Iniciamos hoje uma semana decisiva para as nossas aspirações.
No horizonte, um duplo confronto extramuros, contra as ditas equipas pequenas, ainda que estas não se possam comparar entre si (Moreirense a realizar um campeonato muito meritório, ocupando a 6ª posição; Rio Ave a lutar desesperadamente para não cair nos lugares de despromoção).
É consabido que numa liga como a nossa os campeonatos, usualmente, perdem-se nesses jogos contra os adversários teoricamente mais fracos. Pelo menos, isso é muito verdade quanto ao Sporting.
Ora, se até aqui, a nossa equipa tem sabido, de forma muito competente, lidar com esse tipo de adversários, por que razão é que venho para aqui dizer que estamos perante uma semana decisiva?
Bom, a razão é muito simples: daqui a duas jornadas há um Porto x Benfica, no que poderá constituir uma boa oportunidade para ganharmos 2 ou 3 pontos ao nosso rival (assumindo que o Porto não quererá a desfeita de perder pelo segundo ano consecutivo em casa contra o Benfica).
Ora, para termos em aberto essa boa oportunidade, é preciso chegarmos até essa jornada (de regresso a casa, frente ao Farense), com o nosso percurso imaculado. Para isso é, pois, fundamental ganharmos os jogos fora frente a Moreirense e Rio Ave.
É jogo a jogo, mas estes próximos dois ganham especial relevância.
O que é isso de uma candidatura ao título? É preciso preencher algum formulário, arranjar um número mínimo de proponentes, recrutar mandatários, reconhecer assinaturas ou comparecer em sessões públicas de esclarecimento? Está visto que toda esta discussão sobre o Sporting ser ou não, nesta época, candidato ao título de campeão nacional só pode nascer do uso e abuso de figuras de estilo pelo universo do futebol, como é, manifestamente, o caso presente, em que o recurso à palavra candidatura, para uma grande parte das opiniões que tenho lido e ouvido, parece pressupor a necessidade de um acto voluntário e de uma declaração pública solene.
O conceito de candidato ao título, se expurgarmos o discurso do significado original do termo, desprendendo-o, portanto, de quaisquer amaneiramentos literários, só pode corresponder à vontade de lutar por esse objectivo e de considerar que ele é possível. Não depende da assunção dessa meta, por parte de seja quem for, nem é preciso que seja o principal objectivo da equipa. No Sporting, temos problemas económicos e financeiros de tal magnitude que não nos é possível eleger a conquista do campeonato como o alvo prioritário. Se me perguntarem se o Sporting deve reforçar-se em Janeiro, tendo em vista o título, direi que sim, se tal for necessário, que vamos aos bês buscar Rúben Semedo ou João Mário ou Iúri Medeiros ou Betinho ou Ricardo Esgaio ou Filipe Chaby, ficamos muito bem servidos e começamos já a ver as estrelas de daqui a dois ou três anos. Não temos capacidade económica e financeira que nos permita contratar jogadores já consagrados, nem isso seria, a meu ver, desejável, tendo em conta, independentemente das dificuldades do clube, a estratégia que sempre defendi para o Sporting.
Mas nada disto significa que o Sporting não seja candidato. À partida, o Sporting é sempre pretendente ao primeiro lugar porque as coisas são como são, essa é a sua natureza, quer queiramos ou não, quer o assumamos ou não. Não vale a pena tentar fazer disso um segredo nem um tabu, todos queremos e esperamos ardorosamente, enquanto as volubilidades do seu comportamento e do dos seus adversários o permitirem e enquanto as suas fragilidades não impedirem o caminho, que o Sporting seja campeão. Eu, pelo menos, não estou disposto a dispensar nem a deixar de proclamar esse objectivo. Se correr mal, paciência, não podem ganhar todos e não ser campeão está muito longe de ser uma vergonha, o que poderá desdourar o clube é a desistência do esforço, a abdicação da luta pela vitória.
Para mim, o Sporting, com mais ou menos dinheiro, com jogadores mais jovens ou mais veteranos, é, tem que ser, sempre candidato. É assim que, às vezes, o mundo se move, não depende da nossa vontade e não é preciso que alguém o diga, é um atributo da grandeza, é, como está bom de ver, da natureza das coisas.
O tabu é bom, vende papel. Há que inventar tabus. Ora como parece que para ser jornalista desportivo é taxativo ter dois terços das sinapses dos seres humanos normais, os alvares do costume inventaram uma pergunta que se está mesmo a ver que é crucial: "O Sporting é candidato ao título?" E vai de interpô-la em todas e mais algumas conversas com quem lhes aparecer à frente em nome do Sporting. Está-se mesmo a ver que, na mente deles, não há nada de mais interessante para dizer acerca do Sporting. Se o mundo fosse tão justo como nos desenhos animados, cada vez que a questão surgisse, caíria uma bigorna na cachimónia do impertinente. Mas não sendo assim, proponho o seguinte:
A partir de agora todos, mas todos mesmo, de Bruno Carvalho ao Paulinho, passando pelo Slimani, que ainda só deve falar árabe, ou pelo mais remoto dos adeptos sportinguistas, todos respondamos: "em Abril águas mil." Só isto e sempre isto, invariavelmente e em todas e quaisquer situações. Havia de ser cómico... E talvez assim - bem sei que é uma hipótese remota - eles percebessem que não adianta a conversa da treta.
"O Sporting não está na corrida ao título". Repitam.
Outra vez.
Outra.
Inspirem.
Expirem.
Depois da Vitória contra o dito de Guimarães, o Sporting vê-se empurrado para o segundo lugar do campeonato.
Mas não está na corrida ao título.
O que está absolutamente certo, certíssimo. Até podemos encontrar três ordens de razões, as ordens que deus fez:
1. A equipa ainda não é equipa, ainda é só plantel (o que quer que seja que isso signifique).
2. A estrutura não foi preparada para ganhar um título.
3. Ainda só estamos no primeiro terço do campeonato (aqui, podemos orar um bocadinho).
Tudo isto é verdade, a prudência requer uma boa dose de inteligência, os nossos dirigentes exibem doses de bom senso acima do indicador de bom senso médio da humanidade, estamos treinados para sofrer e não vamos agora começar a rejubilar.
Por isso, repitam comigo: "O Sporting não está na corrida ao título".
Só os grandes adeptos sportinguistas conseguem aguentar isto. Força, companheiros.
A minha equipa, a minha única fé organizada, conseguiu terminar com uma goleada uma época mais terrível do que o sétimo lugar consegue traduzir. No entanto, além de dar os parabéns aos meus amigos portistas, cumpre-me escrever as seguintes linhas.
1 - Ao longo da penosa temporada não me lembro de um único post ou sms de um adepto do FC Porto a pretender ridicularizar o Sporting. Estavam mais preocupados com o seu próprio clube e no final tiveram a recompensa.
2 - Acredito que o Benfica não perdeu o título com o Estoril, nem sequer com os festejos precoces no Funchal, mas sim na vitória manhosa frente ao Sporting. Aquele jogo em que viram perdoados três penáltis e outras tantas expulsões pelo apitador João Capela, o que convenceu os encarnados de que seriam campeões 'by all means necessary'.
3 - A mesma arrogância levou à triste reserva do Marquês de Pombal, para gáudio dos adeptos portistas residentes na capital.
4 - Apesar disto tudo, que não é pouco, deixo os meus parabéns aos meus amigos benfiquistas e aos benfiquistas em geral, com a excepção daqueles que têm problemas do foro psiquiátrico com o Sporting, chegando a ser incapazes de escrever o nome do clube num texto dedicado a fustigar os seus adeptos.
{ Blogue fundado em 2012. }
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.