Andaram anos a exigir a saída de Fernando Santos das funções de seleccionador nacional, entre outros motivos por fazer parte da "galáxia Mendes". Fui advertindo: tais exigências só abriam caminho mais rápido a um José Mourinho ou um Jorge Jesus, ambos pertencentes à mesma galáxia.
Agora que se anuncia Mourinho como sucessor, alguns destes já afirmam que Santos afinal não era assim tão mau. Bem à portuguesa: somos especialistas em elogios fúnebres, reais ou virtuais. Enquanto outros - ou os mesmos - se apressam a exigir a saída de Mourinho ainda antes de ele ter entrado. À semelhança do que sucedeu no Sporting, quando o futuro treinador campeão europeu foi técnico leonino durante duas horas, numa tarde muito agitada: bastaram meia dúzia de vozes histéricas para correr com ele.
Não faltam adeptos indignados com o seleccionador nacional de futebol considerando inadmissível que Fernando Santos tenha excluído jogadores do Sporting da mais recente convocatória.
Eu não me excluo deste filme. Cheguei a agradecer ironicamente a Santos ter mantido Pedro Gonçalves à margem da lista que divulgou, enquanto chamava "craques" como João Félix e Pedro Neto.
Devo, porém, reconhecer que neste preciso momento nenhum dos jogadores portugueses que integram o plantel leonino merece alinhar na selecção A. Até Pedro Gonçalves - que teve prestação medíocre frente ao Santa Clara e um desempenho calamitoso contra o Marselha em Alvalade - está muitos furos abaixo da excelente prestação revelada na época em que fomos campeões.
Morita (pelo Japão), Coates e Ugarte (pelo Uruguai) são convocados com regularidade para as selecções dos seus países. E até Sotiris, suplente no Sporting, vem comparecendo na equipa nacional grega. Mas isso é outra história.
Mais depressa se justificaria hoje a chamada de Edwards à selecção inglesa e de Porro (fora as frequentes lesões) à selecção espanhola do que a convocação de portugueses.
As coisas são o que são e não aquilo que gostaríamos que fossem. Lamento muito.
Se o Estádio José Alvalade não é escolhido para jogos da selecção nacional de futebol, protestam porque o Sporting está a ser discriminado.
Se é escolhido para jogos da selecção, resmungam porque o relvado fica em mau estado e pode haver espectadores "inimigos" sentados nas bancadas.
Se o seleccionador mantém os mesmos jogadores no onze inicial, atiram-se a ele por ser imobilista. Se faz alterações profundas, cascam-lhe por não fixar uma equipa-base.
Se o seleccionador promove futebol defensivo, reclamam contra a falta de espectáculo. Se o seleccionador estrutura uma equipa para atacar, dominar e somarvitórias (59 remates portugueses contra 29 checos, no mais recente jogo, e 87% de eficácia de passe luso), fazem de conta que não viram nada.
A hecatombe esteve por um triz, mas no ínfimo período de 7' a Turquia falha o penalty que lhe daria o empate num jogo em que já estava por cima e a Macedónia marca o golo que atirou a Itália para fora do Mundial. São insondáveis os acasos do universo.
Só um obtuso seria capaz de trocar Bruno Fernandes por William deixando Vitinha e Matheus Nunes no banco. Só a um casmurro lembraria substituir Jota por Félix preterindo Leão e André Silva. Mas foi com o coração nas mãos que vimos Fernando Santos executar em dobrado tamanha cretinice. E nem a justiça poética de o terceiro e tranquilizador golo ter sido obra de Leão e Nunes o deve ter feito cair em si.
Estes jogadores merecem muito, Santos não merece nada, nem o bambúrrio de sorte que ontem gozou. Agora só nos resta esperar que a Macedónia não seja o despertador que faça a FPF cair numa realidade para a qual já devia estar acordada há muito tempo.
Se todos concordam que o jogo de ontem foi horrível, já cada um tem a sua opinião sobre as causas e mais ainda sobre o que deveria acontecer.
Para mim, e por muito mérito que tenha tido e teve anteriormente, o fim de Fernando Santos como seleccionador nacional aconteceu com a derrota estrondosa com a Alemanha no último Euro, onde falhou em toda a linha. Devia ter mesmo sido substituído no final dessa competição.
Mas não apenas ele. Portugal teria também de agradecer o contributo de muitos dos campeões europeus em França mas dar como finda a sua participação na selecção, e apostar na nova geração (abaixo dos 30 anos) que está a fazer pela vida em Portugal e em clubes de topo europeus. Ficariam apenas Rui Patrício, Pepe e Cristiano Ronaldo que já conquistaram outro patamar, fazem parte da solução e não do problema, o problema são os outros "de barriga cheia" que não "carregam o piano" para que aqueles atrás citados possam dar o seu melhor.
Uma selecção não é uma colecção de cromos. Não se colocam a jogar 11 Bernardos Silvas, só um deles tem lugar no onze e no lugar dele e não noutro qualquer para acomodar outro Bernardo. Não se escolhem jogadores por prémio pelo que fizeram nos clubes, e muito menos para reabilitar jogadores que falharam nos clubes. Escolhem-se porque fazem falta à equipa de acordo com o modelo de jogo ou sistema táctico que se tenha.
Por outro lado, uma selecção terá sempre de apoiar-se em rotinas que vêm dos clubes, não pode passar ao lado de pequenas sociedades em plena laboração como a de Bruno Fernandes e Cristiano Ronaldo no ManUnited, de Cancelo e Bernardo Silva no ManCity ou a de Palhinha e Matheus Nunes no Sporting.
Fernando Santos foi um grande seleccionador, campeão europeu em França, vencedor da Taça das Nações, não soube retirar-se a tempo, se calhar depois do último Euro onde falhou rotundamente, agora está a estragar a boa imagem que conquistou, resume-se a um critério de selecção errático e impossível de entender e às tristes figuras que faz nas conferências de imprensa, especialmente quando lhe perguntam "Porque é que Portugal com tanto talento joga tão pouco futebol?
Precisamos dum seleccionador nacional com grande experiência, espírito de missão e capacidade para lutar contra a clubite, contra a "empresarite", contra a "amiguite", mas também com capacidade de pôr a selecção a jogar futebol, fazer do todo muito mais do que a soma das individualidades.
Precisamos mesmo dum novo seleccionador nacional, mas para fazer diferente, para fazer melhor. Se é para baralhar e dar de novo conforme as viciadas regras, não vale a pena.
Um dos maiores defeitos da espécie humana é a ingratidão. Por mim, estou e estarei agradecido a três seleccionadores nacionais de futebol: Luiz Felipe Scolari, que nos levou à primeira final de um Campeonato da Europa e ao quarto lugar do Mundial 2006; Paulo Bento, que comandou a equipa das quinas até às meias-finais do Euro-2012 (perdida nos penáltis frente à Espanha de Casillas, Sergio Ramos, Busquets, Xavi Alonso, Iniesta e David Silva que viria a sagrar-se campeã); e Fernando Santos, que nos conduziu enfim a duas vitórias em provas de selecções - o Euro-2016 e a Liga das Nações 2019.
Serei sempre grato a estes seleccionadores, que lideraram a equipa nacional em grande parte destes últimos 20 anos - o período em que Portugal transformou a excepção em regra. Durante décadas, só nos qualificávamos para fases finais de campeonatos do Mundo e da Europa em períodos excepcionais ou acidentais; desde 2000 (ainda com Humberto Coelho), temos ido lá sempre.
Todos foram contestadíssimos desde o primeiro minuto. A inveja, a maledicência, o mero passatempo do dizer-mal praticam-se com desenvoltura neste país de dez milhões de seleccionadores de bancada, sempre à espera do senhor que se segue para dizerem dele o que disseram do anterior. Foi assim com Scolari, foi assim com Bento, é assim com Santos. Será assim com o sucessor do actual.
Como gosto de remar contra a maré, apoiei todos sem reservas. Sem ilusões, no entanto: nesta era das redes sociais, os ciclos de poder no futebol, tal como acontece na política, são cada vez mais curtos. Porque a gritaria é constante e tudo se exige para ontem. Haver ou não títulos, é indiferente. Haver ou não valorização constante dos jogadores portugueses no mercado internacional (veja-se, a título de exemplo, a quotação de João Mário no pós-Europeu de 2016), é irrelevante.
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Feito este prelúdio, reafirmando o que sempre pensei, é inegável que o ciclo de Fernando Santos ao comando da nossa principal selecção de futebol terminou ontem, em atmosfera tristemente simbólica, ao minuto 90 do Portugal-Sérvia, num estádio cheio de fervorosos apoiantes da equipa nacional. Coroando uma semana de pesadelo após um empate a zero com sabor a derrota na Irlanda em que jogámos "para o pontinho", como critiquei aqui.
«A maneira mais estúpida de perder, muitas vezes, é mesmo essa: quando se joga só para o pontinho», alertei. Antevendo o desastre que viria a ocorrer no relvado da Luz. Com a equipa das quinas alinhada num 3-5-2 nunca testado, incapaz de controlar a bola, incapaz de sustentar uma jogada digna desse nome, incapaz de resistir à pressão sérvia. A ganhar desde o minuto 2, graças a Renato Sanches, os nossos jogadores comportaram-se a partir daí como se receassem ser goleados. Recuaram linhas, assumiram-se perante os sérvios (em 29.º lugar na tabela classificativa da FIFA) como equipa de terceira.
Defender a todo custo o empate (1-1 ao intervalo) foi a palavra de ordem. Nunca tinha visto tantos excelentes jogadores actuarem tão mal: Rui Patrício, Cancelo, Nuno Mendes, Jota, o próprio Cristiano Ronaldo. Moutinho funcionando a gasóleo, como há longos anos acontece. Palhinha, espantosamente, fora do onze titular. Danilo como central improvisado, entre Fonte e Rúben Dias, abrindo uma clareira a meio-campo onde os adversários circularam como quiseram. O desespero apossando-se da equipa, que terminou o jogo com três trincos de origem: Danilo, Palhinha e Rúben Neves.
A derrota de ontem começou a construir-se em Dublin. Quando o seleccionador, improvisando sempre, decidiu mudar seis jogadores da equipa-base, que actuou sem qualquer esquerdino. Dalot, Danilo, Matheus Nunes, Nelson Semedo, Gonçalo Guedes (fora da convocatória inicial) e André Silva alinharam de início. Ontem, nova alteração radical com sete outros titulares: Cancelo, Fonte, Rúben Dias, Nuno Mendes, Renato, Moutinho e Jota.
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Consumada a derrota, Bernardo Silva disse logo tudo numa curta frase: «Péssimo jogo de Portugal.» Não adianta iludir as evidências: são palavras dirigidas, antes de mais ninguém, ao seleccionador.
É, portanto, um ciclo que chega ao fim.
Tal como defendi a saída de Paulo Bento - que sempre havia merecido o meu aplauso - após a nossa humilhante derrota em casa frente à Albânia, no início da campanha para o apuramento do Euro-2016, que tanta alegria nos haveria de dar, concluo agora que o mandato de Fernando Santos se esgotou na prática. É um seleccionador cansado, resignado e cuja ambição se confina ao tal "pontinho" que nos fez resvalar para uma confrangedora mediocridade e um humilhante fracasso em quatro dias.
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No final de Março haverá um mini-torneio de apuramento que ainda poderá repescar a equipa das quinas para o Mundial do Catar, a disputar em Novembro e Dezembro: serão qualificadas três selecções em doze. Ignoro ainda quem teremos como adversários. Mas estou convicto de que o seleccionador deve ser diferente.
Se eu mandasse - e ele quisesse - promoveria Rui Jorge dos escalões mais jovens à selecção A. Esse é o debate que deve abrir-se a partir de agora.
Reitero a minha consideração, o meu apreço e a minha gratidão por Fernando Santos. E digo-lhe, com toda a sinceridade: chegou o tempo de sair de cena e dar lugar a outro. A vida é assim, o futebol também.
Tal enfática repetição impôs-se, por um lado, para enfrentar o ferino diagnóstico do nosso lendário Otto Glória: "(Em Portugal) quando se perde o treinador é chamado de "Besta". Quando vence, de "Bestial".". Mas, por outro lado, e muito mais importante, porque gosto de Fernando Santos. Estou-lhe grato - como estará a esmagadora maioria dos portugueses, mesmo os que não são adeptos de futebol e até aqueles que estão fartos da orgia futebolística na imprensa e na sociedade - pelo enorme e esfuziante alegria de 2016, um momento lindo no país. E também pelo torneio que posteriormente ganhou, ainda que esse secundário mas que também nos alegrou. Alguns dirão que os triunfos se deveram à sorte do jogo, mas isso quer apoucar a boa condução da equipa nacional e fazer esquecer a competência do seleccionador - que foi eleito "treinador da década" na Grécia, coisa que não é de somenos - e tem uma longa e rica carreira. Mas gosto de Santos não só por gratidão, aprecio-lhe o perfil público, educado, simpático ainda que sempre tenso sob pressão, tão contrastante com o insuportável perfil abrasivo, e até gabarola, de alguns outros treinadores portugueses de sucesso, que todos conhecemos.
2. Dito tudo isto parece-me que a época de Santos na selecção está esgotada. Portugal tem um plantel seleccionável bastante bom, excelentes jogadores titulares em excelentes equipas de excelentes campeonatos, orientados por excelentes técnicos. E esse "ínclita geração" de jogadores preenche todos os sectores, ainda que talvez escasseie a verdadeira excelência em extremos puros e duros, "à antiga". E a selecção portuguesa joga mal, desde há muito, quantas vezes em repelões desordenados, numa quase demissão táctica, como se inacção racional face à esperança nos talentos que ali abundam. E muito do que vem ganhando se deve à fabulosa codícia de Cristiano Ronaldo.
Afirmar a fraca qualidade do futebol da selecção não é maledicência, nesta hora de derrota. Há tanto futebol na televisão, de clubes e de selecções, que a comparação torna evidente essa mediocridade. Vemos selecções jogar ordenamente, mesmo que tenham tão pouco tempo de treino como a portuguesa. Este deficiente futebol da selecção vem causando um enorme desperdício, um quase "deitar fora" desta(s) geração(ões) de futebolistas. Tal mostrou-se na medíocre campanha no Mundial-18, concluída nuns meros oitavos-de-final - numa equipa abúlica, pressionada, e tanto que incapaz de ganhar até ao modesto Irão e assim desperdiçar o acesso a uma sequência de sorteio mais fácil que a poderia ter conduzido tão longe, até porque galvanizando-a. Tal e qual se mostrou no Euro-20(1), também culminado nuns medíocres oitavos-de-final, num percurso desde logo prejudicado dado ter a equipa calhado num "grupo da morte" inicial (com Alemanha e França), exactamente devido à sequência de maus resultados que a fez tombar no "ranking" que ordena os sorteios.
Nesses dois grandes torneios torneios a abundância de bons jogadores, as extraordinárias exibições dos veteranos Cristiano Ronaldo e Pepe, o arreganho colectivo e alguma boa sorte, evitaram o péssimo. Mas conduziram - sempre - a resultados medíocres, ao tal desperdício de tombarmos apenas entre os melhores 16, manifestamente pouco para a qualidade do potencial do ror de seleccionáveis. Qualquer adepto, qualquer "treinador de sofá" percebe isto, a sequência de resultados menores do que o possível. E mais ainda, Fernando Santos é seleccionador há já 7 anos. E todos podemos perceber que a equipa não flui, não joga sequer "à Santos". Pura e simplesmente, joga pouco. Dá a sensação, nada malévola, que Fernando Santos já não contribui. Já não tem soluções, é assim ele o problema.
3. Todos os ciclos se encerram. Quero crer que depois do triunfo do Euro-16 e da Liga das Nações, Santos teria completado o seu percurso de seleccionador após o Euro-20. Seria o normal em termos de selecção, após dois Europeus e um Mundial. Um outro seleccionador teria sido indicado - talvez Rui Jorge, se num rumo federativo, talvez um outro consagrado que estivesse disponível. Acontece que o Covid-19 atrasou o Europeu-20 e encavalitou-o no apuramento para o Mundial-22. Tornou-se assim difícil, até impraticável, mudar de seleccionador - até pelo prestígio e simpatia de Santos. Estamos então diante de uma situação serôdia, um verdadeiro anacronismo. A equipa pouco joga, segue em deriva táctica e sofre desajustadas opções de jogadores, como mostrou o atrapalhado percurso do meio-campo titular no último Europeu e, talvez ainda mais, no desastre de ontem. E assim já perde o que não seria de perder.
Fernando Santos, usualmente contido em declarações, tanto sente este rumo negativo, a sua incapacidade real, já impotência, em potenciar o material que tem, que já algo desatina em expressões públicas: imediatamente após a derrota no Europeu prometeu o título mundial no Catar, prosápia algo desajustada ao seu perfil. E agora, neste término da classificação para o Mundial, vem não só somar más decisões tácticas como fazer proclamações que demonstram "stress", desajuste: ser "igual empatar ou ganhar 5-0" à Irlanda é realidade pontual mas um tiro no pé sob o ponto de vista moral. E o descalabro, táctico mas também psicológico, neste jogo com a Sérvia é demonstrativo de um seleccionador exausto. Que acumula desperdícios.
4. Há três meses para preparar uma equipa para o apuramento ao Mundial. É tempo suficiente, ainda por cima com tão rico plantel. É também tempo para decisões corajosas. E respeitosas. Escolha-se um novo seleccionador - que dado o momento complicado não poderá vir dos quadros da federação, terá de ter não só competência mas também peso simbólico. E que esteja adequado, actualizado, com as tácticas dominantes no actual topo do futebol mundial, que de nada serviria apelar a um consagrado em nome de um passado bem-sucedido, aportado para encerrar a carreira em lugar honorífico. Trata-se de chamar um Jardim (se sair das Arábias), um Fonseca, um Vilas-Boas, para exemplos, gente que esteja no topo da carreira. E então poderemos dizer, com respeito, com carinho, com desportivismo, com gratidão: "Fernando, Obrigado pelas memórias, mas é tempo para dizermos Adeus"!
5. Nesta noite em que a Sérvia veio ganhar a Lisboa, apurando-se para o Catar-22 e remetendo-nos para um insondável "play-off", e em que todos resmungamos com o seleccionador Santos e com (alguns) jogadores, será avisado lembrar um facto que causou esta situação. Portugal foi jogar à Sérvia para o apuramento do Mundial. A Federação Portuguesa de Futebol não requereu o funcionamento do VAR nesse jogo, como lhe competia. O jogo terminou empatado devido à invalidação de um golo limpo de Cristiano Ronaldo que lhe teria dado a vitória, e que a tecnologia teria validado. E muito provavelmente o apuramento directo.
Ou seja, é totalmente incoerente pedir a demissão de Santos e não exigir a essa instituição de utilidade pública que assuma a sua inenarrável incúria. E que anuncie a demissão dos quadros directivos responsáveis por tamanha incompetência.
Para mim, seria a altura ideal para Fernado Santos sair, uma saída honrosa, saía após uma vitória.
Fingia que estava cansado, doente ou que queria fazer um retiro espiritual em Fátima ou assim, saía pela porta grande.
Portugal ficava com tempo para preparar a conquista do Mundial de 2022 com um treinador a sério (é campeão mundial) e com jogadores rejuvenescidos, sem estrelas, sem birras, sem amuos, sem mudanças para fazer, todos juntos, todos iguais.
Contratamos Löw, já ou esperamos pelo estampanço de Fernando Santos (o nosso estampanço, afinal) em 2022?
Não quero influenciar ninguém mas diz o povo na sua imensa sabedoria: "Santos da casa não fazem milagres"; talvez alguém de fora nos levasse a campeões mundiais.
Em Portugal há uma máxima popular que diz “nem tudo o que parece, é”. Porém na actividade do futebol este adágio não se aplica, porque todos sabemos que o que parece… é. Se não vejamos:
- parece que há corrupção no futebol;
- parece que há equipas que são sempre beneficiadas;
- parece que há jogadores que razoáveis nuns clubes e noutros são óptimos;
- parece que há empresários com demasiada influência no nosso futebol;
- parece que o senhor engenheiro não percebe nada de futebol.
Pois... estas cinco ideias são todas, a meu ver, verdadeiras.
Mesmo que a justiça tivesse destruído as escutas no “Apito Dourado”, mesmo que neguem que o Benfica seja sempre levado ao colo, mesmo que JM não tenha sido chamado à selecção enquanto jogador do Sporting e campeão e agora sem ter ganho nada já tenha sido convocado, mesmo que um empresário tenha feito o possível para Pote não ser chamado a jogo no Europeu passado, mesmo que a selecção tenha ganho em Paris com um “chouriço” do tamanho da torre Eifell e nunca ter jogado um caroço porque ninguém sabe da coisa.
Podem gozar com os portugueses. Podem incentivá-los a ir ver os jogos, mas de mim jamais terão um adepto! Tudo porque a suposta “nossa” selecção actual é tão nossa quanto é a “nossa” EDP!
Não idolatro treinador algum. Nem sequer Rúben Amorim. Nem Pep Guardiola.
Mas recuso ler uma vitória por 3-0 contra a Hungria da mesma forma que uma derrota por 2-4 contra Alemanha. Usando exactamente as mesmas palavras e os mesmos argumentos. Só porque não ou só porque sim.
Também recuso recorrer a chavões, próprios das conversas de café.
Alguns exemplos:
- "Ah e tal, eu não apoio a selecção porque não estão lá a jogar os jogadores do Sporting." Mas se estivessem, quem fala assim já apoiava. São princípios de geometria muito variável. Não são os meus. Desde logo porque não confundo Clube com selecção.
- "Ah e tal, eu detesto a selecção porque é a do Mendes e não é de Portugal." Mas quando esta "selecção do Mendes" venceu o título europeu em 2016, maior proeza de sempre do nosso futebol, muitos dos que falam assim andaram a exibir bandeiras e a cantar o hino. Até neste blogue isso ficou patente, designadamente nas caixas de comentários.
- "Ah e tal, quando Portugal ganha é sempre com sorte." Levando este raciocínio à letra, concluímos então que não perdemos por erros próprios frente à Alemanha: só perdemos porque tivemos azar. O que não explica coisa nenhuma. E deixa o debate no grau zero.
Só para concluir, sem rodeios: eu apoio sempre a selecção.
Seja quem for o seleccionador.
Haja ou não jogadores do Sporting no onze titular.
No fim, aplaudo ou critico. Mas antes e durante estou sempre a apoiar.
Era assim com António Oliveira, com Humberto Coelho. Foi assim com Scolari, continuou a ser assim com Paulo Bento. É assim com Fernando Santos.
Será assim com o próximo seleccionador, chame-se ele como se chamar.
Até pode chamar-se Jorge Jesus, como alguns parecem desejar cada vez mais.
Depois da concludente vitória da selecção nacional contra a vice-campeã mundial Croácia, goleada ontem à noite por 4-1 no estádio do Dragão, já na campanha para a nossa revalidação do título da Liga das Nações, pus-me a pensar: Fernando Santos é, provavelmente, o melhor seleccionador português de sempre.
Fernando Santos eleito melhor seleccionador do mundo. Por ter conduzido a selecção nacional à conquista do Campeonato da Europa, a 10 de Julho, frente à turma francesa, anfitriã do certame, após várias rondas muito emotivas. Com dez jogadores formados na Academia leonina e quatro titulares do Sporting, entre outros excelentes profissionais.
Inteiramente merecida, a renovação do contrato com Fernando Santos, o mais bem sucedido seleccionador da história do futebol português. Com metas muito concretas: a conquista da Taça das Confederações, daqui a 11 meses na Rússia, e a campanha de qualificação para o Campeonato do Mundo de 2018.
Recordo que ao longo de quase dois anos em funções Fernando Santos nunca sofreu uma derrota em jogos oficiais da equipa das quinas. E começou com muitas nuvens negras em torno da selecção: após uma presença desastrosa no Mundial do Brasil, iniciámos o apuramento para o Euro 2016 com uma derrota em casa frente à modestíssima Albânia. Com Paulo Bento a fazer alinhar Ricardo Costa, Miguel Veloso, Vieirinha, Ricardo Horta e um tal Cavaleiro, enquanto teimava em marginalizar jogadores como Quaresma e o nosso Adrien Silva.
Esta foi, aliás, a primeira conquista de Santos como seleccionador: pôs fim às penas de exclusão definitiva na turma nacional, que não faziam o menor sentido. Os resultados ficaram logo à vista. Porque entre as suas numerosas qualidades o "engenheiro do Euro" tem também esta: sabe rectificar os erros e é sensível a críticas e sugestões. Aqui para nós: se não soubesse que ele é assim nem lhe teria escrito este bilhete numa fase crucial do Europeu.
A selecção joga mais ou menos o mesmo do que jogava com Paulo Bento. A diferença é que agora ganha. Não deve ser só sorte: a selecção da Grécia de Fernando Santos jogava mais ou menos o mesmo do que a selecção de Portugal de Fernando Santos, e também ganhava bastante. Não há dúvidas de que a nossa selecção tem uma filosofia. Essa filosofia pode resumir-se numa fórmula razoavelmente complexa: mete no Ronaldo que ele resolve. Foi assim no sábado: uns charutos lá para a frente e o rapaz a inventar dois golos espectaculares.
Quando se fala de selecções, há sempre aquele momento em que alguém lembra que seleccionador nacional não é treinador. Fernando Santos ilustra o caso na perfeição. Ele, de facto, limita-se a escolher os jogadores. Como eles jogam depois, isso é lá com eles. Vendo bem, se resulta, porque se há-de-mudar? E é mesmo capaz de ser melhor: mexer em qualquer coisa ainda estragava.
Balanço muito positivo, como ontem referi. Digam os jarretas de turno o que disserem: três vitórias da nova equipa técnica da selecção em três jogos na campanha de qualificação da equipa nacional para o Euro-2016 não lhes basta. É sempre assim.
Mas dois elementos do onze que ontem entrou na Luz contra a Sérvia não justificam titularidade: Eliseu e Danny. O primeiro - lento, desposicionado e com responsabilidades óbvias no golo sérvio - reproduz na selecção os erros que tem exibido ao serviço do clube. O segundo jamais revelou na equipa nacional os atributos que já demonstrou no campeonato russo - ao ponto de ser difícil afirmar com certeza qual a posição que ontem ocupava no terreno.
Os restantes são para manter. Com mais oportunidades, se possível, aos três suplentes da noite de ontem - José Fonte atrás, William Carvalho a meio e Ricardo Quaresma à frente. A selecção só tem a ganhar com isso.