Tudo ao molho e FÉ em Deus - A Final?? Havia outra...
Gosto muito da final da Taça. Mais ainda, gosto muito de ganhar a Taça, aquela competição verdadeiramente democrática, de feitos épicos e de “tomba gigantes”. E depois, disputa-se em “mata-mata”, ou seja, tem tudo a ver com o nosso clube, vivemos assim há anos…
Os últimos dias tinham sido de pouco sono, de dormir mal e de ter pesadelos, mas mal o jogo se iniciou, comecei a sonhar acordado: Jesus tinha esboçado um plano maquiavélico para enganar José Mota. Nesse sentido, um bando de caracterizadores invadiu Alcochete e atirou-se aos nossos principais jogadores. Bas Dost era o mais bem maquilhado, com umas assustadoras cicatrizes pintadas na sua testa. As televisões ajudaram a criar um clima dramático, passando a ideia de um intolerável ataque terrorista. De seguida, o treinador leonino suspendeu os treinos e sócios e adeptos desataram a desvalorizar a final da Taça. Mota, ao ver as notícias, convenceu-se de que seriam “favas contadas”. Mandou a equipa deliberadamente para o ataque, impondo um ritmo forte, convencido de que com isso desgastaria uma equipa muito cansada, física e psicologicamente. No meu sonho, com o que o treinador avense não contaria era que o descanso forçado, a que o plano de Jesus obrigou, limparia e libertaria a mente dos jogadores. Uma táctica dinamarquesa…
A primeira parte parecia dar razão ao técnico avense. Após um bom início, com 2 cantos logo no primeiro minuto e duas oportunidades perdidas por Gelson na cara de Quim (boas defesas), o Aves marcou, por Alexandre Guedes. Estavam decorridos 16 minutos. Até ao intervalo, o jogo entrou numa toada de equilíbrio, com uma maior agressividade sobre a bola dos nortenhos e maior classe por parte do Sporting, sob a batuta de um Bruno Fernandes cansado mas a fazer belos passes à distância, embora tivesse ficado claro para todos a já tristemente habitual indefinição de posições entre William e Battaglia.
O Sporting voltou para a segunda parte com Montero no lugar de William. Bas Dost substituiu o penso pela touca e tentou o golo de pé esquerdo, a passe de Montero. Mathieu, de livre, testou Quim e, de seguida, Vitor Gomes e Bruno Fernandes quase metiam a bola na gaveta. Jesus alterou para uma espécie de 3-5-2, entrando Misic para o lugar de Coentrão, mas Alexandre Guedes, um produto da Formação que nos últimos anos temos vindo a desprezar, marcou o segundo para o Aves. O jogo parecia sentenciado, mais ainda quando Dost perdeu um golo cantado, acertando na barra sem ninguém à frente. Até que Montero ganhou espaço na área e marcou com uma pontapé volley. Até ao fim, o Sporting tentou, tentou, mas não conseguiu obter o golo que levasse o jogo para prolongamento.
O jogo acabou e deixei de sonhar. Acordei para a dura e hedionda realidade. Perdemos. Mas, afinal, o amor à camisola ainda existe, a fazer lembrar outros tempos, época em que não havia claques, nem ameaças de faxes e/ou emails, mas sim o amor genuíno dos adeptos comuns que os jogadores retribuíam de igual forma. Hoje, eles reagiram à “carta” entregue no Jamor por todos os sócios que têm as suas quotas em dia, pagam a sua gamebox anual e mostram uma determinação notável em, de uma forma anónima, nos estádios, no trabalho, em família ou entre amigos, colocar o Sporting sempre acima de vaidades pessoais. Um amor em forma de “nós” e não de pouco mais do que duas dúzias de “eu(s)” (como se já não bastasse o múltiplo “eu” presidencial). Tentaram os nossos jogadores, mas a disposição em campo foi caótica, feita de mais querer do que de organização. E não chegou. Adicionalmente, a equipa ressente-se de, do meio-campo para a frente, só ter um jogador veloz, pelo que os processos são desesperantemente lentos e não existe contra-ataque (desculpem os "técnicos da bola" não falar em transições, mas estou a transitar um mau bocado).
Só não quero adormecer agora. Receio o dia de amanhã. Gostava que o sonho pudesse continuar, mas o presente que eu aqui não vou maquilhar é feito de uma intolerável falta de bom senso. Desde logo de quem ainda está à frente do clube e continua a não ver o essencial, preferindo viver uma realidade paralela, mas também de todos aqueles que publicamente produzem declarações que quase incitam a que os jogadores rescindam, mostrando inequivocamente que motivações e ódios pessoais se sobrepõem uma vez mais ao interesse do Sporting Clube de Portugal. Merecemos mais do que isto! Para todos eles, e parafraseando os The National (um forte abraço, Romão), o sistema só sonha na escuridão total. Estamos assim perante um dilema: não podemos ser um clube de “mortos-vivos”, mas não queremos servir para chancelar prova de vida de ninguém que só tem estado distante do clube neste ciclo. “Another day, another dollar”, esta é a história dos últimos 32 anos do clube, qual a surpresa, afinal? Enfim, hoje perdemos e quem gosta do Sporting tem de estar triste. Amanhã renasceremos, uma vez mais. SPORTING !!!
Tenor "Tudo ao molho...": Fredy Montero. Uma palavra a Acuña e Battaglia que lutaram até à exaustão.