Um milagre de Natal
Assumo que desde a primeira hora fui contra a contratação de Ruben Amorim. Não por não lhe reconhecer talento ou pelo seu passado benfiquista. Sim pelo valor pago, face à sua pouca experiência. Mesmo quem aplaudiu a contratação, reconhecerá que foi um tiro no escuro. Uma aposta de altíssimo risco, até atendendo à situação financeira do Clube.
É Natal, o Sporting está em primeiro e a jogar o melhor futebol da Liga (quando o deixam...). Amorim lançou Nuno Mendes, que ainda adolescente já é um jogador sólido, e Tiago Tomás, um valor seguro e ainda com grande margem de evolução. Confirmou aquilo que sempre eu e outros disseram - João Palhinha fazia falta. Recuperou João Mário, um internacional A. Conseguiu, finalmente, fazer contratações que acrescentaram à equipa: Pote, Nuno Santos, Tabata. Felizmente, hoje podemos dizer que a aposta em Amorim deu certo.
E tudo isto sem Bruno Fernandes, que era mais de metade dos golos da equipa, entre tiros certeiros e assistências. E a alma do balneário.
Dá gosto ver finalmente um treinador com coragem de lançar jovens de elevado potencial ainda aos 18 ou 19 anos - que mesmo Keizer, apresentado como o Rei da formação, nunca foi realmente capaz. E dá uma certa pena ver estes miúdos jogar com Palhinha, que está a demonstrar o seu valor, depois de 2 épocas a rodar a outras a ver o jogo do banco. A política do "rodar para ganhar experiência", em clubes de segunda linha, não tem funcionado e é bom vê-lo demonstrado cada vez que o Sporting entra em campo. Aliás, que fazia Daniel Bragança na 2ª Liga na época passada?
Também é bom lembrar que a equipa que Amorim encontrou nada tinha a ver com a de hoje. Era uma mistura de flops de várias proveniências, mau ambiente e desmotivação. Devemos reconhecer a Amorim a coragem de, nesse momento, ter a coragem de renovar o balneário com jovens ansiosos por pisar o verde de Alvalade XXI. De impor o seu estilo de jogo. E, sobretudo, de identificar e acrescentar talento. Nas contratações do Clube, com a actual direcção, há claramente um antes e depois de Amorim, e a diferença é da noite para o dia.
Sou um observador atento do comportamento dos treinadores durante os jogos. Em Jesus, irritava-me a teatralidade. Em Keizer, a passividade. Gosto do estilo de Amorim, concentrado e faminto de ganhar.
Ganhamos uma equipa, mas é claro que troféus ainda nem vê-los. Pelo contrário, perdemos o acesso à Liga Europa, de maneira humilhante, logo a começar esta época. Essa perda financeira é um rude golpe para o Clube, já a braços com a perda de receitas de espectadores. Perdemos, antes, com o Porto e com o pior Benfica dos últimos anos. É claro que terminar a época no lugar onde estamos implica ganhar na Liga a Porto e Benfica, algo que na actual direcção ainda não conseguimos. E convém ter presente que a arbitragem continua a ser uma máquina bem afinada, ali para os lados da Luz.
Também não nos ajuda o discurso insosso da direcção, ainda feito do "melhores dias virão" e "vamos ganhar milhões a vender jogadores da formação" que, na Liga do vale tudo, é uma receita para ficar a ver passar navios. Mas Amorim conseguiu, em menos de um ano, montar uma equipa com talento e ambição suficiente para estar a disputar o primeiro lugar e isso é, a todos os títulos, extraordinário. É um milagre de Natal. Esta é uma equipa que faz pena não poder estar a apoiar em Alvalade. Só por isso, tiro o meu chapéu ao nosso treinador. E, de seguida, como o mesmo chapéu com gosto, por ter duvidado das suas capacidades.
Votos de um Natal verde-e-branco para todos os Sportinguistas!