Pessoas; Estrutura; Sistemas de Suporte e Interacção com o Sócio.
É clara a intenção por parte desta direcção de continuar a cavalgar a onda da culpabilização alheia. Este pobre documento, hoje apresentado, demonstra-nos a incapacidade desta direcção. Ao fim de quase dois anos é aqui que estamos, num documento de 14 páginas em que para lá do folclore habitual desta direcção, ficamos a saber que vai ser desta. Não sabemos é o que é que vai ser. O documento - Visão estratégica para o futuro - traz-nos as ideias que esta direcção demorou quase dois anos a preparar. Ficamos a saber que as pessoas são importantes, devem ser retidos os talentos, e farão esta retenção dos melhores, por um processo holístico na transformação organizacional interna. Nem sei que diga a isto. Qualquer clube, qualquer empresa poderia ter esta visão. Os talentos? São para reter, claro. Como? através da nossa organização. Bem vindos à Varandas & Filhos, Lda., fazemos por medida.
Depois temos a Estrutura, a famosa estrutura. Era dela que Varandas falava, no início da época passada, sentado no meio do relvado do nosso estádio, e afirmava que esta época havia já uma estrutura sólida, silenciosa, que permitia almejar o sucesso. Afinal não havia, os reforços foram um flop, a equipa foi dizimada, os seus melhores jogadores foram vendidos e da formação apenas outros clubes puderam aproveitar. Bem, mas afinal parece que vai ser para o ano e ainda por cima uma estrutura eco-friendly. Sim, no prospecto de venda da sad a nossa estrutura aspira a ser eco-friendly. É óbvio que isto nada quer dizer, mas havia espaço em branco para preencher.
Vamos ao terceiro pilar, Sistemas de Suporte. Não, não pense que é aqui que entram os Sócios, ainda não. Aqui somos informados que vão implementar um software. É verdade, esta direcção considerou que a implementação de um software é um dos pilares do Sporting. Uma dica: não é a implementação do software que é o pilar, mas sim o modelo de gestão integrado, que um ERP permite. Não havendo um modelo integrado de gestão, um software de nada serve.
Por fim temos os Sócios. Não é bem assim. Temos a interacção com o Sócio. Basicamente passámos a clientes do nosso clube. Bem sei que sim, o somos de certa forma. Somos aqueles para quem, em teoria, a direcção trabalha. Mas o conceito de interacção diz-nos muito. Diz-nos que de sócios, passámos a experiências. Vamos experimentar, ser experimentados.
Isto está na página 1 do prospecto de venda da SAD. As outras 13 páginas não passam de exercícios de mitómanos, distorcendo a realidade a seu favor.
Está desde ontem disponível aqui o Relatório&Contas da Sporting SAD referente ao 1ºTrimestre da temporada 2018/2019 (no pretérito dia 26, a Sociedade havia emitido um breve Comunicado contendo a Demonstração de Resultados para o período).
A primeira nota vai para a não menção, no referido R&C, de qualquer informação relacionada com a entrada em vigor do contrato de DireitosTV celebrado com a NOS. Sendo um dado muito relevante na actividade da Sociedade, como o demonstra o enfoque que nele foi feito na campanha eleitoral, é de certo modo insólito o facto de não ser feita qualquer referência. Recordo aqui o Comunicado que a SAD, em 29 de Dezembro de 2015, fez sobre o acordo alcançado:
"A SPORTING CLUBE DE PORTUGAL, Futebol SAD informa, nos termos do art. 248.º, n.º 1 do Código de Valores Mobiliários, que chegou hoje aos seguintes acordos:
1) com NOS LUSOMUNDO AUDIOVISUAIS, S.A. um contrato para a cessão dos seguintes direitos:
(i) direito de transmissão televisiva e multimédia dos jogos em casa da Equipa A de Futebol Sénior da Sporting SAD e direito de exploração da publicidade estática e virtual do estádio José Alvalade pelo período de 10 épocas desportivas com início em 1 de Julho de 2018;
(ii) direito de transmissão e distribuição do Canal Sporting TV, pelo período de 12 Épocas desportivas, com início em 1 de Julho de 2017;
(iii) direito a ser o seu Principal Patrocinador, pelo período de 12 épocas e meia, com início a 1 de Janeiro de 2016.
2) com a PPTV – Publicidade de Portugal e televisão, S.A. um aditamento ao contrato atual pelo qual foram revistos os valores a pagar pelos direitos de transmissão televisiva e multimédia dos jogos em casa da Equipa A de Futebol Sénior da Sporting SAD e direito de exploração da publicidade estática e virtual do estádio José Alvalade para as épocas 2015-2016, 2016-2017 e 2017-2018.
As contrapartidas financeiras globais resultantes do valor dos contratos, incluindo as épocas 2015-2016, 2016-2017 e 2017-2018, o referido no ponto 1 e o aditamento referido no ponto 2 ascendem ao montante de €515.000.000.
Lisboa, 29 de dezembro de 2015"
José Maria Ricciardi e outros candidatos haviam dito que o Sporting já teria antecipado (já lá iremos) 60 dos 68 milhões de proveitos referentes aos 2 primeiros anos, o que daria um valor de 34 milhões de DireitosTV por ano. Ora, ao analisarmos a rúbrica de DireitosTV neste R&C, verificamos que há uma redução de 191 mil euros face a período homólogo (Setembro) de 2017, fixando-se o valor em 5,6M€, contrariando a ideia que muitos sócios do clube teriam de que teríamos um crescimento desta rúbrica. Tentando encontrar uma explicação, fiz umas contas, baseando-me para tal em informação dispersa. Há poucos meses atrás, foi referido que o Sporting Clube de Portugal teria orçamentado 5M€ de proveitos/ano referentes aos contrato da NOS. Assumindo que tal se referirá aos "Direitos de Transmissão e Distribuição" do canal Sporting, então, teríamos, ao fim de 12 anos, um valor total de 60 milhões de euros. Em relação a Patrocínios e Publicidade, pegando no valor trimestral de 3,4 milhões e considerando que o prazo de contrato é de 12 anos e meio, então produzir-se-ia um valor acumulado para esta rúbrica de 170M€. Em termos da PPTV, creio lembrar-me que houve uma melhoria em cada uma das épocas desportivas de cerca de 6 milhões, totalizando 18M€. Ora, somando estas 3 rúbricas, apurar-se-ia um valor de 248M€, pelo que os DireitosTV deveriam representar 267M€ (26,7M€/ano) para que a contrapartida financeira global enunciado no supracitado Comunicado batesse certo (515M€). Julgo que seria importante um esclarecimento nesta matéria.
Em relação ao R&C propriamente dito, a primeira dúvida que assaltará alguns é como um resultado positivo de 16,1M€ só passa os Capitais Próprios para 549 mil euros, quando anteriormente estavam negativos em cerca de 13,3M€. Tal está explicado e refere-se a uma alteração de norma contabilistica, nomeadamente a adopção da IFRS15, que implica que se actualizem os rendimentos a reconhecer, o que produziu um impacto negativo nas contas de 2,2M€.
Olhando para a Demonstração de Resultados, verificamos que os Proveitos Ordinários desceram 10,5 milhões em Setembro 18, face a período homólogo (Setembro 17), consequência da não participação na Champions. Apesar disso, ficamos a saber que o prémio pela participação na Liga Europa foi de 5,6 milhões e que uma vitória (frente ao Qarabag, o triunfo em Poltava já foi após o fecho deste exercício) rendeu 570 mil euros. A título de curiosidade, é possível ver que a bilheteira do jogo contra o Qarabag rendeu 42 mil euros, quando o(s) jogo(s) da Champions realizados no mesmo período do ano passado renderam 880 mil euros, uma diferença abissal. Nos Proveitos, só a rúbrica Patrocínios e Publicidade apresenta uma subida face a período homólogo, Loja Verde, DireitosTV, Bilheteira&Bilhetes de Época (menos Gamebox vendidas, redução de 270 mil euros de proveitos no período) todos descem.
Preocupante é o não ajustamento dos Custos face à redução dos Proveitos Ordinários. Assim, embora haja uma redução de 2,4M€ nos Gastos com o Plantel no trimestre, verificamos que 1,1M€ se devem à atribuição de menos prémios, pelo que a diferença real é de apenas 1,3M€. Anualisando, se na temporada passada esta rúbrica apresentava um valor de 73,8M€, é de crer que o valor no final da época fique nos 68,6M€ (considerando variação nula nos prémios por objectivos). Também os Fornecimentos e Serviços Externos (FSE) se mantém muito elevados (aumentaram 820 mil euros), com um valor trimestral de 5,8M€, bem como as Amortizações, que se situam nos 5,35M€.
No que respeita a Transacções com Jogadores, na rúbrica Rendimentos aparece um valor de 23,515M€ mas no mapa de suporte é possível ver um montante de 25,981M€, referentes a William (16M, recebidos a pronto), Piccini (8M), Santiago Arias (15% passe=1,181M€) e Pedro Delgado (0,8M€). Ainda na mesma rúbrica está expresso um valor a nossa favor proveniente do Mecanismo de Solidariedade, referente à venda de Cristiano Ronaldo à Juventus (2,237M€ de um total de 2,441M€). Nos Custos com Transacção de Jogadores, ficamos a saber que a comissão e mecanismo de solidariedade inerentes à venda de Piccini foram de 1,145M€. Igualmente detalhado é o valor pago ao Bétis de Sevilha pela percentagem dos direitos desportivos que ainda lhe pertenciam (15%), de 1,159M€.
A contratação de Diaby custou um total de 5,5M€ e a de Raphinha um valor de 6,5M€. Os outros gastos foram com Bruno Gaspar (4,736M€), Viviano (2M€), Marco Túlio (1M€) e Marcelo (500mil). Há ainda um valor não detalhado de 1,935M€, que em futuros relatórios recomendo que deva ser discriminado.
Surgiu-me uma dúvida no que diz respeito aos empréstimos de Gudelj e de Renan: no Relatório, é indicado que há uns Gastos a Reconhecer que dizem respeito aos empréstimos desses dois jogadores, no valor de 2,7M€. No entanto, olhando para a rúbrica de Fornecedores, verificamos que está lá plasmado uma dívida de 3M€ ao Guangzhou Evergrande e um valor de 1M€ ao Estoril, clubes da proveniência destes 2 jogadores, pelo que 4M€ terá sido o custo destes empréstimos.
Em relação ao que já foi usado do contrato com a NOS, vemos que houve um Factoring de DireitosTv desta época, no valor de 13,485M€, e de épocas seguintes, no valor de 16,135M€. Existem ainda dois valores, um referente a "Outros Passivos não correntes" (3,467M€) e outro relativo a "Outros Passivos correntes" (11,05M€), que se devem à antecipação de receitas sem recurso por via de cedência de créditos futuros inerentes ao contrato com a NOS. Existe também contabilizada uma cedência de créditos contratuais de 12,8M€, que terá por base a hipoteca do(s) passe(s) de algum(uns) jogador(es).
Em termos de Balanço, o Passivo global desceu 1,302M€ e o Activo global cresceu 12,571M€. A Dívida Financeira mantém-se nos níveis registados em Junho de 2018, isto é, à volta dos 112M€.
Última nota para a indicação de que em 26/10, foi eleito o Conselho de Administração da SAD, composto por Frederico Varandas, Francisco Salgado Zenha, João Sampaio (todos do Conselho Directivo) e Miguel Cal e Nuno Correia da Silva (Holdimo), não sendo evidente quem tenha sido o elemento (talvez Miguel Cal, sendo certo que Salgado Zenha é o financeiro) indicado ou aceite pela banca, de acordo com a Reestruturação.
O problema da falta de aposta na Formação não é só de desperdício de talento. Ele é, essencialmente, de desbarato de dinheiro. Não só de um investimento que não é recuperado, mas de gastos inúteis em segundas, terceiras e quartas opções importadas para o plantel, que mais tarde não conseguimos colocar em lado nenhum, quando temos a prata da casa emprestada por aí.
Não é verdade que Matheus Pereira tenha desaproveitado a oportunidade que JJ lhe concedeu. Na época 15/16, o ala participou em 15 jogos (incompletos) e marcou 5 golos. Dificilmente se poderia pedir melhor em ano de estreia, embora Jesus tenha refreado a sua aposta à medida que as competições ganhavam caracter decisivo. Simplesmente, o lançamento de Gelson, no ano seguinte, travou a sua imposição, mas isso deveu-se mais a opção técnica e à valia do seu concorrente do que a demérito do brasileiro. Aliás, o ano passado, em Chaves, o brasileiro confirmou a sua qualidade, ao apontar oito golos.
Em relação a Francisco Geraldes, trata-se de um jogador que já venceu uma Taça da Liga, pelo Moreirense, após uma soberba exibição contra o Benfica. Um jovem que produziu 11 assistências para golo na temporada 17/18, actuando pelo Rio Ave. Merecia ter ficado no plantel do Sporting, funcionando como opção a Bruno Fernandes. A época é longa, há castigos, abaixamentos de forma, lesões, pelo que Geraldes garantiria uma certa continuidade, com a sua qualidade de passe e capacidade de, respeitando as desmarcações, fazer a bola chegar redondinha aos pontas-de-lança. Independentemente de pensar que o contrato de Geraldes contém alguns perigos para o próprio jogador, na medida em que não existe uma cláusula de opção, medida que poderá não favorecer uma aposta reiterada do seu novo clube, tirarem-se conclusões com base em uma amostra de um jogo (em que não actuou) será certamente estatísticamente irrelevante.
Não se compreende, também, porque Palhinha dá menos garantias do que Gudelj. Este tem estado parado, sem ritmo, depois de meses sem jogar num campeonato já de si muito pouco competitivo e intenso como é o chinês. Sobre o ex-sacavenense estou para ver o seu desempenho em Braga. Para já, não se pode dizer que tenha começado mal. É que se Geraldes não ter jogado na primeira jornada do campeonato alemão for relevante, então também o será o facto de Palhinha, em dois jogos pelo Braga, ter somado duas titularidades, duas vitórias e um golo e uma assistência essenciais a ambos os triunfos do seu novo clube.
Para além destes, Domingos Duarte tem acumulado críticas positivas na Coruña e Demiral foi emprestado com opção de compra a um pouco conhecido clube turco, tendo em contrapartida, aos 29 anos, chegado Marcelo. Por outro lado, desde o início da época, Gelson Dala acumula 2 golos e 3 assistências pelo Rio Ave, enquanto o Sporting procura no mercado um 111º avançado para o seu plantel, o que numa equipa que joga em 4-3-3 deve fazer todo o sentido.
Também é hábito introduzir-se o politiqueiro à discussão. Criam-se estados de graça e parece que a crítica está vedada. Já aconteceu no passado com JJ e com os resultados que se viu. Todos os que diziam que o rei ia nu eram atacados nas caixas de comentários, ou porque se argumentava que se estava a fazer o jogo do adversário ou porque os resultados eram minimamente bons, apesar das exibições na maior das vezes serem paupérrimas. Agora, é o fantasma do ex-presidente, como se quem criticasse o presente tivesse de ter saudades do passado recente. O que, aliás, faz pouco ou nenhum sentido, até porque Bruno Carvalho acabou por laborar nos erros do seu antecessor, comprando jogadores com pouco qualidade e permitindo ao seu pretérito treinador rédia solta para uma deriva daquilo que deveria ser a nossa estratégia desportiva assente num modelo económico sustentável. Aliás, a aposta na Formação, durante o consulado de JJ, apenas surgiu em 16/17 e destinou-se mais a mascarar um enorme chorrilho de erros, do qual ainda penamos, que nos levaram a prematuramente ficar fora de todas as competições do que qualquer outra coisa (das aquisições dessa temporada, só Bas Dost é titular!!!).
Uma última reflexão: nenhum clube tão assiduamente, e na praça pública, trata os seus atletas como activos como o Sporting. Não estamos a falar de acções nem de obrigações, nem sequer de sobreiros mas sim de um outro tipo de seres vivos, com pensamento e vontade própria. No dia em que pensarmos o clube não como um entreposto de compra/venda de jogadores, mas sim como um clube de futebol que quer manter os seus melhores jogadores, rendibilizando-os do ponto-de-vista desportivo, financeiro (via proveitos ganhos com conquistas desportivas) e económico (merchandising assente nos feitos dos jogadores) estaremos mais perto de uma cultura de clube vencedora e de um modelo de Organização onde inspere o respeito entre todas as partes. No entretanto, continuaremos a assentir a défices de exploração constantes, proliferação de importação de jogadores para as mesmas posições e outros desvarios que nos levarão, em pouco tempo, a consumir os proveitos inerentes ao contrato com a NOS. Depois, acordar será tarde.
P.S.1: concordo totalmente com a não vinda de Fábio Coentrão. Ainda recentemente comprámos 50% do passe de Lumor por 2,6 milhões de euros. Um jogador com 20/21 anos e muita margem de progressão, capaz do vai-vai constante que nos falta na lateral esquerda e dotado de fulminante rapidez. É tempo de sermos responsáveis pelos investimentos efectuados.
P.S.2: exceptuando Slimani, todas as nossas vendas de valor relevante foram de jogadores oriundos da nossa Formação. João Mário (a maior de todas), Nani, Simão Sabrosa, Hugo Viana, Cristiano Ronaldo, Adrien, William, Bruma estão aí para o provar. Há dúvidas?
OSporting tem de estar estratégicamente na primeira linha em todas as transformações que o futebol português precisa, no sentido do reforço da sua competitividade e viabilidade económica, e necessita de ser mais persuasivo na mobilização dos restantes clubes para esta causa. Há que perceber o que é fundamental e o que é acessório e saber estabelecer os compromissos necessários para que as nossas ideias vinguem.
A descida portuguesa no ranking de clubes da UEFA obriga a reflectir sobre a competitividade do futebol nacional. Assim, o Sporting deveria inspirar uma alteração dos quadros competitivos: em cinco anos (se não se conseguir antes), campeonato com 12 equipas, disputado numa primeira fase a duas voltas; “play-off” (6 primeiros da primeira fase) e “play-out” (6 últimos da primeira fase) com 6 equipas cada, a duas voltas, total de 32 jogos; os pontos contam desde o início, descida de divisão para os dois últimos classificados do “play-out”, o que possibilitaria que a mesma receita fosse dividida por menos clubes. Igual modelo para a 2ªLiga e para a 3ªLiga (inovação). Criação da 4ª Divisão, nos moldes do actual Campeonato de Portugal, a cargo da Federação Portuguesa de Futebol. Desde logo, haveria mais jogos entre Sporting, Porto e Benfica e quem conseguisse chegar ao “Play-off” receberia duas vezes os “grandes”, uma grande motivação e aumento das receitas de bilheteira para todos. O vencedor do “Play-out” poderia ter um bónus da Liga (ou mesmo uma participação europeia garantida, por troca com os quintos/sextos classificados do “Play-off”), a fim de que os clubes estejam motivados. Julgo que com estas medidas, e assegurando que em 5 anos o modelo estaria implantado, tenho poucas dúvidas de que teríamos, daqui a 10 anos, 3 clubes na Champions.
Deve ser revisto o modelo competitivo da Taça da Liga. O formato actual é aberrante, a sua calendarização e espaçamento temporal, idém. Ou existe um incentivo do tipo participação em competição europeia ou a competição não faz muito sentido. Pior ainda com a criação das competições de Sub23, que permitirão rodar jogadores mais jovens, retirando ainda mais interesse por parte dos clubes maiores a integrarem a Taça da Liga. Esta competição deveria idealmente ser disputada entre Dezembro e Janeiro, num formato de eliminatórias, com um pré-eliminatória que apure 32 equipas, seguido dos dezasseis-avos, oitavos e quartos de final (sempre jogados a uma única volta e em casa da equipa pior classificada no campeonato nacional do ano anterior). Seguir-se-ia o actual formato de Final-Four que me parece bem conseguido, com a atribuição ao clube anfitrião, prévia ao início da competição, da responsabilidade de organizar essa fase decisiva.
A questão da defesa do futebolista português também deve ser abordada. Bem sei que, pós-Lei Boaman, para a UEFA vigora a livre circulação, mas há algumas medidas que se poderiam tomar. Por exemplo, a primeira regra de desempate de pontos nas competições nacionais poderia ser o nº de portugueses utilizados, critério que prevaleceria sobre a diferença de golos, o nº de golos marcados ou os resultados entre os clubes em causa.
A centralização dos DireitosTV é algo que tem de ser conseguido no médio-prazo. Pode parecer negativo para os "grandes", mas a verdade é que actualmente Portugal só tem um participante garantido na Champions e isso deve-se, essencialmente, à má prestação dos clubes médios do futebol português nas provas da UEFA. Às vezes, é importante dar um passo atrás para se poderem dar dois à frente e uma maior competitividade da Liga beneficiará a todos no longo prazo.
A Liga enquanto regulador tem de fazer outro escrutínio na constituição de sociedades anónimas desportivas. O futebol, actualmente, é um paraíso para negócios pouco claros e é necessário tomar medidas para combater isto. O “match-fixing”, geralmente associado às apostas desportivas, é um flagelo que importa enfrentar. Não me parece que haja suficiente “compliance” sobre os investidores e a Liga deveria adoptar os procedimentos actualmente em vigor no sistema financeiro sobre branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo (BCFT). E depois, há modelos que funcionam porque apostam em criar raízes e na envolvência com as povoações, como é o caso do Aves, outros não contemplam essa realidade e acabam por criar um fosso com os sócios e adeptos do clube, servindo apenas como plataforma de interface de jogadores.
Código de Ética dos Agentes Desportivos: é fundamental a existência de um código de ética, de conduta, que abranja todos os agentes desportivos, com especial ênfase em regras, procedimentos de prevenção de conflito de interesses, promiscuidade, tráfico de influências e corrupção. Nele estarão claramente definidas as penalizações em sede de justiça desportiva em que incorrerão os prevaricadores. A Liga e a Federação não se podem demitir da sua função reguladora e devem criar condições que previnam a adulteração da integridade das competições e o respeito pelos espectadores/consumidores do produto futebol. O Código deve constar em local bem visível na primeira página dos sites das entidades reguladoras. A justiça desportiva não pode nada fazer a montante e estar sempre à espera, a jusante, de investigações da PGR. O Ministério Público e a PJ deverão ter mais que fazer do que permanentemente ter de alocar recursos para estudar as diversas suspeitas que envolvem o fenómeno futebolistico em Portugal. Ou, Liga e FPF, mostram capacidade de se auto-regularem ou o Estado terá de intervir, criando regras que impeçam a continuação deste status-quo. Para além destas regras, Liga e FPF deveriam conceber durante toda a época um conjunto de iniciativas que visassem promover um futebol limpo, seja por via de acções nos estádios, seja através de acções de formação e sensibilização de todos os agentes. Estes deveriam ser obrigados a fazer um exame e a terem de mostrar ser conhecedores de todos os procedimentos constantes do Manual.
O futebol português possui desvantagens competitivas face a diversos países europeus (a diferença para Espanha é gritante) devido a uma fiscalidade mais exigente, que não discrimina positiva uma profissão de desgaste rápido (dos profissionais de futebol) e que muito penaliza os clubes. Promover consenso na Liga e constituir um grupo para sensibilizar o governo, no sentido de tentar aligeirar a carga fiscal dos profissionais de futebol, seria uma prioridade.
Um clube formador, como é o caso do Sporting, que abastece todo o futebol português, tem de ter outro peso perante os seus pares, não pode ser permanentemente desrespeitado, nem as suas posições serem sempre relegadas para segundo plano em nome de outros interesses instalados. Assim, o Sporting deve ter uma política de relacionamento com outros clubes, privilegiando aqueles que o respeitem.
O produto Futebol Português tem de ser vendido de uma forma totalmente diferente. Devem existir regras claras de transparência para que o consumidor acredite no produto, os artistas (jogadores) têm de ter liberdade concedida pelos clubes para abordarem diversos temas e estar disponíveis para acções com os fãs, a exportação do produto para os mercados americano e asiático pensada. É inconcebível que o futebol do país campeão europeu continue a despertar tão pouca procura e isso dever-se-á muito à inércia da Liga e sua incapacidade de promoção da imagem do nosso futebol. Também não é aproveitada da melhor maneira a passagem de alguns craques pela nossa liga. Jogadores como Schmeichel, Deco, Ramires, Aimar, entre outros (só falando deste milénio), poderiam ter contribuido para uma maior divulgação.
O futebol, pese a sua idiossincrasia, do ponto-de-vista da gestão tem semelhanças com outros negócios, outras indústrias. Veja-se o caso da indústria farmacêutica: a maioria dos recursos são alocados a R&D (pesquisa e desenvolvimento). Ora, o modelo de sustentabilidade que preconizo para o Sporting, que assenta na Formação, pressupõe o necessário investimento nesses vectores de crescimento como forma de obtenção de rendimento desportivo e, simultaneamente, resultados financeiros. Pesquisa é encontrar desde cedo um conjunto de jogadores muito jovens com algo de distintivo, um dom diferenciador, que possam integrar as nossas escolinhas/escalão de infantis. Para isso, precisaremos de um técnicos com especiais características de detecção de talento. César Nascimento ou Osvaldo Silva eram homens com uma sensibilidade especial para isso e, literalmente, fizeram escola. Adicionalmente, tem de se criar uma base alargada de contactos, de forma a que se possa chegar primeiro. Nesse processo, uma boa rede de olheiros é necessária. A utilização de antigos jogadores que vivam nos diversos distritos do país, o aproveitamento do conhecimento no terreno dos núcleos regionais e a informação proveniente das várias escolinhas (franchisadas) do clube é essencial. Detectado o talento, segue-se o contacto com o jovem e seus pais. É necessário convencer os progenitores de que o Sporting é a melhor opção para o futuro do seu filho. Não é de ânimo leve que um pai entrega um filho a um clube, principalmente quando o agregado familiar vive muito longe de Alcochete. Há a questão dos estudos, a dor do afastamento para quem vive longe, a questão da mobilidade para quem está mais próximo, a escolha do melhor clube. O Senhor Aurélio Pereira sempre se destacou pelas garantias que oferecia aos pais, capacidade de persuasão e sentido de responsabilidade, para além das suas capacidades organizativas e dons de prospecção de talento. Certamente tem feito escola, mas o Sporting tem vindo a atrasar-se face à concorrência essecialmente devido à escassez de recursos alocados aos olheiros e rede de prospecção, mas também devido ao isolamento de Alcochete face à rede de transportes. Enquanto o Seixal está a 15 minutos de barco de Lisboa, o acesso a Alcochete é bem mais complicado.
Bem sei que a primeira lei económica enuncia que os recursos são escassos, mas é exactamente por isso que se devem estabelecer estratégias de gestão desses recursos. Se há investimento que possa ter elevado retorno é o efectuado na Formação. Temos de investir para podermos detectar primeiro. Por outro lado, há que pensar noutras opções para além de Alcochete. Este é um local físico (os terrenos, inclusivé, ter-se-ão valorizado com a perspectiva do aeroporto e procura imobiliária geral), importante é a propriedade intelectual que temos nos nossos quadros, pelo que me agradaria uma solução alternativa eficiente do ponto-de-vista de transportes e escolas, que não roubasse tanto tempo aos jovens e suas famílias.
Adicionalmente, cumprida a fase da pesquisa, entramos no Desenvolvimento. O Sporting tem de ter um conjunto de técnicos com capacidade formadora, tanto a nível futebolistico como humano. A Cultura Sporting começa aqui. Nas atitudes, nos comportamentos, na divulgação do que é o Sporting, a sua história, os seus heróis, os valores do clube. O rendimento escolar também deve ser monitorizado regularmente. Entrando na questão desportiva, é fundamental que haja um plano de desenvolvimento por jogador. Que passe pela componente física (uma previsão de crescimento pode dar dicas sobre a posição a ocupar futuramente no terreno), táctica e técnica. Nesta última vertente, verificamos que poucos jovens chegam a idade adulta com boa técnica de remate, com o pé ou de cabeça. É mais vulgar vermos aparecer jogadores com velocidade e capacidade de finta, com recepção orientada e passe, mas bons rematadores escasseiam. Haverá, certamente, trabalho a desenvolver nessa área. Mais uma vez, é curial dotar recursos. Precisamos dos melhores técnicos, dos melhores formadores e temos de reforçar essa equipa e não estar permanentemente a perder referências para o nosso rival de Lisboa.
Olhando para o nosso R&C e perspectivando a entrada em cena do nóvel contrato com a NOS verificamos que o valor das nossas Vendas e Prestação de Serviços andará actualmente à volta dos 80 milhões de euros. Atendendo a que a entrada na Champions - dada a descida no ranking de Portugal - se tornou mais difícil (só um tem acesso garantido), proporia retirar da rúbrica Outros Proveitos os rendimentos (incertos) daí provenientes, passando a considerá-los por uma questão de prudência como uma Proveito Extraordinário, à semelhança da venda de jogadores. Assim, consideraria 80 milhões como o valor dos Proveitos Ordinários. Segregando, teríamos cerca de 40 milhões de DireitosTV, 16 milhões de bilheteira e bilhetes de época, 14 milhões de publicidade e patrocínios e 5 milhões como receitas de distribuição da Loja Verde e afins como principais itens. De seguida, indexaria os Custos Operacionais aos Proveitos Operacionais, adoptando uma política de Resultado Operacional ZERO. Atendendo a que gastamos cerca de 20 milhões anuais em Fornecimentos e Serviços Externos (FSE) e mais 10 milhões são consumidos em Provisões, Depreciações e outros pequenos itens, daqui resulta que sobram à volta de 50 milhões para Custos com o Pessoal, valor ainda assim superior ao da 1ª época de JJ no Sporting (48,8 milhões) e cerca do dobro gasto no tempo de Leonardo Jardim (25 milhões) ou Marco Silva (25,1 milhões). Estou certo de que com a eliminação da recorrente redundância na contratação de jogadores para as mesmas posições (que aumentam os custos salariais) que pouco acrescentam, a saída de Patrício e de William, bem como a maior aposta na Formação (no seu primeiro contrato, os jovens usufruem de uma retribuição relativamente baixa) e a poupança face à extravagância que foi o custo anual incorrido com o anterior treinador nos permitirá encaixar os Custos com Pessoal num patamar de Sustentabilidade, sem prejuízo de continuarmos competitivos (não reduziria os custos com as modalidades). Teremos de fazer mais, mas principalmente melhor, com o orçamento que temos, ainda assim o dobro do disponibilizado a Leonardo Jardim, técnico que se classificou em segundo lugar no campeonato nacional. Partindo de uma Resultado Operacional zero, e mesmo contando com um valor de amortizações anuais (15/20 milhões) do plantel que subiu cerca de 50% (!) no último ano, seria possível a obtenção de consistentes resultados de exercício positivos, recorrendo a alguma venda quando não atingido o objectivo da Champions, pelo menos até que não se consiga elevar os Proveitos provenientes das vendas de gamebox e do merchandising das lojas do clube. Com esta política e também afectando parte dos rendimentos anuais do contrato da NOS, estou convencido de que se conseguiria uma redução do Passivo não corrente (actualmente nos 103 milhões) para metade, num primeiro mandato, e sua eliminação, num segundo, sem qualquer aumento do Passivo corrente (actualmente nos 165 milhões e que também tentaria baixar o mais possível) .
Uma Sociedade com este tipo de performance financeira (e, estou em crer, também desportiva) é altamente atractiva para investidores. Defendo que o Sporting deve ter uma boa relação com todos os stakeholders, mas também que deve aumentar ao máximo a sua participação por via da recompra das VMOCs. Para a Holdimo, entre ter 30% da actual realidade ou ter 10% de uma sociedade bem gerida e com resultados de exploração interessantes, certamente seria mais vantajosa a segunda opção. Estas coisas devem ser conversadas, olhos nos olhos, numa relação que se pretende sadia entre as partes, mas sempre tendo em consideração o superior interesse do Sporting Clube de Portugal.
Adicionalmente, é para mim importante que o Sporting seja visto como um clube que aplica boas práticas e transparente, pelo que gostaria de erradicar todo o ruído históricamente existente à volta das transferências de jogadores e credibilidade de entidades que se relacionem com o clube. Assim, constituiria um Comité de Compliance, independente, composto por personalidades com provas dadas, que pudesse analisar "in loco" todas essas questões (que só chegam ao Conselho Fiscal e Disciplinar mais tarde), emitir o seu parecer e as suas recomendações e inclusivé ter o poder de veto em determinadas negociações. Para além disso, caberia a esse Comité rever todo o tipo de procedimentos existentes no clube, códigos de conduta (colaboradores, sócios, claques) e propor medidas que ajudem à transformação do futebol português (código de ética do agente desportivo...), algo que abordarei em maior detalhe em capítulos posteriores.
Penso que a visão para o clube e para a SAD deve ser comum. Por isso, entende que o presidente do clube deve, também, ser o presidente da SAD. Com a criação de orgãos que vão reforçar a transparência da(s) instituição(ões), julgo que ficam asseguradas as condições para que tudo corra pela normalidade. Adicionalmente, proporia em Assembleia Geral uma limitação de mandatos do presidente do clube a 2 mandatos. Com isso pretenderia evitar o sempre problemático apego ao poder e estimularia o trabalho em equipa e, correndo bem os mandatos, a preparação de novas lideranças, sujeitas obviamente ao escrutínio dos sócios.
O Sporting precisa de maiores proveitos e entendo como importante a dinamização dos núcleos nesse sentido. Estes são um bom canal de vendas (para além da bilhética) e potenciadores de negócios para o clube. Estão nas regiões e devem estar ligados ao tecido económico das mesmas. Poderão servir para aumentar o número de associados, incrementar as vendas de produtos e serviços do clube e como polo aglutinador de patrocinadores para o clube através do conhecimento das forças vivas da região e suas necessidades de promoção das marcas. Deveriam ter Promotores comerciais, pagos à comissão, na venda de produtos/serviços, num modelo que poderia atribuir um "fee" maior ao núcleo, ficando estes responsáveis pelo pagamento dos comerciais, ou um "fee" menor, assumindo o Sporting os compromissos com esses comerciais. Gostaria que um dia nos fosse mostrada uma discriminação dos proveitos obtidos na Loja Verde, Rua Augusta, "on-line sales" e outros canais, de forma a perceber de que forma se podem melhorar as vendas nos diversos canais de distribuição. Nos escrutínios eleitorais, os núcleos deveriam poder participar através do voto electrónico, observadas as necessárias garantias de fiabilidade e integridade do sistema.
Gostaria que o Conselho Directivo do clube tivesse um pelouro da Juventude. Para quem não pratica desporto federado no clube e é jovem, a oferta é pouco mais do que umas idas ao estádio ou pavilhão para apoiar as equipas do clube. A juventude não são só as claques (muitos deles já avôs) e temos de estimulá-los. Olhando para as novas tendências e para a emergência dos desportos radicais, o Sporting poderia abrir as portas para quem se quisesse iniciar em modalidades como o surf, kite-surf, escalada, paraquedismo, et caetera, actividades pagas e com um custo mais baixo para novos associados, iniciativa que creio iria contribuir para chegarmos a mais sócios e mais cedo. Adicionalmente, e em conjunto com a Fundação Sporting, estimularia programas de voluntariado para jovens, em acções de responsabilidade social.
Em relação à relação do clube com os seus sócios, proporia o seguinte:
CRM Sporting: os sócios têm diferentes competências, trabalham em diferentes sectores de actividade, têm skills que podem ser úteis ao clube e à sua Direcção. A partir do momento em que é extinto o Conselho Leonino, ainda mais importante é explorar o conhecimento que estes sócios têm sobre matérias específicas, podendo e devendo a Direcção pedir-lhes apoio na implementação de certos projectos ou, simplesmente, via algum conselho que possa ser dado, sempre em complemento das equipas de colaboradores do Sporting. Para que a Direcção possa conhecer melhor os seus sócios tem de promover um novo cadastramento dos mesmos (os dados preenchidos aquando da adesão são insuficientes). Proponho que se olhe para as melhores práticas da banca, a qual tem hoje em dia um formulário obrigatório denominado Know Your Customer (KYC), que inclui dados complementares (profissionais e áreas de interesse). Depois é adaptá-lo à relação entre um clube e seus sócios (os dados patrimoniais já seriam talvez intrusivos) e lançá-los numa plataforma CRM. No passado, criei uma de raíz através do Microsoft Dynamics, a custo muito baixo. Outro aspecto relevante é esta ferramenta também permitir fazer uma segmentação dos sócios, por "bucket" etário, geografia, profissão, interesses, etc, adaptando a nossa oferta de produtos/serviços a cada segmento. Preocupação que tenho nesta matéria: Protecção de dados. Associado ao CRM, geralmente existem diferentes níveis de prioridade de acesso aos dados do cliente/sócio. Alguns dados deveriam permanecer confidenciais para todos os colaboradores e só poderiam ser acedidos pelo Conselho Directivo/Conselho de Administração e pelo Director de Marketing. Tenho um exemplo muito desagradável no passado, com outra Direcção, quando, através de um Contact Center, uma determinada companhia de seguros começou a ligar-me diariamente e às horas mais impróprias (durante reuniões e/ou à hora do jantar) no sentido de que lhes comprasse um determinado produto. Isto durou meses - todos os dias ligavam-me pessoas diferentes - apesar de, desde o início, ter referido não estar interessado. Quando lhes perguntei como tinham obtido os meus dados referiram-me que o Sporting lhes tinha vendido a base de dados dos seus sócios. Fiquei indignado é só não tomei uma providência por ser o meu clube do coração (já não me recordo - sou sócio há 38 anos - se aquando da filiação havia algum campo que permitisse a transmissão de dados, mas sendo eu menor na altura duvido que isso fosse legalmente permitido).
Provedor do sócio/Secretário Geral: não sei se existe; no site, em lugar de destaque, não consta. Como podem os sócios encaminhar sugestões para o clube? Ou queixas sobre um determinado abuso por parte do clube? Seria importante, em ambiente fechado ou aberto a outros sócios, os sócios terem um espaço onde pudessem apresentar sugestões de melhoria de determinados serviços ou ideias, visões, para o futuro do clube. O tipo de conteúdo é diferente de uma Linha de Apoio, pelo que deveria haver um canal próprio criado para o efeito. Já agora, gostaria de deixar aqui uma nota à atenção de alguém responsável porque, tendo acontecido comigo, dela tenho conhecimento. No início deste ano, o banco que uso para débito em conta, das quotas dos meus 3 filhos, após uma integração, mudou os IBANs dos seus clientes. O resultado disso foi que os antigos IBANs deixaram de estar disponíveis e os pagamentos não foram efectuados (teria de me ter deslocado a Alvalade e dado os novos IBANs). São 3 quotas que estão a meu cargo, um dos meus filhos é maior de idade e já não sou eu que recebo as mensagens para pagamento, e o Sporting deixou de ter assegurado o pagamento das quotas por débito directo, passando para a situação mais precária (e ao cuidado da memória de cada um) de ter de ser o sócio a fazer a transferência por multibanco ou home-banking, tudo isto, dizia, sem me fazer um único telefonema. Ora, é ou não de todo o interesse do clube que os sócios não tenham as quotas em atraso?
Sócios - iniciativa Glória do mês: iniciativa que visaria homenagear mensalmente um atleta que pelo seu palmarés e comportamento social tenha sido uma referência dos valores que apregoamos. Do futebol ao atletismo, do hóquei ao basquetebol, do andebol ao futsal e restantes modalidades seria prestada homenagem a essas figuras, o que permitiria aos mais jovens tomar consciência de quem foram essas pessoas e aos mais antigos recordá-las com saudade. Armando Marques (tiro), vice-campeão olímpico (quem conhece?), Chana (hóquei, campeão do mundo, para mim, ainda melhor que Livramento, quem conhece?), Rita Villas-Boas (trampolins, vários títulos, quem conhece?). Isso permitiria às pessoas, durante esse mês, tomar contacto com a história desse atleta e da sua modalidade, com peças na SportingTV, jornal do Sporting, Site do clube e iniciativas próprias no estádio de Alvalade e no Pavilhão João Rocha antes dos jogos das nossas equipas, reforçando o orgulho de ser Sporting e o "awareness" sobre uma modalidade específica.
Stock-out Loja Verde: mensalmente, haveria um dia com preços bastante mais baixos, com colecções "retro" de outras épocas, vendidas a preço muito acessível.
Dia de Sporting: trabalho de pré-época, de conjugação dos calendários dos jogos no Pavilhão com os jogos no Estádio, permitindo maior afluência de público, envolvendo famílias. Criação do Pack Dia do Sporting, de bilhete único para utilizar no estádio e pavilhão, no mesmo dia.
Sócio do mês: em todos os jogos em Alvalade, o Conselho Directivo (por mérito ou por sorteio, critério a definir) escolheria alguns sócios, os quais teriam direito a assistir aos jogos em Alvalade com a sua família (4 pessoas, p.e.), entrar em campo com as equipas, dar um pontapé de saída simbólico, receber uma bola autografada por todos os jogadores e treinadores, efectuar uma visita guiada a Academia e Museu, participar nas homenagens ao atleta do mês (Glória), entrevistas a SportingTV e Jornal do clube dando conta da sua experiência de envolvimento com o clube. Nota: poucos sócios reunem condições para terem a familia com eles nos jogos durante toda a época. Só aqui em casa somos cinco, pelo que se torna incomportavel caso não queiramos naturalmente descriminar qualquer dos filhos.
Colecção de cromos GLÓRIAS do SPORTING: (ideia que me foi trazida pelo Leitor JHC e posteriormente desenvolvida) uma colecção de cromos digital (com um chip que possa ser lido em aplicativo) com os craques de todos os tempos do nosso clube e vendida na Loja Verde;
Site do Sporting: carece de urgente reformulação. Não só é muito pouco sofisticado técnicamente, com consequências a nível de navegação, como é paupérrimo em termos de conteúdos e da sua actualização (procurar as equipas de Formação é um exercício surrealista, os jogadores são sempre os do ano anterior), mesmo a nível do calendário de jogos da nossa equipa principal de futebol como o Nosso autor Ricardo Roque tem feito o favor de demonstrar. É muito pobre, tem muito poucas referências à nossa história e à dos nossos atletas e é pouco funcional e interactivo (a não ser para pagamentos de quotas ou gamebox). Aqui há tempos, o Nosso comentador JHC deu conta de um site brasileiro, "Esquadrão Imortal", que faz mais jus à carreira de Peyroteo e dos 5 Violinos do que qualquer publicação leonina (exceptuando os livros de Fernando Correia). No mês dedicado a um atleta, poderiam ser incluídos no site peças diárias sobre todos os relevantes atletas dessa modalidade onde o homenageado se destacou.
Novas tecnologias: O Nosso comentador Leão da Estrela (Luis Barros) trouxe-me a sugestão, ipsis verbis, de que, em tempos de internet, redes sociais, jogos eletrónicos e toda uma interatividade digital de meios, seria importante criar um gabinete de novas tecnologias como forma igualmente de criar maior ligação ao sócio e adepto e consequentemente, entrar no mundo dos mais jovens criando assim maiores laços e cativando a sua ligação ao Clube. Neste mundo digital, ter-se-ia que dar maior destaque aos atletas e às modalidades, sendo importante e principalmente para os mais jovens, a criação de jogos onde o Clube, os seus heróis desportivos ou as suas modalidades desportivas fossem jogáveis de forma interactiva.
Há muita a fazer a nível de merchandising do clube. O merchandising é um elemento essencial na afirmação de uma marca. Na minha opinião, não faz sentido o Sporting abrir uma loja na Rua Augusta, de dimensão bem mais reduzida do que a que o Benfica tem na mesma rua, apenas dois quarteirões abaixo. Aquilo que deveria ser considerado como muito positivo – abertura de uma loja numa zona com enorme circulação de pessoas, muitas delas de cidadania estrangeira, aspecto importante na internacionalização da marca – acaba por ficar indelevelmente marcado pela comparação pela negativa face a um rival, algo facilmente percepcionado por qualquer transeunte e que põe em causa a imagem do Sporting como a maior potência desportiva nacional. Se queriam competir na mesma zona não poderiam ter arranjado um espaço pelo menos de dimensões idênticas às do rival? Estas coisas têm de estar integradas com a estratégia de afirmação do clube e serem transversais a todos os pelouros atribuídos no CD/CA. Outro aspecto que tem vindo a ser negligenciado: os estágios de pré-época na Suiça não têm sido aproveitados para divulgar a nossa marca internacionalmente, nem para satisfazer a procura dos emigrantes portugueses. Por incrível que pareça, o Sporting não transportou nenhum material de merchandising consigo nestas viagens onde foi visível a presença de vários emigrantes com camisolas desactualizadas. Dado que a equipa actuou em diversas cidades suíças, porque é que o Sporting não fez deslocar um camião itinerante da Loja Verde? O mesmo se aplica aos nossos jogos fora de casa, em Portugal, que também não costumam ter a presença de qualquer merchandising do clube, algo que acaba por ser um sonho para a contrafacção.
Tinha aqui ainda algumas ideias sobre rendibilização do património imobiliário e canal de novos negócios, mas o postal já vai muito longo e vou-vos poupar. Amanhã, voltarei com Sustentabilidade/ideias para o futebol português. Então, até amanhã! Viva o SPORTING!!!
O futebol cumpre uma importante função social, ele é o circo romano dos tempos modernos. Por paixão pelo jogo, amor ao clube, desejo de vencer, necessidade de pertença e/ou de partilha ou, simplesmente, como escape para frustrações diversas do quotidiano, os adeptos vão aos estádios. Se for possível contribuir para que de lá saiam mais felizes do que entraram e não totalmente entediados, quando não enervados, então penso que o clube cumprirá uma função importantíssima do ponto-de-vista social. Defendo, por isso, que o Sporting tem de oferecer um bom produto aos seus adeptos sob a forma de um futebol positivo, onde o rigor táctico possa ser compatibilizado com os desequilíbrios provocados pelos "gladiadores" que fazem o bilhete valer a pena. Nesse sentido, defendo que o treinador principal do clube deve ser escolhido por conseguir conciliar o pragmatismo, com a aposta nos jovens e numa boa ideia de jogo, a qual permita algum deleite ao espectador e não transforme um campo de futebol numa repartição pública. Já tivemos treinador assim, alguns até com um perfil "bigger than life" - como Malcolm Allison - e com bons resultados e não há razão nenhuma para não voltar a ter.
Um edifício futebolistico constrói-se pelos seus alicerces. No nosso caso, a nossa fundação é a Formação. Investimos dinheiro no projecto da formação com o objectivo de virmos a colher benefícios disso, tanto a nível desportivo como económico. Ora, é extremamente importante saber balancear estas duas vertentes e, através delas, assegurar a sustentabilidade do projecto. Por isso, defendo que tem de haver outra ligação entre o que é feito no terreno e a gestão do clube. Desde logo, através de um planeamento decorrente de um diagnóstico, tão precoce quanto possível, do valor intrínseco de cada jogador da nossa Academia. Nesse sentido, constituiria um Gabinete Técnico, conectado com a área de gestão de activos, que catalogaria os nossos jovens em 4 categorias:
jogador de classe extra(4), tipo Futre, Figo ou Ronaldo
jogador muito bom(3), tipo Adrien, William, Rui Patrício ou João Mário
jogador bom(2)
jogador de classe média(1)
Quando o jogador chega aos juniores, haverá um ano para completar o seu diagnóstico. Com estas conclusões na mão, a gestão de activos e o treinador principal deverão seguir este plano: o jogador da classe 4 deve ser considerado um "eleito" e deveremos tentar mantê-lo o tempo possível para que nos ajude a ter êxito desportivo, sem prejudicar a sua valorização enquanto "activo". Nesse sentido, idealmente só o libertaremos por volta dos 23 anos, permitindo-nos 4/5 épocas na equipa principal e concomitante rendimento desportivo. Este tipo de jogadores nunca deverá ser vendido por valor inferior a 50 milhões (para quem ache pouco relembro que Futre saiu a custo zero, Figo por 2/3 milhões e Ronaldo por 15 milhões); os jogadores da classe 3 não despertarão tanta cobiça imediata por parte dos tubarões europeus. Aparecerá certamente uma segunda linha de clubes de topo interessada neles, mas os valores não serão assim tão sedutores. Preconizo que se tente fixar uma bitola entre os 25/35 milhões para venda destes "activos" e que se tente mantê-los até uma idade próxima dos 27 anos. Se, como no caso de João Mário, o valor oferecido pelo mercado for superior ao preço por nós definido, então aceitaremos libertar o jogador mais cedo; ligo muito a classe 2 à nossa sustentabilidade financeira, até porque tenho a firme convicção de que aqui há um trabalho importante de racionalização e optimização dos recursos a fazer. Se não trabalharmos bem esta classe ficaremos com os tais plantéis de 70/80 jogadores que, todos juntos, acabam por pesar bastante na conta de exploração da SAD. Na minha opinião, é com as vendas destes jogadores - a esmagadora maioria dos quais condenados a empréstimos e pré-épocas na equipa principal fracassadas - que pagaremos por longo tempo os custos incorridos com a nossa Formação. Imagine-se que definimos um preço entre os 10 e os 15 milhões para venda de um determinado jogador. Em vez de "aquecer" o banco ou andar de empréstimo em empréstimo até ao final do seu contrato, um jogador destes, só por si, pagaria 3 anos da nossa Academia. Não podemos querer ter os "cromos" todos e se percepcionamos que o treinador principal não o vê a entrar de caras na equipa nos seus 3 primeiros anos de sénior, então o melhor é tirar algum proveito económico/financeiro do investimento que fizemos na formação do atleta; finalmente, o jogador da classe 1 deve ser alienado no final do seu primeiro ano de juniores ou na passagem para sénior, de preferência a clubes com que tenhamos boa relação e protocolo e com quem se possa estabelecer um acordo de opção de recompra (valor que não deverá superar 0,5/1 milhão de euros), precavendo o caso de o jogador vir a desenvolver-se de uma forma surpreendente que suplante o pré-diagnóstico feito.
É de superior importância que se reconheça e aprove o processo e que este não possa estar dependente de um eventual diagnóstico falhado. No futebol, infalíveis são apenas os ferros das balizas e a bola que rola (quando não fura), até a relva nem sempre cumpre como bem sabemos (e todo o mérito, independentemente de outras considerações, a quem finalmente resolveu esse problema), pelo que não será o erro que nos deverá desmobilizar de tentar introduzir alguma ciência na gestão dos activos. Os desvios devem ser corrigidos, substituindo ou reforçando pessoas no tal Gabinete Técnico se for caso disso, mas não deveremos nos afastar do processo nem duvidar das suas vantagens. (nota: os valores apontados para venda não dispensam que o valor das cláusulas de rescisão dos jogadores permaneça elevado, na ordem dos 60 ou 100 milhões, até de forma ao clube poder ter maior liberdade negocial)
De seguida, passarei a abordar ideias sobre o futebol profissional e a sua articulação com a Formação. O modelo de aposta na Formação deve ser imposto pelo clube, sem trangiversões e como parte integrante da sua política desportiva. É que, independentemente dos resultados desportivos que o treinador consiga obter, a factura é paga pelo clube/sociedade anónima desportiva e cabe a ela garantir a sustentabilidade económico/financeira do projecto.
Sistema de jogo: na Formação, o sistema de jogo é o 4-3-3. Segundo Aurélio Pereira - e eu gosto muito de ouvir quem realmente sabe, especialmente quando possuem a humildade do nosso catedrático Senhor Formação – o sistema de jogo mais fácil de aprender é o 4-3-3, porque dá mais liberdade aos jovens, não lhes retirando totalmente o “jogo de rua”. O sistema 4-4-2, nas suas múltiplas versões com dois médios centro de perfil, com duplo-pivot ou em losango, exige outra qualidade táctica, outra interpretação do jogo. Ora, se os nossos jovens, desde os 14/15 anos, treinam neste sistema fará sentido, quando chegam aos séniores, experimentarem outro? Até por isso, a contratação de Jorge Jesus para mim fez pouco sentido. Principalmente, se quisermos ancorar o nosso rendimento desportivo e a nossa sustentabilidade financeira no projecto da Formação. Veja-se, por exemplo, a dificuldade que Podence (zero golos) teve para ser o segundo avançado de um sistema que não conhecia (simultaneamente, observem de que zona do terreno (alas) partiram a maioria das suas 7 assistências da época). Diga-se que estas dificuldades não foram exclusivas do jogador proveniente da nossa Academia. Alan Ruiz, que na Argentina e no Brasil jogava a partir da ala direita, também nunca se enquadrou e só Bruno Fernandes, que teve 4 anos da tácticamente fortíssima escola italiana, teve um desempenho assinalável. O meu ponto, e admito que seja polémico, é que se queremos ter um projecto de futebol profissional assente na Academia então deveremos herdar o seu sistema de jogo, havendo naturalmente os sistemas alternativos que o treinador principal entenda criar. Um modelo à Barça, mas nós também somos mais do que um clube. Até admito como 2ª opção que se adapte o modelo de jogo aos jogadores que temos (se a aposta na Formação for real não se afastará do que anteriormente disse), agora o que penso não dever acontecer nunca é os jogadores terem de adoptar o modelo do treinador (isso também fez a diferença na performance de Rui Vitória face a JJ, quando o 1º soube adoptar o sistema que o 2º tinha deixado no Benfica, prescindindo do seu 4-3-3 que tão bons resultados lhe tinha granjeado em Guimarães).
Treinador Principal do futebol profissional: a meu ver, o treinador tem de ser alguém com especial vocação de artífice, no sentido em que está na última estação de produção de talento da linha de montagem que é a nossa Formação. Ao seu nível, tratará dos “acabamentos”, a dimensão táctica do jogador. Se este chegar aqui com deficiências técnicas, a nível do passe e recepção orientada, dificilmente terá um crescimento tão exponencial quanto aquele que se poderá esperar no plano táctico (olho para Ristovski, por exemplo, um jogador rápido e todo-o-terreno, mas nota-se a falha na sua formação a nível de recepção orientada). Já a finta ou o remate poderão mais facilmente ser trabalhados, burilados pelo treinador. Ao mesmo tempo, o treinador tem de estar habituado à pressão de ganhar, mesmo quando com orçamentos inferiores aos seus rivais.
Adjuntos: um dos adjuntos da equipa profissional deve ser uma velha glória do Sporting, campeão pelo clube e com capacidade para passar a cultura Sporting ao plantel. Deve também ser um homem leal e que ajude na integração do treinador principal e restante equipa técnica, especialmente se forem estrangeiros.
Gabinete Técnico do futebol profissional: formada por Director Geral para o futebol profissional (e Gestor de Activos, se as funções estiverem segregadas), treinador principal do futebol profissional, Coordenador do futebol de Formação, treinador dos sub-23 e treinador dos juniores. Reunindo semanalmente, espaço onde se pode ir avaliando a evolução dos jogadores jovens com potencial para subirem à 1ª equipa do clube, bem como estabelecerem-se pré-diagnósticos (com base em informação constante do Gabinete Técnico da Formação, onde estarão os treinadores das várias camadas da nossa Formação, que produzirá relatórios anuais sobre o desenvolvimento dos jogadores) dos mesmos em articulação com a área de gestão de activos. Decisões como “queimar etapas” na Formação, posições em que é necessário intensificar o treino do jovem, com mais conteúdos tácticos, para mais rapidamente suprir uma lacuna da equipa principal, empréstimos para rodar ou dispensas devem ser aqui definidas, de forma a que o Director Geral possa saber com a máxima antecedência possível com o que pode contar na equipa principal e as posições em que terá de ir ao mercado.
Política de quotas da Formação até que a aposta se consolide: não sou muito fã das quotas, mas a verdade é que se tem de começar por algum lado. Por exemplo, em tempos não muito distantes, foi a única forma de as mulheres poderem subir na sua carreira profissional. Uma discriminação positiva e que, no início poderá mais privilegiar a quantidade do que a qualidade, mas creio ser a única forma de impedir desvios ao que deveria ser o nosso ADN. Julgo, por isso, que deveria haver um número mínimo de jogadores provenientes dos nossos escalões de Formação na equipa principal e nem me chocaria que isso fosse integrado nos Estatutos do clube.
Tecto máximo de jogadores: o plantel principal deve ter um número máximo de jogadores. Na minha opinião deveria ser de 24: dois por cada posição, 3 pontas-de-lança e 3 guarda-redes. Havendo lesões, subiriam jogadores dos sub-23 à equipa principal para as posições em défice. Seria uma maneira inteligente de optimizar recursos, com consequências positivas em termos de custos com pessoal e resultados líquidos da sociedade anónima desportiva.
Política de empréstimos: do meu ponto-de-vista, cumprindo-se os pressupostos dos dois pontos anteriores não seria necessário emprestar muitos jogadores (existe a equipa sub-23). Em todo o caso, estes, a acontecerem, por motivos de maior competitividade, deveriam privilegiar clubes que tenham treinadores com histórico de aposta em jogadores jovens e da nossa Formação, tais como José Couceiro, Luis Castro ou mesmo Silas. A meu ver, o treinador é mais importante do que o clube. Pode-se ter óptimas relações com o clube, mas o treinador não apostar em jovens. A não ser que se queira influenciar a escolha do treinador por parte do clube, mas isso já seria passar aquela linha que a mim me começaria a causar alguma urticária, pois a possibilidade de a coisa entrar no domínio do conflito de interesses seria considerável.e tenho como certo que o Sporting é um clube que não pode estar ligado a essas situações.
Contratação de novos jogadores: só deveriam ser contratados jogadores cirurgicamente e para as posições em falta. Posições como as de ponta-de-lança ou de defesa esquerdo, que a nossa Formação geralmente não produz, por exemplo, e outros que conjunturalmente seja necessário colmatar. De qualquer forma, a qualidade das “fornadas” da Academia não é uniforme de ano para ano pelo que que haverá anos em que será necessário actuar mais no mercado. Evidentemente, uma boa oportunidade de mercado não deve ser desperdiçada, obedecendo ao tecto contemplado em cima. Vejo o Sporting a contratar um jogador de qualidade média como Marcelo (defesa), com 28 anos, e faz-me uma certa confusão. O mesmo se passou com Ruben Ribeiro. Eu proporia que só se contratassem jogadores com idade máxima de 23/24 anos (numa óptica de rendibilização de investimento) e alguns jogadores mais velhos apenas quando pudessem efectivamente fazer a diferença (Mathieu, por exemplo) e trouxessem a experiência que faltasse à equipa. Se eu tiver fundadas esperanças num craque da Formação e achar que precisa de 1/2 anos de estágio para que possa vir ao de cima todo o seu potencial, então será melhor contratar um jogador mais veterano (prematuro envelhecimento em cascos de carvalho) de créditos firmados - que vem cumprir esse período e que anteriormente já foi informado que se pretende que contribua para o crescimento desse jovem - do que estar a ir buscar ao mercado um jogador igualmente jovem e que depois, devido ao seu preço, vou ter a pressão de o pôr a jogar, prejudicando assim a ascenção do jogador formado na nossa Academia. Quantos casos destes ou semelhantes já não tivemos? Nunca contrataria nenhum jogador por empréstimo, excepto se tiver uma cláusula de opção com um valor acessível para as nossas finanças.
Introdução do treino por sectores na Formação: vemos as melhores práticas dos desportos profissionais americanos e fica sempre a sensação que a Europa está muito atrás em diferentes matérias. Desde logo na interligação com os adeptos, mas aqui vou falar do treino por sectores, algo que é particularmente visível no futebol americano. O futebol ganhará muito com os ensinamentos de outros desportos. Por exemplo, a basculação (mudança de flanco) é uma coisa que se vê com frequência num jogo de andebol. Como é possível termos um homem como Manuel Fernandes nos nossos quadros e continuarmos sem produzir um ponta-de-lança com qualidade? Manuel Fernandes daria um bom treinador de avançados e pontas-de-lança em particular, transversal aos diferentes escalões de Formação, ensinando os miúdos em questões de posicionamento no campo, colocação do pé na bola, cabeceamento (vemos muitos que chegam ao plantel principal com défices nesse aspecto – Gelson, Matheus, etc). Não seria o Manél mais útil para nós aqui que no Scouting?
Scouting: conseguir cadastrar a base-de-dados com o maior número possível de jogadores, nacionais e internacionais, ainda em idade juvenil e ter a capacidade de os ir acompanhando até que as regras FIFA (jogadores estrangeiros) não impeçam a sua contratação. Isto traria menores custos na sua aquisição. Quando se chega a um jogador “já feito”, os custos são necessariamente superiores. Procurar mercados emergentes (Argentina, Uruguai, Chile, os brasileiros já estão muito inflacionados), mas também afluentes. No tempo de Sousa Cintra (outro tempo) chegaram ao Sporting, pela mão do empresário Lucídio Ribeiro, uma série de jogadores muito interessantes, provenientes do centro da Europa e do Magrebe. Balakov, Iordanov (bulgaros), Cherbakov (Ucrânia), Valckx (holandês) ou Naybet e Hadgi (marroquinos) foram jogadores que chegaram ao Sporting por valores acessíveis e que tiveram excelente performance desportiva, além de, alguns deles, proveitos extraordinários para o clube após venda. Abandonaram-se esses mercados e não se percebe bem porquê.
Propriedade Intelectual vs Academia: julgo que a maioria dos adeptos e até alguns dirigentes confunde muito a nossa Formação com a Academia de Alcochete. A Academia é um espaço físico, com excelentes condições é certo, mas o que faz toda a diferença é a propriedade intelectual, o enorme talento de homens como Aurélio Pereira ou João Couto, por exemplo, ou dos falecidos César Nascimento e Osvaldo Silva que fizeram escola. Se alienarmos isto, podemos ter a melhor Academia do mundo que os resultados não aparecerão. E depois há outras coisas: aquele campo pelado, ali ao lado do antigo pavilhão, viu nascer jogadores como Futre, Figo e Ronaldo (apanhou a Academia já no final da sua formação). Esses campos irregulares estimulavam a técnica e a habilidade dos jogadores, obrigados a dominar a bola após ressaltos inesperados ou a fintar entre umas covas ou lombas no terreno de jogo. Hoje em dia, os campos são perfeitos mas os talentos escasseiam. Dá que pensar, mas talvez não fosse má ideia ter um campo pelado em Alcochete, que pudesse recriar um pouco as condições do futebol de rua, onde craques como os já citados, para além dos ultramarinos Peyroteo, Hilário, Eusébio, Coluna ou Matateu, aprenderam o ofício. E continuem a recrutar formadores de excelência para enquadrar os nossos jovens.do ponto-de-vista desportivo e educacional.
É evidente que um clube como o Sporting não pode apostar só na Formação. Mas, temos é de saber estraír dela todo o seu potencial e não prejudicar o nosso investimento com redundâncias vindas de fora. Todo o jogador de categoria e que seja empenhado no trabalho é bem-vindo ao Sporting e o clube não pode estar de costas voltadas para o mercado, mas não faz qualquer sentido gastar dinheiro com suplentes ou suplentes de suplentes e colocá-los em cima dos jovens por nós formados, criando uma pirâmide que retira qualquer possibilidade de afirmação a estes. E com custos que se reflectirão no aumento do nosso Passivo e na Demonstração de Resultados. Do mesmo modo, a sintonia entre a Direcção/Administração e o treinador deve ser total e este último deve comungar das directrizes traçadas acima. Como tudo na vida, não basta ter (boas) ideias, igualmente importante é saber implementá-las e ter a força para, acreditando no projecto, não nos desviarmos nunca do mesmo, independentemente de acertos cirúrgicos que se venham a fazer, sem prejuízo da integridade do processo pensado e criado. Na verdade, isso tem falhado e há décadas. Melhorou nos primeiros anos de Bruno de Carvalho, mas regrediu pós aposta em JJ, ficando sempre a ideia de que o processo era demasiado empírico e muito assente na maior ou menor sensibilidade do treinador principal.
Uma equipa de futebol não pode ser a soma das competências de cada um. Para isso, existe um treinador, o qual cabe a atribuição de criar um todo que seja superior à soma de cada um. O envolvimento de toda a Estrutura no processo é importante, assim como a relação com os adeptos e a forma como os jogadores sentem o projecto e o clube. Sobre isso falarei pormenorizadamente no tema referente à Cultura Sporting.
Para finalizar, gostaria de abordar as diferentes academias que temos espalhadas por Portugal e pelo mundo, constatando que existem actualmente diferentes modelos de negócio. Em algumas, o Sporting tem uma participação; noutras receberá um “fee” (100% franchising). Seria interessante que estes modelos e respectivos Business Plan fossem apresentados aos associados e que se percebesse, através de planos plurianuais, quais os custos em que o clube incorre e os proveitos que se podem esperar destas apostas. Igualmente, no plano desportivo, perceber-se quais são os objetivos. Há algumas informações dispersas que indicam que já há alguns jovens a treinar nas equipas de Formação do Sporting (Lucas Dias, muito bom jogador dos nossos iniciados, creio que veio de Toronto) e que são provenientes deste tipo de academias, mas não são claros quais são objectivos (quantificáveis). É importante uma clarificação aos sócios dos objectivos económicos e desportivos da aposta nas academias, a nível nacional e internacional, e perceber-se qual a política de expansão e como se conjuga com o merchandising e a promoção da marca, área onde haverá muito trabalho a desenvolver. Falarei sobre isso em próximos capítulos.
Nota: neste segmento falei essencialmente do futebol profissional. Quem me acompanha aqui sabe que nutro grande paixão pelas modalidades. Cresci com Ramalhete, Rendeiro, Sobrinho (os meus sentimentos à família e a todos nós sportinguistas), Chana e Livramento, com Baganha, Lisboa, Rui Pinheiro, Mário Albuquerque, Israel ou Mark Crow, com Miguel Maia, os irmãos Cavalcanti, Magrão, Vitó ou Silveira, com Carlos Silva, Brito, Carlos Correia, José Manuel, João Manuel, Miranda ou Pires e, claro, também com Carlos Lopes, Fernando Mamede ou Joaquim Agostinho, expoentes máximos da nossa leoninidade. Falarei sobre isso quando abordar o pilar Cultura (corporativa). Não percebo, nem concebo a polémica à volta da aposta nas modalidades. Estas são corpo essencial da afirmação do nome Sporting, algo que nos diferencia da concorrência. Como um dia disse William Bruce Cameron, "nem tudo o que pode ser contado conta, nem tudo o que conta pode ser contado".
Amanhã voltarei com "Sustentabilidade/Gestão". Até amanhã! Viva o SPORTING !!!
Estranharão alguns Leitores a ausência de postais meus sobre a actualidade leonina, geralmente vertidos nesta rúbrica "Hoje giro eu". Estou certo dever uma explicação a todos, a qual não deixarei de dar agora como preâmbulo deste texto. Sempre fui um homem de ideias, gosto de exercer os meus direitos de cidadania e entendi ter algo a acrescentar neste processo eleitoral. Por isso, estudei, trabalhei e reflecti sobre a possibilidade de me candidatar a presidente do Sporting Clube de Portugal, elaborando para o efeito um plano de actividades ("programa").
Em pequenino, e sem prejuízo para quem sonhou diferente, nunca me passou pela cabeça ter quaisquer responsabilidades directivas no clube da minha eleição. O que me encantava era ir ao estádio e o meu coração começava a bater mal o meu pai pré-anunciava que me levaria a ver um jogo. Era tal a adrenalina - e muitos de Vós agora relembrarão esse sentimento - que me custava adormecer na véspera dos jogos, razão pela qual o meu pai começou a encurtar a convocatória, surpreendendo-me no próprio dia, muitas vezes só depois de já estarmos no carro. Era o tempo do "rapaz, vamos dar uma volta", que para mim se tornou sanha para ir ver o Sporting.
Na última década e meia, fruto de um conjunto de competências e experiências profissionais que adquiri, fui tendo cada vez mais consciência daquilo que estava errado e qual o caminho que se me afigurava ser o correcto a fim de devolver ao Sporting a grandeza que merece. Uma decisão sobre uma candidatura ao Sporting não é algo que se tome de ânimo leve, na medida em que altera por completo a nossa visibilidade e, não sendo bem gerida, tem consequências a nível familiar. Na minha profissão - vinte e oito anos no sistema financeiro - sempre procurei a discrição, porque entendi que os meus clientes é que deveriam ser as estrelas. Ora, o Sporting é de tal forma impactante na sociedade portuguesa que não poderia viver da mesma forma. Acresce que já em 2011 tinha um programa semi-completo para o clube e consciência absoluta de que o Sporting precisava de uma ruptura com o seu passado recente, mas o aparecimento de um jovem ambicioso, com ideias progressistas e muita energia fez-me recuar, avaliando com humildade que tal poderia ser redundante.
Infelizmente, o rumo certo em que o clube parecia navegar e que muito me aprazia, apesar de sempre ter discordado com o teor comunicacional, foi de alguma forma interrompido nos últimos 2 anos, essencialmente devido ao forte investimento no futebol e aumento da pressão sobre toda a estrutura derivado disso mesmo. Apercebi-me, nesse momento, que havia 3 pilares que não tinham a consistência necessária e que mereciam um urgente reforço. Infelizmente, excessos diversos, falta de bom senso e ausência de sentido de "Estado", aliados a uma comunicação histriónica e a uma desastrada gestão dos recursos humanos tornaram inevitável (mais) uma situação de ruptura e o clube avançou necessariamente para eleições.
A primeira coisa que fiz quando se tornou claro na minha mente a vontade de explorar as possibilidades de me candidatar foi contactar a pessoa (Pedro Correia) que teve a amabilidade de me convidar para escrever neste blogue e dar-lhe conta de que iria suspender a minha participação no mesmo até ter uma decisão tomada. Fi-lo por dois motivos: não desejar que os meus colegas co-autores de um blogue pluralista se vissem involuntariamente ligados a uma candidatura, mas também porque não quis que a minha independência fosse afectada e as minhas possíveis opiniões/críticas a qualquer candidato enfermassem de conflito de interesses e não viessem acompanhadas da respectiva declaração.
Durante estas últimas semanas trabalhei um conjunto vasto de ideias, falei com diversos protagonistas, actuais ou antigos, do mundo Sporting, expus ideias (sempre bem recebidas), troquei opiniões e estudei formas de divulgação da mensagem. Desde logo me deparei com a influência decisiva que a Comunicação terá nestas eleições. Constatei haver um ou outro candidato que passa todos os dias na imprensa, mas que a maioria passa ... ao lado. E eu tinha auto-imposto a mim próprio não utilizar a tribuna que este blogue me proporcionaria... Por outro lado, também só faria sentido avançar sem condicionalismos diversos, com total independência e sem procurar a benção de qualquer grupo de interesses mais ou menos legítimo. A vontade que tinha era muita, o timing único, a idade, maturidade, experiência as ideais, mas não chega. Oito candidatos no momento que vivemos, alguns deles provavelmente sem o necessário curriculum e experiência adequadas, são mais um sintoma de fractura do que um sinal de vitalidade. O facto de não estar estatutariamente consagrada uma segunda volta implica que o próximo presidente do Sporting possa ser eleito, na conjuntura actual, com 13% (!) dos votos. Isso não me parece positivo e não desejo contribuir para tal. Acresce que me desiludi de alguma forma com todo o processo, com a falta de protagonismo das ideias, com a feira de vaidades diversas, com a percepção pública das certezas absolutas de uns, da proto-capacidade de implementação anunciada por outros, mas guardarei o detalhe disso para mim. Também tive boas surpresas, conheci gente muito empreendedora, com resultados para mostrar e que fará parte, não tenho dúvidas, do futuro próximo do clube. Importante é o Sporting e eu quero e gosto de falar bem sobre o meu clube e tenho o maior orgulho nas vitórias recentes nas modalidades - elas são fundamentais para a afirmação da Cultura Sporting - razão pela qual continuaria a investir nelas.
Para mim, o Sporting é o mais importante. Não ir a eleições (ou perdê-las) não tem um sabor amargo, exactamente porque é o Sporting. É que, independentemente de tudo o resto, o meu lugar na bancada já foi previamente assegurado e eu, como a maioria dos adeptos, estou desejoso que a bola volte a rolar. Nesse sentido, e para encerrar devidamente este capítulo, vá lá, mais político da minha vida, deixarei aqui algumas das que seriam as minhas ideias para o clube, pondo-as à disposição dos sportinguistas, candidatos ou não, para que as usem se nelas virem valor. Eu manterei a neutralidade até ao dia das eleições.
O meu projecto assentaria em 3 pilares, cada um equivalente às iniciais do clube. Assim, teríamos o S, de Sustentabilidade; o C, de Cultura (corporativa) e o P, de Princípios (ética, compliance, modelo de governação). Do meu ponto-de-vista, sem estes pilares de desenvolvimento continuaremos longe do sucesso, tanto no âmbito desportivo como no financeiro ou mesmo social, permanecendo como um clube iminentemente político, sem um elo comum forte, uma cultura própria que filtre e dissuada determinados comportamentos que não estão de acordo com os princípios da nossa fundação.
Começando pela Sustentabilidade, esta, para mim, dividir-se-ia em 3 componentes (cada uma com vários itens):
Sustentabilidade da política desportiva (articulação com a aposta integrada na Formação)
Sustentabilidade do ponto-de-vista económico/financeiro (política de défice operacional ZERO)
Sustentabilidade do meio envolvente (futebol português, sua organização e formato competitivo)
Como o postal já vai longo, vou terminar anunciando para amanhã a divulgação das minhas ideias no que concerne à Sustentabilidade obtida por via de uma adequada política desportiva. Então, até amanhã! Viva o SPORTING!!!
{ Blogue fundado em 2012. }
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