Tudo ao molho e FÉ em Deus - Jogo da Glória
O jogo iniciou-se com o Sporting a jogar a passo e o Aves de Mota a voar baixinho. Com Wendel e Bruno Fernandes muitas vezes em linha, aos centrais e a Gudelj faltava um médio que se aproximasse da bola e ajudasse na construção, a sua ausência fazendo com que o jogo fosse constantemente lateralizado e longe dos princípios impostos pelo novo treinador leonino. O jogo a um/dois toques não aparecia - bitoque de menos e bife nervoso e muito mastigado de mais - e o Aves aproveitava para contra-atacar sempre com grande velocidade, explorando preferencialmente o lado direito da defesa leonina e as costas de Bruno Gaspar (em tempo natalício, um Rei Mago sempre pronto a distribuir presentes). É que Marcel Keizer tentara criar um “joker” no meio-campo com o adiantamento do lateral, mas a estratégia estava a ter um efeito “boomerang”. Não surpreendeu assim que os avenses se tivessem adiantado no marcador, seguindo a velha máxima futeboleira de que melhor Defendi é (n)o ataque. Valeu que, na hora H, a Amilton faltou a consoante para dilatar o marcador. Já Renan foi herói, resistindo a cair, evitando que lhe picassem a bola por cima do corpo.
O Sporting sentia muitas dificuldades em ligar o seu jogo, mas um penálti desnecessário cometido por Vitor Costa sobre Diaby permitiria a Dost equilibrar as contas. Nesse transe, Mota perdeu os travões e deixou a sua equipa apeada. Coates – já ficara mal no golo - não se conformou, e acometido de uma recorrente gripe das aves (ainda consequência de um anterior contacto com o "galo" Griezmann em Madrid) isolou um avançado adversário. Desta vez, o lance acabaria nas malhas…laterais da baliza à guarda de Renan. A partida caminhava para o fim da primeira parte, quando Nani tirou um coelho da cartola e aplicou uma folha seca muito indigesta e que trouxe água no bico ao guardião das Aves, adiantando o Sporting no marcador.
O reatamento viu o Sporting fazer o terceiro: Bruno Fernandes rodopiou entre dois adversários e junto à linha lateral do lado esquerdo do ataque leonino centrou de canhota para Dost (goleadores assim são espécies em via de extinção) bater as Aves no seu habitat natural. Logo de seguida, Acuña foi expulso por acumulação de amarelos, ele que no primeiro tempo tinha mostrado ainda precisar de algumas lições adicionais de controlo de raiva, certamente a serem leccionadas numa viagem mais longa do que aquela entre Vila do Conde e o José Alvalade. Curiosamente, em inferioridade numérica o Sporting jogou melhor, com maior aproximação entre os sectores e mais trocas de bola rápidas. Num desses lances, Bruno Fernandes (médio completo, outra ave rara) isolou Diaby sobre a direita e este teve tempo para flectir para dentro e assinar uma obra de arte digna do Renascimento de um grande Sporting, o quarto dos leões e que sentenciou a partida.
O Sporting pareceu estar a disputar o Jogo da Glória: ontem caímos num poço e só começámos a jogar depois de sermos ultrapassados no marcador. Ainda assim, a morte esteve ali bem perto. Depois, empatámos e lá voltámos à casa de partida (1-1), pela quarta vez desde que Keizer é o nosso treinador (a primeira em que saímos atrás). Os dados estavam lançados e fomos bonificando e avançando mais ainda. Até que, ultrapassados o Inferno e o Purgatório, já era certo que atingiríamos a Glória. Por fim, já sem emoção, desligámos e limitámo-nos a aguardar pelo inevitável desfecho. Mas atenção: o nosso peão chegou à frente, mas não passou a ser um camPEÃO. Todavia, o que se pode dizer quando o pior Keizer da época se traduz num triunfo por 4-1 contra a equipa que, por via de um Jamor de perdição, há meses atrás sovou a prima do mestre-de-obras que andou lá por Alvalade a que era amante de arte românica? Uma palavra final para José Mota: utilizou bons ingredientes e o cozinhado teria sido de primeira se não lhe tivesse faltado a mão (de Ronny?) no tempero. É o que dá abusar da canela(da)...
Tenor “Tudo ao molho...”: Bas Dost