Gonzalo Plata, internacional equatoriano com apenas 19 anos de idade, é claramente uma das melhores contratações feitas por Frederico Varandas para o futebol leonino, como aqui assinalei há mais de três meses.
A imprensa desportiva da passada quinta-feira, analisando o confronto da véspera entre o Sporting e o Gil Vicente, não teve a menor dúvida: elegeu-o como melhor em campo. Confirmando a minha observação,publicada hora antes.
Não custa perceber porquê: ele marcou um dos golos e fez assistência para o outro: foi decisivo para os três pontos conquistados pela nossa equipa.
Valeu-lhe - e valeu-nos - que este jogo fosse disputado à porta fechada em Alvalade, sem a presença de público. Se não fosse assim, este talentoso jovem que vem completando a sua formação desportiva no Sporting teria sido assobiado do princípio ao fim. Confirmando uma das piores tradições praticadas por um ruidoso núcleo da massa adepta: apupar quem veste de verde e branco, dando moral às equipas adversárias.
Plata teve sorte: assim os assobios só foram virtuais. Mas não deixaram de ser estridentes, como se comprova num dos espaços onde costumam albergar-se alguns "verdadeiros adeptos", que olham mais para o teclado do que para o relvado durante os jogos.
Visitei esse espaço depois do Sporting-Gil Vicente e deparei com imensos "piropos" dirigidos ao internacional equatoriano - e ao próprio treinador Rúben Amorim.
Transcrevo alguns desses dislates, já com erros ortográficos devidamente corrigidos e os substantivos próprios devolvidos à letra maiúscula imposta pelas boas regras gramaticais:
«O Plata e o Camacho podem ser zero jogo após jogo que têm sempre um lugar na equipa do lampião.» [antes do jogo]
«Camacho e Plata são zero. Outra vez…» [momentos antes da marcação do primeiro golo]
«Teve um pouco de sorte no drible o Plata.» [logo após a assistência de Plata para esse golo]
«O Plata toma (mais) uma decisão absurda, tem a sorte de ganhar o ressalto.»
«O Plata… ludibriou o defesa com um tropeção.»
«Tenho a impressão que só vi dois jogos completos dele mas já se tornou o meu odiozito de estimação. Muito bem estamos quando podemos dar a titularidade a quem decide tão mal.»
«Plata dá o quê?»
«Até agora deu um engano que resultou em golo…»
«Ó Plata… Manda-te ao mar e diz que eu te empurrei. F***-*e!»
«Plata coitado .. completamente perdido…»
«O Rúben Amorim está vestido de palhaço?»
«Que tem na cabeça este Plata?»
«Plata mentalmente está de rastos... Zero confiança.»
«F***-*e, e eu perdi a segunda parte do WH-Chelsea para ver isto…»
«P***a, não fizeram nada nos últimos 20 minutos. Tirando aquela cagada do Plata.»
«Não vejo como [Joelson] pode fazer pior que Plata.»
«Plata e Camacho são embaraçosamente maus.»
«Max e Wendel os melhores, Plata um desastre.»
«Plata pouco mais que isso [nulidade], com muitas decisões incorrectas.» [ao intervalo]
«O Plata toma decisões péssimas o jogo todo, mas nesta jogada só com o redes na frente teve a frieza de levantar a cabeça e colocar para golo.» [momentos após Plata ter marcado o segundo]
«Este Camacho também parece que está a aprender com o Plata. Cruzes credo!»
«Agora é que reparei. Estamos com o Peyroteo a central. Este treinador bate mal.»
«Este Plata é mesmo estúpido f***-*e.»
«Vá-se lá saber como, acaba por ser o homem do jogo. Aos tropeções e às cambalhotas mas dois golos são dois golos.» [quase no fim]
«Alguém ofereça um pé direito ao Plata…» [no fim]
«Plata com um golinho, um engano que deu outro golo e mais dois remates que podiam ter dado golo.»
«O Plata marcou um golo, mas fez tan-ta porcaria.»
«Max o melhor em campo diz muita coisa.»
«Jogo ao nível do Varandas.»
«Pós-covid a liga tuga está a bater todos os recordes de mediocridade.»
Balanço muito positivo, nos mais recentes jogos, para os estreantes Nuno Mendes, Matheus Nunes e Eduardo Quaresma. Os mesmos que alguns "verdadeiros adeptos" reclamavam ver lançados no Sporting e sobre os quais já começam a tecer críticas. Tenho-as lido por aí: dizem agora que "falta experiência no plantel" e que a equipa peca "por excesso de imaturidade", entre outros mimos.
É a história de sempre.
Anteontem, Rúben Amorim lançou na equipa principal Tiago Tomás (18 anos recém-cumpridos) e Joelson (17 anos). Prova de que temos um treinador que não diz uma coisa e faz outra quando garante apostar na formação.
Mas os "verdadeiros adeptos", indiferentes aos factos, não se contentam com estas novidades: já exigem outras estreias.
Reclamam pelo Bragança e pelo Inácio.
Reivindicam o regresso do Paz e exigem aos gritos que o Pedro Mendes jogue.
Se estes quatro integrassem o onze titular leonino, logo os tais viriam com outro "caderno reivindicativo".
Eles recorrem ao chavão da formação porque lhes dá jeito na construção de uma narrativa, mas estão-se nas tintas para os jovens jogadores.
Para esta gente, "ser adepto" é passar o tempo a embirrar com as opções do treinador, chame-se ele como se chamar.
Para esta gente, a palavra de ordem permanente é disparar. Sempre para dentro de portas, nunca para fora.
Quando questionamos por que motivo o Sporting só venceu dois títulos de campeão nacional no último quarto de século, este é um dos motivos: ter parte da massa adepta sempre contra seja quem for.
Isto ajuda a explicar por que motivo treinadores que vingaram noutras paragens não obtiveram sucesso no Sporting. Entre outros, Bobby Robson, Fernando Santos, Jesualdo Ferreira, Leonardo Jardim e Jorge Jesus.
Isto explica por que motivo José Mourinho só foi treinador do Sporting durante duas horas: saiu na mesma tarde em que entrou. Todos sabemos o que aconteceu depois.
No mínimo é irónico que quando vêm à tona as relações promiscuas e tráficos de influências entre agentes do futebol e o clube de Carnide este se preocupe com a regulamentação de cigarros electrónicos. Demonstra uma estranha hierarquia de valores. Ou será apenas a necessidade de atirar fumo para os olhos? E já agora, à luz destes acontecimentos, o que vale moralmente um campeonato ganho pela diferença de dois pontos, ganho ao sprint ao Sporting na época 2015/2016? Por essas contas o "treta" está definitivamente comprometido, Pedro.
Tudo visto e somado, conclui-se que o clube sediado em São Domingos de Benfica interfere na escolha e promoção de delegados da Liga, influi directamente na promoção de árbitros e determina quais serão as suas classificações no final da temporada.
Eis o tetra manchado: já não há volta a dar. Grande treta.
Jornal A Bola de 2017.05.16 pág. 5; canto superior direito, uma imagem de Jonas e Salvio e escrito em branco por David Luiz: TRETAAAAAAAAA (treta+oito AAs maiúsculos) rodeado com marcador azul.
Por baixo dessa imagem escreveram os "jornalistas" d' A Bola:
"Olha o David. David Luiz entrou em direto [sic] num vídeo publicado por Salvio no Instagram «Tetra, Glorioso e Benficaaa», escreveu o brasileiro ex-Benfica"
Palavras para quê.
Manipulação jornalística descarada ou amadorismo?
(convido os leitores que possuam o jornal em versão papel a constatarem o que acabo de escrever, com uma lupa de preferência pois o contraste das letras brancas com o fundo não é o melhor)
É evidente que a vitória portuguesa na Eurovisão foi tudo um complô sportinguista para amanhã ninguém falar no tal do "tetra". (Foto de Pedro Granger.)