Sobre o jogo, os meus camaradas/colegas deste espaço já escreveram tudo o que havia para escrever, vou deixar uma nota e uma reflexão sobre a arbitragem.
A nota: A maioria dos comentadores de arbitragem, a propósito do segundo golo do Sporting vêm falar na falta sobre Niakaté e na inexistente falta sobre Racic, estão errados, o lance desse golo inicia-se depois da bola estar na posse do Braga, primeiro em Matheus e depois em Al Musrati, é ao recuperar a bola dentro da área do Braga que se inicia a jogada do segundo golo, só esse momento é que seria passível de análise pelo VAR.
A reflexão: Lembram-se daquilo que escrevi (concordando com algumas análises de AHR) sobre a banalização da grande penalidade?
No jogo de ontem, se o remate para a baliza tivesse de ser apontado no local onde foi cometido, como eu tinha sugerido, num texto anterior, sobre esta temática, Fatawu, ter-se-ia atirado para o chão, teria tropeçado ou saltaria sobre o pé do defesa e teria prosseguido a jogada?
(não gosto de batotas, nem de jogadores batoteiros dos outros, muito menos dos nossos, com os nossos sou mais exigente)
Nota final: Quem pretender comentar que comente aqui, não vá fazer queixinhas para os postais de outros camaradas/colegas.
Aparentemente, este texto nada tem a ver com o Sporting, na verdade tem.
Tem a ver com o Sporting, tem a ver com dignidade, tem a ver com verdade desportiva.
Vamos recuar ao fim-de-semana passado, o Braga jogava na Mata Real e estava quase morto, ressuscitou com um lance manhoso, tinham passado oito minutos dos sete de desconto dados pelo árbitro. Golo do Braga, para além dos onze jogadores, estavam mais seis ou sete elementos do Braga dentro do campo, as imagens documentam, o lance é ilegal, o árbitro, os bandeirinhas, o VAR e o auxiliar de VAR fingiram que não viram. O Paços perdeu um ponto, o Braga conquistou dois. O melhor jogador do Paços de Ferreira não se conteve perante tanta injustiça, disse ao árbitro:
- Sr. digníssimo juiz de campo, o lance é ilegal (provavelmente as palavras não foram estas, o sentido foi este).
Vermelho directo.
Este acontecimento ocorreu na jornada 17, Maracás, o tal jogador, foi suspenso por um jogo, ok, dir-me-ão, não jogará na jornada 18.
Estão errados, sabendo da suspensão do jogador, o Benfica conseguiu a antecipação do jogo, o Paços de Ferreira foi, categoricamente, contra esta antecipação mas não lhe valeu de nada.
Recapitulando:
1. Um jogador é, injustamente, expulso na jornada 17.
2. O clube com o qual esse clube vai jogar na jornada 20 "obriga" a Liga a alterar a data do jogo.
3. Na jornada 18 Maracás estará disponível para jogar.
Se isto não é adulterar a verdade desportiva, o que será?
Benfica na segunda divisão já. São casos e casinhos a mais.
Estar na luta até pelo menos à penúltima jornada, ter caído nas meias-finais da Taça, ter passado a fase de grupos da Champions, repetir acesso à Champions e ter vencido dois troféus, parece-me um excelente resultado para o nosso SCP. Foi uma temporada muito positiva. Há dois milhões de anos que não ficávamos em segundo depois de termos vencido um campeonato.
Creio que a revalidação do título teria sido possível num país com ambiente competitivo mais são. Este ano, terão reparado, a fraquíssima autoridade que a Liga e FPF demonstram de novo deu em quezílias permanentes, intimidações variadas e, claro, numa interpretação muito criativa e lusitana do VAR.
Portugal reescreveu as regras do jogo. Todo e qualquer contacto na área, toda e qualquer mão/braço, é passível de ser penalti e sim, obviamente, o SCP também beneficiou de penalties coiso. A nossa liga é um paraíso para os avançados mais encorajados pelas suas estruturas, que parecem estar num jogo à parte. Certas quedas podiam estar no Bolshoi, outras em museus. E sim, são quase todas penalties. Foi para isto que se inventou o futebol? Se calhar foi, que sei eu...
SCP perdeu a liga por causa das arbitragens? Não. Mas dizer que “ah e tal não se pode falar das arbitragens porque é desculpa de mau pagador e tal” também não me convence. Achar que Amorim falhou ao não treinar suficientemente bem os seus jogadores a cair na área revolta-me, mas é difícil de rebater. Por exemplo, se a nossa malta tivesse caído na área no Benfica como as mulheres jovens do século XIX faziam para atrair a atenção dos pretendentes, talvez tivéssemos sacado uns penalties que nos tivessem metido no jogo.
No melhor país do mundo, um dos melhores da Europa, a nossa esperteza é a maior predadora da fraqueza das instituições.
Digo e repito que há coisas no nosso futebol que se mantêm há décadas, coisas essas que este ano tiveram uma bela colheita. Não tenho a certeza que os nossos jogadores – e até os nossos técnicos – não partilhem esta minha opinião. Se assim for, é admissível que desmoralizem e se distraiam, como sucedeu (digo eu, claro) no jogo em casa com o SLB.
P.S. Na filosofia criativa do VAR, o lance de Adán baralha-me. Ou talvez não. Noutros campos, noutras fases da Liga, teria sido marcada falta. Ou seja, e para que se perceba bem o que quero dizer, infelizmente é irrelevante se é falta ou não é. O que interessa é se se pode marcar, caso seja necessário.
Já não comemoro golos em Alvalade. Desde que há o VAR aquilo que é a bola entrar na baliza adversária deixou de ter graça.
Dizem que o vídeo-árbitro veio para colocar mais verdade no futebol. Mas veio também para estragar a festa aos milhares de adeptos presentes no estádio.
Quantas vezes gritamos a plenos pulmões golo, para cinco minutos depois vir o VAR (desculpem-me este trocadilho!) dizer que o marcador estava em situação de fora de jogo por um… pelo de barba.
Percebo que o VAR possa ajudar os árbitros nas decisões mais controversas, mas retirou ao jogo aquela alegria e espontaneidade que era assaz fértil no futebol.
Ontem não foi excepção. Se não foi no golo foi na decisão da grande penalidade. Muitos minutos perdidos até que saia, por fim, um veredicto.
É tempo de o VAR actuar de uma forma mais célere e mais assertiva de maneira a não haver tantas perdas de tempo.
«O VAR é a melhor revolução dos últimos anos do futebol, mas também trouxe coisas menos boas. Trouxe verdade desportiva (que é de longe o mais importante), mas também trouxe as paragens, o adiamento do festejo dos golos (que agora acontecem um minuto depois da bola entrar) e estes novos penáltis, que já vão ficando conhecidos como "penáltis de VAR". Hoje, qualquer toque na área é penálti pelo muito simples motivo de que, em câmara lenta", qualquer lance tem um impacto e uma proporção muito superiores ao que efectivamente tiveram.»
Claro que a criatividade envolve o Sporting, quem mais poderia ser, designadamente o lance que envolveu Paulinho e o guarda redes do Paços de Ferreira, no recente jogo em Alvalade e que culminou na marcação de grande penalidade. Uns artistas da TV e dos jornais e ainda a newsletter de um certo clube (não há pior dor que a dor de...aquela tal...), apesar de toda a evidência das imagens, do levantar da bandeirinha do fiscal de linha, da chamada de atenção do VAR e da revisão da decisão pelo árbitro, enveredaram pelo caminho da desvalorização da vitória leonina e de tentar enlamear o que foi limpinho, criando o "penalti tecnológico": penalti, pelo toque no pé direito do Paulinho que lhe provocou a queda. No dia seguinte jornais houve que, na capa, titularam o que nas páginas interiores não era sustentado pelas opiniões de profissionais da arbitragem que neles avaliam as decisões arbitrais. Ainda hoje, no Record, o antigo árbitro espanhol Iturralde Gonzalez reforçava as opiniões dos seus colegas, na coluna Tira-Teimas, e que passo a citar: "Neste...lance não há muito a dizer. O Paulinho dribla o guarda redes que, com a perna esquerda, contacta e derruba o avançado do Sporting, cometendo penalti. Falta bem assinalada e cartão amarelo bem exibido...". Que chatice para as virgens ofendidas e viúvas do velho sistema!
O VAR veio mudar muita coisa no futebol (estou convencido que só com o VAR o Sporting foi campeão e está na luta este ano), mas ainda tem um caminho a percorrer no sentido de ainda maior verdade desportiva. Pelo menos e para já, acabaram muitas das vergonhas que assistiamos nos campos pois agora alguns rapazes pensam duas vezes antes de saltarem o muro para ir à fruta ou de se sentarem à mesa para refeições grátis. Dá mais nas vistas a inclinação dos relvados... Mas como dizia, ainda há caminho, muito para percorrer (e os jogadores também têm de ajudar, quanto a disciplina e simulações, não são nadadores nem mimos). Veja-se o escândalo dos cartões amarelos ao nosso jogador Palhinha. Pelo menos 3 mal exibidos, dos 5 que o excluem do próximo jogo. A "field of play doctrine" não pode continuar a ser a vaca sagrada das leis do futebol, caso contrário transforma-se antes em reiterada doutrina de injustiça autoritária ou numa "reveange doctrine" como no caso Palhinha. Ainda que não se atualize as normas de intervenção corretora do VAR quanto a injustiças cometidas por um árbitro em campo (revertendo cartões amarelos manifestamente mal exibidos ou pontapés de canto mal assinalados e que podem resultar em golos, por exemplo), não há razão para que os diálogos entre os diversos intervenientes das equipas de arbritragem não sejam públicos. E que a justiça dos órgãos jurisdicionais competentes se demita de julgar e aplicar as leis de acordo com os factos subjacentes à realidade, preferindo continuar à sombra da bananeira da "field of play doctrine". Por uma questão de justiça e de verdade desportiva.
(fotografia Jornal Record)
PS- Para complementar e até porque foi referido num comentário a questão dos especialistas não serem unânimes, aqui ficam os recortes dos principais opinadores especialistas:
Estes primeiros jogos depois das pausas das selecções são sempre complicados, a adrenalina dum grupo focado migra para parte incerta, cada um vive a pausa da sua forma. E ontem o onze feito de titulares que Rúben Amorim colocou em jogo parece que pouco tinha jogado junto, cada um a fazer o seu número que nada tinha a ver com o do colega ao lado, um futebol lento e previsível frente a um adversário "copy cat" do modelo do Sporting treinado por um ex-colega e admirador de Amorim, e foi assim que se chegou ao intervalo em vantagem através dum penálti a que já irei. Fora isso foi o desperdício de Pedro Gonçalves na única vez em que tudo foi bem feito e que fez jus ao título de campeão nacional.
Veio o segundo tempo e tudo ficou ainda pior, às tantas parecia que o Sporting equipava de amarelo. Até que entraram duas das aquisições deste ano, aquelas de que alguns dizem do pior, ou porque são do Mendes, ou porque os passes são partilhados, ou porque os valores são altos de mais, ou pelas comissões, ou daquilo que se lembrarem para justificarem andarem a cuspir na sopa que comem, agora que a relva está óptima e recomenda-se.
E com um Ugarte que regressou do Uruguai em modo turbo (assim vale a pena ter jogadores convocados para as selecções) e um Edwards em modo esgravulha o jogo mudou por completo e partir daí as oportunidades sucederam-se, foi mais um golo, podiam ter sido três ou quatro, que o diga Sarabia. Marcou o Nuno Santos, depois dum passe magistral do Ugarte.
Com adeptos (alguns, como é óbvio) que assobiam a equipa com ela a ganhar, depois do rival ter perdido, realmente só se pode esperar o pior. Felizmente não aconteceu. Depois admiram-se de andarem a perder títulos anos a fio com quem não assobia os seus jogadores mesmo depois das maiores cabazadas. E muito menos a ganhar em casa.
Melhor em campo? Daqueles que iniciaram o jogo, depois do óbvio Sarabia, o Matheus... não o Nunes, que anda a jogar mais para a bancada e menos para a equipa, o outro, o Reis. Dos outros, o Ugarte claro. Parecia-me o novo Aldo Duscher mas agora digo que é mesmo o Manuel Ugarte. Que se calhar chegará mais longe que o outro.
Sobre o penálti? Recordam-se daquele que marcaram ao Matheus Reis contra o Braga e que o Hugo Miguel demorou 5 minutos a convencer-se frente ao ecrã que aquilo era penálti ? Este foi igual. O triste árbitro lá se convenceu que tinha visto mal, e tão afectado ficou que a partir daí foi um festival de asneiras. A diferença é que com ou sem ele ganhávamos a este Paços de Ferreira, e com o outro perdemos em casa com o Braga. Se foi de propósito para apagar da memória as palhaçadas que acontecem nos jogos do Porto, só apetece dizer uma coisa feia... Este VAR era de onde?
E termino com mais uma tirada genial do Amorim:
“Eu acho que é um excelente elogio , pelo menos é o maior elogio que nos podem dar à equipa técnica , que conseguimos que o Sporting fosse beneficiado pela arbitragem e eu acho que isso realmente é um grande milagre que esta equipa técnica conseguiu.”
É isso mesmo Amorim, deixa a modéstia de lado, conseguiste um verdadeiro milagre. E quando do outro lado estiver o Porto então eu vou mesmo a pé a tua casa agradecer.
Nós no Sporting sabemos reconhecer as derrotas. Portanto, parabéns ao vencedor do jogo de ontem em Alvalade: João Pinheiro, o videoárbitro (VAR), coadjuvado por Tiago Costa. E pelo inesquecível Hugo Miguel, da Associação de Futebol de Carnide. Perdão, de Lisboa.
Com altos e baixos, nunca o controlo do jogo pelo SCP esteve em causa. Até ao fantástico penálti vislumbrado por Pinheiro e Hugo Miguel, sobre Galeno. Em que este jogador choca (ou talvez nem isso) com Matheus Reis, cai e rebola duas vezes. Bem sei que os cartilheiros de TV e jornais irão incensar Pinheiro e Miguel pela sábia decisão. É o costume, e outra coisa não seria de esperar de avençados.
Mas, na área do Braga, houve pelo menos dois toques mais duros sobre jogadores do Sporting - do GR do SCB sobre Sarabia e sobre Paulinho no final. O Pinheiro nem sequer VARou. Devia estar a comer fruta, que trabalhar dá apetite. E trabalhou bem, como certamente para os lados das Antas concordarão.
Pinheiro e Miguel dançaram um 'paso doble'. Quando Miguel anula o golo de Pote (1,5m atrás da linha de defesa do SCB!), Pinheiro deve ter visto que se calhar era um bocadinho de mais e valida o golo. De resto, e apesar de a defesa do SCB estar sempre desalinhada, foram raros os lances perigosos do SCP que não acabaram em fora de jogo.
Recordo que há duas semanas o FC Porto é "salvo" na Amoreira pelo VAR, que escandalosamente anulou o 1-3 ao Estoril. Por este e outros casos, estou convencido de que, se no início o VAR serviu para corrigir alguns roubos dentro das quatro linhas, agora é apenas um instrumento de roubo. Ontem, custou-nos 3 pontos, como há dias deu 3 pontos ao FCP. Era uma questão de tempo, que na estrumeira que os nossos rivais fizeram da Liga, o VAR passasse de factor de verdade para VARa de porcos.
Amigos leões, com tanta pressão contra nós... este ano, preparem-se. Pressão de norte e de sul. Nortada e sulada, ao mesmo tempo. Eu estou preparado e ontem não fiquei nada supreendido com o que VAR por aí.
«Nunca nos bastou ser melhores que os adversários. Tínhamos que ser muito melhores. A roçar a perfeição. O VAR mudou tudo. Agora são menos erros gritantes contra nós e menos erros gritantes a favor dos adversários. Por outras palavras, a balança equilibrou-se. E quando os clubes começam a jogar com regras iguais, pasme-se, até o Sporting consegue cavar uma margem de 10 pontos para o segundo classificado e sagrar-se campeão invicto!»
Há que dizer isto com toda a frontalidade: não faz o menor sentido a inexistência de vídeo-arbitragem nesta fase da Taça da Liga em que já intervêm equipas de primeiro plano do futebol português.
É algo que deve ser revisto. Já.
Meu caro, se quiser prestigiar a instituição a que preside e a competição futebolística a que a Liga empresta o nome, permito-me sugerir-lhe que solucione isto sem demora. Em nome da transparência, do rigor e da verdade, valores indissociáveis da prática desportiva.
Muitos comentadores, entre os quais Rui Pedro Braz nas suas anteriores funções na TVI, desconheço se entretanto já mudou de opinião, costumam dizer que estão a matar o futebol com o VAR, tempo de espera necessário para analisar lances decisivos. Que o erro sempre existiu e continuará a existir, faz parte do jogo, que um erro do árbitro é tão decisivo quanto um frango do guarda-redes ou falhanço de baliza aberta, são expressões que costumam fazer parte do atgumentário de quem não aprecia a verdade desportiva.
Na última jornada, em Arouca, o primeiro golo do Sporting C.P. foi anulado. Após revisão do lance pelo VAR, a decisão foi revertida, porque o jogador leonino estava 27cm em jogo. No estádio da Luz, um golo que daria 1-0 ao S.L. Benfica foi validado. Decisão revertida porque o avançado benfiquista estava 33cm em fora-de-jogo.
Sem VAR, muito provavelmente o SCP estaria a 6 pontos do SLB e estaríamos a lamentar erros de arbitragem. Com VAR, prevaleceu a verdade desportiva e temos o SCP a 1 ponto do líder do campeonato. Para reflectir...
O problema é que pela interpretação literal da lei (11) do fora de jogo até 1 milímetro (do mesmo modo, um milionésimo de milímetro...) constitui infracção passível de anulação da jogada. Portanto, em termos materiais estará provavelmente correcto anular a jogada e o golo.
A lei exclui apenas mãos e braços para efectuar o julgamento da situação de offside. Contam para a medição de um fora de jogo todas as partes de corpo, cabeça (incluindo cabelo....) e pés (la está, um tipo que calce 44 tem vantagem sobre um que calce 41), mas isto, com a introdução do VAR, introduz um aspecto que não existia antes, que é o da percepção da jogada pelo árbitro e a de considerar se 2 centímetros (estando ainda por cima o jogador de costas para a baliza) constituem vantagem “de facto” do atacante sobre o penúltimo defesa, numa circunstância de golo igual à verificada no golo anulado a Pedro Gonçalves.
Desde que se alterou a lei do fora de jogo, para que um jogador considerado “em linha” não fosse julgado em offside, nunca mais houve descanso com as situações de fora de jogo. É um caso de uma alteração à lei que não parece ter trazido qualquer benefício para o jogo. Aportar maior rigor à definição do que é ou não é uma situação de vantagem falta à clarificação da lei e de como a mesma deve ser interpretada. Se calhar terá de ser a ciência, a bio-mecânica, qualquer coisa por aí - e não exclusivamente ex-árbitros que nunca jogaram à bola e são só versados no sopro do apito - a trazer essa revisão do conceito de vantagem (física) na situação de fora de jogo.
Depois ainda sobra a questão do frame e da tecnologia. Num jogo Moreirense-Sporting em que as câmaras que servem o VAR sejam menos sofisticadas do que as de um Porto-Santa Clara ou um Benfica-Maritimo, os julgamentos das jogadas críticas podem prejudicar os intervenientes do primeiro jogo em benefício dos outros dois.
Tudo conta, portanto.
Enquanto as condições não forem iguais para todos e a jurisprudência não for uniformemente aplicada, vamos continuar a ter estes episódios que podem definir campeões e descidas de divisão. Nesse aspecto, era muito mais justo quando a decisão pertencia exclusivamente ao árbitro, com toda a margem de erro do mundo, e não havia interferência de um colégio de outros árbitros e assistentes de árbitros que influenciam objectivamente o destino dos jogos, apesar de toda a lengalenga do protocolo do VAR.
A intervenção do VAR é, por si só, uma fortíssima condicionante psicológica à decisão última do árbitro de campo. Na realidade, o árbitro de campo deixou de ser o juiz. Com o VAR e o AVAR o jogo passou a ser dirigido por um colectivo de juizes que se influenciam reciprocamente na tomada de decisão. Esta mudança é tão ou mais estrutural do que a simples alteração de uma lei do jogo.
Eu teria ficado muito mais conformado se o golo de “Pote” tivesse sido simplesmente anulado pelo fiscal de linha por ter, na sua análise instantânea do que se passou em campo, percepcionado uma vantagem do jogador do Sporting naquele lance. A decisão não foi do árbitro, foi da máquina (e do tipo que operava a máquina) que disse ao árbitro: anula o golo, que o tipo tinha uma vantagem de 2 cm sobre o defesa.
E o árbitro anulou.
Temos de marcar mais golos do que o adversário no próximo jogo. Ou como quem não tem Taremi, tem de caçar com Paulinho, TT, Pedro Gonçalves e companhia..
Viva o Sporting e vamos lá ao próximo que até os comemos.
Texto do leitor João Gil, publicado originalmente aqui.
Caramba, nem com a escrita, sentados tranquilamente em casa, os árbitros conseguem uniformizar critérios. O exemplo de hoje [terça-feira] é incrível. Vem no Record. Os comentadores de arbitragem são os mesmos para os jogos Sporting-Moreirense e Benfica-Marítimo. São eles Jorge Faustino e Marco Ferreira.
Os dois acham que a entrada sobre Nuno Mendes foi bem sancionada "faltando o amarelo para exibir". Umas páginas à frente fazem o mesmo comentário sobre uma entrada sobre Rafa e novamente afirmam ambos que "faltou o cartão amarelo por exibir...
O interessante é que no rectangulozinho em baixo, no caso do Sporting se escreve CERTO e no correspondente rectângulo sobre o caso do Benfica se escreve ERRADO! Boa....
Outro assunto: sou profissional de comunicação e garanto-vos que se eu quisesse (iria fazer o que seria certo e justo) validaria aquele golo dos 2 centímetros sem que ninguém me pudesse acusar de fazer batota porque os frames de um pontapé na bola são 24 num segundo e seria impossível saber qual a exacta paragem da acção para a atribuição das linhas que seria correcta. Por isso, não acho nada estúpida a proposta de que a margem deveria ser maior precisamente para evitar essa possibilidade.
Já agora, para informação de todos, três frames numa filmagem são apenas retidos no subconsciente e a utilização de frames incluidos para publicidade "invisível" já deu origem a um processo judicial nos Estados Unidos. Então, sem fazer juízos de intenção do caso específico, aquele golo poderia ser validado bastando fazer a paragem três ou quatro frames mais à frente e sem ninguém poder dizer que a bola já tinha saído do pé...
Por outras palavras, a tecnologia do VAR é boa e dá muito mais verdade, mas que não se comece a justificar tudo dizendo que a decisão é infalível ("porque é técnica", como ouvi ontem defender) porque não é!
Se a margem de erro fosse 10cm, uma medição de 12cm não seria questionável. Teria que ser validada como fora-de-jogo.
Senão vejamos: os limites seriam 12cm - 10cm = 2cm (está em fora-de-jogo) e 12cm+10cm=22cm (está em fora-de-jogo). Ou seja, uma medição de 12cm daria sempre fora de jogo de acordo com a margem de erro do equipamento. Não há dúvidas. É assim que funciona.
Pôr em causa a decisão seria pôr em causa a margem de erro do equipamento e isso seria outra discussão. Ao contrário, se a medição fosse de 8cm, por exemplo, para a mesma margem de erro de 10cm, ter-se-ia: 8cm - 10cm = -2cm (não está em fora-de-jogo) e 8cm + 10cm = 18cm (está em fora-de-jogo). Como se vê, neste caso, haveria a possibilidade de não estar em fora-de-jogo, de acordo com a margem de erro, e portanto o fora-de-jogo não poderia ser validado com uma medição de 8cm para uma margem de erro de 10cm.
Já aqui escrevi aqui que bastaria ser divulgada a margem de erro admissível das linhas do VAR para se acabar com todas as suspeições.
Enquanto isso não acontecer, irão ainda aparecer foras-de-jogo de 1cm, 0,5cm e, quem sabe, de 1mm. Tudo é possível enquanto não sair cá para fora a margem de erro das medições.
Efectivamente, tudo isto é uma palhaçada. Não vale a pena estar a comentar que um fora-de-jogo de 10, 5, 2, ou 1cm é ridículo sem antes se saber qual a precisão do equipamento. Até pode acontecer que a precisão do equipamento seja de 1cm (o que duvido) e, assim sendo, uma medição de 2cm teria que ser validada. É assim que funciona.
Fico incrédulo como até agora fui o único a reclamar a divulgação da margem de erro do equipamento! Coisa tão simples e tão básica.
Texto do leitor AHR, publicado originalmente aqui.
Não faz qualquer sentido anular um golo limpo por supostos "20 milímetros" de linha virtual. Que podem ser numa direcção ou noutra, consoante o fragmento de micro-segundo do fotograma em análise.
É óbvio que uma diferença residual como esta pode ser manipulada, sobretudo nas últimas jornadas do campeonato, quando está em causa o acesso directo aos milhões da Champions. Como já se viu no jogo em Moreira de Cónegos.
O Sporting Clube de Portugal entra assim, contra vontade, para o Livro Guinness: nunca antes, num campeonato europeu, um golo tinha sido anulado por "diferença" tão milimétrica. Quatro vezes menos do que o tamanho de um vulgar caracol de jardim, cujo comprimento chega aos 8 centímetros.
Enquanto não puserem cobro a isto, continuará a prevalecer a mentira do futebol. E não penso isto só agora: já no ano passado considerei vergonhosa a anulação de um golo do FC Porto contra o Rio Ave por suposta "deslocação" de 3 centímetros.
Uma palhaçada que ninguém pode levar a sério.
Apetece dizer aos nossos árbitros para irem apanhar caracóis. E levem fita métrica.
Uma pilha AA (pila em castelhano) mede cerca de 5 cm.
Uma pilha AAA, como as que usamos no comando da televisão, mede cerca de 4 cm.
Agora vamos fazer um exercício, um jogador que corre de norte para sul, um jogador que corre de sul para norte e uma bola que é pontapeada.
Quem está a fazer a triangulação, para traçar as famosas linhas, tem de congelar a imagem no preciso momento em que a bola deixa de estar em contacto com a bota e tem de conseguir congelar o movimento dos dois jogadores que correm em sentidos opostos nesse preciso instante.
É possível?
Dá um resultado de metade de uma pilha AAA, considera-se? A tecnologia e os humanos que a estão a operar são infalíveis? Não há margem de erro?
Se a situação fosse ao contrário, um golo duvidoso do Moreirense com até 20 cm de margem de erro, a minha opinião, é: siga, valide-se o golo.
Uma das leis do futebol diz: em caso de dúvida deve proteger-se a equipa que ataca, seja o Moreirense, seja o Sporting.
Um fora-de-jogo de jogo de meia pilha AAA é um caso de dúvida? Sem dúvida!
Ser o maior do mundo provoca efeitos secundários: Cristiano Ronaldo é também o futebolista mais invejado do mundo.
Que o seja pelos próprios compatriotas, já não estranho: sempre tivemos uma certa tendência para a autoflagelação. E a clubite aguda leva muitos benfiquistas e alguns portistas a detestá-lo só por ter sido formado na Academia leonina.
Lamentável? Claro que sim. Nunca vi, por exemplo, um argentino falar ou escrever contra Messi.
Acontece que CR7 volta a ser notícia. Não por motivos fúteis mas por contestar um gravíssimo erro da equipa de arbitragem no Sérvia-Portugal que lhe anulou um golo limpo no último lance da partida, disputada em Belgrado. Este erro - que alguns pretendem menorizar - pode custar-nos o apuramento para o Mundial de futebol.
As imagens do protesto deram a volta ao mundo. Cristiano, tão bom a comunicar como a jogar, sabia o efeito que produziria. Assim aquele erro indesculpável tornou-se notícia em todos os continentes. Não reparou a injustiça de que fomos vítima, mas deu-lhe projecção universal.
Fez ele muito bem ao proceder como procedeu: assim o roubo não passou despercebido. E ou muito me engano ou o gesto do capitão da equipa das quinas traçará uma linha de fronteira: a FIFA passará finalmente a incluir a tecnologia de linha de baliza e o vídeo-árbitro nas competições para o apuramento do Mundial.
Acontece que por cá, nas redes sociais e nos meios de informação, muita gente ferveu de indignação ao vê-lo atirar a braçadeira ao chão mal saiu de campo. Dizem-me (não vi) que nessa mesma noite um canal de televisão dedicou duas horas (!) ao tema. Com intervenientes escandalizados, não com o roubo mas com o gesto de Cristiano.
Preferiam talvez que comesse e calasse.
Como se o roubo de catedral que tanto nos prejudicou não devesse ter sido assinalado com fúria e frustração.
Como se fizessem tábua rasa desta sabedoria popular que nos devia servir de lema: quem não se sente não é filho de boa gente.
ADENDA: O VAR é uma conquista civilizacional do futebol. Como é possível duvidar-se disto? Que a mais elevada instância da modalidade prescinda deste instrumento já utilizado nas competições internas para analisar os lances polémicos na fase de apuramento do Mundial é algo que roça o escândalo.
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