«As duas últimas décadas foram as que faliram o clube. O Sporting, transformado em empresa e dirigido por gestores profissionais, era afinal clube de amigos. Está tudo na auditoria. Contratos não escritos, pagamentos sem justificação, bonificações sem enquadramento legal, serviços externos garantidos por funcionários, dirigentes que trabalhavam para empresas contratadas, comissões exageradas com fundos e agentes. E, claro, o caso dos custos do estádio, de que ficará sempre qualquer coisa por contar. O Sporting perdeu muito dinheiro com a gestão profissional de tipo empresarial. Nuns casos foi incompetência, noutros foi mais grave do que isso. É por isso que, não sendo fã de expulsões, tenho de concordar com quem se quer ver livre da fina flor do entulho. A expulsão de Godinho Lopes é um acto de justiça. Para com o clube e até para com alguns dos auditados. Podem ter gerido mal o clube. Mas faça-se a justiça de dizer que nem todos são da estirpe de Godinho Lopes.»
Daniel Oliveira, hoje, no Record
ADENDA: A ilustração surge por sugestão de um leitor, que naturalmente acolhi. É sempre bom lermos clássicos da literatura portuguesa
Referia-me a condes e marqueses tal e qual estão retratados pelo Camilo na Corja e não de acordo com a estupidez dos dias correntes. Tenho o livro bem presente.
Se tivemos os tios da gestão - e não precisei de nenhuma auditoria para aqui dizer no tempo oportuno o que era aquela gente, como operavam, etc - agora temos um sobrinho que por puro altruísmo e sportinguismo faz aparecer dinheiro, muito dinheiro. Ainda há pouco tempo suspeitavam - maldosamente, claro - que a especialidade do dito era desaparecer com ele. Mistérios de Lisboa, para voltarmos à literatura.
Parece que a figura do nosso grande autor é, de certo modo, omnipresente. Pois é célebre - e citada em excesso - aquela passagem da queda de Atenas e Roma.
O verdinho que nos entrou já opera milagres. Um tipo como o Marco Silva que nunca, que eu saiba, teve problemas por onde passou, e que conseguiu ganhar uma taça de Portugal com um plantel daqueles, viu-se de imediato manchado pela falta de ética, por desrespeito e por aí adiante. Voltam as transferências, os rumores, mas, desta feita, já não se fala de empresários, de comissões e macacadas da mesma índole. Desde que haja dinheiro, não há problema.
Mais surpreendente - aos olhos de um ingénuo como eu - é ninguém perguntar que sentido faz derreter milhões num clube, numa liga e num país pobre. A resposta é óbvia: investem (belíssimo termo), certamente, com a melhor das intenções.
"Derreter milhões"? Deve dirigir essa pergunta ao FC Porto. Esses sim, estão a derreter milhões. E já têm um vice-presidente sob alçada judicial, constituído arguido. É o início de uma longa caminhada... O Sporting, se bem leu o relatório e contas, apresentou lucros de 23 milhões nos últimos nove meses. Algo impensável nos mandatos anteriores - que, esses sim, foram derretendo dinheiro.