Tudo ao molho e FÉ em Deus - Sentimento agridoce
Sejamos justos, competições europeias incluidas, nenhuma equipa nos foi tão superior como o Benfica ontem.
A diferença esteve no meio campo: William Carvalho foi uma porcelana numa loja de elefantes encarnados e no seu raio de acção o Benfica partiu a loiça toda. Para além disso, a sua saída com bola foi quase sempre lenta e má e, tal como o Passe Social, não cobriu todo o território. Battaglia, embora mais intenso, também esteve longe de ser brilhante. A construção do nosso miolo assentava na areia e, talvez por isso, o argentino, ao tentar dar uma mãozinha acabou por ajudar a equipa a morrer na praia. Bruno Fernandes foi demasiadamente intermitente, apesar de ter mostrado a qualidade habitual quando teve a bola nos pés, com influência nas duas oportunidades de golo leoninas (uma concretizada) criadas na primeira parte . Acabaria, no entanto, por definir mal, já dentro dos últimos 10 minutos, falhando uma (para ele) assistência fácil para Dost que teria matado o jogo.
Adicionalmente, as substituições tiveram o condão de piorar a equipa: Bruno César foi menos intenso do que o desinspirado Acuña e a saída de Gelson - Bruno Fernandes derivou para a direita e Bryan Ruiz entrou para a posição anteriormente ocupada pelo maiato - retirou um outro tipo de protecção a Piccini. Coincidência ou não, o penálti ganho pelo Benfica começou num desequilíbrio causado na lateral direita da nossa defesa.
Com Rui Patrício a mostrar um nervosismo invulgar num ou outro lance, os defesas acabaram por ser os nossos melhores jogadores: Piccini fez um jogo enorme, salvando um golo cantado e mostrando um tempo de entrada aos lances perfeito, Coates e Mathieu foram imperiais pelos ares (contando muitas vezes com o apoio de Bas Dost) e Coentrão fez valer a sua experiência, conseguiu condicionar o perigoso Sálvio e ainda teve tempo para assistir Gelson para o único golo do Sporting. Contra si, apenas o facto de ter passado demasiado cartão aos objectos provenientes da bancada.
A linha avançada não esteve particularmente inspirada: Bas Dost sentiu-se mais orfão do que Oliver Twist na obra homónima de Charles Dickens, Acuña mastigou os lances como se fossem Torrão de Alicante e Gelson, o melhor atacante, marcou um golo e desperdiçou outro em cima do intervalo, mas foi uma sombra de si próprio no um-para-um.
Não podemos estar satisfeitos quando o adversário teve o triplo das nossas oportunidades de golo (9-3) e só o sortilégio do futebol, bem reflectido nos 3 quase-autogolos (dois do "especialista" Coates), nos fez saír da Luz com a divisão dos pontos. A verdade, dura e crua, é esta: o Sporting não perdeu o jogo - facto positivo -, mas desperdiçou a oportunidade de abrir um fosso para o rival. Por falta de capacidade, ou de ambição, acabámos a dar moral e esperança ao Benfica e a contribuir para a narrativa que, certamente, não deixaremos de lêr e ouvir nos próximos dias.
Tenor "Tudo ao molho...": Cristiano Piccini