Aveiro, Leiria, Algarve: três "sobras" do Euro-2004
Portugal, Espanha e Marrocos (!) vão apresentar candidatura conjunta à realização do Campeonato do Mundo de Futebol de 2030 - juntamente com a Ucrânia (!).
Respeito profundamente a dor e o sofrimento dos ucranianos, que há seis meses se viram forçados a suspender as competições desportivas devido à invasão russa.
Desejo-lhes tudo de melhor. Que regressem tão cedo quanto possível à vida normal, em paz e em liberdade. Com os invasores finalmente fora do seu país.
Há sempre uma justiça poética nestas coisas. O mesmo treinador que ao chegar ao Benfica pela segunda vez prometeu «arrasar» e pôr a equipa a «jogar o triplo» mas acabou por sair ano e meio depois, de queixo no chão e sem título algum (52 vitórias, 17 empates e 14 derrotas; 182 golos marcados e 80 sofridos), acaba de conduzir o actual clube, o Fenerbahçe, a um primeiro desaire: afastado na segunda pré-eliminatória da Champions, pelo Dínamo de Kiev.
Foi o mesmo que ao vencer a Taça Libertadores pelo Flamengo se apressou a declarar, com a soberba que o caracteriza: «Daqui a 50 anos vão lembrar-se que foi um português que conquistou a Libertadores.» Como se fosse proeza que só ele pudesse conseguir. Azar: logo nos dois anos seguintes, o compatriota Abel Ferreira conseguiu o mesmo, ao leme do Palmeiras, clube com menos recursos financeiros e desportivos.
Só podia ser Jorge Jesus. O tal que um antecessor de Frederico Varandas, num desesperado e fracassado all in, trouxe do Benfica para o Sporting para «ganhar tudo» acabando por não vencer quase nada.
Uma coisa é certa: no campeonato da prosápia, ninguém bate este técnico que alguns tansos ainda parecem idolatrar em Alvalade. Já terá aprendido a dizer «teriam que nascer dez vezes» e «Palhinha não levou o guião certo» em turco?
Há mesmo uma justiça poética nestas coisas. Por motivos que me dispenso de sublinhar, alegra-me muito ver o Dínamo de Kiev na Champions, nestes dias tão dramáticos para o clube e os seus adeptos.
A Fórmula 1 anunciou a rescisão do contrato com Moscovo para a realização do Grande Prémio da Rússia. Esta competição anual fica eliminada do calendário automobilístico.
No dia 26 de Fevereiro publiquei um postal apelando à união, ao respeito, à solidariedade dos jogadores russos, especificamente, Chishkala e Robinho, com o povo mártir ucraniano.
Hoje, Yarmolenko, um jogador de futebol nascido na Rússia, capitão da selecção ucraniana fez o mesmo, com mais veemência, propriedade, sentimento e assertividade:
"Matam mães, matam os nossos filhos, matam as nossas gentes e vocês continuam sentados, como idiotas e não dizem nada?
Organização do Mundial de Voleibol, que devia realizar-se em Agosto e Setembro, foi retirada à Rússia devido à acção armada desencadeada contra a Ucrânia. A notícia foi ontem divulgada pela federação internacional da modalidade.
A Adidas acaba de anunciar a retirada do patrocínio à federação russa de futebol, com efeitos imediatos, como protesto pela agressão de Moscovo à Ucrânia.
A comissão executiva do Râguebi Mundial anunciou a suspensão das selecções da Rússia e da Bielorrússia de todas as competições internacionais, em protesto contra a «violenta invasão» da Ucrânia por forças militares daqueles países.
«Georgii Zantaraia anunciou que está em Kiev para ajudar na defesa do seu país. O judoca ucraniano, antigo atleta do Sporting, fez uma publicação nas redes sociais, de metralhadora Kalashnikov - AK47- na mão e diz-se pronto para defender o seu país.
“Estou em Kiev e vou ficar até ao fim”, pode-se ler na legenda da fotografia publicada por Georgii Zantaraia, antigo campeão do mundo, na categoria de -60kg.»
vários jogadores ucranianos foram aplaudidos como forma de solidariedade.
Um exemplo de coragem:
«O treinador do Sheriff, Yuriy Vernydub, que após o encontro da segunda mão do play-off de acesso à Liga Europa, com o Braga, afirmou que quando chegasse à Moldávia iria pedir para ir à Ucrânia, mostrando-se disponível para ajudar o país no que fosse necessário, juntou-se ao exército.»
«Daria Bilodid, ex-atleta de judo do Sporting, relata um cenário de terror em Kiev, garantindo ter acordado “às seis da manhã com as explosões”. A ucraniana de 21 anos, bicampeã mundial da modalidade na categoria de -48kg, deixo o apelo por paz.
“Hoje acordei às seis da manhã com as explosões em Kiev, não tenho palavras, estou com muito medo e rezo pela minha família e pelo meu país. A Rússia começou a bombardear-nos, a guerra começou. Até recentemente não acreditava que isto pudesse acontecer. Para quê arruinar a vida das pessoas? Rússia e Bielorrúsia, parem. Queremos paz, queremos viver”, escreveu, nas redes sociais.»
O Manchester United acaba de anunciar a rescisão, por sua iniciativa, do contrato de patrocínio - no valor de 40 milhões de libras, cerca de 48 milhões de euros - que o ligava desde 2013 à Aeroflot, empresa estatal de aviação da Rússia. Esta decisão ocorre como protesto pela invasão, ontem concretizada, da Ucrânia pelas forças armadas de Moscovo.
Bruno Paixão diz-nos que sempre foi um homem sem paixão, sem ilusão, sem demasiado conhecimento.
Sempre que entrava em campo, só sabia que ia apitar um jogo, o clube A (de aliciamento) contra o clube B.
Hoje, cada um de nós, também, toma uma posição, parece fácil dizer:
"Somos todos, Yaremchuk"
Somos?
Alguém perguntou aos cidadãos russos Robinho e Chishkala se renunciam à camisola da equipa A (de agressor) se estão solidários com o colega/camarada ucraniano?
Equipa A, contra equipa B, o jornalismo fofinho sentado na bancada, a assistir.
Esta é a altura de ser diferente, de ter coragem para perguntar o que ninguém pergunta.
- Robinho e Chishkala vão continuar a jogar na equipa A?
Obviamente, a final da Liga dos Campeões não pode disputar-se em território russo. E é tempo de questionar sem demora o patrocínio da Gazprom à competição.
Parafraseando o outro, há mais vida para além do futebol.
Adenda, às 16.45: a Associated Press acaba de anunciar que a final, prevista para 28 de Maio, já não será na Rússia.
Já são conhecidos os quatro semifinalistas do Campeonato da Europa. Depois de italianos e espanhóis, apuraram-se dinamarqueses e ingleses.
A maior surpresa deste Euro-2021 tem sido a selecção da Dinamarca. Começou desfalcada, num jogo dramático, em que perdeu a sua figura mais emblemática: Eriksen, vítima de uma síncope, chegou a estar clinicamente morto no relvado. Felizmente foi salvo a tempo.
Parece que esta quase-tragédia deu alento suplementar à equipa nórdica, que em 1992 começou como outsider e terminou como campeã europeia. O trajecto que tem seguido, contra ventos e marés, revela essa capacidade de fazer das fraquezas força.
Foi o que aconteceu ontem, em Baku, frente à República Checa. Vitória categórica, começada a construir logo aos 5', com golo de Delaney. Aos 42', ampliaram a vantagem num belo golo de Dolberg, correspondendo da melhor maneira a uma assistência de trivela de Maehle, lateral esquerdo que joga com o pé direito e é titular da Atalanta.
A República Checa, após a dupla substituição operada ao intervalo, reagiu e tentou virar o resultado. Começou bem, aos 49', com um golo de Schick: o avançado do Bayer Leverkusen igualou Cristiano Ronaldo na lista dos marcadores do Europeu: estão ambos com cinco. Mas Cristiano ganha vantagem no confronto por ter menos minutos.
Houve muita incerteza, mas o resultado não se alterou. Destaque, nos checos, para o guarda-redes Vaclik (como é possível estar sem clube?), o médio ofensivo Barak e o avançado Vydra: todos são jogadores acima da média.
Mas a minha selecção favorita, não escondo desde o início, é a dinamarquesa. Além dos jogadores já mencionados, destaco o jovem avançado Damsgaard (que ontem fez 21 anos), o central Christensen (campeão europeu pelo Chelsea), o ponta-de-lança Poulsen (quase marcou, com um excelente disparo à baliza, aos 78'), o extremo Braithwaite e sobretudo o guarda-redes Kasper Schmeichel (enormes defesas aos 22', 46', 47' e 74'), filho do campeão leonino Peter Schmeichel. Teve um bom mestre lá em casa.
Os dinamarqueses chegam às meias-finais, 29 anos depois, sendo a segunda equipa mais goleadora do torneio: 11 golos. Só a Espanha, com um mais, conseguiu fazer melhor.
Dinamarca, 2 - República Checa, 1
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Finalmente, uma goleada inglesa. Aconteceu também ontem, em Roma - única partida que a Inglaterra disputa fora das ilhas britânicas neste Europeu. Contra a Ucrânia, que nunca tinha ido tão longe num torneio deste género.
Domínio absoluto da Inglaterra, que desde 1966 aspira à conquista de outro título europeu ou mundial. Parece bem encaminhada, agora também no capítulo do golo - desta vez marcou tantos como nos quatro jogos anteriores desta fase final.
Tem excelentes executantes - não apenas no plano físico ou táctico, mas também no plano técnico. Kane, Mount, Shaw, Sancho, Rashford, Phillips, Grealish, Folden, Henderson. E, acima de todos, Sterling - talvez o melhor interior esquerdo do futebol actual.
Seguem em frente com oito golos marcados e nenhum sofrido. É obra.
O sal do futebol é o golo: por mais elaborados que sejam os esquemas tácticos, por mais técnica individual que revelem alguns jogadores, nada disto tem grande significado sem golos.
Até agora, vi dois que merecem destaque. O primeiro foi ontem marcado por Yarmolenko, no Holanda-Ucrânia disputado em Amesterdão: o chamado golo de fazer levantar um estádio. Num remate em arco com o pé esquerdo para para o canto superior direito da baliza holandesa. Vale a pena ver e rever.
A Ucrânia perdia por 0-2, este tiro nas redes holandesas relançou o jogo: quatro minutos depois Yaremchuk estabelecia o empate, pondo a selecção laranja em sentido.
Tudo podia acontecer. Mas Dumfries, um defesa com vocação goleadora, encarregou-se de fixar o resultado aos 85', assumindo-se como figura do jogo. Grande segunda parte - a melhor, até agora, deste Europeu. Com todos os golos marcados neste período e resultado incerto até ao fim.
Este golo foi memorável só durante 24 horas. Porque hoje surgiu outro que o destronou. E que se arrisca desde já a ser eleito o melhor do Euro-2021. Um espectacular chapéu enfiado com precisão cirúrgica, à distância de 45 metros, na baliza da Escócia. Que até jogava em casa, incentivada pelo seu público, em Hampden Park (Glasgow).
Autor desta proeza, aos 52': Patrick Schick, avançado do Bayern Leverkusen. Que bisou neste embate da República Checa com os escoceses: já tinha sido dele o golo inicial, marcado de cabeça, aos 42'. É desde já uma das grandes figuras deste Europeu, que está a registar bons confrontos. Não exigimos menos que isto no patamar máximo do futebol.
Holanda, 3 - Ucrânia, 2
Escócia, 0 - República Checa, 2
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