeira casa de sonho e onde começamos as nossas vidas como uma verdadeira família. Viver em Lisboa foi excelente, mas sem dúvida que jogar no Sporting foi uma paixão!").
Deixa também uma mensagem de fé quanto ao título de campeão ("Acredito que o Sporting possa ser campeão esta época e que em Maio possam partilhar comigo esse feito, sabendo que também fiz parte dessa conquista"). Partilhamos, sempre, essa fé e, sim, partilharemos sem dúvida essa alegria com ele.
Esta despedida é um dia triste para a família sportinguista, mas é também uma digna página da nossa história. Fredy Montero deixa um importante legado ao clube - 94 jogos disputados, 37 golos marcados, 13 assistências para golo, dizem as estatísticas - e deixa, sobretudo, um enorme orgulho neste verdadeiro espírito de leão que criou aqui.
O Leão da Estrela é um dos mais memoráveis filmes do cinema português e tem um lugar especial no coração dos sportinguistas. Um filme de família, uma comédia de ligeiros costumes, como se impunha na época. A propósito de um Porto-Sporting, o filme narra as venturas e desventuras intemporais da classe média-médiaalta-médiabaixa, das diferenças de classes, das aspirações sociais e do amor que no fim tudo vence. Um tema recorrente nas telenovelas e como tal apetecível para grandes bilheteiras, uma assumida ambição do realizador Leonel Vieira, que decidiu fazer um "remake".
A essência da versão original colocava o jogo Sporting-Porto num plano secundário, como pano de fundo para a comédia de costumes. Ainda assim, passava a mensagem de uma saudável rivalidade entre os dois clubes, a cordialidade entre adeptos e a emoção de um jogo de dois grandes (o filme original, de 1947, decorre curiosamente também num período áureo do Sporting).
Este branqueamento da essência do original, e que dá título ao original, é um lamentável e inútil engodo.
(Agradeço ao João Castro para este alerta no Twitter @castrojr76)
Paulo Pereira Cristovão foi membro da Polícia judiciária durante 16 anos e vice-presidente do Sporting durante 16 meses. Daí que seja justíssimo o título da TVI24.
Não que o Sporting possa apagar da sua história a passagem de alguns personagens pouco recomendáveis pela sua casa, como não o pode fazer nenhuma outra organização (OK, podem retirar-se uns retratos da galeria de notáveis).
Mas iria jurar que para o cidadão consumidor de informação seria bastante mais relevante saber que um polícia, com responsabilidades de investigação em crimes graves e até uma especialização em crime económico, concretamente no combate à corrupção, é suspeito da prática dos crimes de associação criminosa, sequestro, roubo qualificado, usurpação de funções, abuso de poderes e detenção de armas proibidas.
A leitura de Varela é que o gesto de Mourinho foi um grande impulso para a subida da cotação internacional de Rui Patrício:
"O cumprimento do treinador do Chelsea a Rui Patrício, no final do jogo da Liga dos Campeões, em Alvalade, fez mais pela cotação do guarda-redes do que o bom trabalho que fez dele um dos jogadores mais influentes do Sporting nas últimas épocas. Cada atitude de Mourinho tem um peso simbólico específico e se hoje em Inglaterra é destacada a exibição de Patrício frente em Chelsea, mais amplificada é a sua importância porque foi chancelada por José Mourinho."
Pois o que eu vi naquele gesto foi uma demonstração de sobranceria e arrogância em relação à equipa anfitriã. Cumprimentar o guarda-redes da equipa adversária é, em comunicação, desmerecer todos os outros jogadores do Sporting e salientar a superioridade atacante da sua própria equipa.
Antes de começar a jogar e a provar qualquer rendimento desportivo, o jogador egípcio Shikabala gerou um furacão na página do Facebook do Sporting.
Roberto Teixeira notou, num grupo do Facebook, que entre o anúncio da sua contratação e a confirmação no encerramento do mercado, na madrugada de dia 1 de Fevereiro, "em apenas 14 horas a página do Sporting Clube de Portugal alcançou mais de 60 mil novos fãs e nas últimas 48 horas teve um crescimento de mais de 100 mil."
Para além das centenas de comentários ao post do novo jogador, a página do Sporting "foi invadida por comentários da comunidade egípcia".
Em árabe, claro.
Marco Marques, no mesmo grupo, explica este fenómeno: "Os países do norte de África, nomeadamente os situados a poente (países do Magrebe) e algum do prolongamento nascente (do qual o Egipto é a primeira porta de entrada) possuem um potencial comercial enorme no futebol (intimamente relacionado com o seu fanatismo) e o Sporting está a saber escolher figuras representativas de cada um desses países. Provavelmente, assistiremos, num futuro próximo, à chegada de algum jogador representativo de Marrocos, Tunísia e Líbia. O alcance da marca 'Sporting' crescerá muito mais depressa nestes países que nos mercados orientais (mais fidelizados às grandes Ligas Europeias) embora as abordagens não sejam mutuamente exclusivas."
Interessante esta análise do Marco referente à estratégia de expansão da marca Sporting para outras geografias Interessante nesta estratégia a utilização do Facebook, onde o clube começou a postar em árabe. A página, aliás, tornou-se literalmente bilingue. Uma boa aposta e uma boa utilização das redes sociais.
O Sporting conseguiu em 2013, na modalidade futebol, a proeza de que poucas marcas se podem orgulhar: cumpriu todas as promessas da marca. A saber: Esforço, Dedicação, Devoção e Glória.
Esforço: uma equipa muito jovem, um enorme esforço de concentração tanto dos jogadores como do treinador
Dedicação: de toda a estutura, empenhada na reconstrução da equipa e na reconquista do orgulho dos seus adeptos.
Devoção: o Sporting sempre gozou de uma enorme devoção, uma fé religiosa dos seus adeptos. É agora maior que nunca.
Glória: como em todas as marcas, a sua sobrevivência exige glória, vitórias, ambição, aspiração.
O Sporting consegue terminar o ano com o posicionamento de uma marca premium, com um primeiro lugar no ranking da Liga e uma notoriedade pública muito positiva.