O V. Guimarães, nosso adversário na última ronda do campeonato, perdeu ontem em casa. Derrotado pelo Farense, penúltimo da classificação, num desafio com medíocre desempenho da turma minhota.
Resultado aupicioso para o Sporting-V. Guimarães do próximo sábado - que será, este sim, o jogo do título.
A equipa visitante - que disputa com o Santa Clara o quinto lugar da Liga - virá desfalcada a Alvalade. Sem o médio Tomás Händel nem o defesa Filipe Relvas, dois dos seus melhores elementos, excluídos por acumulação de amarelos.
Viktor marcou mais três: já tem 21 na Liga e 30 no conjunto da temporada que ainda vai a meio
Foto: Hogo Delgado / Lusa
Este desafio em Guimarães pode ser adjectivado das mais diversas maneiras. Para alguns, foi um excelente jogo. Para outros, foi péssimo. Ou assombroso. Ou um hino ao futebol de ataque. Ou calamitoso. Ou o naufrágio dos sistemas defensivos.
Ou surpreendente.
Depende dos pontos de vista. Para os adeptos de ambos os clubes, foi uma montanha-russa de emoções em cerca de cem minutos disputados no relvado do Estádio D. Afonso Henriques. Passou-se da euforia ao desespero, ou vice-versa. No fim, prevaleceu o equilíbrio. Não há justiça em futebol. Mas, se quisermos ver as coisas por esse prima, talvez o inédito 4-4 registado ao soar o apito final tenha sido o desfecho mais justo.
Surpreendente foi, de certeza. Nunca a equipa vitoriana nos tinha marcado quatro golos para o campeonato naconal, nunca tínhamos vindo de lá com quatro encaixados - três dos quais num péssimo quarto de hora para as nossas cores, entre os minutos 70 e 85. Valeu-nos Trincão ao marcar o golo da noite de anteontem - autêntica obra de arte destinada a correr mundo - precisamente no último suspiro.
Quantas vezes perdemos um jogo com um golo sofrido no instante final? Desta vez empatámos. Trouxemos um ponto de lá, do mal o menos.
E no entanto dificilmente poderíamos ter começado melhor. Com Viktor Gyökeres a pôr termo ao breve jejum de golos, que só durou dois jogos: ainda não se havia concluído o segundo minuto, já ele a estava a meter no sítio certo. Correspondendo da melhor maneira a um passe bem medido de Quenda, desta vez a funcionar como médio-ala esquerdo.
O craque sueco repetiu a dose aos 14'. Rápido lance de ataque, novamente pelo corredor esquerdo, com Morita a lançar Quenda e de novo o jovem nascido há 17 anos em Bissau a fazer um passe letal para o bis de Viktor.
Anunciava-se goleada em Guimarães.
Pelo meio, aos 7', marcaram eles. Livre directo muito bem cobrado por Tiago Silva, ainda a considerável distância da nossa baliza. Israel esteve duas vezes mal na fotografia. Compôs mal a barreira, ordenando que só lá estivessem três colegas, e partiu tarde para a bola, que nem levava excessiva força: bastaria um passo à direita para tê-la travado. Mas teria de ser no momento certo, o que não aconteceu.
Assim atingimos o intervalo: 1-2. Controlávamos a partida, consolidava-se a ideia de que viríamos com três pontos. E mais forte se tornou esta convicção assim que marcámos o terceiro, no minuto 57, coroando a mais bela jogada colectiva do desafio. Desta vez iniciada à direita, por Geny, e em que intervieram também Trincão e Quaresma, depois Maxi Araújo a partir da esquerda com cruzamento a sobrevoar a área, Morita a elevar-se muito bem e Gyökeres a dizer.-lhe «arigato» enquanto a encaminhava para as redes, rasteirinha.
A partir daí, deram-se dois factos simultâneos: vários dos nossos começaram a rebentar fisicamente e recuámos 30 metros, concedendo iniciativa aos de Guimarães. Rui Borges, neste regresso a um estádio onde já foi feliz, trocara Quenda por Maxi aos 55', mas já outros imploravam substituição. Morita, por exemplo, esteve 20 minutos a mais em campo.
Quase de rajada, sofremos três.
70': Matheus Reis foi batido em corrida por Arcanjo. Este cruzou à vontade para Kaio César, que disparou o tiro frente à baliza, livre de marcação.
82': João Mendes igualmente solto na área marcou um golaço. Morten ainda tentou travá-lo, sem conseguir.
85': O recém-entrado Dieu-Merci, terceiro ou quarto na hierarquia dos avançados vitorianos, deixou Matheus nas covas e disparou quase à queima-roupa, com Israel paralisado: o guardião uruguaio não tentou sequer cortar-lhe o ângulo de remate.
Foi a tal montanha-russa de emoções. Passámos da alegria à frustração, quase ao desespero. Valeu-nos os 6 minutos extra concedidos por João Gonçalves - excelente arbitragem - e a arte de Francisco Trincão, neste seu sexto golo marcado na Liga 2024/2025. Golo útil, que parecia caído do céu.
Não é a mesma coisa perder ou empatar. Há um ano, perdemos no mesmo estádio - com arbitragem delituosa do famigerado João Pinheiro. Desta vez trouxemos um pontito que pode dar muito jeito para as contas finais. Com o Benfica a naufragar (esse sim) na Luz, perante o Braga, e o Porto envolto em nevoeiro na Choupana, continuamos no comando da Liga agora que caiu o pano da primeira volta.
Onze dias após ter partido de Guimarães - onde agora lhe chamam "fugitivo" e "traidor" - Rui Borges recebeu insultos num estádio com mais de 26 mil espectadores. Já esquecidos, quase todos, da forma competente como ele montou e orientou a equipa: os quatro golos ao Sporting são a melhor prova disso. A excelente carreira internacional do Vitória, com dez triunfos na Liga da Conferência, é outra - entretanto diluída na amnésia colectiva das bancadas.
Esta é a outra face da festa do futebol: a do fanatismo, a do extremismo, a do sectarismo à solta. Uma face que de festivo não tem nada.
Breve análise dos jogadores:
Israel (3) - Culpa em dois golos sofridos. No primeiro orientou mal a barreira e fez-se tarde ao lance. No segundo ficou paralisado, mostrando-se incapaz de fazer a mancha.
Eduardo Quaresma (5) - Tem atitude, o que lhe fica bem: rompeu duas vezes linhas levando a bola para diante, como um extremo. Mas fez passes precipitados, fruto do nervosismo.
Diomande (4) - Nem parecia o mesmo que defrontou o Benfica. Entregou a bola aos 6', forçando Quaresma à falta: deu golo. Deixou fugir Gustavo em zona perigosa (13'). Voltou a entregar (52').
St. Juste (5) - Pareceu desconfortável na nova parceria com Diomande como central. Foi cortando e aliviando como podia, na torrente vitoriana da segunda parte.
Matheus Reis (3) - Arcanjo disse-lhe adeus e galopou pelo nosso corredor esquerdo, aos 70': nasceu daí o segundo deles. No quarto, aos 85', limitou-se a marcar Dieu-Merci com os olhos.
Morten (4) - Contribuiu, com a sua apatia, para dois golos vitorianos: no segundo permitiu que Kaio se movimentasse à vontade; no terceiro falhou cobertura a Mendes no centro da área.
Morita (6) - Foi um dos melhores enquanto teve pilhas. Lança Quenda em corrida no segundo golo e assiste Gyökeres de cabeça, dentro da área, no terceiro. Acudiu à defesa. Depois quebrou.
Geny (5) - Demasiado discreto após ter sido o melhor contra o Benfica. Disparou tiro aos 5': Varela defendeu. Foi fechando a ala direita, tentando articular com Quaresma, mas sem brilho.
Quenda (6)- Dois passes para golo no quarto de hora inicial. No segundo, também recupera a bola antes de a passar a Viktor. Foi perdendo duelos com Alberto junto à linha esquerda até sair.
Trincão (7) - A nota justifica-se pelo belíssimo golo que marcou aos 90'+5. Remate em arco, indefensável, que nos valeu um ponto. Já tinha sido ele a recuperar bola no lance do terceiro.
Gyökeres (9)- Que mais dizer? Há que tirar-lhe o chapéu: melhor em campo, mais três golos. Até hoje marcou 73 em 77 jogos de leão ao peito. Ainda está entre nós e já se tornou lenda.
Maxi (5) - Substituiu Quenda (55'). Esteve no melhor ao cruzar para o nosso quarto golo. Também esteve no pior: incapaz de fechar a ala esquerda, deixou Matheus ainda mais desamparado.
João Simões (5) - Substituiu Geny aos 79'. Destacou-se no minuto final com um passe longo, a queimar linhas, no lance de que resultaria o golo do empate.
Fresneda (3) - Rendeu Quaresma (86'). Nada fez para melhorar a equipa. Nervoso e quezilento, viu o amarelo aos 90'+3, fazendo-nos perder tempo precioso quando perdíamos 4-3.
Harder (4) - Substituiu um exausto Morita aos 86'. Tentou responder de cabeça ao centro de Maxi, no decisivo lance final, mas apenas conseguiu roçar a bola. Felizmente Trincão estava lá.
Da nossa fulgurante entrada no difícil desafio em Guimarães. Antes de concluído o segundo minuto da partida, neste jogo final da primeira volta, já tínhamos a bola enfiada no fundo das redes da equipa anfitriã. Antes de se esgotar o quarto de hora inicial, estava lá outra. Difícil conceber um começo mais fulgurante do que este - crédito por inteiro à nossa linha ofensiva.
De Gyökeres. Voltou às grandes noites de leão ao peito. Melhor em campo, autor de três golos: aos 2' (a passe de Quenda), aos 14' (novamente a passe de Quenda) e aos 57' (servido de cabeça por Morita dentro da área). Batalhador incansável, recuou sempre que necessário, nomeadamente para apoios defensivos nas bolas paradas. É um fenómeno: leva 21 golos apontados neste campeonato que só agora chegou a meio - e 30 no conjunto da temporada. Não merecia este empate no Minho. Merecia que tivéssemos ganho por goleada.
De Morita. Escasseiam os adjectivos para a prestação do internacional nipónico, um dos grandes obreiros da primeira hora desta partida disputada sempre em ritmo muito intenso. Na primeira parte foi vital para accionar o nosso jogo ofensivo, mas soube recuar quando era necessário em apoio dos centrais. Vital a sua intervenção no terceiro golo, numa prodigiosa tabelinha com Gyökeres, a quem ofereceu o brinde. Como aconteceu a outros colegas, estoirou a partir da hora do jogo. Infelizmente para o treinador, nada temos equivalente a Morita no banco de suplentes.
De Quenda. Adaptado a médio-ala, do lado esquerdo, fabricou dois golos no quarto de hora inicial - proeza que merece ser assinalada. Não está ao alcance de qualquer um, ainda por cima sabendo-se que o jovem esquerdino costuma render mais quando actua do lado direito. No segundo golo não se limitou a assistir: o lance começa com uma recuperação dele. Infelizmente começou a quebrar fisicamente à beira do intervalo: decide mal aos 45'+1, atirando a bola para a bancada, quando tinha um colega livre de marcação. Mas justifica nota positiva.
Do golaço de Trincão. Andou meio eclipsado durante parte do jogo, mas ao contrário de quase todos os companheiros ganhou evidência à medida que este Vitória-Sporting se aproximava do fim. Aos 57' foi vital na recuperação, corrigindo erro de Geny, e encaminhando-a para o sítio certo no lance do terceiro golo. E nos instantes finais (90'+5) marcou um golo soberbo, o que nos permitiu sair de Guimarães com mais um ponto do que no desafio da época anterior, ao rematar em arco a partir da meia direita, com perfeita colocação, ao ângulo mais inacessível para Bruno Varela. Desde já candidato a um dos golos do ano, mal 2025 ainda começou.
De termos ido para o intervalo a vencer por 2-1. O cenário melhorou ainda mais quando ampliámos a vantagem, antes da hora do jogo. Ao ponto de muitos de nós já pensarmos que trazíamos os três pontos de Guimarães. O pior foi que vários jogadores do Sporting parecem ter pensado o mesmo: facilitaram, relaxaram, desconcentraram-se. Asneira grossa: nenhuma vitória está no papo antes do apito final.
Dos golos. Não choveu, ao contrário do que chegou a recear-se, mas houve chuva de golos no relvado: oito. Três na primeira parte, cinco na segunda. Para quase todos os gostos. Há quase seis anos não havia tantos num desafio do campeonato nacional de futebol. E desta vez foram todos golos limpos, sem discussão.
Da vibração nas bancadas. Maior número de espectadores até agora, nesta época, no estádio D. Afonso Henriques: 26.549 lugares preenchidos. Prova da capacidade de mobilização dos adeptos vimaranenses e do inegável prestígio do Sporting em todos os palcos nacionais.
Do árbitro. Trabalho competente de João Gonçalves, tanto do ponto de vista técnico como disciplinar. Começa a impor-se como um dos melhores árbitros desta nova geração.
Não gostei
De Israel. Vai-se consolidando a convicção de que nos falta um guarda-redes de indiscutível categoria, na linha de tantos que se celebrizaram no Sporting. O jovem uruguaio orientou muito mal a barreira no livre directo de que nasceu o primeiro golo vimaranense, aos 7', e reagiu tarde ao disparo de Tiago Silva. Teve também uma atitude demasiado passiva no quarto que sofremos, aos 85': nem esboça uma saída à bola para reduzir o ângulo de remate.
De Matheus Reis. Prestação calamitosa do lateral esquerdo, totalmente batido em velocidade no lance do segundo golo da turma anfitriã, aos 70': não teve pernas para acompanhar Telmo Arcanjo nem a argúcia de perceber que se impunha cometer falta defensiva para compensar a sua falta de velocidade. No quarto golo, falhou por completo a marcação a Dieu-Merci, que só precisou de decidir para que lado mandaria a bola.
De Fresneda. Voltou a demonstrar falta de classe para integrar o plantel leonino. Aos 86' substituiu um esgotado Eduardo Quaresma. Exibindo nervosismo à flor da pele. Quando mais precisávamos de tempo para virar o resultado, já de cabeça perdida, envolveu-se numa picardia disparatada junto à nossa linha defensiva que lhe valeu o amarelo aos 90'+3. Parece cada vez mais uma carta fora do baralho.
Da nossa desorganização defensiva. Além dos erros individuais já referidos, todo o nosso sector mais recuado merece nota negativa. Incapaz de sair com bola, incapaz de dominar a pressão, incapaz de definir linhas de fora de jogo, a partir de certa altura começou a aliviar de qualquer maneira: saía balão, saía charutada. Como se estivessem a defrontar o Arsenal ou o Bayern de Munique. E sucediam-se as bolas entregues aos adversários, aqui sobressaindo Diomande e Quaresma. E, claro, foram-se sucedendo os golos: três num quarto de hora - 70', 82' e 85'. Inaceitável.
De ter sofrido tantos golos. Foi a primeira vez que o V. Guimarães nos marcou tanto em jogos do campeonato. Ironia do destino: um Vitória "fabricado" nesta dinâmica pelo nosso actual treinador.
Do excessivo recuo das nossas linhas. Após marcarmos o 3-1, houve ordem geral para arrefecer o jogo e recuarmos as linhas, concedendo iniciativa ao adversário. Talvez já a pensar no desafio contra o FCP, da meia-final da Taça da Liga. Foi um erro: havia mais de meia hora para jogar, essa é estratégia de equipa pequena. Tal como as múltiplas tentativas de queimar segundos nas reposições de bola, tanto pelo guarda-redes como nos lançamentos laterais. No Sporting, estamos pouco habituados a isto. Aliás, não serviu para nada: o Vitória, sentindo-se confortável com o espaço que lhe concedíamos, cresceu de intensidade e foi para cima de nós. O jogo quase começou a perder-se aí. E só não se perdeu de todo devido à magia do pé esquerdo de Trincão.
Jogo de loucos ontem num campo onde perdemos na época passada. Duas equipas intensas na pressão e objectivas no ataque, muitas oportunidades de golo para os dois lados. Estivemos a ganhar por 3-1 já na 2.ª parte, estívemos a perder por 3-4 com o jogo a terminar, o 4-4 final num golo de génio do Trincão veio repor alguma justiça no resultado.
O Sporting podia e devia ter segurado a vantagem e ter ganho o jogo. Porque não o conseguiu fazer então?
Porque o V. Guimarães carregou ainda mais no acelerador e foi muito feliz na concretização das oportunidades que teve, e porque, tal como tinha acontecido no dérbi, meia-equipa "deu o berro" fisicamente a começar por Morita, e foi perdendo duelos e cometendo erros. Também porque não fez o óbvio: fazer baixar o ritmo de jogo, povoar mais o meio-campo, circular a bola.
Também só ao Sporting acontece que a quinta opção de ponta-de-lança do adversário entre por lesão do titular, e esteja em dois golos, no 3-3 cabeceia à trave mesmo estorvado por St. Juste, no 3-4 penteia para golo estorvado agora por Matheus Reis. Dieu-Merci Ndembo-Michel, 20 anos. Joga melhor de cabeça que qualquer um dos nossos pontas de lança...
Além de tudo o que conhecemos, o Sporting está a pagar a factura do plantel curto escolhido por Ruben Amorim para a temporada. Neste momento, além do onze titular, temos como opções "válidas" Debast, J. Simões e Harder. Se Edwards não serve para este jogo, não serve para nenhum.
Uma equipa que quer ganhar o título e sonha com o bicampeonato não pode chegar aos 60' a vencer 3-1 e depois consentir três golos de rajada num quarto de hora (70', 82' e 85').
Infelizmente foi o que esta noite aconteceu ao Sporting em Guimarães. E se não fosse um golaço de Francisco Trincão no último dos seis minutos do tempo extra, fixando o resultado em 4-4, teríamos regressado do Minho com uma derrota.
Fica a lição aos jogadores: não podem afrouxar em circunstância alguma. Na segunda parte os profissionais do Vitória deram-lhes um banho de bola.
Fica também a lição ao novo treinador, Rui Borges: não deve mandar os jogadores recuar linhas a defender o resultado ainda com uma parte inteira para jogar. Isso é atitude de equipa pequena, não de um emblema com a grandeza do Sporting.
Viktor Gyökeres - que voltou a marcar três golos, os seus primeiros em 2025 - não merecia isto.
Amanhã, a partir das 20.15, Rui Borges terá o seu segundo teste como treinador do Sporting. Também difícil, como foi o anterior, no confronto em Alvalade com o Benfica.
Desta vez vamos a Guimarães enfrentar o Vitória, o clube que o nosso actual técnico treinou até há dez dias. O que dá um tempero muito especial a este desafio.
No campeonato anterior, a deslocação ao Minho não nos correu bem: fomos lá perder 2-3. Em grande parte graças a uma arbitragem calamitosa do famigerado João Pinheiro, monstro nada sagrado do apito, que inventou um penálti favorável aos vimaranenses.
Última derrota de Ruben Amorim ao serviço do nosso Sporting, nesse já distante mês de Dezembro de 2023. Só voltaríamos a sofrer uma, para a Liga, quando João Pereira tentou preencher o seu lugar.
Há coisas difíceis de compreender. A saída de Jota Silva - o melhor jogador do V. Guimarães - para o Nottingham Forest, 17.º classificado da Premier League em 2023/2024, por apenas 7 milhões de euros é uma delas.
Bem sei que este negócio envolve um acréscimo de verba por objectivos (2 milhões se marcar 12 golos, por exemplo), mas mesmo assim parece-me uma cifra surpreendentemente baixa. Tratando-se de um avançado de apenas 25 anos (cumpridos ontem), portanto com óbvia margem de progressão. Tratando-se de um jogador já com presença na selecção nacional. Tratando-se de alguém com números expressivos: na época passada participou em 22 golos (15 marcados e 7 assistências).
Tudo isto me deixa perplexo. Jota Silva podia e devia ter escolhido melhor: vir para o Sporting, por exemplo. Era capaz de nos dar jeito. E certamente gostaria de participar na Liga dos Campeões, algo que não conseguirá em Inglaterra.
Foi uma goleada de prognósticos certeiros. Com nada menos de oito vencedores. Aqui ficam os seus nomes: AHR, Carlos Estanislau Alves, José da Xã, José Vieira, Leão do Xangai, MaximilianRobespierre, Paulo Batista e Soares Dias.
Todos acertaram no resultado e nos marcadores de dois dos nossos três golos no Sporting-V. Guimarães que nos deixou ainda mais perto do título.
Merecem parabéns. Tal como o leitor Manuel Parreira, no segundo lugar no pódio (previu o resultado mas apenas um dos golos de Gyökeres), e a leitora Leoa 6000 (que anteviu o 3-0 final, sendo menos certeira quanto aos marcadores dos golos).
Gyökeres e Pedro Gonçalves celebram com alegria um dos golos em Alvalade ao V. Guimarães
Foto: Manuel de Almeida / Lusa
Há lances que demonstram a saúde anímica de uma equipa. O Sporting protagonizou um deles no final do primeiro tempo, na partida em casa contra o V. Guimarães. Era já o terceiro minuto desse período extra quando oito jogadores leoninos protagonizaram um baile cheio de classe, com a bola a ser transportada de pé para pé.
Nuno Santos, Gonçalo Inácio, Morten, Daniel Bragança, Trincão, Geny, Pedro Gonçalves e Gyökeres: eis, por ordem de entrada em cena, os artistas desta jogada de antologia. Para mais tarde recordar.
Um total de 48 segundos de exibição superlativa no relvado: 23 toques que culminaram no disparo fulminante do craque sueco, a fuzilar as redes à guarda de Bruno Varela.
Era o segundo golo do Sporting nesta recepção à turma minhota. Era também o regresso do melhor ponta-de-lança da Liga portuguesa aos golos após cinco partidas em jejum. Mais de 45 mil pessoas nas bancadas explodiram de alegria: íamos para o intervalo a vencer 2-0, os vitorianos foram incapazes de levar perigo à nossa baliza, abria-se uma avenida para novo triunfo das nossas cores. O 15.º em 15 jogos disputados em nossa casa na Liga 2023/2024 - algo inédito na história deste estádio, inaugurado há 21 anos.
O desafio começou com o V. Guimarães muito fechado lá atrás, apresentando duas linhas defensivas muito compactas, procurando fechar as vias de acesso dos nossos jogadores à linha de tiro. Esta estratégia própria de equipa pequena, que desiste de discutir o jogo para estacionar o autocarro, não faz jus aos pergaminhos dos minhotos. Merecia castigo por delito de lesa-espectáculo.
O que acabou por acontecer.
A primeira brecha na muralha vitoriana ocorreu aos 21', quando Geny esteve a um passo de marcar: foi impedido in extremis pelo croata Borevkovic, melhor elemento da equipa visitante, mesmo à boca da baliza. Era o aperitivo para o que sucederia nove minutos depois: num remate cruzado, Pedro Gonçalves não perdoou. Varela foi buscá-la lá dentro.
A partida ficou sentenciada quatro minutos após o recomeço, quando Gyökeres bisou, correspondendo da melhor maneira ao trabalho iniciado por Pedro Gonçalves a picar a bola da meia-esquerda para a grande área e prosseguido numa espectacular recepção orientada de Trincão, que serviu de bandeja ao sueco.
Atingia-se a excelência em Alvalade onde a equipa estreou equipamento, todo branco, em homenagem à triunfal campanha da Taça das Taças de 1964, irá fazer em breve 60 anos. O resultado ficava fixado naquele instante. Com eficácia máxima: quatro remates enquadrados, três golos. Difícil exigir melhor.
Ficava também consumada a vingança face à mesma equipa que nos havia derrotado 2-3 no desafio da primeira volta, em Guimarães. Nossa última derrota até agora, já lá vão mais de quatro meses.
Consequencia imediata: o título de campeão nacional passou a ser uma hipótese cada vez mais provável. É convicção dominante, mesmo junto dos nossos rivais: já não nos irá fugir.
Faltam quatro jornadas, há 12 pontos em disputa, lideramos com sete de vantagem sobre o Benfica, segundo na tabela classificativa. Cenário que muitos adeptos do Sporting julgariam impensável no início da época.
O que nos falta?
Ir ao Dragão, no domingo que vem. Depois recebemos o Portimonense, vamos ao Estoril, recebemos o Chaves.
Enquanto não erguemos o caneco, celebramos as exibições. E os números já alcançados. Oitenta pontos na Liga à 30.ª jornada: ainda podemos conquistar 92, estabelecendo recorde nacional absoluto.
E que mais?
Há 50 anos, desde aquele inesquecível Título da Liberdade (com Yazalde) que não marcávamos acima de 85 golos no campeonato: vamos com 87 e sempre a somar.
No conjunto das provas, temos agora 131 golos em 49 jogos disputados em todas as provas. Média: 2,6 golos por jogo. Desde os memoráveis Cinco Violinos, em 1946/1947, não ultrapassávamos a marca dos 130 golos. Batido um máximo com 77 anos.
É obra.
Breve análise dos jogadores:
Israel - Encaixou um bom remate de Kaio César (17'). Aos 32', saiu muito mal da baliza, correndo o risco de cometer penálti. Ponto mais positivo: há três jogos seguidos que não sofre golos.
St. Juste- Notável precisão de passe. Venceu quase todos os duelos, sobretudo ao accionar a sua principal virtude: a velocidade. Diomande estava ausente por castigo, mas não se notou a falta.
Coates - Segurança, maturidade, enorme capacidade de temporizar o jogo e de motivar os colegas com a sua capacidade de liderança a partir do centro da defesa. Uma vez mais.
Gonçalo Inácio - Destacou-se nos passes longos, tentando esticar o jogo para servir Gyökeres logo aos 4' e aos 7'. Intervém na inesquecível jogada colectiva de que resultou o segundo golo.
Geny - Quase marcou aos 21', confirmando o seu virtuosismo com bola dentro da área. Intervenção activa nos dois primeiros golos. Ala com propensão ofensiva, cada vez mais maduro.
Morten - Mal o Vitória lhe concedeu espaço, mostrou toda a qualidade do seu futebol. Quase marcou, de cabeça, após um canto (26'). Teve intervenção decisiva no segundo golo.
Daniel Bragança - Cada vez mais influente. No passe, no transporte, na capacidade de variar flancos e distribuir jogo. Nunca se esconde: pelo contrário, participou nos três golos do Sporting.
Nuno Santos - Esforçado, nem sempre as acções ofensivas lhe correram bem. Ou centrava sem ninguém para receber na área ou optava com demasiada frequência pelo passe à retaguarda.
Pedro Gonçalves - Melhor em campo. Iguala Paulinho como segundo artilheiro da equipa. Desta vez marcou o primeiro, assistiu no segundo e fez a pré-assistência no terceiro.
Trincão - Mantém excelente forma, como se verificou no segundo golo, em que participa, e sobretudo na espectactular assistência que fez para o terceiro. Outra grande exibição.
Gyökeres- Regressou aos golos - e logo a bisar - após cinco jogos sem a meter lá dentro. Para óbvia alegria dele. E para imensa alegria de todos nós. Todo o estádio gritou o seu nome.
Edwards - Substituiu Pedro Gonçalves aos 78'. Ainda não foi desta que voltou a brilhar. Marcou aos 80', mas estava fora-de-jogo. Podia ter marcado aos 82', mas não conseguiu.
Morita - Entrou aos 78', rendendo Daniel Bragança. Ajudou a equilibrar o meio-campo, em eficaz parceria com Morten.
Paulinho - Rendeu Trincão aos 78'. Conduziu bem um contra-ataque aos 80', tirando partido da sua frescura física. E ajudou a segurar a bola.
Eduardo Quaresma - Entrou para o lugar de St. Juste aos 82'. Muito atento, concentrado, dinâmico. Ninguém passou por ele.
Fresneda - Substituiu Geny aos 86'. Chegou a tempo de protagonizar duas intervenções, numa das quais perdendo a bola.
Que as várias equipas das várias modalidades do Sporting têm uma estreita ligação, todos os que não andam distraídos sabem. É ver as bancadas do João Rocha e as do Alvalade, onde pontificam atletas a apoiar outros atletas.
Isto deve ter depois alguma alquimia, ou bruxedo, ou o cuara... como diz aquela senhora simpática dos vídeos que por aí circulam, que aos do futebol depois dá-lhes para imitar os colegas do pavilhão.
Digam-me lá se a obra-prima acima, no segundo golo, não foi passada a papel químico de uma jogada entre o Merlin, o Paçó, o João Matos, o Pauleta, o Tainan, o Pany, o Sokolov e roda pelos mesmos (escolham os quatro em campo nessa altura), com uma finalização soberba de Zicky?
E este, o terceiro, aquele vólei de Pedro Gonçalves para Trincão, não vos faz lembrar uma picadinha no Andebol?
Isto anda tudo ligado.
E que tranquilas são estas segundas, a observar o olhar perdido da lampionagem...
Com esta difícil (muito mais do que o resultado possa parecer) vitória em casa de ontem contra aquela equipa que nos tinha derrotado em Guimarães, onde contou com a ajuda do tal Pinheiro, o Sporting pôs uma mão no caneco de campeão nacional.
Para pôr a outra, mesmo perdendo no Dragão, só tem de ganhar os dois jogos que terá em casa contra equipas em luta pela despromoção. Ou ganhar um deles e ir ganhar ao Estoril. Isso supondo que o Benfica ganha em Faro, ganha ao Braga em casa e ganha todos os jogos até final. Enfim, estamos quase mas... falta o quase.
A 1.ª parte foi um exercício de cansar o adversário, aborrecido para quem via no estádio ou pela TV. A bola rodava por fora da estrutura defensiva adversária dum lado ao outro do campo, eles corriam para a direita, fechavam; corriam para a esquerda, fechavam; voltavam a correr para a direita, fechavam, etc...
Bragança e Hjulmand eram os engodos plantados nessa estrutura defensiva que obrigava os adversários a pensar antes de correr para os lados.
Neste encaixe do 3-4-3 do Sporting com o 5-3-2 do V. Guimarães o talento dos jogadores do Sporting levou a melhor. De três oportunidades marcou dois golos e a sincronização defensiva impediu um possível golo por penálti do adversário. Entretanto Hjulmand fazia um trabalho de sapa incrível, quase sozinho a defender à frente da linha de cinco.
Na 2.ª parte ou o Sporting marcava o terceiro e resolvia o encontro ou sujeitava-se a dissabores. O V. Guimarães ameaçava voltar ao jogo e complicar as coisas. E dum lance de génio de Pedro Gonçalves, que já tinha marcado o primeiro e assistido para o segundo, logo marcou o terceiro.
O jogo acabou aí, a vitória estava assegurada, o adversário estava esgotado. O resto foram sendo oportunidades desperdiçadas para aumentar a conta.
Melhor em campo? Pedro Gonçalves, mas Hjulmand e Catamo deram mais uma demonstração da evolução incrível de qualidade que tiveram ao longo da época. De resto todos muito bem, excepto o Israel, com mais um falhanço embaraçoso a sair dos postes naquele lance que podia ter dado penálti.
Arbitragem? Cláudio Pereira impecável, na calha para ser o melhor árbitro português, e muito eu o insultei nos primeiros jogos que o vi dirigir o Sporting. Que continue assim e não aceite o que os mais velhos aceitaram.
E agora? Ir ganhar ao Dragão, com Pinto da Costa a dormitar na cadeira e o Koelher a vender tudo a pataco aos amigos. Os empresários já fazem bicha no Citius para receber o deles enquanto existe.
PS: Comentários da sardinhada pirata esperta seguem directamente para o balde do lixo.
Da vingança em Alvalade. Recebemos o V. Guimarães, que nos tinha vencido (injustamente) no desafio da primeira volta do campeonato. Triunfo concludente da nossa equipa, por 3-0: repetimos a dose da época anterior. Excelente exibição num óptimo relvado com incessante apoio das bancadas, com a segunda maior enchente da época até agora (46.101 lugares preenchidos) e onde os adeptos nunca se cansaram de incentivar a equipa. Vimos um Sporting consistente, cheio de maturidade, muito superior à turma minhota. E com grau máximo de eficácia: ao intervalo, com apenas três remates enquadrados, tínhamos já dois golos à nossa conta.
De Gyökeres. O craque sueco regressou aos golos, pondo fim a mais de um mês de jejum. E logo a bisar. Foi dele o segundo, no último lance da primeira parte (45'+3), culminando belíssimo ataque posicional que justifica destaque autónomo nesta rubrica. E também o terceiro, aos 49', com espectacular assistência de Trincão. Tem 24 golos marcados neste campeonato. É um dos grandes obreiros desta fabulosa corrida para o título.
De Pedro Gonçalves. Destaco-o como melhor em campo. Fácil explicar porquê: marcou um golo (foi dele o primeiro, aos 30', num remate cruzado sem hipóteses para Bruno Varela), assistiu Gyökeres no segundo com um passe rasteiro a romper a defesa e esteve também no terceiro, picando a bola com categoria em pré-assistência para Trincão. Sem dúvida o melhor jogador português do plantel leonino. Já soma 11 golos na Liga.
De Daniel Bragança. Após a meia hora inicial, em que a bola mal circulou no nosso corredor central, tornou-se um dos mais influentes elementos desta recepção ao Vitória minhoto. Interveio nos nossos três golos, demonstrando todas as suas qualidades como médio ofensivo. No primeiro, com uma preciosa recepção orientada dentro da grande área após desmarcação oportuníssima, fazendo a bola sobrar para Pedro Gonçalves. No segundo, com uma tabelinha digna de aplauso com Pedro Gonçalves. No terceiro, é ele quem serve o n.º 8 antes da pré-assistência para Trincão. É já um dos pilares da equipa.
Do golaço ao cair o pano da primeira parte. Exemplo soberbo de futebol colectivo: 23 passes, de pé para pé, com trocas de bola muito rápidas, sempre ao primeiro toque, durante 48 segundos cheios de classe. Deu gosto ver no estádio. Dará muito gosto rever nas imagens filmadas, uma vez e outra.
Do árbitro. Boa actuação de Cláudio Pereira, aplicando o chamado critério largo, sem interromper continuamente o jogo para atender a faltas e faltinhas.
Das faixas de apoio em Alvalade. Numa lia-se «Fica, Amorim». Noutra - da Juventude Leonina - era possível ler-se: «Eu quero ser campeão outra vez». Esta irá cumprir-se. Resta ver se o mesmo acontecerá com a primeira.
Da regularidade leonina. Não perdemos na Liga desde 9 de Dezembro - precisamente a data da derrota no estádio D. Afonso Henriques. De então para cá, 16 vitórias e um empate. Uma série espantosa, digna de prolongado aplauso. No total, até agora, em 30 desafios vencemos 26. Um dos nossos melhores registos de todos os tempos.
De já termos marcado 131 golos em 2023/2024. Destes, 86 foram na Liga. Há precisamente meio século, desde a época 1973/1974, que não fazíamos tantos golos num campeonato. Temos agora mais 22 do que o Benfica e mais 32 do que o FC Porto. Diferença impressionante. Melhor ainda: há 77 anos (desde os Cinco Violinos) que não marcávamos tantos golos numa temporada.
Dos 80 pontos já conquistados. Ainda podemos obter 92 - marca absolutamente inédita no futebol português. Vamos agora com mais 18 do que os portistas e mais dez, à condição, do que os encarnados. A quatro jornadas do fim. Faltam-nos duas vitórias nestas quatro rondas para levantarmos o caneco mais cobiçado do futebol português.
De ver o Sporting sempre a fazer golos. Cumprimos o 17.º desafio consecutivo sem perder na Liga 2023/2024, com oito triunfos seguidos.
Da nossa 25.ª vitória consecutiva em casa na Liga. Alvalade é talismã para a equipa desde a época passada. Fizemos o pleno no campeonato em curso, até agora com folha limpa. E registamos 15 triunfos nos 15 desafios disputados como anfitriões na Liga 2023/2024. Nunca tinha acontecido nada semelhante desde que o nosso actual estádio foi inaugurado, em 2003.
Não gostei
De termos demorado desta vez meia hora para marcar. Já não estávamos habituados a tanta espera.
Da fraca réplica do V. Guimarães. O treinador Álvaro Pacheco montou a equipa num hiperdefensivo sistema 5-4-1 que permitiu trancar as vias de acesso à sua baliza durante 30 minutos. Mas quando a muralha ruiu o treinador foi incapaz de um golpe de asa que lhe permitisse contrariar a óbvia superioridade do Sporting. Nem parecia a mesma equipa que venceu o FCP fora (1-2) e empatou com o Benfica em casa (2-2). Também nada ajudou o facto de ter mantido fora do onze, até ao minuto 59, o seu melhor jogador, Jota Silva. Não me importaria nada de o ver de Leão ao peito na próxima época.
Da ausência de Diomande, a cumprir castigo. Mas St. Juste deu conta do recado, com actuação irrepreensível como central à direita, atento às dobras a Geny, que actuou quase sempre como extremo. Comprovando assim que este Sporting tem várias soluções no banco.
Do descuido de Israel. Manteve as redes intactas neste seu oitavo jogo a titular no campeonato. Mas saiu muito mal da baliza aos 32', abalroando Afonso Freitas em lance que poderia ter valido um penálti à equipa visitantes. Felizmente o ala vitoriano estava fora-de-jogo, forçando a anulação de toda a jogada.
A jornada 30, para nós, tem pontapé de saída às 20.30 de amanhã. Recebemos o V. Guimarães. Objectivo: vingar a derrota sofrida frente à mesma equipa na primeira volta. Perdemos 2-3 - cortesia do árbitro João Pinheiro e do vídeo-árbitro Hugo Miguel, que "fabricaram" um penálti inexistente favorável aos vimaranenses punindo falta que Adán não cometeu.
Na época anterior, o jogo homólogo terminou 3-0: triunfo categórico das nossas cores. Com golos de Edwards (2) e Morita.
Rúben Amorim debaixo de chuva e com ar preocupado em Guimarães: tinha razões para isso
Foto Lusa
Segunda derrota do Sporting no campeonato nacional em curso. Tal como a anterior - quando deixámos perder os três pontos em três fatídicos minutos do tempo extra, de modo quase inacreditável - também nesta foram cometidos demasiados erros para fazermos de conta que não existiram.
O primeiro foi do treinador. Vem insistindo em Esgaio como titular quando é cada vez mais óbvio que este não é um jogador que mereça tal distinção. Rúben Amorim faz excessivas mudanças na defesa - neste caso só uma que se impunha pela ausência de Coates por castigo, mas as alterações voltaram a ser mais extensas. E - erro maior - potenciou um buraco enorme no nosso meio-campo quando mandou sair Morten, talvez com receio de o ver amarelado no próximo clássico com o FC Porto em Alvalade, trocando-o por Paulinho, sem capacidade de retenção da bola nem de conter o caudal ofensivo vitoriano.
Houve jogadores que erraram. Gonçalo Inácio perdeu duas vezes a bola em zona proibida. Matheus Reis é parco em cruzamentos e quando arrisca geralmente sai-se mal. Edwards perdeu todos os confrontos individuais. Trincão mal existiu. Adán - intranquilo, lento a reagir - teve fortes responsabilidades no terceiro golo sofrido. Aquele que nos custou a derrota no Estádio D. Afonso Henriques.
Em noite muito chuvosa, sábado passado. Mais para lembrar do que para esquecer.
Foi um desafio intenso, quase sem pausas, sem tempos mortos, sem antijogo, sem autocarros estacionados. As duas equipas queriam vencer.
No caso do Sporting, a vontade era tanta que o treinador fez tudo para sair de lá com um triunfo quando podia ter trabalhado para o empate que se registava ao minuto 77. Confirma-se que querer não é sinónimo de poder. Razão tem o povo naquele ditado: mais vale um pássaro na mão do que dois a voar.
Deixámos voar o pássaro. À beira do fim, aos 81', no tal lance em que Adán tremeu. Frente a um Vitória que soube dar sempre luta rija em campo, agora sob a liderança do técnico Álvaro Pacheco, com a sua inconfundível boina.
Péssimo na fotografia ficou João Pinheiro, absurdamente considerado "melhor árbitro português". Só se for na playstation: no futebol não é nem nunca o foi.
Voltou a lesar o Sporting no último lance do primeiro tempo ao assinalar um penálti contra nós que só ele viu, por hipotético derrube de Adán a Mangas. Nenhuma imagem o confirma, pelo contrário: o nosso guarda-redes fez tudo para evitar o contacto após uma saída algo atabalhoada. E o vimaranense já ia em queda no momento em que Pinheiro, certamente vítima de alucinação, terá visto a tal grande penalidade que não existiu.
Com esse golo os do Minho ganharam ânimo: ao intervalo havia empate a uma bola. No segundo tempo lutámos, mas sem dar a réplica devida à turma anfitriã. Que teve a sabedoria de secar o nosso maior trunfo: Gyökeres bem tentou, mas quase nada conseguiu fazer no encharcado relvado de Guimarães.
Bem melhor esteve Nuno Santos, lutador incansável enquanto esteve em campo, durante todo o segundo tempo. O nosso melhor Leão à chuva.
Em suma: estivemos a ganhar, concedemos o empate, acabámos por perder. Numa partida cheia de emoções fortes. Talvez demasiado fortes para nós.
Para já, continuamos no comando da Liga 2023/2024. Mas valha a verdade: esta jornada 13 não nos trouxe sorte alguma. Melhores dias virão.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Sofreu três golos, mas só teve culpa evidente num - precisamente aquele que nos fez sair sem qualquer ponto de Guimarães. Grandes defesas aos 73' e aos 88': aqui esteve muito bem.
Esgaio - Surpreendente central pela direita, permitindo adiantar Geny. Esteve longe de render assim. Aos 12' escapou por um triz ao amarelo. Aos 17' foi mesmo amarelado. Saiu ao intervalo.
Diomande - O melhor do reduto defensivo. Também o mais jovem, confirmando ser mesmo reforço. Fez de Coates, no centro da defesa. Protagonizando bons cortes e desarmes impecáveis.
Gonçalo Inácio - Quebrou jejum: marcou o primeiro golo da época, de pé direito (41'). Culminando bom lance colectivo de ataque. Pior lá atrás: perdeu a bola em dois golos sofridos.
Geny - Ala titular pela direita, não conseguiu articular-se com um Edwards quase eclipsado. Evidenciou-se em alguns lances individuais. É ele a iniciar a jogada do nosso segundo golo.
Morten - Boa exibição como médio posicional, formando duplo pivô com Morita. Eficaz para tolher movimentos dos adversários no corredor central. Inexplicável, a sua saída aos 61'.
Morita - Esteve no melhor e no pior. É ele quem disputa a bola que sobra para Gonçalo no golo 1. É ele também quem a desvia, de modo infeliz, no segundo golo do Vitória (73').
Matheus Reis - Muito contido nas manobras de ruptura no corredor esquerdo, que lhe foi confiado. Desgastou-se no confronto com Jota Silva nessa ala. Perdendo alguns duelos decisivos.
Edwards - Tão depressa se mostra em grande nível, cotando-se como melhor em campo, como desaparece por completo, incapaz de vencer um duelo. Foi este segundo Edwards a ir ao Minho.
Pedro Gonçalves - Um dos melhores em jogo ingrato: voltou a fazer mais de uma posição, o que o desfavorece. Lá na frente, quase marcou aos 8', inicia o primeiro golo e assiste no segundo.
Gyökeres - Tentou, mas desta vez sem conseguir. Neutralizado pelo croata Borevkovic (atenção, Hugo Viana!). Falhou duas finalizações: aos 57' (servido por Geny) e aos 61' (por Nuno Santos).
Nuno Santos - Melhor leão em campo. Substituiu Esgaio: fez todo o segundo tempo. Marcou o segundo num grande remate (77'). Construiu golos falhados por Gyökeres (61') e Trincão (71').
Paulinho - Amorim tomou decisão difícil de entender aos 61', quando retirou Morten e mandou entrar o avançado. Criou uma cratera no meio-campo sem compensar na qualidade ofensiva.
Trincão - Em campo desde o minuto 61', por troca com Edwards. Se um nada fez, o outro também praticamente não existiu. Desperdiçou soberana ocasião de golo (71'), depois sumiu-se.
De perder. Há cinco anos que o V. Guimarães não vencia uma equipa grande no campeonato português. Interrompeu hoje o jejum derrotando o Sporting por 3-2 no seu estádio, perante mais de 20 mil espectadores. Com 1-1 ao intervalo, num desafio desenrolado sempre debaixo de chuva. Custou ainda mais porque estivemos a vencer, com um golo aos 41'. Mas a vantagem durou escassos minutos, só até aos 45'+7. No segundo tempo a turma minhota marcou aos 73' e aos 80'. Nós ainda reduzimos aos 77', mas fomos incapazes de segurar ao menos o empate. Segunda derrota leonina nesta Liga 2023/2024. São jogos destes que podem custar a perda de campeonatos.
De Gonçalo Inácio. É certo que foi do central esquerdino o nosso golo inaugural, em lance corrido: estreou-se como artilheiro nesta temporada marcando não de cabeça mas com o pé, ainda por cima o direito. Mas a jogada que culmina no penálti (e consequente golo do Vitória) começa com uma perda de bola dele, o mesmo sucedendo no lance do segundo que sofremos. E no terceiro peca por notória falha de marcação em zona que lhe competia vigiar. Anda há várias jornadas muito abaixo do nível a que nos habituou.
De Esgaio. Rúben Amorim apostou nele como central à direita, num sistema híbrido em que se desdobrava como lateral desenhando-se uma linha de quatro defensores. Pouco rotinado nesta manobra, e sem um ala pronto a ir-lhe às dobras, claudicou logo nos primeiros embates. Foi poupado ao cartão numa falta que lhe podia ter valido o amarelo aos 12', mas a sua falta de pedalada era óbvia. Cinco minutos depois, volta a travar o adversário com imprudência: amarelado, jogou condicionado a partir daí. Já não regressou do intervalo, sem deixar saudades.
De Adán. Em estrito rigor, só parece ter responsabilidade num dos golos. No primeiro, é castigado por penálti que não cometeu. No segundo, foi traído por um involuntário desvio da bola em Morita. Mas no terceiro - o que nos custou a derrota - foi mal batido por Dani Silva, que remata com pouco espaço: o guardião espanhol, hoje capitão da equipa, nem o ângulo cobriu. Valha a verdade que protagonizou duas grandes defesas (73' e 88'), mas voltou a aparentar intranquilidade, contagiando os colegas. E continua incapaz de defender um penálti.
De Trincão. Perdeu o estatuto de titular, mas ao que parece nem para suplente vai servindo. Entrou aos 61', com o jogo ainda empatado 1-1: Amorim apostou nele como criativo para romper a muralha vitoriana, algo que Edwards tinha sido incapaz de fazer enquanto Gyökeres permanecia manietado pelos centrais. O ex-Braga foi incapaz de corresponder: presa fácil da turma adversária, sem conseguir ligação com os colegas, voltando a abusar do individualismo. Muito bem servido por Nuno Santos, aos 71', permitiu a defesa de Bruno Varela - o melhor do Vitória - tal como já tinha acontecido com Pedro Gonçalves aos 8'. Falhada esta finalização, voltou a desaparecer: mal se deu por ele.
De Paulinho. É mais fácil marcar três ao Dumiense, último classificado do quarto escalão do futebol português, do que criar um só lance de perigo frente à equipa que segue em quinto na Liga 1. Em campo desde o minuto 61', substituindo Morten, mal rondou a baliza e nem chegou a estar perto do golo. Mais de meia hora de inútil presença em campo, o que não constitui novidade. Amorim abdicou do melhor médio de contenção sem ganhar eficácia na linha avançada. O Sporting ficou mais exposto ao contra-ataque, facilitando a tarefa à equipa orientada por Álvaro Pacheco.
Da ausência de Coates. Afastado deste embate em Guimarães por cumprir castigo, devido à acumulação de amarelos, o internacional uruguaio fez falta. Mesmo lento, algo pesado e um pouco preso de movimentos, continua a ser o patrão indiscutível da defesa leonina. Não restam dúvidas: a equipa fica mais frágil sem ele.
Do penálti inexistente. O árbitro João Pinheiro, sem surpresa, teve influência no resultado. Ao assinalar uma grande penalidade que só ele parece ter visto. Adán, saindo algo inseguro dos postes aos 45'+3, fez uma travagem brusca, ajoelhando para evitar o choque com o portador da bola, Mangas, aliás já em queda não provocada. Nenhuma imagem confirma que tenha havido contacto físico entre os jogadores. Momentos antes haviam sido lançadas tochas para o relvado e permanecia ali muito fumo, dificultando a visão de todos. O VAR Hugo Miguel devia ter sugerido a Pinheiro, pelo menos, que observasse as imagens no monitor. Mas nem isso aconteceu. Assim nasceu a grande penalidade que permitiu ao Vitória empatar no último lance da primeira parte. Sem ter criado verdadeiramente uma situação de golo iminente até esse momento.
Daquele desespero final. Últimos dez minutos de pressão contínua mas desordenada e muito caótica da nossa equipa contra a baliza vimaranense, mais com o coração do que com a cabeça, parecendo obedecer ao "sistema táctico" tudo ao molho e fé em Deus. Com estrelinha, talvez resultasse. Mas - talvez por causa da chuva intensa - desta vez ela andou ausente. E, valha a verdade, o Vitória foi sempre uma equipa bem arrumada, bem organizada, tenaz e batalhadora. Com elementos em grande nível, como Varela, Händel, André Silva e Tomás Silva. Num jogo que não merecíamos ganhar.
De termos perdido a vantagem. Deixámos de estar isolados no topo do campeonato e fomos incapazes de ampliar a distância face ao Benfica, que empatou em casa com o Farense. Os encarnados estão agora um ponto atrás de nós, o Braga com menos dois e o FCP igualou-nos na pontuação ao vencer o Casa Pia no Dragão por 3-1, resultado insuficiente para nos destronar do comando. Um triunfo em Guimarães deixar-nos-ia com mais quatro do que o SLB e três acima dos portistas imediatamente antes do clássico. Parecemos optar sempre pela via mais difícil.
Gostei
De Diomande. Com Coates ausente, fez ele de patrão da nossa defesa. E cumpriu no essencial, embora não isento de reparos. Perante um Esgaio longe de cumprir os mínimos e um Gonçalo que tem fases de inexplicável desconcentração, foi ele - sendo o mais novo dos centrais - a fazer de adulto naquela zona do terreno. Desarmes perfeitos aos 23' e aos 34'. Grandes cortes aos 63' e aos 70'. Ganhou praticamente todos os duelos neste duro e difícil confronto em Guimarães.
De Nuno Santos. Voto nele como o nosso melhor em campo. Não apenas pelo golo que marcou, com assistência de Pedro Gonçalves, mas sobretudo por ter dado sempre mostras de ser o mais inconformado do onze leonino. Fez tudo para empurrar a equipa para a frente, com fibra de lutador. Se há jogador que não merecia esta derrota, é ele.
De podermos defrontar o FC Porto sem jogadores castigados. Coates "limpou" os cartões neste V. Guimarães-Sporting. E os três colegas que estavam à bica, quase tapados com amarelos, não foram admoestados por João Pinheiro. Edwards, Morten e Gonçalo Inácio poderão assim integrar o onze titular que defrontará a turma portista em Alvalade no próximo dia 18.
Custa perder assim na antevéspera do clássico, custa ter de assistir ao cadastrado Pinheiro transformar uma expulsão dum adversário que se "atirou para a piscina" num penálti, custa assistir a muitos erros próprios intervalados com coisas muito bem feitas, mas é preciso cabeça fria, não entrar em depressões de bipolaridade, analisar os erros cometidos e preparar o futuro.
Antes do mais, em Guimarães, à chuva, com o terreno pesado, sem o melhor onze em campo, com Inácio e Hjulmand condicionados pelos amarelos, contra um adversário numa das suas melhores noites, já com o trauma do penálti, com o jogo empatado a meio da 2.ª parte é melhor controlar o jogo e aceitar o empate, ou arriscar e tentar a vitória? Eu seria pela primeira opção. Rúben Amorim, já o Nuno Dias do futsal tinha feito o mesmo na Supertaça, foi pela segunda. E perdemos.
Podem dizer que a vitória dá 3 pontos, o empate 1 e o Sporting tinha de tentar a vitória. Pois. Mas a verdade é que perdemos, e perder custa muito mais a todos, treinador, jogador, sócios, adeptos, do que o empate. E o ponto perdido pode fazer muita falta.
Na 1.ª parte já se tinha percebido que a linha defensiva sem Coates não garantia confiança, quer pela organização global pensada por Amorim para um 3-4-3 bem diferente do normal, quer pelo desempenho individual de Esgaio e de Inácio.
Inácio está no primeiro golo, batido no jogo aéreo, no segundo é batido no contra-ataque, e no terceiro é batido no tackle. Se já se percebeu que não atravessa a melhor fase, porque não foi Diomande o escolhido para o meio e Inácio à direita? Não percebi.
Foi tudo em função de encaixar Catamo na ala direita e aproveitar a sinergia com Edwards? Com Edwards em noite de "peixe fora de água" a boa ideia não resultou de todo.
Na 2.ª parte, a saída de Hjulmand destruiu a equipa. Com Pedro Gonçalves, até então o melhor avançado a ter de recuar no terreno, perdemos completamente o controlo do jogo. Trincão mais uma vez entrou em modo zombie, jogou pouco e desperdiçou uma oportunidade que lhe caiu do céu para marcar.
Resumindo, patrão Coates fora dia santo na loja, um grande jogo para ver na TV, uma exibição de altos e baixos do Sporting, uma derrota que podia ter sido evitada, como a da Luz a podia e devia ter sido, e a noção reforçada de que esta equipa precisa de reforços no mercado de inverno, especialmente para o meio-campo. Pedro Gonçalves não pode recuar no terreno, nem Coates ir para ponta de lança a meio da 2.ª parte. Ponto.
Melhor em campo? Diomande.
Piores em campo? Esgaio, Inácio, Edwards, Trincão, o Gyökeres também está no lote. Enfim, gente demais, Pinheiro à parte, para termos merecido conquistar os 3 pontos em Guimarães.
E agora? Seguimos no topo da 1.ª Liga, seguimos na Liga Europa, na Taça da Liga e na Taça de Portugal. Agora é despachar o jogo-treino europeu de quinta-feira e ganharmos o clássico na segunda-feira seguinte em Alvalade.
E eu e muitos Sportinguistas como eu lá iremos estar. Em Alvalade, com muita confiança no futuro, a apoiar Amorim e equipa. Porque eles merecem mesmo.