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És a nossa Fé!

Um sortido de memórias a propósito do VAR

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Muito se discute em Portugal isso do VAR. Ontem vi o Atlético de Madrid - Real Madrid.

As minhas simpatias no futebol espanhol mudaram ao longo dos anos. Comecei por ser adepto do Barcelona, devido a um jogo que vi na RTP - então eram muito raros os jogos transmitidos - e que imenso me marcou: a final da taça do Generalíssimo (pois, então era assim ...) de 1971, em que o Barcelona ganhou ao Valência por 4-3.

Esse ano foi a minha era formativa em termos de futebol, pois também fiquei adepto do Arsenal, e também devido ao triunfo na final da Taça, com um tipo chamado Charlie George, de cabelo comprido (à Beatles, como se diria na época) a brilhar na vitória contra o Liverpool. 

E, mais importante, muito mais importante, foi também nesse ano, e também na final da taça, vista na televisão - numa casa onde mais ninguém ligava a futebol - que me fiz sportinguista, tombado para sempre amoroso de Vítor Damas e do maravilhoso verde-e-branco, numa vitória sobre o Atlético de Carnide por 4-1.

Em Espanha depois mudei, já adulto. E claro que por causa de Paulo Futre, que então era rara a emigração dos futebolistas portugueses, passei a adepto do Atlético de Madrid. Algo que resistiu à chegada de Luís Figo ao Barcelona e à sua transferência para o Real Madrid. E à chegada de Cristiano ao mesmo Real. Até porque, de facto, não gosto da cagança merengue e do frenesim catalão. Mas mais do que isso porque essas transferências dos ídolos nacionais já aconteceram em minha fase mais madura, menos dada a paixões e muito mais propensa a irritações. E foram essas irritações que me afastaram, para sempre, do Atlético de Madrid, neste recente início de 2018/19, num "ficais com o Gelson? Ide bugiar". 

Como tal gostei bem da derrota de ontem dos colchoneros. Mas aqui entre nós, e a propósito do VAR, antes de protestarmos com o mílimetro a mais ou a menos que os árbitros portugueses concedem ou desconcedem, conviria ver o que fazem os árbitros espanhóis.

 

"Com a desgraça alheia posso eu bem"? Sim, também é verdade. Mas pelo menos dá para perceber que não estamos pior do que os vizinhos ... Que grande lata que por lá têm.

 

Adenda: hoje o grande Fernando Chalana faz 60 anos, mas sabe-se que essa chegada a sexagenário é feita em difíceis e tristes condições de saúde. Chalana, ídolo dos vizinhos ali de Carnide, foi um jogador extraordinário. Há cerca de 10 anos foi, como treinador principal interino daquele clube, a Maputo para um torneio quadrangular de fim de época, comandando uma equipa de reservas e jovens. Pude conhecê-lo. A delegação benfiquista foi a uma escola, eu fui lá ver a reacção dos miúdos. Estes estavam esfuziantes por ver os "ídolos" (de facto eram as reservas dos "ídolos" mas isso não alquebrava a euforia juvenil). E claro que ninguém ali conhecia Chalana. Aproveitei  para me apresentar e ficámos de conversa uma boa meia-hora. Um homem gentilíssimo. E interessado, coisa tão rara entre os visitantes portugueses - indagando sobre o país, sobre mim, como corria a vida, como a família se adaptava, etc. Tão diferente do "me, myself and I" dos inúmeros patrícios que por lá aportavam, qualquer que lhes fosse a profissão ou meio de origem. Fiquei ainda mais fã ...

Por isso, pelo magnífico jogador, e pela simpatia pessoal, aqui deste meu "Bordeaux" deixo a minha leonina hommage à Chalanix:

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Que se lixe a Taça

Nesta triste história (mais uma), mais do que a confirmação do cemitério de treinadores, de que o Pedro faz aqui a recensão, impressiona o timing: praticamente na véspera do jogo que será o ensaio geral da final da Taça e quinze dias antes dessa mesma final. Mesmo que se queira mudar o treinador, não dava para esperar até depois do dia 31? Alguém mal intencionado diria: será mais difícil despedi-lo se ele ganhar e, com a instabilidade criada, aumenta a probabilidade de derrota e torna-se mais fácil despedi-lo. Só mesmo alguém mal intencionado pode pensar tal coisa. Por isso é que me parece que isto é tudo uma invenção. Uma conspiração lampiónico-andradístico-jornalística. Não é?

Habitua-te lagarto

O lagarto só gosta de ganhar a jogar bonito. Pois o lagarto que se deixe de tretas. É preciso é ganhar e é preciso é dar a volta à ratice e espertice-saloia de treinadores como Manuel Machado, um especialista em destruir o joguinho bonito dos ingénuos. Morreu do próprio veneno em duas mãos e acabou a mostrar o telemóvel. O segredo de uma equipa não é jogar sempre bem. É ter argumentos para ganhar mesmo quando não joga bem, que foi o que ontem aconteceu. Quem me dera que todos os empates a 1-1 da época tivessem decorrido e acabado como ontem: a jogar mal e a marcar um golo às três pancadas. Benfas e andrades não se queixam de vitórias assim. Vêm logo com a palermice da sua "mística" superior: são as vitórias "à Benfica" ou "à Porto", com "alma". Pois era bom que nos habituássemos a ter bastantes vitórias "à Sporting", como a de ontem. Se necessário, já na final. Repare-se que esta final é uma oportunidade histórica: depois de anos a sermos ultrapassados pelo Porto em toda a espécie de número de títulos, seria a primeira vez que os poderíamos apanhar: eles têm 16 taças, nós 15. Seria um excelente símbolo de inversão da decadência em que o Sporting mergulhou nas últimas décadas.

Isto não é física nuclear

O que aconteceu ontem não é difícil de perceber. Estou farto de dizer, mas vou repetir: o Sporting actual não tem meios para jogar sempre "à grande", "à Barcelona" ou "à Bayern" ou lá qual é o modelo de jogo imaginado. Precisa de um "plano B" que dê para descansar mantendo a eficácia. Género Jardim o ano passado. Enfim, agora se calhar já não vai ser tão preciso: resta jogar para o 3º e fazer três jogos para a Taça (se formos à final). Na 5ª feira, o Sporting rebentou (ingloriamente) com o Worlfsburgo e, de caminho, rebentou-se. Já vi muita gente elogiar a primeira meia hora nas Antas, em que controlámos o jogo e pusémos o Porto em sentido. Passados menos de três dias completos desde o jogo de 5ª, essa primeira meia hora resultou no estouro colossal que se seguiu. A hora seguinte foi uma coisa penosa. Até metia dó ver os homens a arrastarem-se pelo campo.

 

Isto não é física nuclear: para jogar "à grande" em todas as competições é preciso dois e três jogadores para algumas posições, prontos a rodar conforme as necessidades. Não houve dinheiro para isso. Se não se pode jogar sempre "à grande" tem de se alternar com um joguito mais mole mas também mais controlado. Enquanto o orçamento do Sporting for metade do orçamento de Porto e Benfica e menos de um décimo dos orçamentos dos grandes da Europa vai ser preciso ter muito cuidado com as expectativas.

 

Mesmo assim, não é tudo mau: nos jogos em que as coisas resultaram, o Sporting jogou o melhor futebol de Portugal este ano. Há muito tempo que isso não acontecia. Com um bocado mais de realismo, adequando melhor os meios aos fins, não me parece que estejamos longe daquilo que deve ser feito no futuro.

Rescaldinho do jogo

Já quase tudo foi dito sobre a jornada de ontem da Taça. Só gostava de acrescentar uma ou outra coisa, assim ao estilo de rescaldinho do jogo (rescaldo mesmo é com o Pedro Correia):

1) Para os idiotas que gostam de dizer que o William é um barrete, convido a verem o jogo de ontem e depois conversamos. Quase toda a gente reparou que ele jogou excepcionalmente. E repetiu-se várias vezes que já parecia o "William do ano passado". Eu discordo: o William de ontem só pareceu o do ano passado na qualidade, porque jogou de maneira completamente diferente, como aliás toda a equipa. Jogou mais à frente, a apoiar mais o ataque, a aparecer mesmo no ataque muito mais vezes. Pergunto-me se o William incaracterístico de alguns jogos deste início de época não foi causado pela adaptação à nova táctica. Aquilo que ele fazia o ano passado já era difícil e arriscado cá atrás. Feito mais à frente, torna-se ainda mais difícil e arriscado. É preciso muita confiança e ele se calhar não a tinha.

2) Já toda a gente percebeu o truque para jogar contra o Sporting: bolas longas metidas por alguém cá de trás para a corrida do ponta-de-lança entre os centrais; este fica isolado frente ao guarda-redes e remata. Do Penafiel ao Porto, passando pelo Chelsea, todos usaram o número. Aquilo arrepia-me sempre que acontece e acontece imensas vezes. Até agora não tem corrido muito mal, mas pergunto sinceramente, com toda a ingenuidade de quem não percebe um chavo de bola: é mesmo para ser assim?

3) Não vi muito bem, mas o Benfica ontem não precisou outra vez de socorrer-se da táctica genial do penálti inventado, agora protagonizada pelo grande Alan Jon?

Eu tenho dois amores

Por razões familiares, sigo as competições de andebol com atenção. Pelas mesmas razões familiares, tenho dois amores no andebol: o Sporting e o Passos Manuel. Tenho, aliás, de confessar que, se alguém me quiser ver a torcer contra o Sporting, basta encontrar-me num jogo que ponha o Passos contra o Sporting em confronto directo. Valores mais altos... Feliz ou infelizmente, esta bigamia não é demasiado grave. Felizmente, porque o Passos não ameaça muito o Sporting: embora esteja na 1ª Divisão, só subiu o ano passado e luta por permanecer. Infelizmente, pela mesma razão, i.e. tenho pena que o Passos não voe mais alto. Mas é uma equipa essencialmente amadora, com um capitão que é taxista e educador de infância. São uns grandes carolas.

 

Dito isto, não podia ter ficado mais feliz com a terceira vitória consecutiva na Taça pelo Sporting. Quanto ao campeonato, foi pena o empate com o Benfica e as derrotas com o ABC e o Porto, mas ainda há esperança. E o Passos está bem encaminhado para ficar na 1ª divisão...

 

PS - E faço minhas as palavras do Ricardo Roque sobre o pavilhão. Nos anos 70 e 80, quando o futebol começou a fraquejar, foram tantas as alegrias com o andebol, o basquetebol, o hóquei... Muitas vezes me pergunto como foi possível não conseguirmos perpetuar esse património.

{ Blogue fundado em 2012. }

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