Um mistério dentro de um enigma
Oiço por aí uns comentadores da treta, que fogem da polémica como o diabo da cruz, apressar-se a dizer que "as escolhas de Fernando Santos na convocatória para França não oferecem discussão". Já deixei aqui a primeira crítica: levar Bruno Alves em vez de Daniel Carriço parece-me uma opção absurda.
Segue já a segunda: convocar Éder (ou Ederzito, seu nome de baptismo) constitui um inexplicável prémio à mediocridade. Quase tão (i)móvel dentro da grande área como Hugo Almeida e ainda menos concretizador que ele, o avançado nascido na Guiné-Bissau que agora joga no Lille por empréstimo do Swansea tem números aterradores ao serviço da selecção: actuou 21 vezes com a camisola das quinas e apenas marcou um golo, num jogo particular, frente a Itália. Um golo conseguido apenas à 18.ª internacionalização, o que diz muito do seu desempenho.
Ao nível de clubes, a sua melhor época foi a de 2012/13 actuando pelo Braga, com 13 golos marcados - menos de metade da marca do nosso Slimani no campeonato que agora terminou.
Parafraseando a célebre expressão de Churchill aplicada à Rússia estalinista, a chamada de Éder ao Euro-2016 é para mim um mistério dentro de um enigma. Se eu fosse jornalista desportivo já teria perguntado ao seleccionador o que esteve na origem desta escolha. Mas vou calar-me, não vá um dos tais comentadores da treta acusar-me de quebrar a unanimidade nacional.