Tudo está bem quando acaba bem
Sporting, 3 - Casa Pia, 1
Nuno Santos festeja após "bomba" que virou o resultado (59')
Um dos chavões mais batidos do futebol diz-nos que "isto não é como começa, mas como acaba". A frase até enjoa, de ser tão utilizada, mas aplica-se como uma luva a este difícil desafio que travámos na noite de sábado ao receber o Casa Pia, recém-promovido ao principal escalão do futebol português.
Há 84 anos que os "gansos" não competiam na primeira divisão nacional. Desde a época 1938/1939, quando os defrontámos e vencemos em duas partidas. Restam muito poucos adeptos vivos desses tempos em que o Sporting passeava classe em qualquer campo do país, na era imediatamente anterior à dos 5 Violinos.
Suámos e sofremos para vencer este Casa Pia dos nossos dias. Que estava à nossa frente na classificação antes de começar o jogo, num merecido quarto posto. Por ter vencido quatro desafios fora de casa: em Guimarães, no Funchal, em Famalicão e Paços de Ferreira.
Impusemos-lhe, à décima ronda, a primeira derrota como equipa visitante. É quanto basta para atestar o valor da turma orientada pelo treinador Filipe Martins e com jogadores de bom nível, como Ricardo Batista, Vasco Fernandes, Fernando Varela, Godwin, Clayton e Romário Baró. O primeiro, guarda-redes, chegou a jogar na nossa equipa A. O último passou pela formação leonina, mas distinguiu-se sobretudo no FC Porto.
O Sporting entrou com mais velocidade do que nas seis partidas anteriores para todas as competições em que havia registado quatro derrotas (contra Boavista para a Liga, contra o Varzim para a Taça e duas contra o Marselha na Liga dos Campeões). Percebia-se que desta vez os nossos jogadores queriam pressionar alto e marcar cedo.
Podiam tê-lo feito se a pontaria fosse mais certeira (Edwards pareceu imitar Bryan Ruiz logo aos 5', falhando à boca da baliza, e Trincão disparou para as nuvens com tudo à sua mercê, aos 20') ou o guardião casapiano não se revelasse em grande forma (negando o golo a Morita e Pedro Gonçalves).
A verdade é que, contra a corrente de jogo, foram eles a marcar. Numa arrancada vertiginosa que deixou a nossa defesa plantada e Adán sozinho perante Clayton, que a meteu lá dentro. No minuto 43', que prometia ser fatídico.
Fomos para o intervalo a perder, escutavam-se sonoros assobios aos jogadores na famigerada Curva Sul, parecia iminente um novo cenário de pesadelo, digno de voltar a pôr tudo em causa neste clube tão bipolar.
Mas a pausa fez bem ao Sporting. Também ao treinador, que tomou as decisões que mais se impunham: mandou sair um desinspirado Trincão, trocando-o por Paulinho, encostou Edwards à linha direita, o lugar adequado para ele, e manteve Morita alguns metros mais adiantado, reforçando o nosso caudal ofensivo. Marsà, magoado, ficou no balneário e Chico Lamba, estreante na primeira equipa, entrou no seu lugar.
O facto é que resultou. Em dois minutos, virámos este jogo disputado anteontem. Aos 57', com Paulinho, a emendar de cabeça uma defesa incompleta de Batista nesta sua estreia como marcador na Liga 2022/2023. E aos 59', por Nuno Santos, numa bomba que o habilita a melhor em campo e desde já se candidata a golo do ano. Porro esteve em ambos os lances, rematando no primeiro e assistindo no segundo.
Aos 65', o tento da tranquilidade. Apontado por Pedro Gonçalves, de penálti, para castigar falta sobre Edwards e logo assinalada pelo árbitro Helder Malheiro.
Até ao fim, só deu Sporting. Já em modo menos fogoso, pensando no desafio europeu que nos aguarda esta quarta-feira em Londres, contra o Tottenham. Deu ainda para trocar Pedro Gonçalves por Arthur, Porro por Nazinho e Ugarte por Mateus Fernandes - outra estreia absoluta no primeiro escalão leonino.
No final, para variar, não houve assobios. Tudo está bem quando acaba bem.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Pouco trabalho, desta vez como capitão. Nada podia fazer no golo sofrido, pouco antes do intervalo. Antes, aos 15', tinha visto uma bola bater no poste. Defesa vistosa aos 54'.
Gonçalo Inácio - Chegou a assustar num choque na primeira parte que o forçou a jogar com touca protectora. Começou à direita mas fez todo o segundo tempo no eixo da defesa.
Marsà - Com Coates, Neto e St. Juste ausentes por lesão, o esquerdino catalão vai ganhando espaço na defesa, mesmo jogando à direita. Tocado, já não entrou para a segunda parte.
Matheus Reis - É lateral adaptado a central e nota-se em certas jogadas, como a do golo sofrido, em que coloca o adversário em posição legal. Uns furos abaixo do que já mostrou.
Porro - Dínamo da equipa, junto com o colega da ala oposta. Dominou o corredor direito. Essencial no primeiro golo, com um disparo para defesa muito apertada. Assistiu no segundo.
Ugarte - Médio de contenção, cumpriu no essencial. Travando o passo ao Casa Pia, atento às recuperações (uma notável, aos 77'). Tentou marcar na meia-distância, ainda sem sucesso.
Morita - Vem apurando a classe de jogo para jogo. O melhor do nosso primeiro tempo, com qualidade de passe nas transições ofensivas. Esteve quase a marcar aos 40'.
Nuno Santos - Ninguém o bate em intensidade e na entrega ao jogo. Voltou a ser o mais inconformado. Recompensado com o excelente golo que marcou aos 59'. Indefensável.
Trincão - Amorim continua a apostar nele como titular, mas tarda em mostrar serviço. Perde-se em fintas e não sabe muito bem o que fazer com a bola. Cedeu lugar a Paulinho aos 54'.
Pedro Gonçalves - Clara subida de forma. Quase marcou aos 7'. Ofereceu golo a Trincão aos 20'. Um tiro aos 33' que Ricardo parou. Remate cruzado a rasar o poste (49'). Marcou enfim, aos 65'.
Edwards - Engolido pela defesa adversária enquanto andou algo perdido no eixo do ataque, melhorou com a entrada de Paulinho, que o desviou para a direita, seu terreno preferencial.
Chico Lamba - A maior surpresa desta partida. Lançado em estreia por Amorim, fez todo o segundo tempo, substituindo Marsà. Cumpriu. É ele a iniciar a jogada do nosso golo aos 57'.
Paulinho - Funciona melhor como suplente utilizado? Deu ideia que sim. Entrou aos 54', marcou (de recarga) três minutos depois. O seu primeiro nesta Liga. Muito móvel, arrastou marcações.
Arthur - Rendeu Pedro Gonçalves aos 72'. Entrou com a energia revelada na estreia como Leão contra o Tottenham. Desta vez não marcou mas ganhou canto. Também apoiou a defesa.
Nazinho - Substituiu Porro aos 78'. Sem complexos. Esquerdino no corredor direito, esteve prestes a marcar quando, isolado por Lamba, rematou rente ao poste aos 82'.
Mateus Fernandes - Entrou para o lugar do quase esgotado Ugarte (78'). Estreia absoluta na equipa principal, premiando o seu bom trabalho na equipa B. Atirou por cima aos 85'.