Tudo ao molho e FÉ em Deus - Eu show Bruno
O normal no futebol é os jogadores, à medida que se vão integrando nas suas equipas, irem melhorando. No Sporting, não! Ristovski começou por ser um promissor lateral direito, bom a defender e a dar profundidade atacante. Ontem fez um jogo profundamente mau e promete não saír do banco tão cedo. Outro caso paradigmático é o de Ricardinho, a.k.a. Ruben Ribeiro. Estreou-se com um número de magia frente ao Aves, mas desde aí não tirou mais nenhum coelho da cartola e os adeptos aguardam com crescente ansiedade, para não dizer agonia, que um qualquer sortilégio o coloque no lugar privilegiado para alardear a sua superior visão de jogo, o camarote. Bryan Ruiz é mais um exemplo do atrás exposto. O costa-riquenho só não piorou na concretização - também era impossível - e ontem até contribuiu com uma assistência para o primeiro golo da partida, mas o seu impacto no jogo ficou-se por aí, continuando a anos-luz daquele sósia que aterrou em Alvalade na temporada 15/16.
Jorge Jesus decidiu finalmente fugir à rotina (ou retina, eu sei lá!!!) e dispôs a equipa num 4-3-3. Bom, na verdade, e dadas as características de Ruben Ribeiro e Bryan Ruiz, a coisa acabou por transformar-se num 4-5-1, com o inconveniente de, mesmo em acção defensiva, os alas não fecharem o seu flanco, abrindo assim verdadeiras autoestradas para os jogadores do Astana percorrerem. Coentrão ainda foi colocando algumas portagens no caminho, obrigando os cazaques - sem Via Verde - a desacelerarem nas suas imediações. Já com Ristovski, os adversários penetraram a seu bel-prazer, assim ao modo de "nada a declarar".
Rui Patrício parece ter compreendido os postes, seus recém-aliados: em momentos-chave dos últimos 4 jogos, o guarda-redes viu por 4 vezes a bola beijar os ferros da sua baliza, recusando-se sempre a entrar. André Pinto é o novo Paulo Oliveira, versão 2.0, revelando a mesma sobriedade defensiva e similar dificuldade em iniciar a construção. A seu favor, apenas o ser mais alto. Mathieu fez um jogo contido, de poupança de esforços (e de cartolinas amarelas).
Salvou-se o meio-campo central: Palhinha, mais recuado, sempre impetuoso sobre a bola, mostrou ser um jogador a considerar. Foi pena Jesus tê-lo tirado cedo no jogo, não fosse desgastar-se em vão e deixar de ser uma opção para ... a bancada. Assim, entre a falta de ritmo de Dost, motivada pela lesão na grelha costal, e a grelha que Palhinha costuma usar para fazer uns churrasquinhos em dia de jogo, JJ decidiu-se pela opção epicurista (ou será epi-"corista"?). Battaglia fez lembrar o Exterminador Implacável do início da época, destruindo e galgando léguas com a bola, naquele seu estilo de membro da estafeta de 4x100 metros, pese embora entregue demasiadamente a bola no pé, como testemunho da sua boa vontade, em vez de a passar e desmarcar-se. Bruno Fernandes pintou mais alguns Rembrandts e vestiu o seu melhor cazaque de gala (2 golos, um deles, magistral, a mais de 30 metros), mas também soube pôr o fato-macaco para servir a equipa à direita, compensando o desvario de Ruben Ribeiro, durante a primeira parte. Voltou à ala, algures durante a segunda parte, mas aí já foi o complicómetro de JJ a funcionar, juntando William - não entrou propriamente bem - a Palhinha e Battaglia no centro. À medida que a época avança, pese embora mude constantemente de posição, mais se entende que Bruno tem qualquer coisa a mais que todos os outros. É a qualidade de recepção, é o passe, é o remate quase sempre enquadrado, enfim um "show" de bola.
Bas Dost marcou um bom golo de cabeça, perdeu outros dois e serviu na perfeição Bruno Fernandes para o terceiro da noite. Dost ainda teve tempo para ter uma lesão muscular numa coxa, a segunda da época, desempatando assim em desfavor da maleita na grelha costal.
Acuña entrou após o intervalo, mas não brilhou. De destacar a estreia europeia de Rafael Leão. Aqueles arranques com a bola não enganam, está ali um diamante a necessitar de um bom lapidador.
Referência ainda para os árbitros de baliza: são um tipo de personagens da mitologia "platiniana" que entram para as estatísticas do turismo e, assim, ajudam as diferentes economias a crescer, para além de proporcionarem momentos de boa camaradagem e de convívio com a restante equipa de arbitragem. Na prática, têm a função de um placebo: não fazem bem nem mal, mas a UEFA fica contente de os ver lá. Hoje, um deles, não viu um jogador cazaque (em fora-de-jogo) tocar, estorvar e passar à frente de Rui Patrício, no momento do primeiro golo do Astana.
Nota final para o nosso habitual desleixo nos últimos minutos dos jogos que estamos a ganhar confortavelmente: ontem, essa indolência custou a Portugal 167 milésimas no ranking da UEFA...
Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes