Hoje
Faz hoje 48 anos. Hilário e Vítor Damas ergueram bem alto a Taça de Portugal conquistada em campo pelo Sporting no Jamor. Contra o Benfica de Eusébio e Simões.
A primeira Taça em liberdade. Tinha mesmo de ser nossa.
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Faz hoje 48 anos. Hilário e Vítor Damas ergueram bem alto a Taça de Portugal conquistada em campo pelo Sporting no Jamor. Contra o Benfica de Eusébio e Simões.
A primeira Taça em liberdade. Tinha mesmo de ser nossa.
O Sporting tem o melhor histórico de formação em Portugal. Ponto.
Ontem, contra o PSV (4-0), estavam em campo dois jogadores que tiveram um comportamento miserável para com o clube que os formou - Bruma e Ilori. E estes tiveram sucessores à altura no baixinho Podence e no rastejante Rafael, que rescindiram um contrato ao primeiro aceno de um cheque (apesar de ele vir, respectivamente, da liga grega, onde presidentes de clubes entram em campo com pistolas, e do 6.º ou 7.º clube em França, o equivalente ao nosso Rio Ave). A favor de Podence, Patrício e William, o facto de o processo ter terminado com a sua venda (o rastejante Rafael, a quem desejo uma curta e triste carreira, nem isso). Mas este não é um post sobre esse processo, em que tantas forças se uniram para prejudicar o clube.
Nos últimos anos, muita gentinha sem respeito pelo Sporting tem saído da Academia. O Clube não tem formado gente à altura da sua dignidade. São disso exemplo os tristes Bruma e Ilori e os miseráveis Podence e Rafael.
Dá, por isso, um gozo ainda maior ver um jogador da formação que sabe falar e sabe estar à altura do clube que representa. Como as palavras captadas pelo Edmundo Gonçalves bem atestam. Tal como outras que lhe tenho ouvido.
Bem-vindo ao Clube, Max. Que enorme exibição. Uma decidida saída aos pés (de Bruma, ironias do destino...) , que evitou o 2-1 na primeira parte (e os estados de nervos da equipa, que tão mau resultado têm dado). Que enormes reflexos na segunda parte, evitando o 3-1. Que consistência e inteligência a lançar o jogo (algo que falta a Renan como água no deserto).
Sobretudo, Max: nunca te esqueças que a camisola que vestes é a de Damas. Procura estar à altura dele e dos maiores. No talento, mas também na devoção e na dedicação. A glória merece-se.
Quando se conhecem novidades sobre o novo filme 007, recupero uma frase de Tony Sealy:
«O Vítor Damas era o Sean Connery, o 007 do Sporting»
Presumo que muitos conheçam esta colectânea, desconheço a sua autoria, acabo de a encontrar. É absolutamente extraordinária, 50 defesas de Damas. Um guardião espantoso - e dá para imaginar a mega-estrela que seria hoje. E ocorre-me a questão, não seria possível restaurar estas imagens? Um trabalho para o arquivo global mas, também, para o museu do Sporting. Se com melhor qualidade que material museológico seria, que atracção!
Vitor Damas, o meu maior ídolo desportivo na meninice, teria feito agora 70 anos. Vi esta defesa aos meus 10 anos, naquele preto-e-branco das para hoje tão modestas transmissões. E nunca mais a esqueci. Damas era soberbo.
"IN MEMORIAM" do grande, do enorme, Vítor Damas, a quem dedico esta pequena estória que escrevi:
"O Leão Branco"
"Há um antes e um depois de Vítor Damas. Nas peladas de rua ou em terrenos baldios, nos relvados do futebol profissional.
Antes dele, quando um grupo de rapazes traquinas se juntavam para "jogar à bola", ninguém queria ir à baliza. Os garotos eram Figueiredo ou Eusébio, mais remotamente, Peyroteo ou Espírito Santo, nunca guarda-redes. Por isso, o engenho dos rapazolas criou a figura do guarda-redes avançado, limitando os danos de quem era incumbido de tão maçadora quão castradora missão. Mais tarde, nova engenhoca dos petizes, o "keeper" ia rodando entre todos os compinchas para não penalizar, por muito tempo, qualquer um deles.
Até que surgiu Damas. Como outrora dizia Comte, "tudo na vida é relativo, e isso é o único valor absoluto". Damas foi o maior porque maior era Eusébio e vice-versa, tal "yin" e "yang", dois seres que se complementavam e davam corpo à sua existência, em que o "yin" era Damas, com a sua elegância e sapiência na baliza que transmitiam grande tranquilidade à equipa e aos adeptos, e o "yang" era Eusébio, com a sua vigorosa acção criativa digna de um Rei. Se Eusébio era o Pantera Negra (cientificamente, mutação genética de uma Panthera, designada por "melanismo", Damas era o Leão Branco ("Panthera Leo", mutação genética oposta ao melanismo, designada por "leucismo").
Quando em 9 de Novembro de 1969, Damas realizou a "parada do campeonato", ajudando o Sporting a ser campeão, com uma defesa por instinto após cabeçada de Eusébio, não foi só o Pantera Negra que, já festejando de braços abertos, ficou incrédulo. O estádio inteiro "se levantou" para aplaudir, consciente de que tinha assistido a uma impossibilidade física, como se outra dimensão tivesse penetrado no nosso Sistema Planetário. Eusébio teve consciência desse momento e imediatamente, como grande desportista que era, correu a abraçá-lo, contribuindo para elevá-lo à imortalidade.
Este duelo perduraria até Eusébio "pendurar as botas", o que, acto contínuo, foi seguido por a saída de Damas do Sporting, rumo à Espanha, quiçá por falta de motivação, por sentir que o grandioso combate jamais se repetiria.
Assim acabariam 9 anos de expoente máximo, de fábula, de encantamento, embora Damas ainda tenha regressado, anos depois, para cumprir 5 boas épocas.
Outro momento de Ouro, viveu-o em Wembley, ao serviço da Selecção Nacional, em 20 de Novembro de 1974, aguentando estoicamente, com 6 grandes defesas, um empate a zero do Portugal "dos pequeninos" (Octávio, Alves, Osvaldinho,...) contra os super-favoritos ingleses. Uma dessas defesas ficou conhecida nos "media" britânicos como "a defesa do Século " e foi mais ou menos assim: perda de bola na esquerda da nossa defesa, por Osvaldinho, contra-ataque inglês, bola em Gerry Francis, isolado na área, pela direita, simulação de remate e cruzamento para trás onde apareceu David Thomas a encostar, a meia altura, para a baliza deserta (Damas ficara a tapar o primeiro poste e a hipótese de remate). Eis que surge então Damas, felino, o Leão Branco, em extensão inimaginável, a sacudir a bola na exacta projecção dos postes perante a descrença do jogador inglês.
Com a emergência de Damas, nas peladas, em balizas improvisadas com malas da escola, já todos queriam ser Damas e imitar o ídolo, o mito, a sua elegância, agilidade, elasticidade, diria até, plasticidade entre os "postes".
E nos relvados do futebol profissional, todos os guarda-redes se inspirariam nele, herdando o seu estilo proactivo em detrimento de uma doutrina antiga mais reactiva, passando a ser mais intuitivos, instintivos e antecipativos, tentando adivinhar o movimento do avançado adversário.
Que saudades de ver Vítor Damas, o Eusébio do Sporting nas sabias palavras de outro grande, Carlos Pinhão. Devido a ele, eu também FUI, SOU e SEREI DAMAS."
Doze anos.
Este foi um dia grande para o Sporting. Por vários motivos:
- O presidente Bruno de Carvalho colocou esta manhã, solenemente, a primeira pedra do futuro pavilhão João Rocha, tantas vezes prometido por outras direcções e tantas vezes adiado. E comprometeu-se a uma data já traçada para a conclusão da obra: Dezembro de 2016;
- Dois campeões sportinguistas passam a partir de agora a figurar na toponímia lisboeta, dando nomes a ruas nas imediações do estádio: José Travassos e Vítor Damas. A cerimónia de descerramento das placas contou com a presença do vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina;
- A equipa principal de futebol, reforçada por jogadores do Sporting B, trocou hoje Alcochete por Alvalade, fazendo um treino aberto no nosso estádio presenciado por cerca de quatro mil adeptos - três dos quais foram escolhidos para se associarem aos jogadores no relvado;
- Bruno de Carvalho assinalou também hoje o segundo aniversário da sua posse como presidente do Sporting com uma extensa entrevista ao Record em que deixa bem claro que contará com Marco Silva para a próxima temporada oficial de futebol.
- Ainda hoje, Wallyson renovou contrato com o clube até 2021, mantendo-se a sua cláusula de rescisão em 45 milhões de euros.
Um dos melhores escritores portugueses actuais, Bruno Vieira Amaral, apesar da infelicidade de ser benfiquista (no melhor pano cai a nódoa) escreveu isto:
"Eu tinha 10 anos e o sonho de ser guarda-redes. Estava sentado na bancada poente do velho estádio D. Manuel de Melo, no Barreiro. Era o jogo de apresentação do Barreirense. O Sporting foi a equipa convidada mas que como se sabia que não iria levar as maiores estrelas o estádio estava quase vazio. Na baliza à minha frente, estava o guarda-redes, de costas para os raros expectadores. Os colegas, miúdos com idade para serem filhos dele, chutam umas bolas molengas, tentando desenhar com a preguiça de Agosto arcos sobre o guarda-redes, que nem se esforça para chegar às bolas, basta seguir a trajectória com o olhar. Uma sobrevoou a baliza e aterrou duas filas abaixo de onde me encontrava. O guarda-redes virou-se para a bancada e eu atirei-lhe a bola, que não lhe chegou. Atirei-a novamente, então com todas as forças para não o desiludir. Ele segurou a bola e voltou para a baliza, para o lugar que era o dele. Depois de mais alguns remates, recolheram aos balneários e, para mim, o jogo que ainda não começara terminou nesse momento, o momento em que Vítor Damas se virou para a bancada e eu pude admirá-lo na elegância intacta dos seus 40 anos. Nós, benfiquistas, tínhamos o Bento louco, corajoso, cão de guarda; os sportinguistas tinham um príncipe, um guardião. O Damas não era do Sporting, era meu. Era ele que inspirava o meu sonho de ser guarda-redes. Foi a única vez que o vi num campo de futebol, no ocaso da carreira mas, inegável e soberano, ainda era o Damas. Nunca mais me esqueci daqueles minutos."
E está dito.
«Damas já deve ter recebido Eusébio de braços abertos e a esta hora estão a bater-se de novo para alegria e regalo de todos.»
Do nosso leitor Lancero, neste meu texto
Nunca vi o Eusébio jogar, mas não me esqueço das lágrimas que verteu, profundamente comovido, no funeral do Vítor Damas, um dos maiores ídolos de sempre do Sporting, a quem chamaram "Eusébio do Sporting", e que disse um dia dever a baliza do Sporting ao "King".
Essa imagem do Eusébio a chorar convulsivamente marcou-me. Prova melhor da sua grandeza e admiração, para além do próprio Benfica, não poderia haver.
A propósito da ultrapassagem, por Cristiano Ronaldo, do número de golos marcado por Eusébio na selecção, a comunicação social, desportiva e não só, tem-se agitado freneticamente nos últimos dias, procurando, tomada de justa indignação, contrariar os ímpios que, manifestando uma impensável e inadmissível ousadia, se atrevem, com malévolo repúdio dos dogmas desta religião, a considerar o jogador do Real Madrid ou Figo, este muito poucos, como o melhor futebolista da história do futebol português. O próprio Eusébio veio a terreiro, compreensivelmente choroso e amuado, queixar-se do crime de lesa-majestade que estará a ser cometido, já que, como é evidente, nunca pensara na iníqua possibilidade de alguém se abalançar a tal blasfémia. Se podemos entender a mágoa do moçambicano, já é mais complicado aceitar a argumentação invocada, cuja inanidade, tendo em conta as suas origens reais, podemos, se é que não devemos, submeter a piedoso silêncio.
Como se conclui da atenção prestada à sucessão de peças jornalísticas sobre o assunto, que, no geral, professam a ideia de que colocar a questão é, só por si, ofensivo da tradição e da memória, da história e da mitologia pátrias e, principalmente, de Eusébio e do Benfica, este arremedo de discussão não tem qualquer possibilidade de fazer nascer a luz, com evidente prejuízo de quem, como eu, aguarda ansiosamente um parecer definitivo e conclusivo sobre a matéria.
Atormentado pela dúvida, decidi, eu próprio, tomar uma posição e proceder, como quase todos os jornalistas, opinadores profissionais e comentadores sortidos, em função da minha paixão clubística. Aqui chegado, a minha opção foi extremamente fácil. Vítor Damas. O nosso extraordinário guarda-redes constituiu-se, para mim, atreito como sou a tiques idólatras, numa figura única na história do futebol nacional e do Sporting. A sua fantástica elasticidade, técnica individual, inclusivamente no momento de sair a jogar com os pés, capacidade de comando dos homens à sua frente, visão de jogo, vontade de fazer bem e de ganhar e praticamente quase todos os atributos que fazem os grandes guarda-redes transformaram-no, auxiliados por incontáveis defesas monumentais e exibições inesquecíveis, até em jogos em que o nosso clube foi goleado, num modelo irrepetível de jogador talentoso e hábil, generoso e de inexcedível dedicação ao futebol e ao clube.
Para mim, o grande Vítor Damas, perante cuja memória me comovo e me inclino sentidamente, é o melhor futebolista português de sempre. RIP.
Na Bola diz que faz hoje dez anos, noutros sítios que foi dia 10. Francamente não sei a data certa, lembro-me do minuto de silêncio em homenagem a Damas. Dos mais comoventes que vi em Alvalade. Dobramos aqui o cantinho a assinalar os dez anos e fica assim.
Já muito se tem dito sobre ele e eu, que era criança quando jogou no Sporting, não poderia dizer melhor que quem, adulto, o viu no auge. Mas hoje lembrei-me de uma das memórias do tempo em que vi Damas (não) jogar. E percebe-se já o não.
Cresci, claro, a saber que aquele era o guarda-redes do Sporting, vi-o várias vezes jogar, mas nessa altura, ou nesse jogo, não era Damas o titular. Rodolfo Rodriguez (por isso eu teria 12, 11 anos) devia estar a fazer uma exibição tão boa ou tão má, que me lembro da bancada central chamar naquele tom baixinho mas assertivo: "Da-mas Da-mas". Na altura aquilo pareceu-me um bocadinho malcriado, mas a verdade é que não me lembro de ver uma bancada pedir para entrar um guarda-redes.
Vítor Damas, um dos melhores guarda-redes portugueses de sempre, nasceu a 8 de Outubro de 1947 em Lisboa e morreu prematuramente aos 55 anos, em Setembro de 2003. Este mítico jogador, senhor de inaudita elegância dentro e fora dos relvados, fez nada mais nada menos do que 444 jogos oficiais em dezanove épocas ao serviço do seu clube do coração. A sua ascensão à titularidade no primeiro escalão do futebol leonino coincide com a minha tomada de consciência “sportinguista”. Acresce que um guarda-redes destaca-se no campo não só porque se equipa de cor diferente, mas porque assume o solitário papel idiossincrático dum homérico contrapoder – cabe-lhe a missão de se transcender de corpo inteiro, incluindo as mãos, na obstrução do maior objectivo dum jogo que se joga com os pés: o golo. Assim se entende como ele é por natureza um cromo tão difícil, definição que encaixa como luvas no mítico guardião leonino.
Talvez seja por isso que, na perspectiva de uma criança, não só o ponta-de-lança mas também o guarda-redes adquiram tanta importância num jogo ainda difícil de interpretar: tratam-se afinal do primeiro e último reduto do exército no campo de batalha. Nesse sentido, tomar consciência do futebol com protagonistas como Yazalde e Vítor Damas foi um privilégio que sustentou o meu sportinguismo. Nas brincadeiras, “ser o Damas” era o privilégio de ser a antítese de Eusébio, o incontestável ídolo da época, que quando um dia lhe perguntaram qual a sua melhor memória do velhinho estádio de Alvalade, em vez de se referir aos seus golos ou vitórias, aludiu a uma extraordinária defesa do Damas ocorrida em 9 de Novembro de 1969 que então ocasionou a vitória ao Sporting por 1-0. Por estas e por outras é que Carlos Pinhão, histórico jornalista de A Bola, descreveu em manchete o mítico guarda-redes leonino como “o Eusébio do Sporting”. Foi sem dúvida um dos melhores guarda-redes portugueses de sempre.
De facto, Vítor Damas distinguia-se entre os postes pela garra, intuição, agilidade e elegância. Mas fora dos relvados diferenciava-se por uma erudição na época invulgar no meio: sabia exprimir-se como poucos colegas, e a determinada altura manteve até uma crónica regular no jornal do Sporting - um traço que para mim fazia toda a diferença.
Dizem que Damas era irreverente e que tinha "mau perder", que entre os postes era capaz do melhor e do pior de um jogo para o outro. Mas acontece que era um líder da equipa e que do coração sangrava verde e branco até a última gota. Uma qualidade rara nestes tempos: foi desde menino que orgulhosamente envergou e dignificou a camisola verde e branca, com a qual toda a vida se bateu e com que veio a morrer e tornar-se para toda uma geração um verdadeiro ídolo. Assim, decidiu viver para sempre. Quantos contratos milionários isso não vale, Rui Patrício?
Descobri-o agora, a este cromo tão lindo.
A propósito deste post do João E. Severino, lembrei-me de um outro que escrevi em tempos num blog pessoal. Copio parte para aqui agora porque é este o lugar dele.
"Domingo fui ao estádio. Era o último jogo do Sporting em Alvalade no campeonato deste ano. E que lástima de campeonato… quarto lugar conseguido – digo bem, conseguido – sem esforço nenhum. Mais por trapalhice dos que se seguem que propriamente mérito do meu clube. Mas adiante que de clube não se muda e lá estarei para o ano, sempre muito crente e cheia de esprança.
Voltando ao jogo. Não me apetecia ir. Tenho andado moody – ou em português, armada em parva – e tinha pouca vontade. Mas tinha bilhetes, sempre era um programa, e gosto sempre de ir ao último jogo da época. Antes que me arrependesse lá fui. Dormi a viagem toda o que em mim já é sintomático uma vez que não moro em Bragança e o caminho até Alvalade é no máximo meia hora havendo algum trânsito.
Abra-se aqui parentesis para falar de João Morais. O Morais, como sempre ficou conhecido, fez parte da equipa do Sporting que em 64 ganhou a taça das taças. Esta taça é o único troféu europeu do Sporting e a única taça das taças em Portugal. Por um motivo e outro, é uma data reconhecida e acarinhada pela maior parte dos sportinguistas. Mesmo os que como eu nasceram anos mais tarde. Nessa final, o golo foi marcado pelo Morais, de canto. Mais até que a taça, o canto de Morais é mítico no Sporting. Há uma música, e conheço pelo menos um café que se chama “o cantinho do Morais”, mas as alusões a este golo de canto, em ambiente verde e branco são inúmeras, todos conhecemos o canto do Morais. A semana passada, com 75 anos, morreu Morais. Fecha parentesis, de volta ao estádio.
Aquecem equipas, descem e sobem já para o jogo. O speaker anuncia “antes da partida vai fazer-se um minuto de silêncio” aqui estremeci e lembrei-me “ui, o Morais”. Ultimamente, nos minutos de silêncio quando se trata de um jogador, há palmas. O minuto passa a dois: um em silêncio, outro de palmas. Só palmas. É arrepiante já que num estádio normalmente há toda uma esquizofrenia de sons. Alguns silêncios mas muito breves e que normalmente não são bom sinal. As palmas aconteceram por exemplo com Damas, Jesus Correia e Feher. Este último não foi atleta do clube como sabemos, mas evidentemente o choque foi geral e não olha a cores. Tétrico, eu sei. Mas são homenagens e só as faz quem lá está naquele dia.
Continuando no jogo de Domingo então. Estão ambas as equipas no meio campo imóveis e o público, todo de pé, divide-se entre os que aplaudem e os que prestam a última homenagem a Morais em silêncio. Nos ecrans, as imagens do famoso e significativo canto. Eu soluço. Sim. Vamos adiar comentários para o fim do post. O speaker tinha dito também que dois elementos mais jovens da academia prestariam uma homenagem simbólica e aquilo fez-me confusão “que homenagem farão dois miudos se se está a fazer o minuto de silêncio? mais invenções...”. Ai senhores… de ramo de flores, os dois pequenos dirigiram-se à marca de canto para lá as deixarem. Foi o fim. Se eu fosse um dvd com legendas em inglês hearing-impaired diria nesse momento “sobbing”. Os minutos de silencio são arrepiantes e eu pelo-me – sinistramente, admito – por momentos destes. Emociono-me, mas não costumo chorar. Não ando decididamente muito bem, mas também não vejo com muita surpresa o facto de ter chorado ali. That’s me alright.
5 de Maio de 2010"