Mourinho e Zidane estiveram três épocas como treinadores do Real Madrid.
Zidane venceu três Ligas dos Campeões, Mourinho zero.
A questão é que quem não aparece, esquece.
O presidente do PSG olha para os resultados da equipa de Mourinho com o Bodo Glint, para a retumbante vitória na Liga Conferência (rói-te de inveja, Zidane) e na hora de optar não tem dúvidas, basta olhar para as conquistas de um e de outro no Real Madrid, basta olhar para os fantásticos resultados nesta época, um maravilhoso 6° lugar (quase tão bom como o título do Verona) no campeonato italiano e um incrível título europeu (já falei do Bodo Glint?).
Na hora de optar, não tem dúvidas, dizia, Campos, Mendes e Nasser Al-Khelaifi optarão por Mourinho, claro.
Mesmo que o PSG não vença a Liga dos Campeões em 2022/2023, poderá vencer a afamada Liga Conferência em 2023/2024.
Na era dos “galácticos”, com Carlos Queiroz como treinador, o presidente do Real Madrid prometeu uma equipa de “Zidanes y Pavones”, que misturava craques feitos com jovens talentos da academia. A ideia não resultou.
Nesta nova era do Sporting, com Rúben Amorim a substituir um desorientado e desorientador Jorge Silas como treinador, a promessa do presidente tem alguma coisa de parecido com a do Real Madrid, só que os Zidanes são quase todos Ristovskis, não é bem a mesma coisa. E só com Pavones, por muito bons que sejam e são, a coisa não vai lá, como se viu nos recentes confrontos com os rivais.
Não vai lá pelo menos em termos desportivos, porque a jogarem assim daqui a um ano estamos a falar de muitas dezenas de milhões de euros de valorização do plantel. O Sporting conseguiu ontem pôr em campo toda uma equipa de jogadores abaixo dos 23 anos de grande potencial: Max, Porro, Quaresma, Inácio, Nuno Mendes, Matheus Nunes, Pedro Gonçalves, Wendel, Plata, Tiago Tomás, Jovane, Daniel Bragança e Rodrigo Fernandes (este parece primo do Ilori, precisa duma lavagem ao cérebro).
O problema é que, dos mais velhos, apenas Coates está noutro nível. Todos os outros são iguais ou piores que os putos, e nalguns casos muito teriam que aprender com eles se tivessem idade para isso.
Alguns dos dispensados ou colocados no mercado seriam titulares nesta equipa? Acuña, claramente, mas a jogar mais à frente do que ia acontecendo com Amorim, a ala ou interior esquerdo. Mas existe Nuno Mendes e veio Nuno Santos.
Palhinha tirava o lugar a Wendel ou a Matheus Nunes? Nem pensar. Seria um suplente para determinados jogos, como seriam Battaglia ou Doumbia se ficassem.
Algum outro? Diaby, Bruno Gaspar, Misic? Francamente não vejo.
Criticamos nós (eu também) tantas vezes Jorge Jesus por gerir tarde e de forma um tanto incompreensível as substituições no campeonato e afinal, se repararmos, Zidane está a receber críticas em Madrid pelo mesmo motivo. Os adeptos, que no Santiago Bernabéu também são de assobio fácil, contestam o técnico por excessiva passividade na gestão do jogo. Ontem, por exemplo, demorou 81 minutos a mexer na equipa em San Mamés, no Atlético de Bilbau-Real Madrid que terminou empatado a zero.
O Real segue em quarto lugar na Liga espanhola, atrás do Barcelona, do Valência e do Atlético madrileno. Já está a oito pontos do líder. Pior: nas 14 jornadas já decorridas, empatou quatro vezes e perdeu duas, concluindo três jogos sem marcar.
Lembro este facto para relativizar as críticas internas a Jesus. Zidane - lenda viva do futebol, campeão mundial e campeão europeu, três vezes eleito melhor jogador do mundo - também hesita, enquanto treinador, na hora de mexer no onze titular e nem sempre consegue superar em termos tácticos os seus antagonistas.
O futebol, que vive de emoções imediatas, é igualmente um jogo de paciência. Conciliar a momentânea pressão dos adeptos com uma visão sustentada de longo prazo é o desafio supremo para qualquer treinador da alta roda do futebol. E que permite distinguir o trigo do joio nesta profissão a que muitos aspiram mas que poucos abraçam com sucesso.
Eu despedi-me de Luís Figo no dia 10 de junho de 95, sei porque foi na final da Taça com o Marítimo. Despedi-me no Jamor e ainda em Alvalade quando fomos ao estádio, mais tarde, no mesmo dia. Também me despedi de Balakov, mas foram despedidas diferentes. Sempre vi no Figo pressa no salto lá para fora, mas não só isso, havia um voltar de costas iminente que veio a confirmar-se com atitudes e comentários ao longo dos anos. Ele saiu e todos sabemos o que foi depois disso. E eu quis continuar a gostar do Figo do pós-Sporting, na selecção onde toda a gente gostava de o ver, e que belo capitão, ai que low profile tão espectacular (eu própria achava isto) e era cada vez menos fácil. Do jogador, da corcunda pré-finta, do sobrolho franzido antes de decidir um jogo, gostei sempre muito, não havia como não. Do homem, talvez não tenha acompanhado de perto o suficiente, é mais que provável que tenha muitas qualidades e feito muitas coisas bem feitas, mas cada declaração que chega é mais um desapontamento. Também sei que já tem torcido pelo primeiro lugar do Sporting, mas já não me convence. Mau feitio meu, talvez. O Figo não tem de ser do Sporting, pode até celebrar golos marcados ao Sporting, já se sabe que todos somos Charlie e cada um é livre de celebrar os golos de quem quer. O que o Figo não pode esperar (e não espera certamente) é que essas coisas nos sejam indiferentes. Eu percebo o que Figo diz ao falar de ter jogado com os melhores. Percebo que ache - não que ele o tenha dito - um histerismo o que se vive em torno de Ronaldo e Messi. Meço por amigas, por exemplo: poucas sabiam quem eram Rivaldo, Matthaus, Nedved (todos bola de ouro) e todas sabem quem é Messi. Todos quantos não acordámos só agora para o futebol sabemos como o nível de pop star dos jogadores tem aumentado, como se não se está com um parece que tem de se estar com o outro e que todos os outros estão muito longe. Não estão assim tanto, todos sabemos.
Que o Figo não tenha paciência para histeria e pense "grande coisa, eu joguei com o Zidane e o Ronaldo", eu percebo, esteve numa esfera superior e não tem de ver como um comum mortal estas coisas. Mas cai-me mal na mesma, já não é a primeira vez que se manifesta assim directa ou indirectamente com Ronaldo. Em anos em que Messi ganha a Bola de Ouro não vejo tanta indignação, mas posso ser eu que preciso de óculos. Tem direito à sua opinião, como eu tenho à minha sobre ele. E com pena, não é a melhor já há algum tempo.
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