Melhor jogador português de sempre festeja com Bruno Fernandes o seu segundo golo
Foto: Miguel A. Lopes / Lusa
Já o davam como acabado, aposentado, pronto a arrumar as botas. Já salivavam de gozo considerando-o uma relíquia do passado.
E eis que Cristiano Ronaldo, contrariando as aves agoirentas, acaba de marcar quatro golos em menos de uma semana pela selecção nacional. É obra.
Dois na quinta-feira, em Alvalade, contra o Liechtenstein. Outros dois ontem, no Luxemburgo, na goleada portuguesa contra o onze do grão-ducado: fomos lá vencer por 6-0. Meia dúzia para o nosso espólio.
Coube ao nosso n.º 7 meter o primeiro, logo aos 9', finalizando da melhor maneira uma assistência de cabeça de Nuno Mendes, que por sua vez recebera a bola num passe cruzado de Bruno Fernandes. Foi dele também o nosso quarto golo, aos 31', desta vez assistido pelo próprio Bruno: o melhor jogador português de todos os tempos meteu-a lá dentro com o pé esquerdo, ludibriando o guarda-redes.
Dois antes de "bola parada", dois ontem em lance corrido: Cristiano Ronaldo soma agora 122 golos com a camisola das quinas vestida. Batendo o seu próprio recorde mundial, estabelecido dias antes.
Neste, três golos de cabeça: João Félix aos 15' (Bernardo Silva assistiu), Bernardo aos 18' (com passe para golo de Palhinha) e Otávio aos 77' (Nuno Mendes a assistir). Rafael Leão fechou a contagem aos 88', num espectacular slalom até à baliza - três minutos após ter falhado um penálti, já sem Ronaldo em campo.
Roberto Martínez, novo timoneiro da selecção portuguesa, começa da melhor maneira. Dois triunfos na campanha de qualificação para o Europeu, com dez golos marcados e nenhum sofrido. Lideramos o Grupo J, já muito bem colocados para o apuramento. Com um sistema táctico idêntico ao que Rúben Amorim implantou no Sporting.
Cristiano Ronaldo voltou a sorrir. E nós sorrimos com ele.
Cristiano Ronaldo marcou, toda a equipa celebra: festa da selecção no nosso estádio
Foto: Miguel A. Lopes / Lusa
Aqueles imbecis que já o consideravam "reformado", incluindo alguns (coisa para mim incompreensível) adeptos do Sporting, ficaram decerto muito decepcionados.
Cristiano Ronaldo, muito aplaudido, regressou ontem ao Estádio José Alvalade. E marcou mais dois golos, contribuindo com meia goleada da selecção de Portugal ao Liechtenstein (4-0). Um de penálti, outro de livre directo - um golaço. Quem disse que CR7 não sabe marcar desta forma?
Num estádio quase cheio, com mais de 45 mil pessoas nas bancadas, ele satisfez o público em 12 minutos de grande produção ofensiva, metendo-a lá dentro aos 51' e aos 63'.
Batendo novos recordes: passou a ser o futebolista mais internacional de sempre à escala planetária (197 participações); tornou-se o português com mais golos marcados na equipa das quinas, sendo 120 já; e o Liechtenstein foi a 47.ª selecção a sofrer golos do nosso maior artilheiro dos relvados.
Noite de orgulho também para nós, sportinguistas.
Vimos vários dos nossos regressar a Alvalade (Bruno Fernandes, Palhinha e Rui Patrício, por exemplo), contribuindo para a goleada. Vimos Gonçalo Inácio estrear-se na selecção A, actuando durante os 90 minutos deste desafio que marcou igualmente a estreia do seleccionador Roberto Martínez ao comando da turma nacional. Vimos enfim o topo norte e o topo sul do nosso estádio preenchidos com adeptos de futebol.
Portugal começa da melhor maneira a campanha para o Europeu 2024. Já seguimos no comando do Grupo J.
Há um quarto de século que não entrávamos a ganhar numa qualificação europeia.
Tudo perfeito? Não.
Considerei uma estupidez aqueles assobios a João Mário, quando saiu do banco, a escassos minutos do fim do jogo. Sintoma de clubite doentia. Visando um jogador que há dois anos foi um dos obreiros do título de campeão nacional para o Sporting.
Nunca pactuarei com o fanatismo daqueles que imaginam as bancadas dos estádios como trincheiras de guerra.
Muito menos quando os alvos são alguns daqueles que serviram com zelo e competência o emblema leonino enquanto estiveram entre nós.
A Rúben Amorim e aos jogadores da nossa equipa por um dos melhores jogos do Sporting que vi na vida. Ontem, diante do Arsenal, houve esforço dedicação, devoção e glória. O caminho é este.
Obrigado também ao novo selecionador nacional por ter convocado Gonçalo Inácio. Já merecia e espero que seja para jogar. Mas ter deixado de fora Nuno Santos e Pedro Gonçalves (Pote) vem demonstrar realmente ao que vem: é mais do mesmo. Todos os sinais que dá são errados, desde a permanência de Pepe (com 40 anos) à insistência em jogadores que teimam em não mostrar nas quinas o que vão fazendo nos clubes.
Roberto Martínez deixa de fora os jogadores do momento, ambos candidatos ao prémio Puskas e ambos com lugar nesta convocatória, mesmo que tenham concorrência muito apertada nos lugares que ocupam. É injusto e eles não mereciam. Mas também não vão desistir e serão cada vez melhores. Aquele clube "reservado" tem outras lógicas e só a realidade os fará ver a evidência. Foi assim com Bruno Fernandes, no início, e com Palhinha, mais recentemente.
Sob esta observação intensa do espanhol que sucedeu a Fernando Santos no comando da equipa das quinas, Gonçalo Inácio foi seguramente um dos nossos jogadores que mais terão aproveitado esta oportunidade. Com a linha central à direita agora bem preenchida com St. Juste e Diomande, pode enfim actuar na sua posição natural, à esquerda, como canhoto que é. O que potencia a sua utilização no onze nacional.
Pedro Gonçalves é, naturalmente, outro jogador sob escrutínio. Este nem terá sido dos seus melhores jogos, mas Roberto Martínez - com uma capacidade de observação muito acima da média, até por ter liderado a selecção belga durante seis anos - sabe com certeza que o ex-Famalicão terá de constar das próximas convocatórias.
Resta quem? Nuno Santos, claro. Mas a concorrência é fortíssima: não ignoramos como a ala esquerda está bem servida na equipa nacional.
Claro que há sempre lugar para uma surpresa. Quase apostaria que Rúben Amorim falou disso a Trincão ao intervalo, lembrando-lhe quem estava na tribuna a tomar notas sobre o jogo. Às vezes estes pormenores fazem toda a diferença. Talvez isto contribuísse para o enorme contraste da exibição do ex-Braga do primeiro para o segundo tempo - exibição coroada com um golo de antologia.
Com Fernando Gomes e Fernando Santos a equipa de todos nós do Europeu de França foi-se transformando aos poucos da equipa de alguns, da coligação de interesses das duas "nádegas" como dizia o nosso ex-presidente que mandam no futebol português muito bem explorada pelo maior empresário do mundo para fazer a montra para a próxima estação.
Portugal entrou em campo com nove jogadores da coligação em 11 e terminou com 12 em 16, incluindo um brasileiro batoteiro e arruaceiro naturalizado a martelo para não fugir do Porto a custo zero. Não falando dum cadastrado Pepe que sempre encontra na selecção o seu local de redenção, fazendo muito por isso tenho que admitir.
O que se viu em campo foi o costume, uma equipa sem rotinas por falta dum onze base definido e a viver da inspiração de alguns jogadores excelentes. Uma equipa com medo de partir para cima do adversário, a querer lá chegar devagar e devagarinho e ao ritmo do toca e foge, até levar com um golo mais que consentido por um guarda-redes que devia estar a pensar para onde segue em Janeiro. A perder por 1-0 ao intervalo lá veio o "vamos lá cambada, todos à molhada, que isto é futebol total" incluindo a entrada dum Cristiano Ronaldo que farto de apanhar pancada de tudo e todos incluindo o seleccionador é que iria resolver aquilo. E lá fomos.
E, verdade se diga, depois de termos perdido com a Sérvia o acesso directo ao Mundial, depois de termos a sorte de não termos de defrontar a Itália, chegar aos oitavos de final no Catar com uma goleada contra a Suiça já não foi nada mau para uma selecção nacional transformada em equipa de alguns.
Extremamente infeliz a forma como Fernando Santos geriu o assunto Cristiano Ronaldo, desde mentindo numa conferência da imprensa até humilhando o melhor jogador do mundo na seguinte. Das duas uma, ou o Cristiano não ia ao Catar por não reunir condições físicas e psicológias para o efeito, ou então a equipa teria de ser construída à volta dele, porque só a presença dele prende ou distrai dois ou três jogadores contrários ao contrário dum jovem armado em pistoleiro. E construir a equipa à volta dele é aproveitar as rotinas dos dois Manchesters dando todo o palco a Bruno Fernandes e Bernardo Silva, Dalot, Cancelo e Rúben Dias e projectando Rafael Leão na ala. Palhinha poderia ser o factor de equilíbrio duma equipa rotinada em campo. Nada disso aconteceu, William Carvalho, João Mário, Ruben Neves e Octávio foram entrando e saindo para a zona do meio-campo, impedidndo qualquer sentido colectivo, o sempre inutil André Silva e um Ricardo Horta que não passa dum jogador mediano foram entrando lá para a frente. João Felix é aquilo mesmo que o Simeoni diz dele, é um jogador de momentos, quando é preciso não está lá para resolver.
Parece que dez jogadores não viajam no avião da comitiva da FPF, pois decidiram ficar no Catar com as respetivas famílias. São eles Rui Patrício, Raphael Guerreiro, Cristiano Ronaldo, Rafael Leão, Bruno Fernandes, Matheus Nunes, Rúben Neves, Bernardo Silva, João Cancelo e Diogo Dalot. Pois ficou no Catar aquele que deveria ter sido o núcleo duro da selecção.
Agora só espero que Fernando Santos tenha a dignidade de se demitir, até para melhor resolver a sua questão fiscal, e que venha alguém que recupere a selecção de todos nós.
Uma palavra para o Catar que organizou muito bem o primeiro mundial de futebol numa nação/emirato árabe e muçulmana, claro que com aquelas questões que conhecemos, como a forma como o obteve ou os direitos dos trabalhadores, das mulheres e das minorias sexuais (como era em Portugal no tempo de Salazar ou como é ainda hoje nas estufas de Odemira?), mas apesar de tudo propiciando um ambiente de festa de homens, mulheres e crianças que pode transformar mentalidades e abrir caminhos para o futuro não apenas para o Catar mas para toda aquela região.
Palhinha é melhor que Rúben Neves (e que William), mas não jogou; Matheus Nunes é bem melhor que Otávio, escolheu Portugal em detrimento do Brasil para não sair do banco; Rui Patrício é mais seguro numa competição destas que um Diogo Costa ainda muito "verde".
E Ronaldo? Merecia outro tratamento e hoje até devia ter sido titular. Resta-nos esperar por uma revolução na seleção de todos nós. Onde não haja um agente com a influência que se sabe, onde um selecionador novo possa injetar sangue fresco e agarrar a sério numa das melhores gerações de sempre.
Jogadores abraçados após goleada: a nossa terceira melhor prestação de sempre em Mundiais
Mais que nunca, os profetas da desgraça parecem condenados ao desemprego. A selecção portuguesa teve ontem um desempenho brilhante, no Mundial do Catar, goleando a Suíça por 6-1. Foi a nossa vitória mais dilatada de sempre em fases a eliminar de campeonatos do mundo, superando os 5-3 à Coreia do Norte em 1966. E coroando uma partida brilhante, com golos para todos os gostos, num jogo que encerrou com 2-0 ao intervalo.
O herói do desafio foi um estreante como titular na equipa das quinas: Gonçalo Ramos. Ponta-de-lança digno deste nome. Marcou três (17', 51', 67') e deu outro a marcar (55'). Mais ninguém conseguiu fazer o mesmo até agora no Mundial do Catar. Jamais esquecerá esta goleada que o teve como protagonista.
Mas outros estiveram em grande nível: Pepe, impecável a defender e marcando de cabeça o segundo golo (33'); Raphael Guerreiro (dono da lateral esquerda, autor do belo golo 4 e da assistência para o último, aos 90'+2); João Félix (sem golos mas com duas assistências, no primeiro e no quinto); Dalot confirmando-se como titular indiscutível da ala direita ao assistir no terceiro e impedir que a Suíça marcasse aos 38'; Bruno Fernandes, com outra assistência (para o golo de Pepe, a terceira que faz neste Mundial).
Rafael Leão desta vez entrou bem, a tempo de encerrar a contagem com outro grande golo. Também Otávio e William Carvalho merecem elogio.
Perante 83.720 espectadores, a Suíça - que vencera Camarões e Sérvia na fase de grupos - procurou travar a nossa manobra ofensiva nos primeiros minutos, mas acabou encostada às cordas, vergada ao peso da derrota. Faz a mala, de regresso a casa, seguindo o exemplo da medíocre selecção de Espanha, eliminada também ontem por Marrocos após 120 minutos em que foi incapaz de marcar um golo e de uma ronda final de penáltis em que não converteu nenhum.
A equipa das quinas, pelo contrário, confirma a presença nos quartos-de-final - algo que antes só nos aconteceu em 1966 e 2006. Sagrando-se desde já como uma das oito melhores selecções à escala planetária com a nossa terceira melhor prestação de sempre até ao momento. Vamos defrontar precisamente Marrocos no próximo sábado. Com a legítima ambição de atingirmos as meias-finais. Agora não nos contentamos com menos.
Caíram alguns mitos persistentes neste jogo. Que a equipa portuguesa "só ganha por sorte", que apenas vence "por influência da santinha", que Fernando Santos é "incapaz de pôr a equipa a jogar ao ataque", que "faz alinhar sempre os mesmos", que esta selecção "tem vocação para o empate". Ninguém diria: levamos já 12 golos marcados em quatro jogos - à média de três por desafio. E ontem Santos mudou oito jogadores em relação ao desafio anterior, frente à Coreia do Sul. Mantendo no onze inicial apenas três titulares do Euro-2016.
Acabou-se também o mito de que o seleccionador era "incapaz de deixar Cristiano Ronaldo no banco". Aconteceu isso, levando os que repetiam essa ladainha a enfiar a viola no saco. Ronaldo entrou apenas aos 73', quando quase todo o estádio pedia em coro que ele calçasse: rendeu Gonçalo Ramos, novo herói das quinas, enquanto Ricardo Horta e Vitinha substituíam Otávio e João Félix.
Ainda entrariam Rúben Neves (para o lugar de Bernardo Silva, 81') e Leão (substituindo Bruno Fernandes, 87'). Quando a vitória e a passagem à fase seguinte já estavam garantidas.
Vários marcos assinalados. O nosso melhor resultado na etapa mata-mata de um Mundial. Ramos, com 21 anos, o mais jovem autor de três golos num só jogo desde o Campeonato do Mundo de 1962. Pepe, com 39 anos, o segundo mais velho a marcar em desafios a eliminar de uma fase final após o camaronês Roger Milla em 1994.
Todos satisfeitos em Portugal? Quase todos. Resta um pequeno círculo de irredutíveis aziados incapazes de celebrar vitórias das cores nacionais. São aqueles que inventam qualquer pretexto para desejar desaires à nossa selecção.
Andam todo o tempo em contramão: só festejam se houver derrota. Felizmente vão permanecer uns dias longe daqui.
O melhor jogador português de todos os tempos fixa sempre dois ou três defesas perto dele, em policiamento permanente. Seja o adversário quem for.
Ronaldo abandonou o rectângulo de jogo visivelmente contrariado. Parecia prever o que aconteceu depois.
Resta acrescentar: André Silva, que o substituiu aos 64', foi uma nulidade. E Rafael Leão, também em campo desde o minuto 64, rendendo Matheus Nunes, voltou a demonstrar uma indigência total pelo segundo jogo consecutivo.
Valerá a pena pôr qualquer deles como titular no lugar do Cristiano na decisiva partida de amanhã contra a Suíça?
Nos jogos já bastante antigos da selecção nacional há dois golos que nunca me canso de ver.
Ambos marcados por Eusébio.
O primeiro em Bratislava, actual capital eslovaca, contra a Checoslováquia, numa das mais memoráveis partidas alguma vez disputadas pela equipa das quinas - a que nos conduziu ao Mundial de 1966, o primeiro da nossa história.
Aconteceu a 25 de Abril de 1965, vitória portuguesa por 1-0. Com a nossa selecção a jogar quase toda a partida com apenas dez jogadores (ainda não havia substituições naquela época) devido a gravíssima lesão, logo aos 4', do médio leonino Fernando Mendes que viria a abreviar-lhe o fim da carreira profissional, tinha ele apenas 27 anos.
O craque moçambicano, servido por José Augusto, conduz a bola durante 40 metros pelo corredor direito, supera três adversários e conclui da melhor maneira - ao jeito de Maradona 20 anos depois. Pode ser visto aqui, ao minuto 19'. Com locução do saudoso Rui Tovar.
O segundo ocorreu já nesse Campeonato do Mundo em Inglaterra, no épico confronto com o Brasil - ainda na fase de grupos - que vencemos por 3-1. Foi a 19 de Julho de 1966. Com dois futuros campeões mundiais no onze adversário: Brito e Jairzinho (subiriam ao pódio quatro anos depois), além do já bicampeão Pelé, que chegaria ao tri em 1970. Entre os nossos figuravam três ilustres Leões: Hilário, João Morais e Alexandre Baptista.
Simões, de cabeça, marcou o primeiro. Eusébio, os dois restantes. Aquele que mais retenho na memória - eu que vi com imenso gosto este jogo na íntegra só muitos anos depois - é sobretudo o nosso terceiro. Um tiro na ressaca de um canto disparado ao minuto 90 deste vídeo que fez entusiasmar o relator britânico: «Have you ever seen anything like that?»
E com razão.
Estas imagens deviam ser exibidas em várias palestras a jovens jogadores sobre a importância do golo no futebol.
Ricardo Horta: estreia de sonho como titular da selecção no Mundial
(Foto: EPA)
Não há três sem quatro. Aconteceu hoje à selecção portuguesa o que sucedeu às de França, de Espanha e do Brasil: perderam o último jogo da fase de grupos do Mundial, quando todas já tinham garantido o apuramento para a segunda fase. No nosso caso, ao contrário dos espanhóis, estava também assegurado o primeiro lugar do Grupo H.
Tudo muito diferente do cenário ocorrido em 2002, no Mundial da Coreia e do Japão, quando também fomos derrotados pelos coreanos (0-1), o que nos fez abandonar o certame precisamente na fase inicial, fazendo as malas mais cedo. E não era por falta de qualidade da equipa das quinas, que contava com vários jogadores que hoje treinam equipas e selecções: Paulo Bento, Sérgio Conceição, Rui Jorge e Petit. Além de Figo, Pauleta, Vítor Baía, Beto e João Vieira Pinto - este a figura mais destacada, mas pela negativa.
Desta vez com a qualificação garantida, após vencermos Gana e Uruguai, os profetas da desgraça estavam antecipadamente fora de combate: o ansiado dia, para eles, ainda não chegou. A nossa selecção continua em prova no Catar, ao contrário de várias outras já recambiadas para o local de origem: Alemanha, Dinamarca, México, Uruguai e Bélgica - esta que só por delírio a FIFA mantém no segundo posto da tabela classificativa ao nível de equipas nacionais.
Perdemos por alguma disciplicência, excessiva descontracção face aos objectivos já concretizados e à ausência de alguns dos melhores, poupados pelo seleccionador para os próximos confrontos. Com destaque para Bruno Fernandes, à bica com um amarelo e que teve de ser gerido a pensar no desafio de terça-feira, frente à Suíça.
E até entrámos muito bem contra os coreanos. Com um golo logo aos 5', na primeira oportunidade, muito bem concretizada por Ricardo Horta - o melhor dos nossos nesta sua estreia como titular pela selecção. Golo em ataque rápido, com apenas três toques: passe longo de Pepe, centro perfeito de Dalot, oportuna desmarcação do avançado braguista dentro da área, metendo-a lá dentro sem a deixar pousar na relva.
A Coreia não baixou os braços, empatando aos 27' na sequência de um canto, com a bola a embater caprichosamente nas costas de Cristiano Ronaldo enquanto João Cancelo (desta vez lateral esquerdo mas ainda sem mostrar qualidade para integrar o onze titular) era incapaz de reacção.
Na segunda parte Portugal reequilibrou a partida, com boas exibições de Pepe, Vitinha e (a espaços) Matheus Nunes. Por contraste, actuações apagadíssimas de Cristiano Ronaldo e João Mário. André Silva e Rafael Leão, que entraram aos 64' para render Matheus e CR7, não fizeram melhor, longe disso.
O golo da vitória coreana aconteceu aos 90', numa espécie de réplica do que teve a assinatura de Ricardo Horta: ataque rapidíssimo, aproveitando o desposicionamento de toda a nossa equipa junto à baliza adversária. Três dos nossos - Dalot, Palhinha e William - foram incapazes de acompanhar Son, que correu cerca de 70 metros e endossou a bola à vontade, com vistoso túnel a Dalot, enquanto Bernardo Silva punha em jogo Hwang, que não perdoou frente a Diogo Costa.
Ficou por vingar a derrota de há 20 anos. Mas agora com duas diferenças: Portugal transita para os oitavos e Paulo Bento, então jogador das quinas, treina agora os sul-coreanos. Há, portanto, dois portugueses entre os 16 seleccionadores ainda em prova neste controverso Campeonato do Mundo.
Bento, que orientou a selecção nacional antes de Fernando Santos, cessará contrato na Coreia após o Mundial. Poderá ser ele o sucessor de quem lhe sucedeu?
Nunca se sabe. A vida dá sempre muitas voltas. E o futebol também.
ADENDA: Há 20 anos que a selecção dos Camarões não vencia um jogo do Campeonato do Mundo. E há 17 jogos que o Brasil não perdia. Aconteceu hoje: Brasil, 0 - Camarões, 1.
Impressionante a quantidade de jogadores que estão neste mundial de futebol e que vestem ou já vestiram a nossa camisola. E tantos, mas muitos, mesmo, são grandes craques. Na equipa das Quinas perde-se a conta aos que connosco foram campeões nacionais ou que na nossa academia se formaram e aprenderam a ser o que hoje são. Com Ronaldo, claro, a encabeçar a longuíssima lista. E noutras selecções também encontramos quem vista ou tenha vestido a verde e branca.
Também por aqui se vê a nossa grandeza. O clube sempre teve jogadores de nível mundial. Jogadores de selecção. Pena, isso, sim, que nem com todos eles tenhamos conseguido a glória que todos ambicionávamos.
No entanto, acredito, um clube com esta histórica capacidade de formação e captação de talentos só pode fazer-nos esperar o melhor para o futuro.
Bruno Fernandes, melhor em campo, celebra segundo golo contra o Uruguai
(Foto: Kirill Kudryavtsev/AFP)
Outro dia péssimo para os profetas da desgraça, que andam a salivar para cair em cima da selecção nacional, ansiando por derrotas. São tempos complicados para estes tugas sempre prontos a denegrirem as nossas cores e os nossos jogadores. Apoiam seja quem for que actue contra nós.
Este desafio superado com sucesso teve um sabor muito especial. Por ser a desforra da partida que há quatro anos nos afastou do Mundial 2018, nos oitavos-de-final, com dois golos de Cavani enquanto Pepe marcava pelo nosso lado. Desta vez o veterano avançado uruguaio ficou em branco, tal como os seus compatriotas Darwin Nuñez, ex-Benfica, e Luis Suárez.
Jogo de sonho para Bruno Fernandes, de novo o melhor em campo no Catar. Marcou os dois golos, aos 54' e aos 90'+3 - este de grande penalidade. E teve duas excelentes oportunidades para ampliar a vantagem mesmo ao cair do pano, aos 90'+8 e aos 90'+9: a primeira só travada por grande defesa do guardião Rochet, a segunda foi ao poste.
Destaque também para Pepe, que regressou à equipa das quinas para se confirmar como eficaz patrão da defesa, Diogo Costa (desta vez sem deslizes) com duas defesas dignas de nota muito elevada e Cristiano Ronaldo, que mesmo sem marcar teve intervenção decisiva no nosso primeiro golo, com desmarcação que baralhou Rochet.
Justificam igualmente aplauso os "nossos" João Palhinha e Matheus Nunes, em campo desde o minuto 82: ambos contribuíram para consolidar o domínio leonino. Deviam ter entrado mais cedo.
Nota negativa para a saída de Nuno Mendes, aos 41, aparentemente por agravamento da lesão que já sofrera. Enquanto esteve em campo foi um dos melhores. Ao contrário do apagadíssimo João Cancelo e do desinspirado Rúben Neves. Diogo Dalot e Palhinha merecem ser titulares.
Os tais profetas andavam a uivar maus agoiros há largas semanas. Enganaram-se redondamente até ao momento. A selecção portuguesa é apenas a terceira a qualificar-se para a fase seguinte, ainda antes de disputar o terceiro jogo - será na sexta-feira, contra a Coreia do Sul treinada por Paulo Bento. Além de nós, por enquanto, só França e Brasil confirmaram presença nos oitavos-de-final.
O que fazer? Manter o apoio, claro. Falo por mim - e tenho a certeza de que falo pela esmagadora maioria dos portugueses.
Os outros vão continuar a resmungar e a lançar pragas. Mas agora em tom mais baixo, quase em surdina. É outra boa notícia.
Mais logo, pelas 19 horas (portuguesas), a selecção das quinas volta a entrar em campo. Depois da vitória contra o Gana, vamos enfrentar o Uruguai. Selecção de má memória para nós: foi a que nos eliminou nos oitavos do Mundial 2018.
Sabe-se já que Danilo, lesionado, não volta a calçar no Catar: no seu lugar jogará Pepe, autor do solitário golo português contra os uruguaios no desafio de Junho de 2018 em Sochi.
Que outras alterações deve Fernando Santos fazer no onze titular desta partida que quase todos queremos ganhar?
CR7 celebra após marcar, de penálti, o primeiro dos nossos três golos contra o Gana
Hoje é um péssimo dia para os urubus que adoram transportar maus agoiros no bico. Um péssimo dia para os pregoeiros da desgraça.
Presumo, por isso, que seja também um dia calmo no nosso blogue.
São sempre assim, as madrugadas e manhãs que se seguem às vitórias - sejam do Sporting, sejam da selecção nacional. Ao contrário das ressacas dos desaires, quando o trânsito fica engarrafado por aqui.
Esta é talvez a característica que mais detesto em muitos portugueses: anseiam pelo fracasso dos compatriotas. Daí a diferença abissal entre a enxurrada de gente que se apressa a comentar quando há derrotas e a calmaria que se segue aos triunfos.
Hoje é um desses dias.
Portugal estreou-se ontem a vencer no Mundial de 2022. Superou o Gana, derrotando por 3-2 uma das melhores selecções do continente africano.
Portugal viu o seu melhor jogador de sempre marcar o primeiro dos três golos: Cristiano Ronaldo conquistou um penálti e converteu-o de forma exemplar. Mostrando, a quem ainda tivesse dúvidas, que continua a ser mais-valia aos 37 anos e 9 meses.
Portugal acaba de ver CR7 superar mais um recorde: é o primeiro jogador da história do futebol a marcar em cinco campeonatos do mundo (2006, 2010, 2014, 2018, 2022) e também o primeiro a facturar em dez fases finais de grandes competições futebolísticas (contando com os golos apontados nos Europeus de 2004, 2008, 2012, 2016 e 2021).
Um dia sem história, portanto. Outro dia tranquilo aqui no blogue.
Interrogo-me se esta selecção portuguesa que amanhã vai entrar em campo contra o Gana será a melhor de sempre. Recordo-me que, dos 26 convocados, só sete jogam em Portugal. E dez actuam na Premier League - ou nove, pois o capitão Cristiano Ronaldo encontra-se desde ontem sem clube.
Quem quiser que responda. Acredito que possa haver opiniões muito divergentes.
Aconteceu no Estádio José Alvalade, há cinco dias, embora não por culpa da SAD do Sporting. Toda a responsabilidade deve ser imputada à Federação Portuguesa de Futebol, "inquilina" do nosso recinto para o jogo particular Portugal-Nigéria, de preparação para o Mundial (vitória portuguesa por 4-0).
Centenas de espectadores que pretendiam assistir ao jogo foram impedidos de entrar pelos assistentes de recinto desportivo só por usarem camisolas distribuídas pela Amnistia Internacional, semelhantes a coletes de trabalhadores da construção civil, com alusões críticas às violações dos direitos humanos no Catar e às mortes de centenas de operários imigrantes que sucumbiram em condições desumanas na construção dos estádios.
É totalmente inaceitável. Algo próprio de um Estado totalitário. E dói-me ainda mais por ter ocorrido no nosso estádio, embora à revelia da estrutura leonina. A FPF - instituição de utilidade pública, como lhe é reconhecido por diploma legal - não pode colocar-se à margem das normas constitucionais portuguesas.
Temos de dizer-lhes sem margem para dúvida: Portugal não é o Catar. E Alvalade não é coutada da FPF, mesmo em dias de jogos das selecções.
Tenho de elogiar Pedro Gonçalves. Pela frontalidade e pela humildade das suas mais recentes declarações, em que se assume como principal responsável por não ter sido convocado para o Mundial do Catar.
O primeiro passo para conquistarmos novos patamares de sucesso é sempre este: reconhecer falhas próprias. São declarações que o enobrecem e o valorizam como desportista e como profissional do Sporting.
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