Terminou da pior forma a participação de Portugal no Europeu Sub17 com uma derrota clara por 0-3 na final contra uma Itália mais alta, mais forte, mais organizada, mais objectiva, mais tudo. De qualquer forma, não deixa de ser uma excelente participação na competição. Derrotámos a Espanha, a Inglaterra e a Sérvia. Perdemos com a França e a Itália.
No onze mais titular pontificaram cinco jovens do Sporting: o central Rafael Mota, os médios-centro João Simões e Eduardo Felicíssimo, e os avançados Gabriel Silva e Geovany Quenda. Na final não foram eles os elementos mais fracos do onze, muito pelo contrário. O lateral direito do Benfica foi um autêntico passador e a "estrela da companhia" do Porto baqueou claramente.
Entretanto a equipa sub17 segue na segunda posição a duas jornadas do fim com um jogo a mais, provavelmente ficará em 3ª ou 4º no final. As equipas de sub15 e sub19 também não acabarão melhor nos campeonatos respectivos.
Como é que a equipa que domina a selecção sub17 não ganha o título na respectiva categoria etária? Simples, os jovens jogam em escalões etários acima da sua idade, Quenda nos sub23 e até na B. Gnhando ou perdendo, tornam-se melhores jogadores. Quenda, extremo de enorme qualidade formado em Alcochete, vai integrar a pré-época do plantel principal. Os outros quatro deverão jogar maioritariamente nos sub23, campeonato em que acabámos este ano em 2.º lugar, logo atrás do lider Estoril.
Mateus Fernandes, que seguiu este caminho, está a chegar depois duma época de rodagem no Estoril. Dário Essugo, Afonso Moreira e Callai precisam ainda de mais tempo, outros sairão do projecto, sendo vendidos por verbas apreciáveis. Como aconteceu com Veiga e Chermiti.
Entretanto, João Pereira vai assumir a equipa B para mais uma vez disputar a Liga 3 com um plantel maioritariamente de jogadores sub19. Aqueles de 21-22 anos da época passada que, embora sem condições de singrar na equipa principal, podiam constituir o núcleo duro duma equipa a lutar pela subida, estarão de saída.
Podemos concordar mais ou menos com esta política, que não está baseada em ganhar títulos mas em formar jogadores. E vir com teorias de formar vencedores e não perdedores. Mas o que interessa no final é o retorno desportivo, a entrega de jogadores ao plantel principal, e o retorno financeiro, as vendas e a salvaguarda de direitos em futuras transferências, da formação.
Quem visita a igreja mais antiga de Viseu (São Miguel do Fetal) encontra um túmulo austero, de frio granito, onde repousa, eternamente, Rodrigo, o último rei dos godos.
O nosso Rodrigo, Rodrigo Ribeiro, tornou-se ontem, em Viseu, o primeiro futebolista mundial a marcar um hat-trick verdadeiro, em 18 minutos, por uma selecção, apesar de ter começado o jogo no banco.
O nosso Rodrigo, alia a goleada à recente estreia na Liga dos Campeões, com apenas 16 anos.
O Record que ontem celebrou o aniversário do jogador que nos impediu de ir a França, em 1998, hoje dedica 10 páginas (em 32) à "maravilhosa" vitória, por 2-0, sobre a Macedónia e apenas umas linhas ao épico triunfo dos nossos sub-17 sobre a Finlândia.
Selecção portuguesa de sub-17 festejando o título de campeã da Europa (2003)
Instalou-se a ideia - errada - de que não existem jovens valores no futebol português. Há até um segmento da opinião desportiva, que tem por expoente máximo uma figura com presença perpétua nos ecrãs de televisão, a repetir vezes sem conta este estribilho. A mesma figura, com ecos imediatos nos fóruns de opinião, sublinha até à náusea que os segmentos jovens têm vindo a ser descurados ao nível das selecções. Para dar a entender que "antigamente é que era bom".
São ideias que colam com facilidade às teses dominantes nas conversas de barbeiro e de café. O problema é que não colam com a realidade. Um país que descura a formação e os valores jovens no seu futebol não consegue - como Portugal conseguiu em 2011 - ser vice-campeão mundial de sub-20 (com derrota na final, 2-3, frente ao poderoso Brasil). Nem consegue - como Portugal conseguiu este ano - ser vice-campeão europeu de sub-19 (com derrota na final, 0-1, frente à poderosa Alemanha). Como já tinha sido campeão europeu de sub-17 em 2003 (com vitória na final, 2-1, frente à poderosa Espanha). Numa selecção onde jogavam Miguel Veloso, Paulo Machado e João Moutinho.
Fique portanto bem claro: a renovação de valores tem vindo a processar-se com regularidade no futebol português, incluindo nos segmentos mais jovens. Os clubes - pequenos, médios e grandes - vão cumprindo a sua missão fundamental no capítulo da formação. Falta apenas - e este é um papel insubstituível também dos clubes, não dos responsáveis federativos - potenciar os jovens valores nas equipas. Como aconteceu com o Sporting em relação a Cédric, titular da selecção que se sagrou vice-campeã mundial na Colômbia, há três anos, e titular desde o ano passado no principal onze leonino.
Se houver uma política deliberada de aproveitamento de jovens talentos nos principais clubes portugueses, à semelhança do que o Sporting já faz, isso terá reflexos a curto prazo na nossa selecção A. Como aconteceu nas décadas de 80 e 90 com Fernando Chalana, Paulo Futre, Vítor Baía, João Vieira Pinto, Luís Figo, Rui Costa, Fernando Couto, Paulo Sousa e tantos outros que viriam a brilhar em relvados internacionais: todos jogaram nos escalões principais das equipas que os formaram.
É nesta direcção que o dedo deve ser apontado. E não dizer ou escrever vacuidades do género: "A Federação Portuguesa de Futebol deve substituir-se aos clubes no acompanhamento dos jovens talentos desde as camadas juvenis até aos 24 anos." A menos que se fale apenas para não ficar calado.
Dois percalços, a derrota em casa com o clube da freguesia de Carnide por 1-2 e a derrota em casa do Real Sport Clube (Massamá) por 1-0.
Quatro jogos, treze golos marcados, três sofridos.
Tendo em conta que estamos a falar de miúdos sub-17, orientados por um técnico - Telmo Costa - que já conquistou vários títulos ao serviço do Sporting, tanto nos juniores como nos iniciados, parece-me que temos razões para estar optimistas... a ver vamos.
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