Ter "concorrente" faz muito bem a Paulinho
Casa Pia, 1 - Sporting, 2
Jogadores leoninos festejam golo de Paulinho, herói desta partida disputada em Rio Maior
Faz muito bem a Paulinho, ter um concorrente interno. Melhorou - e de que maneira - com a chegada de Gyökeres. Agora como segundo avançado, olhando a baliza mais de frente, o ex-Braga vem revelando veia goleadora. Anteontem bisou no estádio municipal de Rio Maior, onde o Casa Pia fez de anfitrião. Cumprida a segunda jornada, já a meteu três vezes lá dentro. No campeonato anterior foi preciso esperar pela 23.ª ronda para que isso acontecesse.
Figura do jogo que vencemos por 1-2, sem dúvida. Mas não o único a merecer elogios neste difícil embate com os casapianos - que na Liga 2022/2023 já nos tinham dado muito trabalho. O internacional sueco voltou a protagonizar uma partida digna de realce: abrindo linhas de passe, procurando a bola, evidenciando robustez física e inegável capacidade técnica. Desta vez não marcou, mas mandou um petardo à barra (29') e fez a bola rasar os postes em duas outras ocasiões.
O Sporting começou muito bem: com jogo fluido, rápido, eficaz. Materializado no primeiro golo, logo aos 3'. Incursão ofensiva de Esgaio, como interior direito improvisado, assistindo Paulinho, que disparou sem deixar a bola tocar na relva - fulminando o guardião Ricardo Batista, ex-Sporting. Golo validado pelo árbitro Nuno Almeida e pelo vídeo-árbitro Hugo Miguel. Assim nos pusemos em vantagem.
Fomos controlando as operações até ao intervalo, que terminou com esta vantagem tangencial. Só uma vez Adán foi chamado a intervir, aos 45'+7, correspondendo com excelente defesa. O longo tempo extra desta primeira parte deveu-se a uma interrupção de 11 minutos forçada pela assistência urgente ao ex-presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, Silvino Sequeira, acometido de doença súbita quando se encontrava atrás do banco do Sporting - ele que é fervoroso adepto leonino. Reanimado, foi prontamente conduzido de ambulância ao hospital mais próximo.
A qualidade do espectáculo baixou devido a esta súbita interrupção, perdendo-se parte do fio do jogo da nossa equipa, reforçada com o regresso de Nuno Santos após cerca de um mês de lesão. Fraca dinâmica de Pedro Gonçalves, que voltou a ter prestação sem brilho, enquanto Edwards não conseguia melhor do que uns lances intermitentes.
Mas o menos bom estava lá atrás.
Em novo lapso da nossa organização defensiva, o Casa Pia desenvolveu um ataque rápido que apanhou Gonçalo Inácio encostado à linha esquerda, abrindo uma cratera que Coates foi incapaz de colmatar e Adán agravou ao abandonar precipitadamente a baliza. Assim permitiram que Clayton - o melhor dos "gansos" - empatasse, aos 58'.
Estes erros defensivos pagam-se caros. Felizmente soubemos reagir com mais rapidez do que no jogo contra o Vizela, em que o golo só surgiu no último instante. O segundo de Paulinho nesta sexta-feira concretizou-se aos 61', culminando bom lance colectivo com a bola a rodar rápida até chegar a Nuno Santos, que centrou com precisão geométrica para o colega a meter no sítio certo.
Daí até ao fim a equipa limitou-se a gerir a vantagem. Já com as alas renovadas (Geny substituiu Esgaio e Matheus Reis rendeu Nuno) e a estreia absoluta de Leão ao peito do nosso mais recente reforço, Morten Hjulmand. Alto e loiro, o dinamarquês causou boa impressão. Simplificando o jogo com frieza e precisão de passe.
Triunfo difícil mas merecido frente a um emblema que na época passada derrotou o FC Porto e impôs um empate ao Braga no Minho. As chamadas equipas pequenas estão a estudar cada vez melhor os adversários e a impor-se sem complexos frente aos favoritos. O que é muito salutar para o futebol português.
Já depois do apito final, surgiu a notícia: o golo inicial havia sido mal validado, Paulinho estaria 9 cm deslocado, o que mereceu até um inédito comunicado do Conselho de Arbitragem, bem como o anúncio de que Hugo Miguel entrará em "quarentena" prolongada. Haverá novas intervenções tão céleres e mediatizadas daquele organismo quanto estiverem em causa outras cores? Veremos, atentamente.
Mas dos erros dos árbitros o Sporting não tem culpa alguma. Era mesmo só o que faltava. Seguimos na frente após duas vitórias consecutivas. Vamos com mais dois pontos do que na mesma fase do campeonato anterior. O importante é isto.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Grande momento aos 45'+7, quando impediu com instinto felino o Casa Pia de marcar. Mas aos 58' saiu mal da baliza, desguarnecendo-a. Teve culpa nesse golo sofrido. Já vão três.
Diomande - O melhor do nosso trio defensivo. Com apenas 19 anos, revela já muita maturidade. Não apenas a cortar lances perigosos, mas também na saída com bola. Vai longe.
Coates - Continua a acusar excesso de lentidão, preso de movimentos. Desposicionado no lance do golo do Casa Pia, demorou muito a reagir. Fez vários passes longos, com péssima pontaria.
Gonçalo Inácio - Desempenho intermitente. Visão de jogo em passes de ruptura, a sua maior especialidade. Mas também ele com responsabilidade no golo sofrido. Devia ter feito melhor.
Esgaio - Nota positiva. Cumpriu no essencial a missão de patrulhar com eficácia o seu corredor. E destacou-se sobretudo no lance do primeiro golo: a assistência para Paulinho é dele.
Morita - Trabalho de formiguinha a ligar sectores, como trinco improvisado. Sempre em jogo, eficaz nas recuperações. É um elemento muito útil - autêntico "carregador de piano" desta equipa.
Pedro Gonçalves - Após estreia infeliz neste campeonato, voltou a estar muito apagado. Quase irreconhecível. Participa na construção do segundo golo, mas dele espera-se sempre mais.
Nuno Santos - Ei-lo de volta. Depois de ter falhado parte da pré-temporada e o jogo inaugural, regressou ao onze. Ainda com falhas de ritmo, mas já influente. Assistiu no segundo golo.
Edwards - Substituiu Trincão na equipa titular. Iniciou a construção do segundo golo, serviu primorosamente Gyökeres (63'), sofreu penálti não assinalado. Mas demasiado intermitente.
Paulinho - Uma das suas melhores exibições pelo Sporting. Há longos meses que não bisava: a última vez tinha sido para a Taça da Liga. Está mais solto e de pé quente. Foi a figura do jogo.
Gyökeres - Permanente disponibilidade. Não para brilhar individualmente, mas para se integrar no jogo colectivo. Foi alternando com Paulinho na frente de ataque. Mandou um tiro à barra (29').
Geny - Em campo desde os 64', rendendo Esgaio. Exibição sem mácula, confirmando-o como elemento útil sobretudo na manobra ofensiva. Esteve perto de marcar aos 90'+6.
Matheus Reis - Substituiu Nuno Santos aos 64'. Com mais cautelas defensivas do que Geny no flanco oposto, destacou-se num bom cruzamento para Gyökeres aos 84'.
Morten - Boa notícia: temos enfim um médio defensivo de raiz. Em estreia no Sporting, substituiu Edwards aos 75'. Jogou 22', deixando boa imagem. Na qualidade do passe e na leitura de jogo.
Trincão - Entrou aos 87' para o aplauso das bancadas a Paulinho. Pareceu ter surgido em campo já cansado: não conseguiu melhor do que um remate muito frouxo aos 90'+4.
Mateus Fernandes - Substituiu Pedro Gonçalves aos 87'. Disponível para o jogo colectivo, com manifesta vontade de acertar e de se afirmar na equipa. Boa recuperação de bola (90'+1).