Um assalto em curso
Na próxima quarta-feira o Sporting Clube de Portugal vai jogar contra um ectoplasma denominado B SAD, espécimen único no futebol europeu, e talvez mundial, e evidência viva da asquerosa impostura que é o futebol em Portugal. Esta coisa B é uma entidade sem adeptos nem instalações, que roubou a posição ao venerável Belenenses. Ora um clube é suposto ter uma base social de apoio e estar domiciliado numa comunidade. Este é o primeiros escândalo do B, o segundo é que no mundilho peçonhento do futebol português, no qual obviamente se deve incluir a comunicação social que nele se pendura, ninguém se escandalize com isto e exija a erradicação desta abencerragem para dar lugar a um clube normal.
Mas se o B não tem adeptos então praticamente não tem rendas de bilheteira a não ser a fornecida pelos adeptos dos clubes que o visitam. Sem adeptos também seria suposto não ter qualquer capacidade de atrair investimento publicitário. Portanto a primeira coisa que o B prova, pelo simples facto de continuar a existir, é que no futebol português os adeptos não valem um caracol. Os que vão ao estádio são apenas elementos cenógraficos para dar ambiente aos jogos e os outros reduzem-se à condição de consumidores de TV e daquelas folhas de couve que por aí andam, ou seja, meros dados estatísticos para audiências.
Então o B vive de quê? Vive da tranche que lhe cai no colo dos direitos televisivos geridos pela Liga e das transações de activos, isto é, de jogadores. Que o B continue a existir prova que este modelo de negócio é minimamente interessante. Não tem é nada a ver com futebol... Assim sendo é forçoso concluir que o B não passa de um parasita. Na verdade são os grandes (Sporting, SLB, FCP e Guimarães, os clubes com adeptos a sério, e um pouco o Braga, famoso por ter adeptos em "segunda mão"), aqueles que geram de facto receitas, os que têm capacidade de atracção de investimento, que alimentam o B. À primeira vista pareceria justo e equitativo que os direitos televisivos estivessem centralizados na Liga para melhor os distribuir pelos clubes ditos pequenos, assim alavancando o seu valor e torná-los mais competitivos o que teria o efeito virtuoso de melhorar a qualidade do espectáculo futebolístico português. Como todas as ideias feitas isto é uma aldrabice. Centralizar os direitos é de facto espoliar os clubes de verdade para tornar os B da vida mais rentáveis, logo mais propícios à captura das SADs por corsários de meia-tigela. Em resumo: centralizar os direitos televisivos é injusto (o futebol a quem trabalha!), perverso porque alimenta ténias como o B e, sobretudo, muito suspeito.