Pena haver apenas 25 mil pessoas no estádio. Certamente muitos mais sportinguistas gostariam de ter assistido a este Sporting-Vorskla, para a Liga Europa, apesar de a nossa equipa já estar classificada para os 16 avos de final da competição.
Oportunidade para Marcel Keizer, nesta sua estreia europeia ao serviço do Sporting, pôr a rodar mais dois elementos da formação leonina: o médio Bruno Paz e o avançado Pedro Marques. Somados a Jovane, Miguel Luís e Carlos Mané, e ao lateral Thierry Correia, suplente utilizado, foram ao todo seis os que terminaram este jogo com a marca de formação da Academia de Alcochete.
O resultado, 3-0, foi construído ao intervalo. Com golos de Montero, Miguel Luís (que se estreou a marcar pela equipa principal) e um autogolo da equipa ucraniana, que se manteve fiel à tradição: nunca até hoje um onze deste país foi capaz de vencer o Sporting.
SINAL VERDE
SALIN. Há seis jogos que não acontecia: o Sporting terminou esta partida com as redes invioladas, em boa parte graças ao guardião francês, que retomou a titularidade e mostrou bons reflexos, nomeadamente ao sair da baliza aos 30', resolvendo por antecipação um problema que poderia complicar-se muito. Aos 34', num soberbo passe para Acuña, confirmou que sabe jogar com os pés.
ACUÑA. Tem sido alvo de medidas disciplinares por ferver em pouca água nas situações mais inconcebíveis. Mas não pareceu nada afectado pela recente expulsão no campeonato. Cobriu muito bem a lateral esquerda, como ficou patente numa corrida de 100 metros aos 63', em que levou a melhor sobre o extremo adversário. Participou na construção do primeiro golo.
MIGUEL LUÍS. Keizer pôs a equipa a jogar simples, num futebol de primeiro toque. Miguel Luís soube ser um fiel intérprete deste estilo de jogo. Exímio no passe, curto ou no longo, e nas tabelinhas com colegas, posicionou-se claramente como possível substituto de Wendel, entretanto lesionado. Coroou uma exibição muito positiva, como médio-centro, com um golo à ponta-de-lança aos 35'. A sua estreia a marcar na equipa principal.
BRUNO FERNANDES. Vem melhorando de jogo para jogo, reencontrando a sua boa forma da época passada. Hoje voltou a ter uma exibição muito positiva, empurrando a equipa para a frente e evidenciando pormenores técnicos que fizeram arrancar palmas espontâneas nas bancadas. Fez assistências para dois golos. Saiu aos 73', muito ovacionado.
CARLOS MANÉ. A maior parte dos ataques do Sporting no primeiro tempo foram conduzidos por ele, neste regresso à titularidade. Esteve em todos os golos: no primeiro, cabe-lhe o primeiro remate, de cujo ressalto resultaria o golo; participou na construção do segundo; inicia a movimentação que deu origem ao terceiro. Só lhe faltou marcar, também ele. Tentou, sem conseguir.
MONTERO. Protagonizou momentos de grande qualidade, nomeadamente na construção do segundo golo, que começa com uma recuperação de bola muito bem dominada pelo peito. Já tinha marcado, logo aos 17', aproveitando da melhor maneira um ressalto. E aos 44', movimentando-se bem na área, forçou um central ucraniano a fazer autogolo. Pena ter-se lesionado, talvez com gravidade. Forçado a sair aos 59'.
BRUNO PAZ. Grande estreia na equipa principal deste jogador que actuou como médio interior e teve apontamentos que fizeram lembrar o melhor Adrien. Em campo desde o minuto 73, por troca com Bruno Fernandes, foi autor de vários passes rasgados, sempre com perigo. Todos ficámos com vontade de voltar a vê-lo muito em breve na equipa principal.
SINAL AMARELO
RISTOVSKI. Regressou à equipa após uma longa ausência por lesão: actuara pela última vez a 25 de Outubro. Percebe-se que esteve bastante tempo parado. Falta-lhe velocidade e algum discernimento nos centros. Acabou por ser substituído, essencialmente por precaução, aos 64'.
ANDRÉ PINTO. Sem brilhar, sem comprometer. Jogou certinho, como quase sempre faz quando salta do banco para render um dos centrais. Desta vez actuou no lugar que costuma ser ocupado por Mathieu, sem fazer esquecer o francês, nomeadamente no início da construção ofensiva. Continua sem fazer valer a sua altura nos lances de bola parada, lá à frente.
PETROVIC. Merece nota positiva por ter cumprido a missão táctica de que estava incumbido, como médio defensivo. Não é um transportador de bola nem um tecnicista, mas jogou concentrado e até foi capaz de levar algum perigo a zonas mais avançadas do terreno. Procura mostrar serviço.
JOVANE. Desta vez foi titular, mas esteve bastantes furos abaixo do que revelou em anteriores desafios. Demasiado agarrado à bola, definiu mal e rematou torto. Teve, no entanto, ocasionais bons apontamentos: aos 11', fez quase uma assistência para golo servindo Montero; aos 73', rematou para defesa apertada do guarda-redes. Nota positiva, apesar de tudo.
PEDRO MARQUES. Estreia na equipa principal. Já marcou presença em dez partidas do campeonato sub-23, tendo apontado três golos. Caiu demasiadas vezes em situações de fora de jogo. Tendência para mergulhar na área não parece favorecê-lo. Mas alguns pormenores revelam que tem potencial para actuar com mais regularidade no onze principal. Pode beneficiar da lesão de Montero.
SINAL VERMELHO
COATES. Será talvez cansaço. O uruguaio tem revelado momentos crescentes de inaceitável desconcentração, além da falta de velocidade a que já nos habituou. Voltou a acontecer neste jogo, felizmente sem consequências graves, por exemplo ao falhar uma intercepção a Careca, forçando Petrovic a falta de cartão amarelo. É um dos elementos que está a pedir - quase a implorar - uma cura de banco.
THIERRY. Foi, dos três sub-23 que saltaram do banco, o único sem prestação positiva. Correu bastante, mas nem sempre com discernimento na definição do passe. Conduziu a bola aos 85' num lance que viria a disperdiçar quando tinha o colega Pedro Marques isolado a seu lado. Na manobra defensiva também não deslumbrou - longe disso. Parece faltar-lhe alguma humildade, sempre proveitosa para quem está em início de carreira.
Num passado não tão longínquo, um jogo contra uma equipa menor na Liga Europa, do género de um Skenderbeu, um Astana ou um Plzen, seria um sofrimento. Entrando em campo sem 8 titulares e com Battaglia e Wendel lesionados (a quem hoje se juntou Montero), os dias anteriores seriam pródigos em desculpas antecipadas e desvalorização da competição uefeira, até porque já estávamos qualificados. Os miúdos dos Sub23 teriam sido convocados apenas para mostrar à Direcção que eram necessários reforços e a partida terminaria com uma derrota, um empate ou uma vitória tirada a ferros, tudo muito carpido e de modo a manter os adeptos permanentemente ligados ao desfibrilador. Nesse tempo, futebol era sinónimo de condicionamento e não de golo, e os artistas eram os treinadores e não os jogadores. O futebol como anti-futebol.
Algo mudou em Alvalade, pois Marcel Keizer na preparação do jogo começou a ganhá-lo e a conquistar os jovens que teve ao seu dispôr. Ele pediu-lhes que mostrassem que podiam ser opção e eles corresponderam, mostrando grande atitude. E, pormenor importante, num jogo europeu, terminámos o encontro com 6 jogadores made-in Alcochete, tudo isto sem sofrermos qualquer golo. Mantendo apenas Coates, Acuña e Bruno Fernandes na equipa inicial, o Sporting mostrou desde o início a qualidade do seu jogo interior. Miguel Luís e Bruno Fernandes iam trocando sistemáticamente de posição e baralhando as marcações do Vorskla, sempre com o apoio por dentro de um dos alas e com os laterais em simultâneo a darem profundidade e, com isso, a deslocarem adversários do centro do terreno. O maiato, hoje capitão, foi o maestro que pautou o compasso de todo o jogo dos leões: de calcanhar, começou por isolar Miguel Luís na cara do guarda-redes ucraniano para mais tarde servir Acuña no lance em que Montero inaugurou o marcador; depois, em jogada iniciada por uma recepção de bola prodigiosa de "El Avioncito", tabelou com Mané e ofereceu de bandeja para Miguel Luís concretizar; a finalizar a primeira parte, recebeu de Jovane e colocou na dividida entre Montero e Dallku para o terceiro da noite; já no segundo tempo, e imediatamente antes de ter sido poupado a mais esforço, brindou-nos a todos com uma roleta russa digna de causar um traumatismo ucraniano aos dois oponentes com quem dividiu o lance.
Não se pense que o Sporting foi só o seu maestro. Já depois deste sair, a orquestra continuou a tocar boa música até ao fim, com destaque para Petrovic e os jovens Thierry Correia, Jovane Cabral e Pedro Marques, este último por duas vezes, os quais tiveram nos pés e na cabeça oportunidades para dilatarem o marcador, sinal de que hoje em dia os espectáculos são entendidos como longas-metragens e não como festivais de curtas. Para além destes, cumpre realçar o bom jogo de pés de Salin, a raça de Acuña (por vezes a complicar o que torna fácil), os desdobramentos de Miguel Luís e a classe e inteligência de Montero, hoje saído prematuramente dado o infortúnio de uma lesão no tornozelo. Bons pormenores também de Bruno Paz, na condução de bola e passe. Uma última menção para a diagonal para a área protagonizada por Pedro Marques nos últimos minutos do encontro, com dois adversários em cima, que não está seguramente ao alcance de muitos. Ficou-me na retina, até por não ser rotina (vêr esse tipo de movimento).
Respira-se um óptimo ar no balneário do Sporting e nota-se que os jogadores desfrutam em campo, sinal de que já foram conquistados pelos métodos de Keizer. Há uma cultura em que todos são importantes e cada jogo é valorizado e visto como uma oportunidade para quem joga menos. A vontade com que os miúdos entraram em campo mostrou à saciedade que sentem que o treinador conta com eles e que não estão a ser usados como uma chiclete que se prova, mastiga e deita fora (sem demora).
Não deixa de ser curioso que na quadra natalícia se esteja a assistir ao nascimento de um novo Sporting. Em época de Jesus (Cristo, não o "Lawrence" das Arábias), o protagonista desta mudança de paradigma é Marcel Keizer, o nosso Mona Lisa. Onde outros viam ameaças ou pediam meses, ele vê oportunidades e não perde tempo com vaidades ou minudências. A arte de transformar o complexo em simples é um dom só ao alcance de poucos e requer apurada inteligência. Keizer tem-na. Podemos nem ganhar o campeonato, mas a satisfação que hoje tiramos ao vêr um jogo do nosso clube mostra à evidência que o holandês foi o presente antecipado que o Pai Natal verde (o original, não o da Coca-Cola) nos colocou este Natal no sapatinho. Há 20 golos, 20 razões que justificam esta afirmação.
Então, até à próxima! (que agora vou tomar uma "túlipa".)
Bom, só isso já seria bom. Uma vitória que vale pontos e algumas centenas (?) de euros.
Mas foi uma vitória com um misto de titulares e suplentes, dando descanso a outros titulares que muito bem precisam, e que na segunda parte serviu também para lançar três jovens dos sub-23.
Por isso mesmo, não foi bom, foi óptimo.
Resultado à parte, se calhar o melhor seria tirar conclusões para o futuro próximo da nossa equipa, começando pelas piores:
- Más - Mais uma lesão, e logo do Montero. Que surgiu do nada, quando o jogador estava cheio de energia e moral pelos 1,5 golos marcados. Quantos meses ?
- Medíocres - Nenhumas, não se pode dizer que algum jogador tivesse desiludido. Mesmo Mané fez uma péssima primeira parte mas na segunda já fez as pazes consigo mesmo.
- Boas - Os três jovens lançados, em especial Bruno Paz, um belo transportador de jogo. Thierry tem que entender que se quer ser defesa direito tem de mudar o chip. Para passador já temos o Jefferson. Pedro Marques a verdade é que já o vi várias vezes e não me seduz, mas os pontas de lança amadurecem mais lentamente que os demais.
- Óptimas - Encontrado o substituto de Wendel no imediato, o novo Adrien Silva do Sporting, chama-se Miguel Luís. Não perde uma bola, não falha um passe, e ainda consegue ter presença na área e marcar golos. Pedir mais o quê ? Agora é ganhar quilómetros...
Além disso, Keizer continua a escolher uma equipa que faz sentido para o momento actual, consegue replicar nela o modelo de jogo da equipa titular e também fazer substituições lógicas e no tempo certo. Que se pode pedir mais ?
Gostei muito do sexto jogo consecutivo do Sporting a ganhar - e oitavo sem perder. Foi esta noite, em Alvalade. Vencemos por 3-0 o Vorskla, que lá tínhamos derrotado por 2-1. Desta vez com golos de Montero e Miguel Luís, além de um autogolo de um defesa ucraniano. Seguimos em frente na Liga Europa, como já estava decidido antes desta partida, o que não impediu que tivéssemos desenvolvido uma toada ofensiva que certamente agradou a todos os adeptos, designadamente na primeira parte. Marcel Keizer continua a conseguir não apenas vitórias folgadas mas também boas exibições como técnico leonino: conduziu a equipa a cinco triunfos em cinco desafios - quatro dos quais por goleada. Com ele ao leme, o Sporting leva 20 golos marcados e apenas quatro sofridos. Imensa satisfação deu-me também hoje a estreia de Pedro Marques e Bruno Paz na equipa principal - este último, sobretudo, causou excelente impressão. Nota importante: terminámos a partida com seis jogadores da formação, cinco deles sub-23: Miguel Luís, Jovane, Carlos Mané e Thierry Correia, além de Pedro e Bruno Paz. O futuro está assegurado.
Gostei que aos 17' já estivéssemos a vencer, com um golo de Montero. O colombiano também teve participação no segundo, com uma recuperação que denotou mestria técnica e fez uma movimentação quase à boca da baliza, crucial para o terceiro. Considero-o o homem do jogo. Seguido de perto por Bruno Fernandes, que inicia a jogada do primeiro golo, assiste para o segundo e cruza para o terceiro. Grande exibição também de Miguel Luís, que se estreou a marcar pela equipa principal, apontando o segundo, aos 35'. Destaque ainda para Carlos Mané, titular na ponta direita e participante na construção dos nossos três golos.
Gostei pouco que não houvesse golos na segunda parte. A vitória foi construída no primeiro tempo e na etapa complementar limitámo-nos a gerir o esforço, com Keizer a fazer entrar Pedro Marques (aos 59') para o lugar de Montero, Thierry (aos 64') para o lugar de Ristovski e Bruno Paz (aos 73') para o lugar de Bruno Fernandes, hoje o capitão por ausência de Nani, que ficou a descansar (depois ficou Coates com a braçadeira). Também Mathieu, Gudelj, Diaby e Bas Dost foram poupados, já a pensar no desafio de domingo para o campeonato, em casa, frente ao Nacional.
Não gostei da lesão de Montero. O colombiano magoou-se e acabou por abandonar o campo transportado de maca, sob uma chuva de aplausos do adeptos. Justos e calorosos aplausos a um dos elementos de maior qualidade técnica do plantel leonino.
Não gostei nada de ver só 25.504 pessoas a acompanhar este desafio em Alvalade. Esta equipa do Sporting merece ter mais gente a incentivá-la nas bancadas. Ver quase vazia a zona do estádio que costuma estar reservada à Juventude Leonina é ainda mais desolador. Como se este grupo de adeptos, que tem por obrigação apoiar a equipa, estivesse a fazer uma espécie de greve. Com "apoiantes" destes bem podemos dispensar tal claque.
Incapacidade de pôr os jogadores a rodar? Têm a certeza?
Na segunda parte do desafio da tarde de ontem, disputado na Ucrânia com bastante frio e a horas impróprias, José Peseiro fez questão de contrariar todos os profetas da desagraça que lhe iam apontando um imenso rol de defeitos. Já tinha cumprido aquilo que alguns de nós esperávamos dele ao escolher sem temor um onze nunca experimentado, face à necessidade de rodar jogadores, acautelar a partida de domingo em Portimão e dar mais rodagem àqueles que são por sistema deixados no banco ou na bancada.
O Sporting alinhou inicialmente frente ao Vorskla - quarto classificado do campeonato ucraniano - com cinco novidades em relação ao onze inicial do desafio anterior, contra o Marítimo. Destaque para as apostas em Bruno Gaspar, Carlos Mané e Diaby - o mais caro reforço da pré-temporada leonina.
Confrontado com um golo sofrido logo aos 10' e com a apatia generalizada daquele grupo de jogadores incapaz de desfazer o nó ucraniano, o técnico mexeu cedo na equipa, mandando Mané para o duche aos 58'. Fez entrar Montero, muito moralizado por ter sido o melhor no desafio contra os madeirenses. Doze minutos depois, entravam Raphinha e Jovane - um deles substituindo Petrovic. Ficávamos sem nenhum médio defensivo de raiz, prova inquestionável da filosofia atacante do treinador. Que produziu resultados. Montero, com superior execução técnica, marcou um belo golo no último minuto do tempo regulamentar. Quatro minutos depois, Jovane ganhava um ressalto e transformava o empate em vitória. O puto-maravilha deu mais três pontos e algum dinheirinho ao Sporting.
Peseiro, que já estava a ser insultado de péssimo para baixo nos locais do costume, tornou-se o herói do dia.
Azarado, o tanas.
SINAL VERDE
SALIN. Traído pela sua defesa, ainda se fez ao lance no golo ucraniano, tocando na bola mas já sem capacidade de impedi-la de entrar. Não voltou a ter problemas. Sai da Ucrânia com nota positiva.
COATES. Na hora em que é necessário remar contra a maré, ele está lá. Ontem demonstrou a Petrovic como pode ser um 6 eficaz e a Bruno Fernandes como deve actuar um 8 ao liderar o processo ofensivo, com a bola dominada, aos 55', 72' e 86'. Uma lição aos companheiros que andavam a arrastar-se em campo.
JEFFERSON. Actuação positiva do lateral brasileiro, naquela que foi até agora a sua melhor exibição nesta temporada. Esteve ligado ao melhor momento do Sporting na primeira parte, assistindo Nani para um golo que este falhou, e é ele quem faz o passe longo (à William Carvalho) de onde sai o golo de Montero.
ACUÑA. Parece ser o jogador mais polivalente neste Sporting de Peseiro. Ontem regressou á posição de médio-centro, pois a ala esquerda começou por estar entregue a Mané. Cumpriu no essencial: foi sempre um dos mais inconformados. E aquele seu potente remate em arco a rasar a trave, aos 53', merecia ter sido golo.
RAPHINHA. Desta vez começou no banco. Mas o jogo estava mesmo a pedir a intervenção dele. Peseiro deu-lhe ordem para entrar, substituindo Diaby. Estavam decorridos 70' e a partir daí o campo passou a estar inclinado a nosso favor. Raphinha foi o dínamo habitual, em energia e velocidade. Tentou o golo aos 73', fez um bom passe aos 76' e aos 90' coube-lhe o cruzamento-assistência felizmente fatal para as nossas cores.
MONTERO. O melhor em campo entrou apenas aos 58', rendendo o incipiente Mané. Não tardou a agitar o jogo, baralhando as marcações ucranianas e dinamizando o nosso ataque. Aos 79' esteve quase a marcar, de pontapé de bicicleta, aquele que seria um golo do outro mundo. Aos 90', passou do entretanto ao finalmente quando a meteu mesmo lá dentro com uma recepção perfeita seguida de simulação e disparo - usando peito, pé direito e pé esquerdo. Irrepreensível.
JOVANE. Voltou a funcionar como arma secreta e talismã do treinador. Segunda intervenção em provas internacionais, segundo golo marcado ao cair do pano. Desta vez entrou aos 70', rendendo Petrovic, e aos 90'+4 sentenciou a partida ao aproveitar da melhor maneira uma bola que Bruno Fernandes desperdiçara. Alguém pode presumir que se trata de mera coincidência?
SINAL AMARELO
PETROVIC. Funciona como tampão à entrada da nossa grande área, mas limitou-se a defender com os olhos o autor do golo ucraniano, que se movimentou como quis na sua zona de influência. Ajudou depois a segurar o jogo, mas nunca se articulou bem com Bruno Fernandes ou Acuña nem foi capaz de construir lances ofensivos. O costume.
BRUNO FERNANDES. Médio de transição, voltou a exibir-se muito abaixo dos seus melhores dias. Foi quem errou mais passes, após Bruno Gaspar, e chutou demasiadas vezes para onde estava virado. No lance do segundo golo, teve uma recepção deficiente da bola, muito bem servida por Raphinha. Felizmente Jovane andava por perto.
NANI. Recuperou a titularidade e a braçadeira de capitão, mas não recuperou a antiga forma que tantas vezes nos levou a aplaudi-lo em pé. Teve o seu melhor momento no tempo extra da primeira parte, quando rematou à figura do guarda-redes, a dois passos da baliza. Vem demonstrando que joga melhor em distâncias curtas no eixo do que nas alas.
SINAL VERMELHO
BRUNO GASPAR. Uma desgraça a atacar, um descalabro a defender. O lateral direito alternativo errou passes, falhou intercepções, foi incapaz de fazer um centro em condições. Percebe-se agora melhor por que motivo Peseiro tem apostado em Ristovski.
ANDRÉ PINTO. Sai da Ucrânia com nota negativa por ter estado ligado ao golo da equipa anfitriã devido a um mau alívio para zona proibida, iam decorridos apenas 10 minutos. Um erro raro nele, mas que pode acontecer aos melhores.
CARLOS MANÉ. Preso de movimentos, sem ritmo competitivo, com apenas minuto e meio de actuação em campo nos últimos 15 meses, foi presa fácil para os ucranianos. Peseiro deu-lhe a oportunidade que muitos lhe pedíamos, mas ficou evidente que por enquanto o jovem extremo formado em Alcochete ainda não é alternativa válida.
DIABY. Estreia a titular do avançado maliano que veio da Bélgica com rótulo de goleador. Foi o mais caro reforço do defeso, mas ontem esteve muito aquém dos pergaminhos. Teve nos pés quase um golo cantado, logo aos 6', mas falhou por deficiência técnica. Merece nova oportunidade após ter desperdiçado esta.
Nada pôde fazer no lance do golo madrugador que deu vantagem aos ucranianos até aos 90 minutos, e cedo percebeu que não se podia fiar no quarteto à sua frente. Evitou o 2-0 apressando-se a desarmadilhar um atraso que prometia ser a segunda assistência para golo alheio de jogadores do Sporting. Depois disso teve tempo para recordar outros franceses que não se deram bem no Leste, pois o único remate enquadrado do Vorskla já fizera os estragos que tinha de fazer.
Bruno Gaspar (2,0)
Saltou para a titularidade da mesma forma que alguns estados falhados saltaram para a independência. Permeável a defender e emperrado a atacar, aumentou as legítimas esperanças de quem espera ver Thierry Correia a concorrer ao lugar de Ristovski no decorrer desta temporada.
André Pinto (2,5)
Fica marcado pelo ‘ammorti’ que permitiu manter a tradição leonina de não regressar a Portugal sem pelo menos um golo nas redes. Tão perfeita foi a disponibilização da bola para o remate que, havendo justiça, ser-lhe-ia reconhecida a assistência. No resto do jogo mostrou aquela competência interina que o torna invisível. Até aos olhos do selecionador nacional.
Coates (3,0)
Atormentado pela desvantagem madrugadora, para a qual pouco ou nada contribuiu, dedicou-se a ganhar duelos aéreos nas duas grandes áreas. Como é tradição, não se furtou a duas incursões (como sempre mal sucedidas) com a bola nos pés naquela fase da segunda parte em que a viagem de regresso a Lisboa prometia ser ainda mais longa e silenciosa. No universo alternativo em que já existe videoárbitro na Liga Europa sofreu um pénalti quando o resultado ainda estava 1-0.
Jefferson (3,5)
Mais insólito do que o equipamento branco que a UEFA forçou os leões a envergar só o facto de o brasileiro ter sido o melhor da defesa. Regressado à titularidade, o lateral-esquerdo arrancou o jogo com cruzamentos displicentes que chegavam a parecer combinados com os adversários. Sucede, porém, que no final da primeira parte calibrou as chuteiras, oferecendo um golo a Nani que a haver justiça contaria como assistência, fartou-se de ganhar espaço no corredor que tinha a seu cargo e municiou o ataque com bolas nem sempre bem compreendidas. Até ao momento em que Montero recebeu um cruzamento longo no peito e...
Petrovic (3,0)
Enquanto não há Battaglia continua a ir à guerra. Começou mal, reagindo tarde e a más horas à oferta de André Pinto aos anfitriões, mas cedo conquistou espaço no meio-campo com o estilo forte, feio e formal que as suas limitações aconselham. Assim se manteve, muitas vezes tomado pela angústia do futebolista no momento em que tem a bola nos pés, até ser devolvido ao banco de suplentes.
Acuña (3,5)
Voltou para o meio-campo com o ímpeto de quem já estava a ser avisado pelo árbitro ao quarto de hora de jogo. Foi o sportinguista mais focado na primeira parte, depois do intervalo fez um remate em arco que merecia ser desviado para a ‘gaveta’ da baliza por um fenómeno meteorológico e iniciou o contra-ataque que selou a reviravolta. Nem o amarelo que acabou por levar, tão natural quanto a própria sede, retira mérito ao argentino.
Bruno Fernandes (3,0)
Abriu as hostilidades com um passe de 30 metros para Diaby e empenhou-se sempre na batalha do meio-campo, testando o remate de longa distância em mais do que uma ocasião e com mais do que um defeito de execução. Mesmo no final esteve à beira de marcar o golo que valeu os três pontos, cedendo a honra ao suspeito do costume.
Nani (2,5)
Recuperou a titularidade, a braçadeira de capitão e a tendência para desacelerar os ataques. Particularmente infeliz na finalização, teve a baliza contrária a seus pés no final da primeira parte, perdendo uma excelente oportunidade de causar uma boa primeira impressão nas redes. Ficou até ao fim em campo, o que terá contribuído para uma quebra nos rendimentos dos especialistas em leituras de lábios que prestam serviços aos canais de televisão.
Carlos Mané (2,0)
Mais uma novidade na deslocação à Ucrânia, após um minuto inteiro no relvado de Alvalade. Alternando entre a faixa e o miolo do terreno, pecou pela falta de pragmatismo (e por ter feito um remate com a canela) apesar de ter demonstrado, numa ou noutra jogada, que ainda sabe ludibriar quem lhe vem tentar tirar a bola. Mas quando saiu para dar lugar a Montero houve a leve impressão de que já ia tarde.
Diaby (2,0)
Desta vez já conseguiu demonstrar as qualidades de velocista, ficando a faltar outro tanto no que diz respeito à arte de marcar golos. Teve boa oportunidade logo a abrir o jogo, mas chutou tão mal quanto combinou com os colegas nas jogadas de ataque em que se envolveu. Saiu aos 70 minutos para dar lugar a quem, até ver, resolve.
Montero (4,0)
Saltou para o relvado com a convicção de que iria salvar a equipa de um traumatismo ucraniano. E se de início manteve a tendência de criar jogo longe da zona de perigo, quase sem se dar por isso fez um belo pontapé de bicicleta que poderia ter valido o empate. Redimiu-se logo a seguir, com uma sequência de decisões correctas que permitiram festejar o empate e transformaram os cinco minutos de compensação numa auto-estrada para a reviravolta.
Raphinha (3,5)
Assumiu o jogo ofensivo do Sporting desde o instante em que entrou em campo. Entre muitas intervenções preciosas destaca-se o passe para Bruno Fernandes que, por linhas tortas, permitiu que houvesse festa no final de tarde.
Jovane Cabral (3,5)
Ser talismã tem destas coisas. Demora-se mais a entrar no jogo do que o colega da direita, vai-se ganhando confiança e está-se à hora certa no lugar certo. Assim se fez o golo da vitória e começa a ser difícil acreditar que todas estas intervenções decisivas não passam de uma sucessão de coincidências.
José Peseiro (3,0)
Descansou uns quantos titulares, o que se torna compreensível devido à deslocação à Portimão na noite de domingo. Mas recebeu pouco em troca da confiança depositada em Bruno Gaspar, Carlos Mané e Diaby, viu uma falha tremenda da defesa adiantar o Vorskla, e até ao último minuto do tempo regulamentar viu-se metido em grandes sarilhos. Que por uma vez o universo tenha conspirado a favor do Sporting deve-se em grande parte às substituições acertadas que fez no decorrer da segunda parte, ciente de que, para mal dos seus pecados e do departamento médico, o plantel que orienta não se dá assim tão bem com poupanças.
A generalidade dos homens tinha 3 certezas na vida: a morte, os impostos e a hora de início dos jogos europeus. Como a UEFA ainda não conseguiu influenciar as duas primeiras, restou-lhe o exotismo de marcar um jogo da Liga Europa, a meio da semana, para as 17h55. E assim, eram 5 para as 6 da tarde em Lisboa, começou a partida.
O desafio pareceu disputar-se num sintéctico, dado o piso duro e a relva muito cortada. A bola saltava bastante, facto que também não pode ser dissociado das irregularidades do terreno. Não que isso desculpe totalmente a exibição muito pouco conseguida, mas as condições do relvado também não ajudaram. Valeu ao Sporting a estrelinha da sorte. Aqui reside a verdadeira mudança de paradigma entre o actual PESeiro Evolution Soccer (PES 2018) e o PES 2004 de má memória. Outrora Pé Frio, e quase a ser PéZERO nesta partida, acabou a ganhar os 3 pontos e o dinheiro da vitória. Um Pe$eiro. Felizmente!
O Sporting iniciou o jogo com 5 alterações face ao "onze" exibido contra o Marítimo: Bruno Gaspar ligou o complicómetro durante todo o jogo e Jefferson mostrou a displicência habitual, quando aos 81 minutos, na sequência de um livre a favor do Vorskla, ficou a contemplar o esplendor da relva, em lance que nos poderia ter custado a derrota. Nani nada fez de relevante, para além de ter desperdiçado um golo cantado e Mané pareceu ter uns tijolos nos pés, enfiando um pastél com (a) canela por cima da barra. Finalmente, Diaby teve um único lance de registo (túnel a um defesa). Dos outros, André Pinto e Bruno Fernandes estiveram muito abaixo das suas possibilidades e Petrovic parado (um candeeiro, tipo PETROmax), não deu ritmo ao jogo. Salin ainda tocou, mas não conseguiu impedir a bola chutada por um ucraniano de encontrar as malhas, pelo que Sebastián Coates e Acuña foram os únicos, dos que entraram de início, num plano aceitável. Logo aos 5 minutos, Diaby, desmarcado por um passe de 50 metros de Bruno Fernandes, poderia ter marcado. Tal poderá ter dado a ilusão de facilidade, mas o facto é que só voltaríamos a criar perigo já em cima do intervalo, quando Nani teve uma clara oportunidade de golo e, logo de seguida, cabeceou por cima da barra. Pelo meio, golo dos ucranianos, após um desvio incompleto de André Pinto para a entrada da área, zona onde Petrovic ou Acuña não estavam.
Eis então que Montero, Raphinha e Jovane Cabral entram em campo. O colombiano começou a segurar a bola lá na frente, algo até aí não visto. Num desses lances, assistiu para uma sua própria bicicleta, que quase resultava em golo. Simultaneamente, Raphinha semeava o pânico pela banda direita. Mas o golo não aparecia. Até que Jefferson descobriu, no Google Earth, Montero num molho de jogadores, direccionou para lá o pontapé e o colombiano calculou com precisão geométrica o ponto de queda da bola enviada da linha de meio-campo, parou-a com categoria no peito, rodopiou e tirou com o pé direito um adversário do caminho e, com o pé esquerdo, rematou em banana para o ângulo inferior esquerdo do impotente guardião ucraniano. Iniciava-se o tempo de compensação e este golo entusiasmou a equipa, ao mesmo tempo que desmoralizou o adversário. Num rápido contra-ataque pela direita, Raphinha centrou com régua e esquadro para um isolado Bruno Fernandes. O maiato atrapalhou-se, chocou com o guarda-redes, mas a bola sobrou para um até aí quase incógnito Jovane, que não perdoou.
Incrível como uma equipa com individualidades tão superiores, é obrigada a sofrer desta maneira, vencendo da forma mais difícil e quando já quase ninguém acreditava. Na PlayStation não se arranjaria um final mais dramático...
Tenor "Tudo ao molho...": Fredy Montero (pela segunda vez consecutiva)
Gostei muito da vitória conseguida na Ucrânia, com uma temperatura muito fria, em total contraste com este Verão tardio que persiste em Portugal. Vitória por 2-1 arrancada a ferros, nos cinco minutos finais, mas até por isso mais emocionante e saborosa. Totalizamos seis pontos na Liga Europa, onde seguimos invictos. De algum modo, valha a verdade, apenas cumprimos a nossa obrigação pois a equipa adversária, o modesto Vorskla, segue na quarta posição do campeonato ucraniano.
Gostei da forma como José Peseiro apostou tudo na viragem do resultado, quando perdíamos por 0-1 desde o minuto 10. Trocou Petrovic por Jovane e Diaby por Raphinha aos 70', alargando a frente atacante. Era o que a lógica do jogo recomendava e o técnico soube ler os sinais que lhe vinham do campo. Foi recompensado pela ousadia, em claro desmentido à velha alegação de que é um homem azarado. Hoje não houve azar nenhum. Pelo contrário, houve sorte somada à competência de Montero, que - em campo desde os 58' - respondeu da melhor maneira a um passe de 35 metros de Jefferson, amortecendo a bola no peito, fazendo uma simulação com o pé direito e marcando com o esquerdo no último minuto do tempo regulamentar. Competência reforçada com o golo da vitória, apontado pelo incontornável Jovane, aos 90'+3: Raphinha cruzou muito bem, Bruno Fernandes teve uma recepção muito imperfeita, mas a bola sobrou para o jovem caboverdiano, que não perdoou com o seu indesmentível faro pela baliza. É já o segundo melhor marcador leonino na Liga Europa: um golo por jogo. E o colombiano (que estivera perto de marcar, aos 79', com um pontapé de bicicleta) foi o melhor em campo.
Gostei pouco da estreia de Carlos Mané e Diaby como titulares. O treinador demonstrou confiança neles, mas não foi correspondido. O jovem da nossa formação, que vem de uma paragem de 15 meses, mostrou-se inofensivo nas duas alas, acabando por ser substituído sem qualquer surpresa aos 58'. O maliano revelou défice no ataque à profundidade e nas movimentações junto da zona de finalização, que lhe estava entregue como elemento mais avançado do onze leonino. Deu o mote pela negativa, logo aos 6', quando falhou o remate no momento em que se isolava perante a baliza adversária. Nada mais fez de relevante nos 70' em que permaneceu no campo. Fica a dúvida: será mesmo aquele ponta-de-lança alternativo a Bas Dost de que o Sporting necessita? Talvez seja, mas não pareceu.
Não gostei de mais um "apagão" de Bruno Fernandes, pródigo em perdas de bola e passes sem nexo, nem da exibição do lateral-direito Bruno Gaspar, para mim o pior "leão" em campo. Também não gostei de ver a nossa equipa perder logo a partir do minuto 10, devido a um lapso defensivo originado por um mau alívio de André Pinto e pela apatia de Petrovic (médio defensivo que aqui se limitou a cobrir com os olhos). Gostei menos ainda de verificar que demorámos 35 minutos a reagir verdadeiramente a este resultado desfavorável: a única oportunidade de golo criada pelo Sporting ao longo de toda a primeira parte ocorreu aos 45'+1, quando Jefferson cruzou muito bem e Nani rematou quase sem preparação, propiciando ao guarda-redes do Vorskla a defesa da noite.
Não gostei nada de confirmar que temos um défice de qualidade exibicional no plantel. Não é difícil explicar porquê. Basta reparar que só três dos 11 jogadores que hoje entraram em campo (Coates, Acuña e Bruno Fernandes) eram titulares do Sporting na época anterior. Basta reparar também que elementos nucleares da equipa - como Mathieu, Battaglia e Bas Dost - ficaram em Lisboa por evidentes limitações físicas, felizmente superáveis. Há que dar tempo ao tempo. E reconstruir uma equipa que em Junho ficou totalmente destroçada pelos motivos que bem sabemos.
{ Blogue fundado em 2012. }
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.