Decorria o minuto 9 do jogo do Sporting contra o Portimonense quando todo o estádio se ergueu a bater palmas.
Assim de repente não entendi a ovação até que olhei para o enorme relógio e percebi o minuto e a quem estavam a ser dedicadas aquelas palmas.
Momento arrepiante que me comoveu profundamente.
Cinco minutos antes do se iniciar o jogo as cartolinas verdes e brancas mostraram, a quem pretendeu ver, como o Sporting é um clube diferente e os sportinguistas adeptos fenomenais.
Por estes gestos e por muuuuuuuuuuuuuuitos outros.
Espero que o “Eterno Capitão” tenha conseguido ver a homenagem. O minuto 9 foi dele, mas a festa é de todos os Sportinguistas. Manuel Fernandes incluído!
Hoje foi um dia especial já que o mais velho leão da família fez a bonita idade de 91 anos. Por isso e por muitas outras coisas levantei-me às seis da manhã para ir ao pão lá na bela aldeia beirã para onde havia partido na passada quarta-feira perdendo com isso o jogo com o Atalanta.
Tomei o pequeno-almoço, para logo a seguir carregar a carrinha para regressar ainda hoje à capital.
Seriam aproximadamente 10 da manhã quando entrei na A23 no sentido Norte-Sul.
A primeira paragem foi mais ou menos a meio caminho numa outra aldeia encravada no sopé da Serra dos Candeeiros. Aqui encontrei os meus idosos antecessores e pude com alegria felicitar o meu pai por mais um ano de vida. Então este que em termos de saúde não tem sido perfeito.
Descarreguei toda a tralha da carrinha para correr ao barracão carregá-la de sacos de azeitona apanhada pelo meu pai durante a última semana. De seguida eis-me a caminho do lagar para aí deixar os viúvos bagos. Porém havia fila e aguardei perto de uma hora até ser atendido. Azeitona no pio, limpa e pesada parto para o restaurante para almoçar. Quando cheguei já os meus pais tinham chegado.
O repasto correu bem, já que se comeu maravilhosamente bem! Como é apanágio daquele local.
Conta paga e com o calor tórrido a abrasar os corpos, tive de voltar ao lagar para deixar o vasilhame para o azeite que sairá dos 484 quilos de azeitona que lá ficaram para moer. Chego a casa dos meus velhotes, volto a carregar a carrinha com a mercadoria que trouxe da Beira Baixa, comi à pressa uma fatia de bolo e rapidamente regresso à auto-estrada, desta vez à A1 no sentido de Lisboa.
Muito trânsito àquela hora, o que me obrigou a andar sempre devagar.
Chego a casa... finalmente, descarrego a carrinha e quando estou a fechá-la vejo o meu filho vestido e pronto para ir “à bola”. Apressei-me ainda mais. Visto uma camisola verde, muno-me do amigo e inseparável cachecol e parto para Alvalade onde finalmente penso ver um bom jogo e quiçá repousar deste furacão em forma de dia!
Pois, mas um qualquer salsicheiro, talvez a pedido ou apenas incompetente, armou-se em poeta e ia-me estragando o resto das horas. Para tudo acabar bem.
Esta noite, naquele estádio, se havia alguém que merecia ver uma vitória do Sporting, esse alguém seria certamente eu!
E o meu pai que nem imagino o que terá sofrido a escutar o relato!
Há uns anos escrevi neste mesmo espaço que em Espanha só sigo a Real Sociedad, porque gosto do clube. Porém há outra equipa que aprecio e tento seguir as suas caminhadas. Chama-se Arsenal e este gosto tem uma estória de vida por detrás, vindo dos meus tempos de garoto e que se conta rapidamente:
- o meu pai foi militar e serviu a Marinha de Guerra Portuguesa por mais de 40 anos;
- sempre que era destacado para um navio, este encontrava-se normalmente atracado na Base Naval de Lisboa que se situa ainda no Alfeite, numa curva do Tejo, ali paredes meias com a antiga Lisnave;
- na tal Base Naval havia e há uma empresa metalúrgica que dava e dá suporte aos vasos militares como reparações e limpezas de cascos;
- essa entidade chama-se Arsenal do Alfeite ou comummente apenas Arsenal;
- desde muito cedo que ouvi a palavra arsenal em casa e já era meio espigadote quando deescobri que o arsenal que o meu pai falava não era o mesmo do futebol;
- todavia o nome Arsenal manteve-se neste meu Pasespírito, de tal forma que quando fui a Londres não pude deixar de trazer um cachecol arsenalista.
Passando esta estória para segundo plano amanhã será sempre dia do Sporting ganhar!
Em traços largos, são iguais. Duas perspectivas da mesmíssima realidade.
Em essência, a mesma laboriosa teia de bonitas e diferentes formas. Não causa estranheza, não pode causar estranheza, que o que de mais distintivo e belo surge na tela em branco, forma de todas as formas, se apresente a negro. Não é do lodo que nasce a flor de lótus?
Não são exactamente iguais, não podem ser exactamente iguais. Ainda que tecidas tivessem sido pelas mesmas mãos. É essa diferença, inicialmente subtil, entre teias, que os faz Vigoroso e Poderoso.
Ao Poderoso, que só pode sê-lo por ter conseguido integrar a capacidade potencialmente (auto)destrutiva do vigor desgovernado, pediria que encontrasse, desenhasse, forma de nos despedirmos condignamente. É a responsabilidade inerente a ser poderoso no reino das formas. E às formas leoninas, que à distância assistimos e sentimos pesarosas pela ruptura entre as forças motrizes que nos trazem a flor de lótus, deve-se mais do que o esforço, deve-se a materialização do reconhecimento de que somos a forma maior. A que dá corpo e sentido à vossa existência enquanto forma(s) no reino do Leão.
Arranje forma, Poderoso. Ou, se preferirem, rearranjem-se.
Desta feita ouvi a conferência de imprensa e o esclarecimento de que seria a última vez que responderia a uma pergunta sobre Slimani.
Se for possível chegar-se a um entendimento bom para todas as partes, genial. Talvez ainda se vá a tempo de evitar males maiores. Para o todo maior do que as partes e que, invariavelmente e como seria de esperar, fica refém dos egos de uns e de outros.
Se não for, que fique de lembrete: "forçar" soluções não muito desejadas por uma parte importante da equação, raramente dá bom resultado. Demorar tão pouco tempo a dar de si é só, completamente, Sporting.
P.S. A (minha) alternativa seria publicar um 'Nas colunas':
É minha convicção que apoiar é uma das grandes responsabilidade dos adeptos (supporters). Mas não podemos ignorar a responsabilidade da direção em dar aos adeptos algo para acreditar e apoiar.
A gestão de um clube deve ser altamente racional mas o futebol é extremamente emocional, os adeptos precisam que a chama da sua paixão esteja constantemente a ser regada com a dose certa de gasolina. Bruno de Carvalho percebeu bem metade desta premissa, infelizmente levou o lado emocional para a gestão do clube e emolou-se nele.
Para se ser adepto do Sporting, hoje em dia, é quase preciso ter um mestrado em Alta Finança. Temos que saber o que são VMOCs, discutir os benefícios de uma venda da SAD, entender que não temos liquidez apesar das vendas pornográficas que foram feitas, etc. Isto tudo é errado, é claro que podemos entender tudo isto mas, no fundo, o único número que importa para a paixão é o número de vezes que a bola bateu no fundo das redes adversárias.
O Presidente do Sporting tem que ser uma espécie de Roberto Benigni em "A Vida é Bela". Ter ambição e criatividade para conseguir uma miúda "impossível", ser humilde para trabalhar diariamente e, acima de tudo, ter a capacidade de manter o filho (os adeptos?) feliz e motivado durante a maior tragédia de que há memória na História da Humanidade. Sim, no fim "o seu mandato" acabou. Todos acabam inevitavelmente, não é? Mas é o que se faz durante "o mandato" que faz valer a pena. A vida, de para quem o Guido trabalhou, continuou.
Desce da Torre de Marfim, Frederico. Trabalha para os adeptos e sócios do Sporting Clube de Portugal. Ainda vais a tempo de tornar a tornar a nossa vida bela.
Logo à noite joguem, lutem, esfarrempem-se todos para ganhar a Supertaça.
Se tudo correr bem, entre muuuuuuuuitos adeptos sportinguistas presentes em Faro, vai estar um a quem a vida foi madrasta.
O JC vestirá uma camisola listada de verde e branco e provavelmente gritará pelo Sporting a plenos pulmões.
Pelo Johnny (é assim que gosta de ser chamado) e por todos os sportinguistas a quem a vida nem sempre brindou com alegrias, peço a todos os atletas que entrarem em campo que mostrem por que vale a pena ser do Sporting.
Chova ou faça sol ( convindo que comecem a fazer noites frias, para ajudar à fermentação ), dia 1 de Novembro serão abertas as hostilidades. Pelo teor de açúcar medido, e com a benção de Baco que foi este ano generoso, deve-se ficar pelos 14,5º/15º. Como de costume, só se nota quando é hora de levantar da mesa.
À vossa!
Entretanto ainda deu para ver o Sporting ganhar com alguma dificuldade, mas com justiça, à volta duns enchidos grelhados, de uns pãezinhos feitos no forno de casa da sogra e do antecessor do que acabáramos de envasilhar, também ele com uns orgulhosos 14 graus!
Entretanto, por curiosidade, deixo-vos com uma notícia de capa do jornal regional "O Mirante", lá do meu distrito, que não sei porquê me lembrou alguma coisa...
Estava a acabar de colocar o pacote do vinho na minha lancheira quando ouvi alguém dizer que o Rui Vitória tinha dito qualquer coisa sobre determinado assunto. Eram 6 da manhã. Havia já uma fila de estucadores e pintores ucranianos (todos eles foram médicos e engenheiros no seu país) que esperavam pela sua vez para entrar na casa de banho, e eu tinha de chegar à obra antes das 7. Os outros pedreiros já estavam dentro da carrinha do sub-empreiteiro à minha espera. É uma boa carrinha de 9 lugares onde cabem facilmente 14 pessoas. Não sejamos mal agradecidos. Há meses que o condutor diz isto. Sentei-me como Deus deixou no meio daquela multidão. Meti a lancheira entre as pernas, e comecei a sentir-me ligeiramente queimado com o calor da dobrada do almoço. Aguentei-me: trolha que é trolha, aguenta tudo. Acho que disse isto em voz alta, porque um dos outros gajos grunhiu qualquer coisa como «não se responde quando os rivais estão no chão». Abanei a cabeça, e devo ter dito que sim.
Há dois conceitos que evito associar às minhas reflexões ocasionais sobre o fenómeno desportivo - e o futebol em particular.
O primeiro é o conceito de justiça. Escuto e leio muitas análises aos jogos ancoradas neste conceito - "se houvesse justiça, a equipa X teria ganho"; "a vitória da equipa Y foi justa".
Ora, salvo no que se refere a procedimentos disciplinares, a justiça não é para aqui chamada. Um desafio de futebol não é uma audiência de tribunal. Aqui o importante é vencer - por uma margem muito dilatada, de preferência, mas se for pela diferença mínima também serve. Que se vença até por "meio golo", como na velha boutade das conversas de café.
Tomemos um exemplo: o Benfica, dizem alguns comentadores, foi afastado "injustamente" da Liga dos Campeões no recente "jogo-treino" (Tito Vilanova dixit) em Camp Nou. "Injustamente" porquê? Porque esse afastamento acabou por ser ditado pela vitória simultânea do Celtic contra o Spartak de Moscovo por um penálti mal assinalado pelo árbitro desta partida.
Ao pretendermos explicar tudo em futebol recorrendo ao conceito de justiça, acabamos por não explicar nada. Porque aquilo a que por comodidade chamamos injustiça é uma espécie de lei não escrita imanente a todo o jogo. Uma das mais brilhantes proezas técnicas da carreira em campo de Cristiano Ronaldo foi aquilo a que se chama um golo limpo, "injustamente" anulado pelo árbitro por alegada deslocação de Nani numa vitória da selecção portuguesa contra a Espanha.
Eu estava lá - e vi. Nunca hei-de esquecer aquele golo, reproduzido aqui mais acima.
É inútil insistir no contrário: não existe uma justiça poética nos estádios que resgata os verdadeiros campeões, projectando-os da relva dos estádios para esse simulacro de Campos Elíseos a que se convencionou chamar verdade desportiva. Penso nisto todas as vezes que me lembro de um dos jogadores mais celebrados da história do futebol. Diego Maradona, ele mesmo. Um dos seus golos mais famosos - e decisivos - foi marcado com a mão, à margem das leis do jogo. Passou à história não como infractor, mas como lenda viva.
Onde mora a justiça em tudo isto?
O segundo conceito é o de sorte.
Diz-se que Fulano é um sujeito com sorte ou que Beltrano, figura estimável, padece no entanto do facto confirmado por todas as evidências de não ser acompanhado por essa cobiçada deusa a que chamamos Sorte. E ninguém quer figuras tocadas pelo estigma do azar na sua equipa do coração.
Tome-se por exemplo o actual treinador do Sp. Braga, técnico competente mas algo infortunado, ao que dizem: no início da actual temporada, havia adeptos do Sporting a suspirar por ele, sugerindo-o para o lugar do malogrado Sá Pinto. Esses adeptos têm má memória. E provavelmente já estariam neste momento a acenar-lhe também com lenços brancos, como fizeram os do Braga ao verem a sua equipa eliminada há dias pelo Galatasaray, em casa, da Liga dos Campeões, numa espécie de repetição antecipada do que sucedeu há sete anos em Alvalade e se recorda no vídeo aqui em baixo.
A sorte conquista-se, constrói-se. Dá muito trabalho. Prefiro sempre usar a palavra mérito em vez da palavra sorte. E volto a Cristiano Ronaldo: desde cedo, ainda na academia de Alvalade, onde se formou para o futebol e para a vida, o campeão madeirense prolongava as sessões de treino, continuando a exercitar-se mesmo após a partida dos colegas. Aperfeiçoou e desenvolveu da melhor maneira as suas aptidões naturais. Ultrapassou a fronteira que separa os jeitosos (que é quanto basta quase sempre em Portugal) daqueles que têm verdadeiro talento.
A sorte ajuda? Pois ajuda. Mas não explica nada. Quando Cristiano, com um remate bem colocado, cheio de força, faz tremer o poste da baliza adversária, os analistas que adoram cultivar o lugar-comum dirão: "Teve azar." Ele será o primeiro, no entanto, a reconhecer que esteve quase mas terá de esforçar-se ainda um pouco mais para a bola entrar na próxima vez. Que poderá ser já no minuto seguinte.
Experimentem usar mérito ou competência no lugar da palavra sorte. Não é uma simples questão semântica: há toda uma filosofia de vida subjacente às palavras que escolhemos.
Cristiano Ronaldo está para o futebol como Robert Capa estava para as reportagens de guerra. Merecidamente distinguido em vida com o título de melhor repórter fotográfico da sua geração, Capa costumava dizer: "Se a foto não estava suficientemente boa é porque não estavas suficientemente perto."
A sorte é isto. E constrói-se a todo o tempo por aqueles que beneficiam dela.