De repente, noto imensa impaciência à minha volta. De adeptos do Sporting, que esteve 19 anos sem vencer o título de campeão nacional. Durante os mandatos integrais dos presidentes Filipe Soares Franco, José Eduardo Bettencourt, Godinho Lopes e Bruno de Carvalho.
O maior jejum da nossa história secular.
Em muitos desses períodos, não vi tanto nervosismo como detecto agora.
Agora a impaciência acontece porque não vencemos esse título... há dois anos.
É um excelente sinal. Significa que o patamar de exigência subiu imenso.
Revogar os títulos de campeão obtidos em competições que se disputavam com nomes diferentes.
Parece ser está a decisão de ontem.
Na linha daquilo que eu já tinha defendido, neste espaço, vamos chamar vencedores do Campeonato de Portugal aos que triunfaram nessa competição e vencedores da Liga Experimental aos que triunfaram na competição assim denominada.
A decisão da Assembleia Geral Extraordinária da Federação Portuguesa de Futebol parece apontar nesse sentido.
Menos três títulos de campeão nacional para o Sport Lisboa e Benfica e menos um título de campeão nacional para o Futebol Clube do Porto.
O cozinhado de Gilberto Madaíl e dos perseguidos pela justiça, Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira, esturricou, ontem.
Dois anos depois, voltámos enfim a juntar-nos. No local do costume - celebrizado por um antigo presidente do Sporting em noite de diatribe contra nós, nem ele sabe porquê.
Regressámos ao Café Império, local de tantos serões de tertúlia leonina motivada por este nosso blogue agora no 11.º ano de existência.
Desde Março de 2020 que não nos reuníamos num destes ruidosos e alegres jantares do És a Nossa Fé ontem retomados. Com o cardápio do costume: bife da vazia no prato e cerveja loura ou morena no copo.
Sem surpresa, retomaram-se os pedidos habituais - desde «um bife a nadar em sangue» até «molho com bife em vez de bife com molho». Apenas uma voz dissidente preferiu polvo, talvez como irónica homenagem aos 40 anos do «senhor Jorge Nuno» em vitalício múnus presidencial nas Antas.
A casa que nos acolhe, aproveitando o confinamento imposto pela pandemia, ganhou toques de renovado requinte fazendo jus à sua tradição de cenário de filme, reforçado com fotografias de estrelas da antiga Hollywood nas paredes.
Juntámo-nos dez: um plantel ainda desfalcado. Ainda assim, em número superior aos futebolistas que o B-coisa congregou naquele amigável do Jamor também conhecido por jogo da vergonha.
Discutiu-se de tudo um pouco - da resolução dos mais intricados problemas da geopolítica mundial ao modo infalível de vencermos campeonatos, dotados da nossa proverbial sabedoria de treinadores de bancada.
Foi uma reunião feliz. Nem poderia ter sido de outro modo: festejávamos quatro títulos e troféus, só no futebol, conquistados desde o anterior jantar pelo emblema que nos une.
Sem esquecer, claro, os campeonatos nacionais de futsal, hóquei em patins, basquetebol e futebol de praia. E as Taças de Portugal de futsal, basquetebol e voleibol. E o campeonato nacional de râguebi feminino. E a Taça da Liga de futsal.
Igualmente em homenagem também já atrasada mas mais que merecida a Rúben Amorim, melhor treinador de futebol 2021 em Portugal. E a Sebastián Coates, melhor jogador do campeonato português 2020/2021. E a António Adán, melhor guarda-redes da Liga portuguesa. E a Pedro Gonçalves, rei dos marcadores 2021.
Brindámos a este brilhante palmarés e a futuros títulos que desejamos conquistar em breve. Com brava medronheira de Monchique, generosamente remetida pela nossa colega CAL, ausente em pessoa mas presente em espírito.
Assim protagonizámos estas quatro horas de caloroso convívio. A Alda, a Marta, o Edmundo, o João Goulão, o José da Xã, o Luís, o Ricardo, o Tiago, o Zé Navarro e o escriba que redige e assina a acta. Na certeza antecipada de que desta vez não demoraremos dois anos e quase dois meses a retomar estes convívios. Até já se fala em Castelo Branco e Ericeira como possíveis locais dos próximos. Porque o País não se resume a Lisboa e o nosso Sporting é de Portugal.
Dez à mesa do Cafe Império: quatro títulos celebrados, só no futebol
Na tribuna do estádio Magalhães Pessoa, em Leiria, após a final da Taça da Liga
Em pouco mais de três anos, desde que ascendeu à presidência do Sporting, Frederico Varandas habituou os sportinguistas a vitórias regulares e constantes.
Só no futebol vencemos estes títulos e troféus:
- 1 Campeonato Nacional
- 1 Taça de Portugal
- 3 Taças da Liga
- 1 Supertaça
Na época em curso, já conquistámos a Supertaça e a Taça da Liga, que nos credita como campeões de Inverno pelo segundo ano consecutivo.
Ainda no futebol, transitámos para os oitavos da Liga dos Campeões, proeza só´uma vez antes alcançada.
E que mais? Lideramos os campeonatos nacionais de futsal, andebol e basquetebol. Estamos em segundo, colados ao primeiro, no campeonato de hóquei em patins. Nesta época já vencemos as Taças de Portugal de basquetebol e voleibol, a Taça da Liga de futsal e as supertaças de básquete e futebol feminino.
A nível internacional, somos campeões europeus de futsal e hóquei em patins. Nestes três anos ganhámos outra Liga dos Campeões de futsal, além de uma Liga Europeia e uma Taça Continental de hóquei e duas Ligas dos Campeões de judo.
Gostei muito da conquista da Taça da Liga, que nos consagra como campeões de Inverno, pelo segundo ano consecutivo. É, portanto, uma reconquista. Numa competição que em 2009 nos foi sonegada contra o mesmo adversário de ontem, o Benfica, por uma equipa de arbitragem liderada por um dos mais vergonhosos apitadores que passou por relvados nacionais. Mas valeu a pena a espera. A vingança serve-se fria: nas últimas cinco edições desta prova, saímos campeões por quatro vezes. Agora a bisar, com Rúben Amorim, já com quatro títulos e troféus no seu currículo ao comando do Sporting em menos de dois anos. Esta Taça da Liga, que vencemos na final de Leiria por 2-1, é a segunda proeza leonina na temporada, após a Supertaça ganha a 31 de Julho.
Gostei do domínio claríssimo da nossa equipa. Esta superioridade foi manifesta mesmo após sofrermos um golo, aos 22', contra a corrente do jogo. Soubemos manter-nos coesos e acutilantes, nunca perdendo de vista o objectivo: havia que levar a taça para casa. As estatísticas confirmam esta superioridade: 61% de posse de bola leonina, 13-2 em remates, com óbvia vantagem para o nosso lado. Estivemos sempre mais perto do 3-1 (Paulinho mandou uma bola à barra, aos 73') do que o Benfica de empatar. Foi a quinta reviravolta da temporada, o que indicia robustez psicológica. E também uma evidente injecção de moral na equipa, demonstrando que a derrota em casa contra o Braga não passou de acidente de percurso. Vale a pena assinalar o onze titular verde-e-branco neste clássico em Leiria: Adán; Neto, Gonçalo Inácio, Feddal; Esgaio, Palhinha, Matheus Nunes, Matheus Reis; Pedro Gonçalves, Sarabia e Paulinho. Entraram ainda Porro (66') para substituir o amarelado Neto, passando Esgaio para central, Ugarte (85') para render Matheus Nunes, e Tiago Tomás e Nuno Santos (88'), para os lugares de Paulinho e Sarabia. Este último foi, para mim, o herói do jogo: faz de canto a assistência para o primeiro golo, num cabeceamento de Gonçalo (49'), e marca o segundo, o decisivo, fuzilando Vlachodimos de pé esquerdo após uma espectacular recepção de bola em que demonstrou toda a sua classe (78'). Destaques também para Palhinha, sempre superior ao adversário como médio de contenção, e o reaparecido Pedro Porro, autor da assistência para o golo da vitória com um passe de 30 metros muito bem medido. Gonçalo e Matheus Reis também merecem realce, tal como Matheus Nunes, que auxiliou Palhinha no domínio do meio-campo, onde o adversário actuava com três elementos.
Gostei poucoque só no segundo tempo tivéssemos traduzido em números a nossa manifesta superioridade no terreno. Mas até nisto se comprovou a maturidade da equipa, funcionando como verdadeiro colectivo: nunca nos desorganizámos nem perdemos o fluxo ofensivo apesar de termos menos um dia de descanso do que o adversário, que disputou a meia-final 24 horas antes. Embalados pelo entusiástico apoio que vinha das bancadas, onde os aplausos eram quase todos para o Sporting. Os benfiquistas passaram grande parte da segunda parte a assobiar a própria equipa. No fim, brindaram-na com uma monumental vaia, enquanto Rui Costa fumava nervosamente na tribuna do estádio, gesto que lhe fica muito mal. Mas percebe-se o nervosismo: em dois confrontos com o Sporting nesta temporada, registam-se já duas derrotas encarnadas. Com 5-2 em golos, primeiro no campeonato e agora nesta final.
Não gostei da ausência de Coates, o nosso inabalável capitão, que se encontra ao serviço da selecção do Uruguai. Mas foi bem substituído no centro da defesa por Gonçalo Inácio (que até marcou um golo à Coates) e certamente se associou em espírito à bonita festa da vitória no relvado, com justos vencedores e dignos vencidos - desta vez ninguém atirou medalhas para as bancadas, imitando o imperdoável gesto de Sérgio Conceição numa final perdida contra o Sporting.
Não gostei nada de ver num camarote VIP do estádio o arguido Luís Filipe Vieira, que ali esteve certamente a convite da Liga. É preciso muito descaramento e perda total de noção das conveniências para ter a lata de se exibir entre os assistentes desta final. Se pensava reabilitar-se, estava muito enganado: os adeptos encarnados rodearam-no no final com insultos e ameaças. Foi necessária a protecção de mais de uma dezena de elementos da unidade especial da PSP presente no local para regressar à viatura que o transportou.
VITÓRIA DO ANO: CONQUISTA DO CAMPEONATO NACIONAL DE FUTEBOL
Enfim, chegou. O triunfo por que todos esperávamos. Há muito tempo, há demasiado tempo. Desde 2002, o ano da anterior conquista do título máximo do futebol português. Uma geração inteira nasceu e cresceu sem ver o Sporting campeão.
Esse jejum terminou enfim. Foi relegado de vez para os quadros estatísticos. Graças àquele que é hoje, sem favor algum, o melhor treinador a trabalhar em Portugal: Rúben Amorim, que tão bem conduziu o plantel leonino ao ansiado pódio. O segundo técnico campeão mais jovem da história do nosso clube, com apenas 36 anos. Só antecedido por Juca, que conduziu o Sporting ao título na época 1961/1962.
Aconteceu a 11 de Maio, quando faltavam ainda duas jornadas para terminar a prova. Bastou um triunfo por 1-0 frente ao Boavista, no nosso estádio, para consumar a vitória leonina - com golo de Paulinho, aos 36' - e nos fazer saltar de júbilo num ano tristemente marcado pela pandemia.
Durante umas horas, esquecemos as restrições impostas pelo combate ao covid-19 que nos impediram de frequentar recintos desportivos e até de conviver com familiares e amigos durante grande parte de 2021.
Largos milhares de sportinguistas saíram à rua em todo o País, celebrando o título. E também em diversas cidades estrangeiras, confirmando a vocação universalista deste emblema nascido para ser um dos maiores da Europa.
Vencemos a Liga 2020/2021 com a melhor pontuação registada desde sempre à 32.ª jornada (82 pontos) e após 25 rondas consecutivas no comando da prova, em que nos mantivemos invictos até essa data que guardaremos para sempre na memória.
Outra proeza digna de registo: havia 68 anos que não conquistávamos o campeonato num ano ímpar. Desde a longínqua época 1952/1953, ainda com alguns dos Cinco Violinos no plantel.
Ficam os nomes destes campeões que se impuseram sem discussão nos relvados nacionais: Adán, Luís Maximiano, Porro, João Pereira, Gonçalo Inácio, Coates, Feddal, Neto, Eduardo Quaresma, Nuno Mendes, Antunes, Matheus Reis, Palhinha, Dário, Matheus Nunes, João Mário, Daniel Bragança, Pedro Gonçalves, Plata, Tabata, Nuno Santos, Jovane, Tiago Tomás e Paulinho. No total, 24. Além destes quatro, entretanto já fora de Alvalade, mas que também deram o seu contributo: Borja e Sporar (saídos para o Braga), Wendel (transferido para o Zenit) e Vietto (que passou a jogar no Al Hilal).
Todos, sem excepção, mereceram o nosso aplauso.
Foi um triunfo ainda mais saboroso porque, à partida, poucos acreditavam nele. Os especialistas em prognósticos desportivos, no início do campeonato, atribuíam apenas 4 % de favoritismo ao Sporting.
Não queremos nunca mais estar tanto tempo sem ver o glorioso emblema leonino no mais elevado posto do nosso desporto-rei.
Sporting revalida Taça Continental, derrotando o Lleida, anfitrião da prova, por 3-1. É o nosso décimo título europeu em hóquei em patins. E o 40.º título internacional do valioso palmarés leonino.
Nos últimos doze títulos e troféus de futebol profissional disputados em Portugal, desde que Frederico Varandas ascendeu à presidência do Sporting, vencemos cinco. Tantos como Benfica e FC Porto somados. Os restantes dois são do Braga.
Fica a lista, indesmentível:
Sporting,5 - Campeonato 2021, Taça de Portugal 2019, Taça da Liga 2019, Taça da Liga 2021, Supertaça 2021
FC Porto, 3 - Campeonato 2020, Taça de Portugal 2020, Supertaça 2020
Benfica, 2 - Campeonato 2019, Supertaça 2019
Braga, 2 - Taça de Portugal 2021, Taça da Liga 2020
Com a vitória de hoje do hóquei no Dragão Arena, e com o troféu entregue desta vez em bom estado, o Sporting conquistou o campeonato nacional da modalidade.
Se nos reportarmos ao futebol profissional, ao futebol feminino e às cinco modalidades masculinas mais representativas, no fundo aquelas modalidades que levam multidões aos estádios e aos pavilhões e que permitem julgar da força do clube como um todo, as conquistas da época foram as seguintes (se calhar ainda falta aqui qualquer coisa):
Campeonato Nacional Futebol
Taça da Liga de Futebol
Campeonato Nacional de Futsal
Taça da Liga de Futsal
Campeonato Europeu de Futsal
Campeonato Nacional de Basquetebol
Taça de Portugal de Basquetebol
Campeonato Nacional de Hóquei
Campeonato Europeu de Hóquei
Taça de Portugal de Voleibol
Vamos agora comparar o desempenho dos quatro principais clubes portugueses nestas setemodalidades com base nas posições relativas das respectivas ligas:
1. Futebol:
1. Sporting, 2. Porto, 3. Benfica, 4. Braga
2. Futebol Feminino:
1. Benfica, 2. Sporting, 3. Braga
3. Futsal:
1. Sporting, 2. Benfica, 3. Braga
4. Basquetebol:
1. Sporting, 2. Porto, 3. Benfica
5. Andebol:
1. Porto, 2. Sporting, 3. Benfica
6. Hóquei:
1. Sporting, 2. Porto, 3. Benfica
7. Voleibol:
1. Benfica, 2. Sporting
Vamos ignorar a força do futebol profissional no conjunto, vamos ignorar os orçamentos de cada um. Se atribuirmos 5 pontos ao 1º lugar, 3 ao 2º, 2 ao 3º, 1 ao 4º, 0 à falta de comparência, chegamos ao resultado seguinte:
1. Sporting : 29 pontos
2. Benfica : 21 pontos
3. Porto : 14 pontos
3. Braga : 5 pontos
Estes números traduzem bem a supremacia do Sporting esta época no panorama desportivo nacional. E demonstram que dois clubes nacionais têm o ecletismo que os seus sócios reclamam e espaços próprios para a formação. Demonstram haver dois clubes mais regionais com sucesso relativo.
Importa também dizer que o Sporting vive num combate desigual com dois clubes que dispõem de orçamentos bem superiores nas SADs e nas modalidades. E também, custa dizer, com um orçamento votado negativamente por culpa de quem, independentemente das dificuldades ditadas pela pandemia, ficou em casa e não foi defender o clube e as suas modalidades no lugar certo.
Fechada a época desportiva, ficou o Sporting com a enormissima responsabilidade de dar continuidade a estes números, assegurar os projectos ganhadores e transformar os restantes, tomar as decisões certas quanto a aquisições e dispensas, tentar aplicar em todas estas modalidades a fórmula Sporting: grande treinador, grande capitão, grande peso da formação, craques fidelizados.
Para já estamos todos de parabéns, sócios e direcção. Sabe bem ouvir dum amigo benfiquista "Vocês este ano ganham tudo, pá... Como é possível??". Custa-lhes muito perceber, é um facto. Habituem-se.