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És a nossa Fé!

Pílula do dia seguinte

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Assim a modos como um engate de uma noite, a Superliga Europeia, criada numa orgia de deslumbramento pelo bando dos quinze (Ceferin dixit, embora apenas o insinuasse e eles fossem apenas doze), voltou à realidade no dia seguinte e não teve outra solução que não recorrer ao mais popular contraceptivo para estas ocasiões:  Meter a viola no saco e tentar reparar os erros e eventuais danos de uma one night stand

Nem chegou a ser nado-morto, que a reacção ao descontentamento dos adeptos, jogadores e técnicos, bem como ao aviso de sanções sérias por parte da UEFA e FIFA, foi ir à farmácia logo pela manhã.

Para quecas mal medidas, nada melhor que a pílula do dia seguinte.

Cenas da luta de classes no futebol

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Alguns magnatas de clubes europeus untados por capitais de origem norte-americana e de outras proveniências lembraram-se de avançar com a chamada Superliga Europeia.

Objectivo: transportar a luta de classes para o futebol. Não de baixo para cima, como é de regra nas revoluções clássicas, mas de cima para baixo. Impondo-se como "super consagrados" nesta putativa competição que pretende agregar emblemas de três países: Inglaterra, Itália e Espanha. Para sacar a fatia maior dos direitos televisivos do futebol à escala planetária. E remetendo tudo o resto para planos inferiores.

 

Mas que emblemas são esses?

Fui conferir. Só encontro lá três campeões em título: Juventus, Liverpool e Real Madrid. Outros dois que se sagraram campeões em 2019: Barcelona e Manchester City. Sem esquecer o Chelsea, vencedor da Premier League em 2017.

E a restante metade? 

O Manchester United venceu o campeonato inglês pela última vez em 2013. O Atlético Madrid foi campeão espanhol em 2014. O Milan está há dez anos em jejum e o Inter mais ainda: desde 2010 que passa ao lado do principal título do futebol italiano.

Pior, o Arsenal: campeão em 2004, foi incapaz de repetir a proeza desde essa data. Mas nenhum outro se compara ao Tottenham: a última vez que conquistou o título foi em 1961. O ano em que o Eusébio se estreou no Benfica e em que John Kennedy tomou posse como Presidente dos EUA.

 

Isto no plano das competições internas. No âmbito da Liga dos Campeões - e da Taça dos Campeões Europeus, que a antecedeu - quatro destes doze passaram sempre ao largo: Arsenal, Atlético Madrid, Manchester City e Tottenham jamais ascenderam ao primeiro lugar do pódio das equipas no Velho Continente.

Os outros oito clubes sagraram-se campeões europeus. Mas alguns já há bastante tempo: Juventus em 1996 pela última vez, Milan em 2007, Manchester United em 2008, Inter em 2010, Chelsea em 2012.

 

É com isto que querem fazer uma Superliga Europeia?

Simplesmente caricato.

 

ADENDA: Manchester City anuncia o abandono da tal "Superliga". O mesmo deve ser feito pelos outros clubes ingleses. Estamos perante um nado-morto.

Liga Europeia de Clubes

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Diante do há anos esperado anúncio da Liga Europeia de Clubes: está no momento de regressar a Marx, àquilo da concorrência e concentração do capital.
 
Quanto ao resto, e à aparente surpresa de tantos com tudo isto: 1) não é nada mais do que a réplica da NBA, que tantos acompanham; 2) nos últimos anos a mariolagem da bola nacional, apoiada por adeptos portistas e benfiquistas - tantos dos quais querem ganhar a todo custo, mesmo que "lhimpinho" - tudo tem feito para ascender a este comboio, na angústia de só haver um lugar para o futebol português. Entre outras coisas chama-se a isso falsificação de apostas desportivas. É crime. E há milhões de compatriotas ("bons pais de família") que defendem isso, ululando semanas após semanas, ao longo de anos! E até votam em gente dessa: para presidentes da câmara (ver o que se passa na Invicta, por exemplo), para o parlamento, etc.

Dar ao povo o que o povo quer - A farsa

12 clubes de três ligas europeias resolverm juntar se e criar uma nova competição a que chamaram superliga europeia. 6 clubes ingleses, 3 espanhóis e mais 3 italianos acharam que era este o momento para enfrentarem o poder da Uefa e Fifa e de certa forma rebelarem-se.

Não deixa de ser curioso que uma revolução deste tipo surja dos clubes mais poderosos e com mais capacidade financeira. São na sua maioria clubes que transcendem o seu país de origem em termos de adeptos, talvez aqui a excepção sejam o Tottenham, o Arsenal e o Atlético Madrid, com 4 clubes a destacarem se claramente neste aspecto, o Real, Barcelona, Manchester United e Juventus. Num negócio normal, esta revolução seria vinda dos mais fracos, dos que se sentissem explorados. No mercado do futebol é o contrário que acontecesse. Os clubes mais poderosos, os que mais ganham anualmente, revoltam-se contra a “casa-mãe” por acharem que dão mais ao futebol, financeiramente, do que aquilo que recebem. Sentem se espoliados de verbas, que são distribuídas por todos os outros clubes europeus, e que esses clubes consideram, sendo eles os principais responsáveis pelas receitas que permitem essa distribuição, que lhe são devidas. Assim, estes clubes resolveram avançar para uma superliga europeia em que pelas regras criadas por eles mesmos, têm lugar sempre garantido anualmente e permitem, é este o melhor termo, que outros, poucos, clubes ali possam competir, recompensando-os financeiramente. Há aqui alguns pontos interessantes, temos uma desvirtuação total da competição, em que os clubes fundadores para lá do que possa ser o desenrolar da competição não sofrem qualquer punição de uma eventual saída da competição. Temos também o caso de alguns destes clubes fundadores não terem, nem de perto, um papel desportivo relevante na europa. Se não têm uma presença europeia de registo só sobra a parte financeira para terem lugar nesta suposta elite das elites. E então aqui entramos no que verdadeiramente causa esta fractura nas competições europeias de futebol. É tudo uma questão financeira, nada mais. Estes clubes querem mais dinheiro. Muito mais dinheiro. O interesse no desenvolvimento do futebol, não é aqui tido nem achado. Não há qualquer preocupação em dinamizar uma competição justa e competitiva. Para lá destes 12 clubes fundadores, diz-se que mais três se juntarão ao grupo inicial, todos os outros serão peças secundárias, devidamente recompensadas para participar nesta espécie de competição, com os dados claramente viciados desde o início. Esta farsa assumida sem pudor pelos seus organizadores vai, de acordo com os estudos que fizeram, permitir encaixes financeiros nunca antes vistos, aos clubes fundadores. Acreditam que a sua massa de adeptos exterior ao seu país de origem, vai-lhes permitir obter receitas colossais e querem essas receitas, nem que para isso tenham que desvirtuar totalmente uma competição.

Os adeptos “locais”, aqueles que são a base, a “nascença” de qualquer clube, não foram sequer considerados, nem ouvidos. Os actuais presidentes destes clubes acreditam que os adeptos serão sempre adeptos, desde que lhes seja dado jogos para ver, não interessando a competição e as suas regras, ao bom estilo do Wrestling, todos sabemos que é uma farsa, todos sabemos que nada daquilo é real e que tudo está previamente combinado, quem ganha e quem perde. Não deixa mesmo assim de ser um espetáculo que gera receitas. É nisto que estes clubes pensam quando criam uma superliga europeia. Uma farsa, todos sabemos que é uma farsa, não há sequer a intenção de esconde-lo e haverá sempre audiências para gerar milhões de receitas. Se será o fim do futebol? Não me parece. Será o fim sim de muitos clubes tal como os conhecemos hoje, incluindo os clubes portugueses. Mas não nos podemos esquecer que foi a própria Uefa que dinamizou esta política remuneratória aos maiores clubes europeus, abrindo um fosso destes em relação a todos os outros.

O único trunfo, se o for mesmo, que a Uefa e Fifa têm, será a proibição de jogadores destes clubes, poderem competir pelas respectivas seleções nacionais. É fraco argumento, pois serão as próprias federações a pressionar a Uefa e Fifa, para tal não acontecer. Alguém imagina a nossa seleção sem os seus principais jogadores, CR7 à cabeça?

Portanto resta um caminho à Uefa: Dar mais e mais dinheiro a estes clubes. É o que lhe resta e é o que estes clubes querem.

Políticas

É indispensável ler este texto d'O Artista do Dia. Nele se mostra que o Sporting foi a equipa mais indisciplinada da Liga 2018-19: foi a oitava equipa mais faltosa, a que mais cartões amarelos teve e a segunda que mais cartões vermelhos teve. Neste último caso, a par com o Benfica, é verdade, mas com consequências muito diversas, dependendo da altura do jogo em que as expulsões ocorreram: o Benfica jogou apenas 25 minutos em inferioridade numérica durante todo o campeonato, o Sporting jogou quase quatro vezes mais, 95 minutos, mais do que o tempo de um jogo inteiro. Este ano, a coisa chegou a estes extremos, mas há vários anos que vem sendo mais ou menos assim. E parece-me que é deliberado. Num campenonato em que grande parte da táctica dos pequenos contra os grandes é a sarrafada, o Sporting só pode aparecer em conjunto com eles por um esforço propositado para que assim seja.

Eu não acredito em teorias da conspiração, mas acredito em políticas. Não acho que exista uma cabala contra o Sporting, mas acho que existe uma política deliberada para criar um ou dois superclubes portugueses, como já existem por essa Europa fora, excepto em Inglaterra ( entre os cinco grandes): o Barcelona domina o campeonato espanhol (com o Real Madrid muito próximo), o PSG domina o francês, a Juventus o italiano, o Bayern o alemão (praticamente sem oposição em nenhum destes casos). Cá em Portugal, parece-me que há uma política de promoção do Benfica a este estatuto (com o Porto muito próximo). Mas para isso é preciso afastar o incómodo Sporting e pô-lo a competir numa espécie de segunda linha, onde estaria também o Braga (outro dos grandes beneficiados dos últimos tempos). Esta política não nasce propriamente da maldade de ninguém, mas dos planos cada vez mais insistentes para criar uma superliga europeia, eventualmente fechada, i.e. sempre com os mesmos clubes. É verdade que alguns desses planos não incluem muitas vezes sequer qualquer clube português. Mas haverá aqui uma tentativa de não perder o barco e dizer que há pelo menos dois que merecem lá estar (um exemplo desta conversa pode ser visto aqui). Não se julgue que isto é assim tão exótico: já existe pelo menos no basquetebol, com a Euroliga, onde jogam sempre os mesmos e entram depois uns quantos numa pequena janela de oportunidade; estes acabam invariavelmente de regresso ao seu nível secundário, por incapacidade para mobilizarem meios que os ponham a competir ao nível mais elevado.

O anterior presidente do Sporting tinha demasiados defeitos para ser presidente do Sporting, mas tinha, pelo menos, uma ideia certa, expressa na célebre "teoria das nádegas". Eu acho que essa teoria é verdadeira e que o desafio mais decisivo do Sporting nos próximos anos será resistir a estas pressões para a sua secundarização. Só espero que a direcção do Sporting tenha identificado o problema e concebido uma boa estratégia para o vencer.

{ Blogue fundado em 2012. }

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