Tudo ao molho e FÉ em Deus - Medo de ser feliz!?
O Sporting bateu o Marítimo, num jogo em que Peseiro experimentou duas tácticas: primeiro, a do Pudim Molotov, com um buraco no meio (espaço compreendido entre Bruno Fernandes e o duplo-pivô) e as zonas envolventes todas cobertas de jogadores; depois, a das Chaves do Areeiro, com trinco, tranca e cadeado.
A primeira táctica tem o seu quê de soviética, na medida em que herda o seu nome de um antigo ministro dos negócios estrangeiros (Vyacheslav Molotov) no tempo de Estaline, famoso pelo pacto de não-agressão que assinou com Joachim Von Ribbentrop, ministro das relações externas da Alemanha nazi. Ora, como sabemos, o sistema económico/político da antiga União Soviética colapsou devido ao excesso de burocracia, má alocação de recursos humanos e contínuo investimento em sectores deficitários, algo que tem paralelismo com o que vem sendo a actuação do Sporting em campo devido ao uso do mal-amado duplo-pivô. Já a segunda táctica é um neomodernismo de inspiração tipicamente portuguesa, que diz que a igualdade é contraditória, remete para um passado que já tem 13 anos e se traduz na interpretação literal do velho adágio popular "depois de casa roubada, trancas à porta".
Os leões entraram bem, com Montero a mostrar uma maior amplitude de movimentos e logo a criar problemas à defesa insular. O colombiano começou por cabecear ligeiramente por cima e por roubar uma bola em zona proibida e sacar um cartão amarelo a um maritimista. Aos 12 minutos, Jovane Cabral rasgou a defesa da Madeira com um passe perpendicular que deixou Raphinha isolado perante Amir, num duelo Brasil-Irão de onde resultou uma grande penalidade superiormente transformada por Bruno Fernandes. Assistir a um golo madrugador do Sporting é um privilégio tão raro como ver Petrovic executar com sucesso uma roleta à saída da sua área, mas acreditem, ou não, ambas as situações ocorreram ontem, no espaço de poucos minutos, em Alvalade. Ainda na primeira parte, uma carambola às três tabelas possibilitou a Fredy "Theriaga" Montero dar a estocada final. A tacada original foi de Raphinha. Caminhava a partida para o intervalo quando Ristovski voltou a não ser capaz de fechar por dentro, abrindo uma autoestrada por onde entrou, isolado perante Salin, um maritimista. Passe de morte para a esquerda, mas apareceu Acuña a salvar miraculosamente um golo cantado. Grande garra do argentino!
O segundo tempo começou de forma auspiciosa, com o Sporting a dominar a seu bel-prazer. Acuña rematou ao lado, Montero teve um toque de habilidade para Bruno Fernandes que lançou o perigo, uma combinação entre Raphinha e Bruno quase dava o terceiro da noite e Montero (sempre ele!) ainda sacou um livre na meia-lua da área insular. Eis que Peseiro decide mexer e tira Jovane. Esperava-se que fosse a oportunidade de Mané ter minutos no regresso à competição, ou mesmo que Diaby pudesse finalmente mostrar a sua anunciada velocidade, mas o treinador leonino, pouco preocupado com o deleite dos espectadores, optou por dar mais uma volta à fechadura e lançou Misic, alterando o 4-2-1-3 (e não 4-2-3-1) para um 4-3-0-3 (e não 4-3-2-1). Afinal, estavamos a jogar com o Real... Marítimo. A verdade é que, se antes havia um buraco no meio, passou a haver um fosso. Caso insólito, o Sporting alinhava, então, com duas equipas: a dos "retranqueiros", composta por 8 jogadores, confortavelmente instalados na sua trincheira, e o movimento dos não-alinhados (Raphinha, Montero e Bruno Fernandes), deixados sózinhos na frente, isolados, contra o mundo. Bruno, já outrora obrigado a pressionar alto sem bola e a baixar com bola para diminuir a distância para Gudelj e Petrovic, ocupava agora uma nova posição, a de ala esquerdo. É a isto que deveremos chamar de "gestão de plantel". (Ainda o haveremos de ver a jogar com uma máscara de oxigénio e um desfibrilador.)
Salin - Esteve bem, sempre que chamado à acção, entendendo-se aqui acção como uma hipérbole não denotativa da necessidade de um duche após o jogo.
Nota: Sol
Ristovski - Voltou a demonstrar ter "mais olhos que barriga", ou seja, teve olho na bola e pouco estômago para absorver o espaço e os adversários em redor. Como se já não bastasse o buraco a meio campo, também ele, qual toupeira, volta não volta vai escavando roços para os centrais.
Nota: Fá
Coates - Imperial, para ele foi apenas mais um dia no escritório em que despachou com brilhantismo todo e qualquer contencioso que lhe passou pela frente. O Ministro da Defesa!
Nota: Lá
André Pinto - O Bastos Lopes teve o Humberto Coelho, o Lima Pereira teve o Eurico, o André Pinto tem o Coates. Ontem, foi o Secretário de Estado da Defesa.
Nota: Sol
"Muttley" Acuña - Um jogo feito de garra. Morde os calcanhares aos adversários e ainda arranja tempo para solicitar o ataque. Providencial no final da primeira parte.
Nota: Lá
Petrovic - Alguns bons cortes na primeira parte e um pormenor com nota artística. Revelou tendência para se encostar a Coates, assim como que a pôr-se a jeito para um cargo de assessor ministerial.
Nota: Sol
Gudelj - Como diria o Gabriel Alves, não jogou bem nem mal, antes pelo contrário.
Nota: Fá
Bruno Fernandes - Pode jogar bem ou mal, mas o seu compromisso com a equipa é enorme. No campo, corre quilómetros e dá o exemplo. Marcou um golo de grande classe, a mesma que revelou ao (re)endereçar o prémio de melhor em campo ao regressado Mané. Solidário, não perdeu a oportunidade e mostrou poder vir a ser um bom capitão.
Nota: Lá
Raphinha - Estava o jogo ainda no início quando foi derrubado pelo "fundamentalismo" islâmico, ou melhor, por um guarda-redes iraniano que julgou fundamental dessa forma evitar um golo certo. Ainda na primeira parte, esteve na origem do segundo golo. Quase assistiu Bruno, no segundo tempo. De destacar ainda a forma como, com um toque subtil, deu boa sequência a uma bola difícil, comprida e que lhe chegou pelo ar, revelando excelente técnica.
Nota: Lá
Jovane - O passe com que rasgou a defensiva insular na jogada do primeiro golo foi a sua afirmação iluminista na defesa da liberdade de criação e da livre posse da bola.
Nota: Sol
Montero - Quando o "Cool Dude" se transforma num frio "assassino". Não deu descanso à defesa maritimista. O seu futebol de filigrana ganha fulgor quando a confiança e a capacidade física aumentam. Aí, torna-se uma dor de cabeça para os adversários, impotentes face ao seu futebol feito de toque, refinada técnica e inteligência, ingredientes bem presentes no seu golo. Nesse lance não precisou de rebentar as malhas, fez apenas um passe para a baliza. Subtil.
Nota: Lá
Misic - Completou a balcanização do meio campo do Sporting. Como o Melhoral, não fez bem nem fez mal.
Nota: Fá
Diaby - Dizem que é rápido, mas com tão poucos minutos, ainda não deu para ver se tem o Diaby no corpo.
Nota: -
Mané - Entrou para o aplauso, naquilo que foi um feliz reencontro com Alvalade. Que seja o (re)início de uma grande amizade!
Nota: -
Tenor "Tudo ao molho...": Fredy Montero