Bom jogo de futebol ontem em Leiria, onde o Sporting encontrou pela frente uma equipa bem organizada e com um atacante possante difícil de parar.
Com Pedro Gonçalves mais uma vez como vagabundo ofensivo, o Sporting praticamente atacava com uma linha de 6, ficando Hjulmand sozinho a tomar conta do meio-campo, e que bem o fez. E como evoluiu este dinamarquês vindo duma equipa italiana do meio da tabela, agora sob as ordens de Rúben Amorim. Um patrão no meio-campo.
Sempre jogando duma forma colectiva, tentando entrar na área adversária por tabelinhas ou slalons intencionais, com Edwards e Catamo a fazer dupla difícil de travar, o Sporting foi acumulando oportunidades, que por falta de sorte ou boa actuação do guarda-redes adversário não foram concretizadas. O primeiro golo surgiu duma grande cabeçada do Gyökeres "à Cristiano Ronaldo", dos melhores que marcou esta época.
Na 2.ª parte o U. Leiria entrou a correr e o Sporting demorou a voltar ao controlo da 1.ª parte. Finalmente veio o terceiro golo e o jogo praticamente terminou. Tempo para Morita reaquecer o motor e Neto fazer uma falta útil.
Melhor em campo? Hjulmand, depois Gyköeres como quase sempre.
Menções honrosas para Eduardo Quaresma e Franco Israel, boas exibições. Quaresma nem parece o mesmo: sereno, marca em cima, não falha um passe.
Arbitragem? Arrogante, a disparar cartões, a falhar no momento crítico, a bola na mão do jogador adversário, uma arbitragem ao nível do VAR do Sporting-FC Porto que perdoou dois golos à equipa portista. Nuno Santos safou-se do vermelho, havia contas a ajustar decorrentes do Sporting-Marítimo da época passada.
E agora? Braga no próximo domingo em Alvalade. Para mim, em termos de importância dos jogos da Liga, o segundo mais importante. Temos mesmo de ganhar.
Gyökeres e Pedro Gonçalves festejam o segundo golo leonino em Leiria: estamos nas meias-finais da Taça
Foto: Pedro Cunha / Lusa
Gostei muito de ver o estádio Magalhães Pessoa, em Leiria, cheio de adeptos leoninos a puxar pela equipa. Dos mais de 20 mil espectadores que encheram as bancadas, grande parte incentivava o Sporting. Os jogadores corresponderam, valorizando a festa da Taça de Portugal. Outra vitória concludente do onze comandado por Rúben Amorim, desta vez por 3-0 - com dois dos golos oriundos de cantos, em demonstração clara de que sabemos aproveitar cada vez melhor os chamados lances de "bola parada". Sem darmos a menor hipótese à simpática turma adversária, que ocupa o 13.º posto da segunda divisão. Assim marcamos presença na meia-final desta competição, que queremos muito vencer. Iremos defrontar Benfica ou Vizela, que jogarão amanhã.
Gostei de Gyökeres, uma vez mais. Para não variar, foi o melhor em campo. Marcou dois golos: o primeiro, aos 32', e o terceiro, aos 74'. E ainda foi ele a assistir no segundo: cruzamento a régua e esquadro para Pedro Gonçalves (37'). É um jogador assombroso, tanto do ponto de vista físico como técnico - um dos melhores que passaram desde sempre pelo Sporting. Só na Taça de Portugal, já tem cinco bolas enfiadas nas redes adversárias. Pedra nuclear nesta nossa equipa que sonha com a dobradinha e nos tem propiciado tantos momentos de excelente futebol. Reveja-se o magnífico lance do segundo golo, exemplo de eficácia máxima, conseguido com três toques: passe longo de Nuno Santos junto à linha esquerda, centro do sueco e o melhor português da nossa equipa a metê-la lá dentro. Isto é festa da Taça também.
Gostei pouco que estivéssemos a um pequeno passo da goleada: só faltou um para lá chegarmos. Mas ocasiões não faltaram. Novamente pela falta de sorte, como no mesmo estádio há duas semanas quando perdemos com o Braga para a Taça da Liga. Mas sobretudo por excelentes intervenções do guardião do Leiria, Kieszek. Anotei estas ocasiões soberbas de golos que não se concretizaram por uma unha negra: Gyökeres aos 5'; Trincão aos 23', aos 51' e aos 65'; Gyökeres novamente aos 73'; Pedro Gonçalves aos 82'; Daniel Bragança aos 84' e Nuno Santos aos 90'. Demasiadas.
Não gostei do desempenho do árbitro Tiago Martins. Não porque tivesse influência no resultado, mas pela profusão de cartões amarelos, exibidos a torto e a direito, por tudo e por nada, numa partida que foi correctíssima. Só dos nossos, quatro viram cartões: Nuno Santos aos 16', Edwards aos 38', Trincão aos 45'+4 e Neto aos 88'. Péssimo hábito de muitos ápitadores portugueses, que adoram ser o centro das atenções nos jogos. Sem adoptarem o chamado "critério largo" que vigora no melhor campeonato do mundo, o inglês. Esquecendo que o futebol é desporto que prima pelo contacto físico. Assim é difícil voltarmos a ver portugueses a apitar fases finais de campeonatos do Mundo ou da Europa.
Não gostei nada que Amorim continue sem contar com Diomande, ainda retido ao serviço da selecção da Costa do Marfim no Campeonato Africano das Nações, onde não tem jogado e por vezes nem no banco se senta. Um mês de paragem inglória, em boa verdade. Má notícia para nós. Felizmente Geny veio mais cedo, já podemos contar com ele e ontem foi titular, fazendo uma boa primeira parte. Também Morita está de volta, regressado da Taça Asiática. Ontem só entrou aos 72', substituindo Trincão, mas deu para ver que não perdeu o jeito. Nem a vontade de mostrar serviço.
Se a desistência da União de Leiria se vier a confirmar e resultar na anulação dos pontos em todos os jogos em que participou, a classificação geral nesta data será a seguinte:
1. Porto........................63 (-6)
2. Benfica.....................60 (-3) * Com apenas um jogo por jogar.
3. Braga.......................56 (-3)
4. Sporting...................50 (-6)
5. Maritimo...................42 (-6)
6. Guimarães................39 (-3)
7. Nacional...................37 (-1) * Com apenas um jogo por jogar.
8. Olhanense................29 (-6)
9. Gil Vicente................27 (-4)
10. V. Setúbal................27 (-3)
11. Beira-Mar.................26 (-3)
12. Rio Ave....................24 (-3)
13. Paços Ferreira...........23 (-6)
14. Académica................19 (-4)
15. Feirense...................18 (-6)
A desastrosa consequência para o Sporting, é que mesmo vencendo os últimos dois jogos não será suficiente para assegurar o 3º lugar, desde que o Braga vença ou empate com o Beira-Mar amanhã, com o acrescido negativo que este não necessita de pontuar para garantir a permanência, uma vez que apenas perdeu 1 ponto com o ajustamento, enquanto o Paços de Ferreira perdeu 6, Feirense 6, Académica 4 e o Rio Ave 3.
Enquanto o País Opinativo ainda debatia acaloradamente a corrida aos preços baixos numa cadeia de hipermercados, consumava-se um caso muito mais insólito, digno de telenovela mexicana, que põe claramente em causa a credibilidade do futebol português. A duas jornadas do fim do campeonato, a União de Leiria retira-se da competição após 13 jogadores terem anunciado a rescisão dos contratos de trabalho alegando incumprimento dos deveres elementares da entidade patronal. Com inevitáveis consequências a vários níveis - incluindo nas tabelas classificativas.
Sem querer entrar na questão de fundo, deixo apenas uma pergunta: como é possível continuarem a ser inscritas nas ligas profissionais equipas sem a menor solidez financeira? Gasta-se tanto tempo e tanto espaço informativo a discutir as apitadelas dos árbitros quando a discussão devia começar precisamente por aqui.
ADENDA às 21.00: depois de dizer isto, o presidente da U. Leiria vem agora dizer isto. Parafraseando Pimenta Machado, o que de manhã é verdade à tarde torna-se mentira. Ou vice-versa.
Se houvesse um módico de bom senso o escabroso enredo do União de Leiria transformava-se no case study do futebol português. Mas não vai acontecer.
Este clubezeco é um mistério. Toda a gente sabe que em Leiria o clube popular e histórico é o Marrazes, no entanto todas as benesses recaíram sobre o anódino União, campeão das bancadas às moscas, pelo que óbvio merecedor de um faraónico estádio, por via da fúria construtivista do Euro 2004.
Desde a criação da Liga que o futebol em Portugal vive entalado entre duas opções, sempre optando pela pior. Ou se converte naquilo que ele já é em qualquer outro país da Europa, uma indústria profissional de entretenimento de massas (O Real Madrid- Barcelona teve um mercado televisivo de 400 milhões de espectadores!!!), sujeito à racionalidade económica que isso implica; ou continua a ser um sombrio enredo de favores, agregado a interesses locais, gerido por uma corja de crápulas autárquicos – é favor ler o livro de Maria José Morgado onde vem escalpelizado tim por tim o famigerado triângulo futebol-autarquia-construção civil.
Ou o futebol continua a atender aos interesses da Associação da Guarda (apenas por exemplo) a ver se consegue puxar a si uma brasita do fraco lume, ou vai no sentido de promover a competitividade, o investimento, o valor dos direitos do espectáculo. Sim, isto corresponde ao interesse dos grandes clubes que se chamam assim porque é à roda deles que estão 80% dos adeptos, dos que pagam para ver.
Também toda a gente sabe que este estado de coisas tem um nome e um master mind: Futebol Clube do Porto. Na sua estratégia para combater o suposto centralismo de Lisboa, disseminou influências pelas capelas do norte, prometendo aqui e ali isto e aquilo, assim garantindo uma rede de compadrios entre as sigilosas Associações de Futebol, capaz de pôr o dedo na balança quando de vez em vez se pretende sanear um pouco que seja tão mesquinho e funesto estado de coisas.
É este o sistema, é esta mão que nele manda e o resultado são as Uniões de Leiria da vida. Querem uma solução? Faça-se um campeonato com 10 clubes e 4 voltas. 36 jogos de grande competição, estádios cheios, direitos de tv mais valiosos, clubes com possibilidade de ganhar massa crítica. Isto dá para todos? Não só para alguns, os mais organizados e com maior base de apoio. É o fazes...