Começando pelas melhores notícias: achei ótimo despachar-se o Bruno Gaspar e o Diaby, mesmo só por empréstimo.
Achei normal a venda do Bas Dost, pois é um jogador sem grande margem de progressão, com 30 anos e com um salário elevado. Realizar um bom encaixe financeiro foi positivo. Claro que merecia ter saído noutras circunstâncias e com uma despedida condigna. Foi um excelente profissional que deixará saudades. Mas saiu bem.
Tenho mais dúvidas (e mais pena) em relação à saída do Raphinha. Embora o negócio seja bom, é um jogador que talvez tivesse ainda mais margem de progressão e era um titular indiscutível. Daqui a um ano não valeria menos, ao contrário do Bas Dost.
Acho inacreditável e indefensável a venda do Thierry Correia, o jogador mais promissor e entusiasmante do início de época, após ter realizado cinco partidas pela equipa principal. É assim que se quer apostar na formação? É esta a mensagem que se pretende transmitir aos jovens jogadores?
Depois das vendas do Raphinha e do Bas Dost, do acordo pelo Podence e do que se poupa em salários, a situação financeira do clube é assim tão periclitante que justifique uma venda tão precoce como a do Thierry?
As limitações de Keizer já foram expostas à saciedade. Sobretudo na "organização defensiva" (peço desculpa pelo jargão) que desde o primeiro jogo da pré-época deu sinais alarmantes que só se têm vindo a agravar. Os porquês disto, que sendo evidentes para quem está na bancada sê-lo-ão certamente ainda mais para quem lida com eles, só podem ser esclarecidos por quem está "lá dentro", coisa que nunca acontecerá.
Posto isto convém realçar que, desde que me lembro, nunca vi um treinador chegar a este ponto da época, já com o campeonato a decorrer a todo o vapor, e ver o ponta-de-lança de referência e toda a ala direita da equipa irem-se embora, sentir a falta gritante de um n.º 6 de raiz e ter que dar as boas vindas a uma carrada de extremos. Ou seja, ver todo o (fraco) trabalho de entrosamento deitado fora, ver a demorada adaptação de Vietto a uma nova posição tornada inútil e ter que desenhar e treinar toda uma nova articulação entre os jogadores.
(Fernando Santos ainda hoje se queixa de lhe terem subtraído o Simão por volta desta altura, dando este acidente como causa da sofrível época que padeceu.)
Do descalabro que se anuncia - adorava estar enganado - convém desde já dizer que Keizer terá não mais do que uma quota parte de responsabilidade.
PS - Só espero daqui a dois anos não estarmos a lamentar a venda de Thierry Correia por uns 40M€ que podiam ser nossos se ele tivesse crescido (tem todas as condições para isso) no Sporting.
Thierry Correia começou a época a titular e estará agora a caminho do Valência por 12 milhões de euros (aguardo oficialização do negócio mas parece-me pouco). Talvez isto de apostar em jovens das escolas seja uma boa ideia.
Keizer disse que estivemos bem até aos seis minutos e meio, momento em que sofremos o golo.
Tendo em conta que o único jovem da equipa era Thierry Correia, como é que se justifica que uma equipa de homens feitos trema perante um Marítimo treinado por um tipo que teve uma vitória em toda a última edição da liga?
Penso que é o termo certo para definir o estado actual do futebol do Sporting, uma incapacidade física, uma incapacidade anímica, uma incapacidade de marcar golos, uma incapacidade de chegar ao fim e não ter um jogador expulso ou um jogador precocemente substituído por receio de ser expulso.
Não acho que Keizer, especialmente reconhecendo as conquistas da época passada e o desempenho da equipa na altura, seja o principal ou único responsável pela situação, a novela da saída de Bruno Fernandes e a chegada tardia dos jogadores das selecções são questões bem difíceis de gerir, mas a verdade é que Keizer tem falhado em aspectos críticos, como sejam a questão física (a equipa acabou mais uma vez de rastos), a organização defensiva que teima em não ter um trinco assumido e assentar numa pressão alta que conduz a faltas e a cartões, a de encontrar um modelo de jogo que valorize o artilheiro do plantel, a de ter uma equipa eficaz nas bolas paradas ofensivas e defensivas.
Mas há coisas que não dependem de Keizer. A formação tem a qualidade que tem, e hoje Thierry Correia mostrou as suas limitações, os reforços têm a qualidade que têm, e hoje Eduardo e Vietto demonstraram isso mesmo. O plantel continua a ter um deficit pronunciado de quantidade de qualidade, e precisava de 2-3 reforços a sério (nada que ver com Viettos) para poder ter ambições ao título.
A começar por um n.º 6 de topo. Custa a entender como começamos a época sem um jogador no plantel com essas características. Jogamos com um ou dois médios de construção que recuam quando necessário. Não tem nada a ver, que o digam Coates e Mathieu.
Reconhecendo esta incapacidade traduzida num péssimo arranque de época, Keizer está do lado do problema ou da solução?
Sinceramente vejo um Keizer cansado e desiludido, muito contido para não falar claro e dizer tudo o que lhe vai na alma, e parece cada vez mais um problema dentro do problema que é o futebol do Sporting.
Bas Dost tem de jogar e marcar golos. Ponto. Com Keizer ou sem ele.
Não sei se será exactamente assim, mas pelo que se vê vai ser bem complicado que assim não seja. A equipa que ganhou a Taça no Jamor foi retocada com base em jogadores de segundo plano e jovens promissores e não se vê mais ninguém que possa ser ao mesmo tempo a voz de comando e o desequilibrador. Nem tão pouco dois jogadores que no conjunto possam cumprir essa tarefa.
Keizer volta a apostar na fórmula do ano passado. Nas suas palavras, o "passing game". Quatro defesas clássicos, ausência de trinco, antes dois médios de construção a revezar-se na protecção central à defesa, um ponta agressivo de pé contrário a procurar a profundidade com o outro ponta a jogar por dentro e a entrar nos terrenos do ponta de lança, o ponta de lança a bascular e solicitar tabelas, poucos cruzamentos por alto e... o Bruno Fernandes. Com o regresso dos que ainda estão em férias e a recuperação do Rosier, imagino que a equipa tipo que ande na cabeça de Keizer seja:
Renan; Rosier, Coates, Mathieu e Borja (ou Acuña); Eduardo, Wendel e B. Fernandes; Acuña (ou Vietto), Dost e Raphinha.
Depois temos vários jogadores que poderão em qualquer momento substituir qualquer um destes sem grandes problemas, Ristovski, Neto, Doumbia, Luiz Phellyppe.
Dos mais novos, Max, Camacho e Plata parece-me que vão ser aposta, Miguel Luís e Jovane estão a passar um pouco ao lado da oportunidade e se calhar precisariam de crescer um pouco mais num empréstimo a uma equipa da 1.ª Liga. Os outros jovens "muito verdinhos" parece-me que estariam melhor para já na equipa sub-23. Desses gostei particularmente do Nuno Mendes a lateral esquerdo.
Ficam então (pelo menos para mim) as grandes dúvidas no que respeita à constituição do plantel.
Jogadores que estão a render muito pouco com a camisola do Sporting: Bruno Gaspar, Ilori, Ivanildo, Diaby e Matheus Pereira, o regressado de lesão grave Battaglia. Daqui a poucos dias iremos saber quantos destes se vão juntar aos excedentários que já treinam por Alcochete.
E falta ver também o que vai acontecer a Gelson Dala, que se calhar não deve nada a Diaby ou a Vietto. Ryan Gauld também não percebo porque não tem lugar no plantel, o seu futebol intuitivo e vertical tinha tudo para fazer de Wendel no modelo de Keizer. Coisa que Miguel Luís não consegue.
Mas realmente fica, Bruno!! Senão...
PS: O penteado de Thierry Correia deve ter com certeza a ver com aprimorar a técnica de cabeceamento...
1. A prima donna pode falhar as notas todas, entupir a fluidez da récita, deixar o pianista sozinho e à deriva, ah!, mas se tira um dó de peito a casa vem abaixo em aplausos. Tudo isto é um grande equívoco, mas pronto, contra consensos estabelecidos nada a fazer e não vale a pena mostrar os números.
2. Coitado do Wendel que vai a todas sem descanso nem sorte, abandonado pelo tosco que não sabe fazer e pelo artista que só faz se for ele a brilhar.
3. Como sou dos que pagam para ver e não dos que recebem para fazer limito-me a falar do que vejo e não do que deveria ser visto. O menu é o chefe que o elabora, a mim não me resta mais do que estimar que estava sápido ou era uma merda. Mas por uma vez atrevo-me a dar palpite dada a calmidade em curso. Aquilo que se passa no lado direito da nossa defesa é tão catastrófico e tão irremediável, dada a consistência do desatino, que não seria melhor pôr ali o Thierry Correia? Pior de certeza não era porque nada é pior do que aquilo, e ao menos o rapaz lá se ia fazendo.
Bom, só isso já seria bom. Uma vitória que vale pontos e algumas centenas (?) de euros.
Mas foi uma vitória com um misto de titulares e suplentes, dando descanso a outros titulares que muito bem precisam, e que na segunda parte serviu também para lançar três jovens dos sub-23.
Por isso mesmo, não foi bom, foi óptimo.
Resultado à parte, se calhar o melhor seria tirar conclusões para o futuro próximo da nossa equipa, começando pelas piores:
- Más - Mais uma lesão, e logo do Montero. Que surgiu do nada, quando o jogador estava cheio de energia e moral pelos 1,5 golos marcados. Quantos meses ?
- Medíocres - Nenhumas, não se pode dizer que algum jogador tivesse desiludido. Mesmo Mané fez uma péssima primeira parte mas na segunda já fez as pazes consigo mesmo.
- Boas - Os três jovens lançados, em especial Bruno Paz, um belo transportador de jogo. Thierry tem que entender que se quer ser defesa direito tem de mudar o chip. Para passador já temos o Jefferson. Pedro Marques a verdade é que já o vi várias vezes e não me seduz, mas os pontas de lança amadurecem mais lentamente que os demais.
- Óptimas - Encontrado o substituto de Wendel no imediato, o novo Adrien Silva do Sporting, chama-se Miguel Luís. Não perde uma bola, não falha um passe, e ainda consegue ter presença na área e marcar golos. Pedir mais o quê ? Agora é ganhar quilómetros...
Além disso, Keizer continua a escolher uma equipa que faz sentido para o momento actual, consegue replicar nela o modelo de jogo da equipa titular e também fazer substituições lógicas e no tempo certo. Que se pode pedir mais ?
Por mim, fico (muito) satisfeito.
SL
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