Oiço dizer muitas vezes que "o Sporting não tem banco". Permito-me duvidar. Reparemos no que aconteceu este domingo: no banco estavam Battaglia, Bruno César e Bryan Ruiz (suplentes utilizados). E ainda Doumbia, que foi o melhor marcador do campeonato suíço na época passada. Além do internacional macedónio Ristovski e de André Pinto, que tem dado boas provas em todos os jogos para que já foi chamado de verde e branco.
Ao contrário do que garantem essas vozes, portanto, o Sporting tem banco. Essa é, pelo menos, a minha opinião. Alguém discorda?
O Sporting alinhou ontem de início com nove dos habituais suplentes. Aproveitaram ou desperdiçaram a oportunidade?
Aqui fica uma análise sucinta de cada um.
Aproveitaram
André Pinto. Seguro a defender, eficaz nas dobras e nos cortes. Ainda foi à frente cabecear com perigo nas bolas paradas.
Ristovski. Já tinha causado boa impressão em jogos anteriores. Confirmou isso no desafio de Alvalade frente ao Vilaverdense. Dinâmico e com capacidade de cruzamento na ala direita.
Doumbia. Não é preciso trazer novo ponta-de-lança em Janeiro. Já temos um no banco. Ontem marcou três golos e fez assistência para o quarto.
Desperdiçaram
Petrovic. Não justifica estar no plantel leonino. Na primeira parte foi incapaz de conter o contra-ataque adversário. E é pouco vocacionado para a construção ofensiva.
Iuri Medeiros. Muito aquém do que se esperava dele: é uma promessa que tarda em materializar-se. Raros pormenores de boa técnica não fazem um bom jogador.
Alan Ruiz. Péssimo. Não tem atitude competitiva, incapaz de interagir com os colegas, dá sempre a ideia de estar a fazer um frete em campo.
Incógnitas
Salin. Pouco solicitado, pareceu atento nos lances em que foi chamado a intervir. Precisa de testes mais exigentes para mostrar o que vale.
Tobias Figueiredo. Ontem foi capitão. E, à frente, até cabeceou à barra. Mas atrapalhou-se aos 44', sem necessidade, num lance que poderia ter gerado penálti. Ou golo.
Bryan Ruiz. Muito longe do fulgor demonstrado na época 2015/16. Procura acertar e tem inegável capacidade técnica. Falta-lhe um suplemento de ânimo.
Uma equipa de futebol não são apenas os onze que habitualmente são titulares. Os restantes jogadores valem por aquilo que mostram quando têm a oportunidade e, não jogando, pelo desejávelmente bom ambiente que criam no balneário. Jogadores há que funcionam como verdadeiros talismãs quando provenientes do banco de suplentes. Este tipo de armas-secretas habitualmente produzem mais quando chamados a intervir durante o jogo. Desse rol, quem não se lembra do brasileiro do FC Porto, Juary, marcador do golo da vitória na final de Viena e, no ano anterior, autor de um "hat-trick" contra o todo poderoso Barcelona, sempre saído do banco?
O treinador tem um papel essencial na manutenção de um ambiente saudável no grupo de trabalho e no garantir que todos os jogadores se mantêm focados no objectivo. Ser um catalizador, não um inibidor, aglutinar em vez de dispersar. Reparem que não toquei propositadamente no tema da motivação (étimo "moto") porque esta é intrínseca (como a própria palavra indica), cabe a cada futebolista ter uma personalidade capaz de absorver as contrariedades do dia-a-dia e transformá-las em oportunidades.
Assim sendo, precisamos de um "shadow eleven" empenhado, focado, motivado e comprometido com o clube. Nesse sentido, o treinador não deve dramatizar quando lhe falta algum dos titulares, de forma a que quem entra se sinta importante. Se um jogador pressente que o treinador desconfia dele, vai render menos.
E o Leitor, o que pensa disto? Em quem, dos habituais não titulares, os nossos Leitores depositam FÉ em vir a constituir-se como uma surpresa positiva?
Após os 3 primeiros jogos oficiais gostava de debater com os leitores algumas observações que me saltam à vista.
1) Não seria melhor jogar com Doumbia junto a Bas Dost e ter mais presença na área, deixando Podence para desequilibrar o jogo na segunda parte como aconteceu na Vila das Aves, para não acontecer como hoje em que faltavam no banco opções para desequilibrar, uma vez que Iuri tem um tremendo potencial mas é um jogador diferente e que Mattheus Oliveira e Bruno César também estão longe de ter essas características? Bem sei que Matheus Pereira é um desequilibrador e foi emprestado, mas a verdade é que se trata de um jogador que precisa de jogar para render o que sabe, e já vimos pela época passada que não ia ter essa regularidade.
2) Temos uma das melhores duplas de centrais dos últimos anos. Espero que Mathieu não sofra dos problemas físicos do passado que me fizeram temer a sua contratação, pois poderá ser uma tremenda mais valia como tem demonstrado, e tambem porque a qualidade das alternativas, infelizmente não oferece segurança.
3) Fábio Coentrão, apesar de obrigar a uma gestão do esforço, é claramente um upgrade face aos nossos últimos laterais. Esse mesmo upgrade se verifica na ala esquerda do ataque com Acuña.
4) Não poderia Bryan Ruiz ser opção no plantel? Qualidade não lhe falta e num registo em que joga menos vezes, poderá render mais e ser importante para a qualidade da gestão da posse de bola em alguns jogos, algo de que a nossa equipa sofre, principalmente sem William, mesmo apesar do papel extremamente importante de Battaglia que permite à equipa recuperar a bola mais à frente.
5) Piccini até ver ainda não mostrou ser melhor que Schelotto. Resta esperar para ver Ristovski.
6) Bruno Fernandes ainda tem muito que trabalhar sem bola para ser Adrien, como se viu hoje, jogo em que o nosso capitão, mesmo não estando na melhor forma, permitiu à equipa outra capacidade de recuperação de bola e de pressão.