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És a nossa Fé!

Treinador de bancada - O sistema táctico

Segundo a Wikipedia, em 1872 no primeiro desafio internacional de futebol de sempre, Inglaterra e Escócia entenderam por bem arrumar os jogadores de campo de diferentes formas, a Inglaterra em 1-1-8 / 1-2-7 e a Escócia em 2-2-6. O futebol dessa altura devia ser qualquer coisa muito "kick and rush" bem parecida com o rugby.

Se calhar começou aí a discussão sobre os méritos e deméritos de cada sistema táctico. Se por um lado as características dos jogadores disponíveis são essenciais na escolha do sistema táctico por parte do treinador, tentando potenciar os pontos fortes e minimizar as fraquezas, por outro um bom sistema táctico do treinador é indispensável para fazer o todo bem maior que a soma das partes.

Depois daquela data, as alterações sucessivas na regra de fora de jogo foram transformando avançados em defensores, e os técnicos estrangeiros que foram chegando a Portugal, em particular ingleses e húngaros, foram trazendo novidades tácticas e fazendo evoluir o futebol caseiro.

 

Assim, ao longo dos anos o Sporting conheceu diferentes sistemas tácticos e alguns foram mesmo marcantes, porque estiveram nas maiores conquistas de sempre do clube:

1. 3-4-3 WM ou 3-2-2-3 (46/47, Robert Kelly, Peyroteo e os 5 violinos, Campeonato Nacional)

I1-wm.png

Equipa emblemática: Azevedo; Barrosa, Manecas e Álvaro Cardoso; Canário e Veríssimo; Vasques e Travassos; Jesus Correia, Peyroteo e Albano.

 

2. 4-2-4 (63/64, Anselmo Fernandez, Figueiredo "Altafini de Cernache", Taça das Taças)

4-2-4.png

Equipa emblemática: Carvalho; Pedro Gomes, Alexandre Baptista, José Carlos e Hilário; Fernando Mendes e Geo; Osvaldo Silva, Figueiredo, Mascarenhas e Morais.

 

3. 4-3-3 (73/74, Mário Lino, Yazalde, Campeonato e Taça)

Association_football_4-3-3_formation.svg.png

Equipa emblemática: Damas; Manaca, Bastos, Alhinho e C.Pereira; Wagner, Nelson e Baltasar; Márinho, Yazalde e Dinis.

 

4. 4-4-2 Losango (2006/07, Paulo Bento, Liedson, "A mão de Ronny", Taça de Portugal)

Association_football_4-4-2_diamond_formation.svg.p

Equipa emblemática: Ricardo; Caneira, Tonel, Polga e Rodrigo Tello; Miguel Veloso, J.Moutinho, Nani e Romagnoli; Liedson e Alecsandro.

 

5. 3-4-3 Amorim (2020/21, Rúben Amorim, Pedro Gonçalves, Campeonato Nacional)

Tanto quanto posso entender, e não estou a esperar que o próprio confirme, prefiro ir ganhando no entretanto, o sistema táctico de Amorim é o seguinte:

I1-wm.png

Equipa emblemática: Adán; Gonçalo Inácio, Coates e Feddal; Porro, Palhinha, João Mário e Nuno Mendes; Pedro Gonçalves, Paulinho e Nuno Santos.

 

Este diagrama, com algumas semelhanças com o WM doutros tempos, ajuda a perceber algumas coisas. Quando o Sporting entra em campo e independentemente do que acontece depois com as incidências do jogo :

1.  Não joga com 3 defesas centrais. Joga com 3 defesas, escola Guardiola, não necessariamente todos eles com características de defesas centrais. Ver as declarações de Amorim e a referência sobre o 3-4-3 Guardiola

2. Não joga com defesas laterais. Joga com alas que fazem todo o corredor, que acumulam funções dos defesas laterais e extremos do 4-3-3. Por isso, são quase todos jogadores que fizeram a formação como extremos e depois foram recuando no terreno. São estes alas que permitem que o Sporting defenda pontualmente com uma linha de 5 e ataque pontualmente com uma linha de 5 também. São estes alas responsáveis pelos centros longos característicos dos extremos do 4-3-3.

3. Não joga com 3 médios. Os 2 médios centros que se projectam à vez para o ataque são ajudados na luta do meio-campo pelos alas e pelos avançados, que em transição defensiva tentam pressionar e matar o lance à nascença, se não conseguem correm para ajudar a defender.

4. Não joga com médio ofensivo (não existe "10"). Não há lugar para um médio à frente dos demais que só joga para a frente e pouco ajuda a defender. 

5. Não joga com extremos. Joga com avançados que ocupam zonas interiores do campo, que entram na área e rematam ao golo. Aliás são eles que marcam a grande maioria dos golos da equipa.

6. Não joga com ponta de lança (não existe "9"). Nunca Amorim deu hipóteses a avançados-centro clássicos como o Luiz Phellype o Pedro Marques ou o desejado por muitos Slimani. Joga com um avançado-centro recuado ("False 9" na terminologia inglesa), algures entre o clássico ponta de lança do 4-3-3 (o "9") e o médio ofensivo do 4-4-2 (o "10"), que para além de marcar golos e arrastar os defesas centrais adversários para os interiores marcarem, se constitui como o pivot ofensivo da equipa, recebendo de costas para a baliza contrária, solicitando os interiores ou os alas e entrando na área para concluir. Nessa posição passaram na época passada Sporar, Jovane Cabral, Pedro Gonçalves, Tiago Tomás e Daniel Bragança, mas desde que o Paulinho chegou a posição é dele, e muitas vezes, ele é a posição. 

 

A chave do sucesso de Amorim tem sido esta. Um sistema táctico moderno, inegociável e camaleónico através da rotação de jogadores de diferentes características pelas diferentes posições.

E um plantel curto que compromete todos os jogadores e os obriga a sairem da sua zona de conforto, ocupando posições a que não estão habituados. Que os faz crescer e valorizar.

Um Amorim com muito para evoluir e aprender, mas já na linha dos grandes treinadores da actualidade, dum Klopp e dum Pep Guardiola.

Um Klopp que ainda agora, com uma linha avançada sem ponta de lança clássico, com Salah, Jota e Mané, cilindrou um Porto com dois, Taremi e Toni Martínez. Um Pep Guardiola igualmente alérgico a pontas de lança clássicos, os dois ainda agora se defrontaram num jogo que terminou em 2-2 e onde não houve nenhum Lewandovski, Cavani ou Lukaku.

Ou até um Luis Enrique que colocou a Espanha na final da Liga das Nações com uma equipa em que o tal "False 9" era Sarabia e os interiores eram Oyazabal e Ferran Torres, este último marcou os dois golos.

Não acredito que os espanhóis, dos galegos aos catalães, dos asturianos aos andaluzes, andem a comparar as estatísticas de Sarabia com as de todos os pontas de lança que passaram pela selecção espanhola. Há coisas que realmente só acontecem no Sporting. 

 

E pronto. Começo aqui esta rubrica dedicada aos aspectos mais técnicos do futebol com a perspectiva nem do relvado nem do sofá, mas da bancada.

Espero que gostem. Fico então a aguardar os vossos interessados, identificados e Sportinguistas comentários.

 

#OndeVaiUmVãoTodos

SL

 

5 comentários

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    Luis Lisboa 09.10.2021

    Francisco,
    Independentemente da sua descrição temporal nao coincidir com as fontes que consultei, 73/74 foi o ano que comecei a frequentar Alvalade e desse posso falar de memória.
    O Sporting jogava em 4-3-3 e o Marinho jogava agarrado a linha direita.E o que fazia era fintar tudo o que lhe aparecia até à linha de fundo, fazia 90graus e continuava a fintar, cabeça no chão, as vezes quase chocava contra o poste. Algures la no meio lá passava a bola ao Yazalde e se não era golo era quase. O Dinis era o extremo esquerdo, bem agarrado a linha também. Quem tinha a missão de vir de trás e apoiar o Yazalde principalmente no jogo aéreo (cabecinha de ouro) era o médio direito Nelson.
    O Wagner era o médio centro, o farol da equipa e o Baltasar o racudo médio esquerdo.
    De resto o objectivo do jogo é marcar mais golos que o adversário. Não adianta marcar muitos se o adversário marca mais ainda.
    E quem não sofre esta sempre mais perto de ganhar.
    SL
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    Luis Lisboa 09.10.2021

    Já agora no início da temporada é até se aleijar jogava o Fraguito em vez do Baltasar.
    SL
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    Francisco Gonçalves 09.10.2021

    Sim, é verdade que nas primeiras 11 jornadas, Fraguito foi titular indiscutível. Depois, lesionou-se. A primeira escolha de Mário Lino, para substituir Fraguito, não foi Baltasar que só entrou no onze inicial na 20ª jornada, nos 8-0 ao Montijo, jogo no qual, curiosamente, marcou dois golos.

    A primeira escolha de Mário Lino recaiu em Chico Faria que, como o Luís sabe, era um extremo (tanto jogava à esquerda como à direita). Com Chico Faria, Nélson, Marinho, Yazalde e Dinis em campo, sendo que médio de origem só mesmo Wagner, é muito difícil pensar que Mário Lino utilizasse o sistema 4-3-3.

    Nessa época de 73/74, Baltasar foi utilizado em 16 jogos, mas na maior parte deles como suplente utilizado ou como titular sem completar os 90 minutos.

    Naturalmente, tudo isto é mais fácil de analisar, depois de uma consulta documental, o que não presidiu à iniciativa dos meus comentários anteriores.

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    Luis Lisboa 09.10.2021

    Francisco,
    Mais do que a consulta documental dou valor ao que me recordo da altura, mesmo que a minha memória se reporte mais à 2ª metade da época.
    Se o Chico Faria era avançado e o Nelson também isso significaria que o Sporting jogava em 4-1-5 ?
    Independentemente dos jogadores utilizados nas posições, o Sporting jogava em 4-3-3 com 2 extremos colados às linhas e 1 ponta de lança.
    E por aquilo que me dizem e do que me lembro da altura, o Sporting jogava sempre da mesma forma, com muitos automatismos construídos, independentemente do adversário. Mesmo perdendo como perdeu em casa com o Benfica, 3-5 e eu estava atrás da baliza onde o Yazalde marcou o primeiro golo.
    Isso não impede mas antes muito reforça o meu agradecimento pelo seu comentário Francisco e palas suas questões, pode ser um óptimo motivo para cada um de nós pode ir puxar pelas suas memórias ou ir à procura de informação sobre esses tempos.
    SL


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