Triunfo leonino onde o Benfica foi abaixo
Casa Pia, 1 - Sporting, 3
Gyökeres liderou a nossa equipa para uma vitória no mesmo estádio onde o SLB foi derrotado
Foto: Carlos Costa / AFP
Há jogos assim. Apresentados à partida de «enorme dificuldade» mas que acabam solucionados sem drama, nem excesso de nervosismo. Excepto para aqueles adeptos que passam o tempo a «sofrer pelo Sporting» e são incapazes de ficarem tranquilos nem que a nossa equipa esteja a vencer por três ou quatro de diferença.
A visita ao Casa Pia - que continua a jogar em Rio Maior, algo que tenho dificuldade em entender - prometia bastante sofrimento. Há menos de dois meses, o Benfica tropeçou ali, vergado ao peso de uma dolorosa derrota: 1-3.
Mas connosco foi diferente. Rui Borges fez bem em manter o onze leonino disposto no 3-4-3 que Ruben Amorim deixou implantado com sucesso. Por coincidência ou talvez não, desde que o actual treinador mudou a agulha, abdicando do seu 4-4-2, os resultados têm sido positivos: um empate (em Dortmund, para a Liga dos Campeões) e duas vitórias (na Taça, contra o Gil Vicente, e no campeonato, contra o Estoril).
A terceira foi esta, alcançada há três dias contra um competente conjunto que segue em sétimo na Liga 2024/2025 e assume o jogo, sem estacionar autocarros. O confronto prometia um bom espectáculo de futebol - e assim foi, com lances de futebol de ataque e incerteza no resultado quase até ao fim.
Desta vez a sorte sorriu-nos. Marcámos na primeira oportunidade. E na sequência imediata de um canto, algo pouco frequente. Quenda, a partir da direita, fez passe teleguiado para Gonçalo Inácio, que cabeceou com êxito em nova demonstração de supremacia no jogo aéreo. Inegável trunfo numa equipa que sonha com o bicampeonato.
Aconteceu aos 12'. Nas bancadas, houve festa. Parecia que jogávamos em casa, tantos eram os apoiantes leoninos - em muito maior número do que os hipotéticos casapianos ali presentes.
Com vantagem no marcador, não abrandámos. Cedo se destacou Gyökeres, enfim recuperado a cem por cento: inclinou o campo, desorganizou o esquema defensivo casapiano, atemorizou a turma adversária. Numa das suas incursões ofensivas serpenteou à entrada da área com a bola bem dominada e rematou mais em jeito do que em força - o guarda redes Patrick Sequeira colaborou, facilitando: era o 0-2, aos 34'.
Quase perfeito.
Mas ocorreu um percalço aos 45': Larrazábal venceu o duelo com Matheus Reis na ala direita ofensiva do Casa Pia, centrou à vontade para Miguel Sousa, supostamente marcado por Esgaio. Mas o nazareno, desconcentrado, não só fez péssima cobertura como se encarregou ele próprio de a meter lá dentro. Na baliza errada.
O segundo tempo começou com um lance arrepiante: aos 47', Esgaio esteve quase a cometer novo autogolo. Isto deu moral aos gansos para galgarem espaço, aproveitando o notório cansaço de alguns dos nossos, como Quenda, Trincão e Morten - este vindo de lesão e ainda longe da melhor forma física.
Esteve bem Rui Borges em fazer as alterações que se impunham. Meteu Morita e Geny, depois Maxi Araújo. Não só voltámos a equilibrar o jogo, como o virámos a nosso favor. Trincão, apesar da fadiga, infiltrou-se na área sendo derrubado em falta indiscutível. O craque sueco, chamado a converter o penálti, não perdoou: saiu míssil. O seu nono golo de grande penalidade neste campeonato.
Foi aos 77': a vitória já não nos fugia. E podia até avolumar-se, por intervenção do suspeito do costume: Gyökeres quase marcou aos 79'. Um central anfitrião tirou-a in extremis da linha da baliza, já Sequeira estava batido.
Terceira vitória consecutiva de Rui Borges - o que acontece pela primeira vez desde que chegou ao Sporting. Lesionados como Morten e Morita recuperados, falta agora voltarem Pedro Gonçalves e Quaresma. Boas notícias em perspectiva. Para que o bicampeonato não nos fuja.
Breve análise dos jogadores:
Rui Silva (7) - Enorme defesa, por instinto, a remate de José Fonte aos 52'. Confirma-se: foi o nosso grande reforço de Inverno.
Esgaio (3) - Lateral adaptado a central, sem rotinas na posição. Autogolo aos 45', ia repetindo a dose aos 47'. Para esquecer.
Diomande (6) - Começou algo nervoso, mas cedo se tranquilizou. Exibição sem grandes rasgos, mas também sem falhas.
Gonçalo Inácio (7) - Supremacia no jogo aéreo, confirmada no golo aos 12'. Sempre útil e muito atento no plano defensivo.
Fresneda (6) - Lateral projectado para a construção ofensiva, abriu várias linhas de passe e nunca deixou de ser combativo.
Debast (6) - Parece ter-se firmado como médio, potenciando a sua notável capacidade de passe. Falta-lhe só ousar mais no ataque.
Morten (5) - Ponto alto: o soberbo passe longo em que assistiu Viktor no segundo golo. Mas está ainda longe da melhor forma.
Matheus Reis (5) - Cumpriu como lateral esquerdo adaptado a ala, excepto quando deixou fugir Larrazábal no centro para o golo deles.
Trincão (5) - Acusa excesso de utilização. Mesmo assim, foi ele a conquistar o penálti ao ser derrubado: iria valer-nos um golo.
Quenda (5) - Intervenção decisiva no primeiro golo, em que assistiu Gonçalo. Depois foi perdendo fôlego: precisa de repouso.
Gyökeres (8) - Voltou a ser o melhor em campo, marcou pelo segundo jogo consecutivo. Já marcou 27 neste campeonato.
Morita (6). Entrou aos 64', substituindo Morten. Regresso em boa forma, controlando e organizando o nosso meio-campo.
Geny (5) - Substituiu Quenda aos 64'. Refrescou o ataque com os seus arranques em drible e o seu bom domínio da bola.
Maxi Araújo (5). Rendeu Matheus Reis aos 78'. Na fase em que o Sporting já vencia por 3-1: o principal era controlar o jogo. Cumpriu.
Felicíssimo (5) - Entrou aos 88' para substituir Esgaio. Devia ter saltado mais cedo do banco.
Harder (5) - Substituiu Trincão aos 88'. Quase só teve tempo para ganhar um canto.