O balanço da 4ª participação na Volta a Portugal, após o regresso ao ciclismo em 2016, da equipa do Sporting/Tavira acaba por seguir o registo das 3 participações anteriores: discreto e desapontante.
Na geral em equipas, ficámos em 3.º lugar. Na geral individual, tivemos apenas 2 corredores (em 7) no top-15 (14.º e 15.º lugares, concretamente), nem um no top-10! Nas etapas disputadas, não conseguimos nenhuma vitória. Em 4 anos de Volta a Portugal, não lográmos colocar qualquer corredor no pódio final; só conseguimos uma vitória por etapas (em 40!). Um saldo, francamente, muito pobre numa modalidade a quem o Sporting tanto deve o seu prestígio nacional e extra muros.
Poderíamos aqui discorrer sobre as razões que levaram a este regresso em falso do Sporting ao ciclismo. Mas é exercício que, por ora, de pouco servirá face ao mais que provável novo abandono da modalidade.
O ciclismo é uma modalidade que projeta, geograficamente falando, o Sporting mais longe do que qualquer outra. Destaco, aqui, o seguinte comentário (por Filipe o Leão da Serra) deixado na caixa de comentários da Tasca e que ilustra muito bem o que pretendo dizer: "Tenho pena que o Ciclismo acabe no nosso Clube. Mesmo sem passarem à frente, gostei de ver passar as nossas Camisolas na minha terra, a mais de 200 km de Lisboa…(destaque meu)".
O Sporting não pode virar costas outros 30 anos ao ciclismo!
Escrevo isto com sentida emoção, pois, como aqui já contei há anos, devo ao ciclismo a adesão da família ao Sporting e, consequentemente, o meu sportinguismo! Estarei, por isso, eternamente grato à modalidade.
Uma nota final para saudar Frederico Figueiredo, o melhor leão em estrada na Volta. Uma grave queda na penúltima etapa levou-o a abandonar a prova no último dia. Não fosse isso e provavelmente terminaria no top-10, posição onde estava à partida para a última etapa.
Frederico Figueiredo teve uma queda grave antes da subida à Senhora da Graça, mas concluiu a etapa e nos primeiros lugares. Infelizmente, os ferimentos sofridos (fraturas no pulso e no braço) impediram-no de prosseguir na prova no dia seguinte.
O corredor leonino foi exemplo categórico de leão que caiu, mas que se levantou de novo!
Tivessem os desportistas que vestem o manto verde-e-branco a bravura, sofrimento e superação de Frederico Figueiredo e seríamos melhor Sporting.
Que o seu exemplo possa inspirar outros quando se preparam para arrancar novas épocas nas demais modalidades, e, já agora, também, no futebol.
Estamos em plena Grandíssima e, aproveitando a pausa na prova, é altura para um brevíssimo balanço.
Volvidas cinco etapas, a corrida é dominada, como seria de esperar e em linha com os últimos anos, pela equipa da W52/FC Porto, com a liderança na geral e por equipas, vitórias em etapas e, ainda, 5 corredores (em 7!) nos 15 primeiros lugares.
Quanto ao Sporting/Tavira, temos para já um 4.º lugar na geral por equipas, nenhuma etapa ganha (o melhor que conseguimos foi um 2.º lugar) e apenas 1 corredor no top-15, a já mais de 2 minutos e sem sequer conseguir entrar no top-10.
Não está, pois, a ser uma prestação brilhante nas estradas portuguesas por parte da equipa leonina, de resto, à semelhança, também, das edições anteriores.
O Sporting arrisca-se, pois, a chegar ao fim de 3 participações na Volta a Portugal com apenas 1 etapa ganha, sem qualquer top-3 na geral final. É, manifestamente, muito pobre.
Por isso, não surpreendem as notícias que apontam para o termo da parceria com o Clube de Ciclismo de Tavira. O Sporting prepara-se, tudo indica, para deixar, novamente, o ciclismo.
Como sportinguista e aficcionado pelas duas rodas, lamento muito esse cenário, mas a verdade é que o regresso ao pelotão está longe de corresponder às expectativas, nem sequer às mínimas. O Sporting não está a acrescentar valor ao ciclismo, nem a tirar proveito da modalidade.
Este ano contratámos Tiago Machado, corredor que nos últimos anos andou a correr lá por fora e chegou a participar no Tour. Esperava que o corredor famalicense fosse o condão certo para arrepiarmos caminho, mas a verdade é que está longe de o ser. O actual 16.º lugar a quase 4 minutos do camisola amarela, só reforça a desilusão.
Caminhamos, portanto, para um final de ciclo. Só não queria era esperar outros 30 anos para se abrir um novo ciclo. O Sporting tem uma marca identitária muito forte na modalidade, adeptos e projecção. Há que tirar os devidos ensinamentos desta parceria com o Tavira para, no futuro, quando surgir a ocasião, se repensar o regresso noutros termos e, sobretudo, com outra exigência.
Não fosse assistir a uma etapa da Volta, na sua Paredes de Coura, e ganhar simpatia pelo corredor verde e branco (Alfredo Trindade), e o meu avô nunca se teria tornado, naquele momento, sportinguista, e mais tarde, por arrasto, o meu pai e eu próprio.
Para além de me ter transmitido o sportinguismo, o meu avô incutiu em mim uma paixão enorme pelo ciclismo, modalidade que sigo com muito gosto e interesse, apesar dos escândalos associados nos últimos anos.
Serve isto para dizer que não foi pelo regresso do Sporting ao ciclismo (via parceria com a equipa do Tavira) que passei a seguir com mais interesse a Volta. O interesse sempre existiu. Claro está que havendo corredores com a camisola do Sporting, o apoio e atenção pessoais são diferentes.
Nas vésperas do início da Volta, nunca achei que o Sporting, através do chefe de fila Rinaldo Nocentini, fosse favorito a um lugar no pódio, quanto mais à vitória final. Ficar no top-10 e ganhar uma ou duas etapas, já seria excelente.
Nesta fase da prova, volvidas 6 das 10 etapas, o balanço é: melhor lugar na geral individual é o 21.º lugar de Rinaldo Nocentini (a mais de 20 minutos do camisola amarela). Vitórias em etapas, como diria o Jorge Jesus, zero.
Depois de Bruno de Carvalho, aquando da apresentação da equipa de ciclismo, ter dito não perceber nada da modalidade, ontem só apeteceu rir, para não chorar, ao ouvir as declarações de Vicente de Moura, após a má prestação da equipa na etapa da Torre.
Dizia o nosso comandante que também não percebe nada de ciclismo e que acha que a equipa está desequilibrada, e que mais tarde ele e o Presidente terão de falar. Tu queres ver que a parceria vai acabar? Ou que vem aí um aumento colossal de investimento, à semelhança do que fizeram no hóquei, andebol ou futsal?
Da minha parte, espero que a parceria não acabe, porque este é o ano 0 do regresso do Sporting ao ciclismo. Mas seria bom que a "estrutura" leonina em Alvalade se dotasse de alguém com entendimento da modalidade, para planear melhor a próxima época e evitar alguns erros de "casting". Não falo apenas de se encontrar um chefe de fila que não um corredor com quase 39 anos no ocaso da carreira (que, apesar de tudo, tem sido o nosso melhor ciclista). Falo, também, de ter uma equipa mais portuguesa, pois na prova maior do ciclismo em Portugal, o Sporting-Tavira apresentou-se apenas com 3 ciclistas portugueses em 8 corredores.
Sobre a Volta propriamente dita, os antigos parceiros do Sporting, a W-52, que depois associou-se ao Porto, têm dominado a corrida, qual Team Sky portuguesa. Vão vencer a prova e no final Pinto da Costa e a sua entourage vão estar todos contentes.
A pior reacção possível para o Sporting, a esse desfecho, seria ou acabar com a parceria, ou investir à doida para o próximo ano.
{ Blogue fundado em 2012. }
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