Transtornado
Foto Reuters
Sinceramente, não sei quem são Pedro Paulino e Rui Morgado. O Carlos Severino, sei quem é: escutei-o durante alguns anos enquanto utente habitual da secção do desporto da TSF, que sempre gozou de merecido prestígio. Sei que abandonou o jornalismo, nomeadamente para dirigir o gabinete de comunicação do Sporting, há uns anos bem medidos. E concorreu depois à presidência do clube.
Não faço a menor ideia do presente valor eleitoral destes três sócios do Sporting. Em conjunto, não reunirão muito mais do que 1% - a percentagem que o Carlos Severino conseguiu na eleição de 2013, em que foi remetido para um distantíssimo terceiro lugar, esmagado em simultâneo por Bruno de Carvalho e José Couceiro. Num confronto eleitoral de boa memória, marcado pelo fair play e pelo diálogo entre os dois principais adversários internos, sem anular as divergências que mantinham.
Nesse ano, o actual presidente do Sporting ascendeu a estas funções com 53,6% dos votos alcançados nas urnas. Percentagem sábia, que os sócios leoninos lhe atribuíram, e que muito contribuiu para esse mandato globalmente positivo, sabendo-se ele sob apertado escrutínio interno. Fez-lhe muito pior a percentagem alcançada na reeleição, em Março de 2017: aqueles 86,1% subiram-lhe irremediavelmente à cabeça.
A culpa não foi dos sócios, mas do fraquíssimo adversário que Bruno enfrentou então nas urnas. Pedro Madeira Rodrigues, o blogueiro envergonhado com pseudónimo "amaricano", foi um antagonista muito inferior a José Couceiro - personalidade por quem mantenho o maior respeito e foi um digno vencido no escrutínio de 2013. Tivesse o actual presidente enfrentado na recente corrida eleitoral alguém muito mais credível do que o caricato "City" Madeira, a história destes últimos onze meses seria bem diferente.
Apesar de tudo, não me espanta agora que Bruno de Carvalho, na sua insaciável bulimia, pretenda ampliar a maioria dos votos alcançada a 4 de Março de 2017. A história humana está repleta destes líderes: tudo querem, tudo perdem.
O que verdadeiramente me surpreende é o palco e o tempo de antena que ele dá ao trio Paulino, Morgado e Severino. Qualquer deles, graças ao ainda presidente do Sporting, vive desde sábado um mediatismo jamais sonhado.
Isto basta para perceber até que ponto o dirigente leonino anda transtornado. Questiono-me seriamente se alguém, oriundo da pequena tribo que o rodeia, é capaz de lhe dizer com desassombro, olhos nos olhos, aquilo que ele precisa urgentemente de escutar.