Silvestre Varela assina contrato com o Porto para reforçar a equipa B. Bom, não é muito habitual as equipas B serem reforçadas com jogadores em fim de carreira, mas enfim...
Mas se revirem o Porto-Belenenses daquele período da fase final da época passada em que o Porto desesperadamente tentava alcançar o Sporting e se repararem no golo inaugural portista que escancarou as portas à goleada, se calhar percebem que faz todo o sentido: o rapaz comete ainda erros de principiante.
É uma maleita que persegue os emprestados e ex-jogadores do Porto quando defrontam aquele clube: o Rúben Macedo ofereceu-lhes um penálti e dois pontos, o Diogo emprestado ao Famalicão a mesma coisa. Cometem erros de principiantes.
Já contra o Sporting, no Jamor, o Varela parecia um titular da selecção A. Foi o melhor em campo.
Os nossos ex-jogadores e emprestados são assim mesmo, de Ryan Gauld até ao mesmo Varela, de João Mário até ao irmão. Até conseguimos perder uma taça no Jamor contra a equipa de Adrien e Cédric.
São apenas coincidências, como todos os jogadores contratados pelo Porto para não jogarem também são, como um tal Carraça ex-Boavista e um Márcio ex-Tondela. O apito dourado foi um fait-divers, o cameraman da TVI em Moreira de Cónegos encostado ao corrimão estava a ser aconchegado e um bandido também tem direito a regenerar-se.
Nani, William, Varela: três boas exibições na noite de ontem em Manaus. Cada um deles fez a diferença.
NANI
«Foi o primeiro a sorrir, aproveitando a falha de Cameron para, à entrada da pequena área, facturar o primeiro golo de Portugal no jogo.» (O Jogo)
«Esteve sempre muito activo e mesmo quando o mundo parecia desmoronar-se para Portugal foi ele o elemento mais esclarecido e inspirado.» (Record)
WILLIAM CARVALHO
«Entrou muito bem no jogo, assumindo protagonismo que ninguém teve nos primeiros 45 minutos. Recuperou muitas bolas e foi irrepreensível no modo como accionou a circulação.» (Record)
«Teve o discernimento e a calma necessários para pôr o meio-campo a costurar ofensivas sem se desgastar tanto.» (O Jogo)
SILVESTRE VARELA
«Nunca se deu por vencido e no último instante do jogo fez o empate com excelente golpe de cabeça.» (Record)
«Concluiu de cabeça um cruzamento de Cristiano Ronaldo, salvando a selecção da eliminação imediata.» (O Jogo)
Há jogadores que funcionam como talismã da selecção nacional. E este não deixará de ser um aspecto a ter em conta por Paulo Bento.
Um desses jogadores, inquestionavelmente, é Silvestre Varela. Raras vezes foi opção inicial mas quando saltou do banco já resolveu em desafios decisivos. Todos nos lembramos do que sucedeu há dois anos, no Campeonato da Europa: Portugal tinha perdido o embate inaugural, contra a Alemanha, e precisava de uma vitória no segundo confronto. Tínhamos pela frente a Dinamarca e estávamos empatados a duas bolas. Até que Paulo Bento manda entrar Varela. Bastaram quatro minutos para o jovem extremo, numa arrancada decidida e com um remate bem colocado, marcar o golo da vitória. Que nos permitiu seguir em frente e fazer uma campanha brilhante, só detida nas grandes penalidades da meia-final contra a Espanha campeã da Europa e do mundo.
Três meses depois, já na fase de apuramento para o Mundial, a arma (pouco) secreta voltou a funcionar. E desta vez bastou um minuto em campo. Contra o Azerbaijão, o empate a zero persistia. Paulo Bento deu-lhe ordem para substituir Miguel Veloso. Varela entrou - e marcou na primeira vez em que tocou na bola.
Varela é assim: um atacante tenaz e combativo, que funciona muito por explosões. Tem inegável força psicológica e não gosta de perder nem a feijões (muito lhe deve custar o terceiro lugar da equipa onde joga desde 2009, o FC Porto, que segue no campeonato a 16 pontos do Benfica).
Há quem pense que se trata só de uma questão de sorte. Paulo Bento é o primeiro a contrariar esta teoria. Dizendo que as prestações de Varela resultam de muito trabalho e muito treino. Um elogio merecido ao jogador, que fez parte da sua formação no Sporting e jogou na nossa equipa principal em 2005/06. Não restam dúvidas: também ele tem a nossa marca.
Depois de Silvestre Varela ter marcado um golo decisivo contra a Dinamarca apesar de ter estado em campo menos de dez minutos será que Paulo Bento continuará a optar pelo jovem dianteiro benfiquista como primeira opção para o ataque fora do onze titular? O jogo de amanhã contra a Holanda tem vários pontos de interesse. Este é um deles.