Há um ano andavam por aí uns raivosos a rasgar as vestes urrando em louvor de um tal Viviano, que (juravam eles) seria o único guarda-redes competente para o Sporting.
Passado este tempo, nunca mais voltaram a clamar pelo tal fulano. Até já nem devem saber muito bem quem ele é.
Contratar um guarda-redes de 32 anos que foi seis vezes internacional por Itália mas não voltou a ser chamado para a selecção desde 2011 e chegou com seis quilos a mais ao Sporting dá nisto: cinco meses depois, sem um só jogo oficial disputado por Viviano com as cores da nossa equipa, a Direcção leonina apressa-se a desfazer o barrete enfiado por Bruno de Carvalho nos dias pré-destituição, quando já corria para lugar nenhum. Há heranças que convém renegar sem demora, antes que comecem a pesar de forma incomportável. Aqui o verbo pesar pode até ser usado no duplo sentido, literal e metafórico: é inconcebível pagar dois milhões de euros por um inactivo. O gordo, neste caso, não vai para a baliza.
1. Bas Dost e Bruno Fernandes, por esta ordem, foram os dois jogadores ontem mais aplaudidos em Alvalade. Era o que faltava para se fechar de vez um contencioso que nunca devia ter existido. Nós, os adeptos que estivemos no estádio, tratámos disso. Por maioria esmagadora.
2.O golo solitário do Marselha deveu-se a um frango de Viviano. Pode acontecer ao melhor guarda-redes. Gostei de ver José Peseiro a incentivar o italiano - dando o mote às bancadas, que foram aplaudindo cada intervenção do dono da baliza. Atitude correcta: é assim que se moralizam os jogadores.
A recuperar de um defeso estressante, nada como uma visita a uma região termal fronteiriça francesa para repôr o equilíbrio e renovar (boas) energias. Hoje, em Divonne-les-Bains, o Sporting bateu o Nice por 1-0.
O jogo revelou algumas surpresas, confirmou bons sinais, mas também evidenciou fragilidades. Emiliano Viviano promete. O guardião italiano, intransponível tanto pelo chão como pelo ar, para além de ter mostrado excelentes reflexos e muita atenção entre os postes jogou muitas vezes na antecipação, com um raio de acção amplo que cobriu toda a área. Demonstrou grande abrangência (até no estômago). Realizou uma excelente exibição. Outro destaque foi Lumor. Rápido e de passada larga, bem nas coberturas defensivas por dentro, incorporou-se com muita facilidade nos movimentos atacantes combinando muito bem com Raphinha. Promete conquistar a titularidade ou, pelo menos, dificultar muito a vida aos restantes laterais esquerdos. Finalmente, Matheus Pereira soltou o génio que todos lhe reconhecemos e que só necessita de estabilidade para uma afirmação plena. Marcou um golo de enorme categoria, colocando a bola junto ao ângulo superior direito da baliza gaulesa, e assistiu Montero para uma perdida incrível do colombiano, para além de ter sido o inferno de Dante (aquele túnel...).
Os centrais André Pinto e Mathieu estiveram regulares, Ristovski um pouco trapalhão. Bruno Gaspar teve mais critério a atacar e pode vir a ser opção caso Piccini venha a ser vendido. Duvido que Marcelo se imponha. O ex-vilacondense é essencialmente um central de marcação mas falta-lhe velocidade para jogar num bloco defensivo médio/alto, algo habitual numa equipa de topo. Jefferson preocupou-se mais em defender do que em atacar. Definitivamente, o médio croata não é Misic para os meus ouvidos. Efectuou pelo menos 3 passes teleguiados para ninguém (!) e não dá a dinâmica que aquele sector necessita. O sérvio Petrovic esteve bem melhor, embora sem deslumbrar. Palhinha idém. Wendel é muito mais o "8" de que precisamos - rectificados pormenores de marcação - do que o "10" onde Peseiro o pôs a jogar. Francisco Geraldes entrou e mostrou a sua qualidade de passe e inteligência de movimentações. Tem jogado pouco e assim perde rotinas e referências. Mais do que a leitura de o "Ensaio sobre a cegueira" recomenda-se, do mesmo autor, "A viagem do elefante", para que se recorde o esplendor da nossa Formação. Raphinha promete, mostra preocupação em combinar com os companheiros do ataque (deu a assistência para Matheus) e inteligência na exploração dos espaços deixados vagos pelos adversários. Doumbia foi...Doumbia. Em apenas 1 minuto revelou estar "fora dela". Primeiramente, em vez de se dar ao passe de Geraldes preferiu esticar em desmarcação, seguidamente ficou a pedir a bola no pé, perdendo o espaço nas costas dos franceses. Na área mostrou a ineficácia habitual, aspecto onde Fredy Montero também falhou, ele que tinha protagonizado um remate muito perigoso na primeira parte. O costa-marfinense parece um corpo estranho na equipa. Ainda assim, destacou-se por uma abertura a isolar Jovane Cabral (fora-de-jogo?). Jovane parece a versão beta de Matheus. Prometeu o garoto com boas acções pela ala direita e um remate, de livre, com muito veneno na bota.
Em resumo, uma vitória importante e moralizadora contra uma boa equipa a mostrar que o nosso miolo do terreno carece de reestruturação. O caminho faz-se caminhando.
Vitória leonina esta tarde, na Suíça, frente ao Nice - equipa classificada em oitavo lugar na Liga francesa, com o internacional brasileiro Dante no eixo da defesa mas desfalcada da sua principal estrela, o italiano Mario Balotelli. Triunfo tangencial, por 1-0, construído no melhor período da equipa, no quarto de hora inicial da segunda parte. Um grande golo de Matheus Pereira, aos 52', a passe de Raphinha - não por acaso, os dois melhores elementos do onze do Sporting nesta partida, disputada na localidade termal de Divonne-les-Bains, em território gaulês. Muito boa nota também para Viviano: estamos bem servidos de guarda-redes.
Da equipa que entrou em campo, apenas Mathieu - hoje com a braçadeira de capitão - foi titular absoluto na temporada 2017/2018. Notou-se, claramente, falta de entrosamento entre os jogadores, ainda sem automatismos, o que não surpreende. Sobretudo ao nível do meio-campo, onde José Peseiro apostou numa dupla de médios defensivos - Petrovic e Misic - para permitir mais ousadia ofensiva aos laterais. Um sistema que está a ser testado e provavelmente só funcionará num número limitado de jogos na próxima Liga.
Certinha mas sem rasgos, a equipa melhorou com a ronda de substituições operada pelo treinador ao minuto 61, quando fez cinco trocas. Viria a ordenar mais quatro - duas das quais a escassos segundos do apito final, o que fez pouco sentido. Apenas Viviano e Petrovic jogaram os 90 minutos.
É muito cedo para fazer vaticínios seguros sobre o onze-base do Sporting no campeonato que vai seguir-se, tanto mais que ainda falta incluir Acuña, Bruno Fernandes, Coates (de férias após o Mundial) e Nani, já integrado no estágio da equipa mas sem calçar.
Mas o sucessor de Gelson Martins parece ter sido encontrado: Matheus Pereira, hoje o melhor em campo.
Segunda-feira, novo jogo. Desta vez frente ao PSV Eindhoven.
Mais: grande defesa em voo, aos 67'. Saiu bem dos postes, demonstra habilidade a jogar com os pés.
Menos: parece ter peso a mais.
Nota: 7
Ristovski (26 anos).
Mais:competente nos cruzamentos.
Menos: demasiado tímido nas investidas pelo seu flanco.
Nota:5
André Pinto (28 anos).
Mais:certinho, não comprometeu.
Menos:demasiado posicional, nunca arriscou.
Nota:5
Mathieu (34 anos).
Mais: eficaz nas manobras de desarme e no jogo aéreo.
Menos:ofensivamente, só se destacou num cabeceamento aos 64'.
Nota: 6
Lumor (21 anos).
Mais: boas acções de cobertura.
Menos:défice na manobra ofensiva.
Nota: 5
Petrovic (29 anos).
Mais: apoiou bem os centrais.
Menos: algo preso de movimentos.
Nota:5
Misic (24 anos).
Mais: o croata ajudou a fechar o corredor central, nem sempre bem articulado com Petrovic.
Menos: nada eficaz no processo de construção, bateu muito mal um canto.
Nota:4
Wendel (20 anos).
Mais:voluntarioso, fez boas tabelas como médio mais avançado.
Menos: escassa participação no processo defensivo.
Nota: 5
Matheus Pereira (22 anos).
Mais:revelando sempre grande mobilidade, marcou o golo da vitória com um remate forte e bem colocado, e aos 54' ia assistindo Montero para outro golo.
Menos: arriscou remate aos 36', mas sem pontaria afinada.
Nota: 8
Raphinha (21 anos).
Mais:assistência para o golo de Matheus, em rápida progressão com a bola.
Menos:podia ter marcado, aos 18', mas a bola saiu ao lado.
Nota:7
Montero (30 anos).
Mais: bom remate aos 21': ficou-se por aí na primeira parte.
Menos: falhou escandalosamente um golo, aos 54', a passe de Matheus Pereira.
Nota: 4
Palhinha (23 anos).
Mais:em campo desde os 61', rendendo Misic, ajudou a interceptar passes.
Menos:tendência para provocar faltas em zonas perigosas.
Nota: 5
Jefferson (30 anos).
Mais: em campo desde os 61', rendendo Lumor, mostrou-se atento e concentrado.
Menos: mal deu nas vistas em acções ofensivas.
Nota: 5
Doumbia (30 anos).
Mais: em campo desde os 61', rendendo Montero, protagonizou um bom lance de ataque aos 63' e aos 87' fez um magnífico passe isolando Jovane.
Menos: continua divorciado dos golos.
Nota: 5
Francisco Geraldes (23 anos).
Mais: em campo desde os 61', rendendo Wendel, ajudou a fazer pressão alta na zona de ligação entre o meio-campo e o ataque.
Menos: algum excesso de individualismo.
Nota: 5
Jovane Cabral (20 anos).
Mais:o jovem internacional caboverdiano entrou muito bem aos 61', rendendo Matheus Pereira, com velocidade e bons pormenores técnicos, assumindo o jogo.
Menos:isolado por Doumbia, falhou um golo aos 87'.
Nota:6
Marcelo (28 anos).
Mais: em campo desde os 66', substituindo André Pinto, não comprometeu.
Menos: falta-lhe entrosamento com Mathieu, o que não surpreende.
Nota: 5
Bruno Gaspar (25 anos).
Mais: o lateral direito vindo da Fiorentina, no lugar de Ristovski desde os 66', revelou bons pormenores técnicos.
Menos:ainda com défice de integração colectiva, como se compreende.
Nota: 5
Demiral (20 anos).
O jovem turco que se destacou no Sporting B esteve poucos segundos em campo, substituindo Mathieu.
Jonathan Silva (24 anos).
O argentino, regressado de empréstimo, substituiu Raphinha ao minuto 90, sem tocar na bola.